ESTEVE EM AVEIRO A SUBSECRETÁRIA DE ESTADO DA ASSISTÊNCIA
Nos dias 24, 25 e 26 do mês de Março
último, Aveiro recebeu a visita da Senhora D. Maria Teresa Lobo, que
se fazia acompanhar por diversos funcionários superiores do
Ministério da Saúde e Assistência, a fim de tratar da resolução de
problemas afectos aos Serviços de Assistência neste Distrito.
Visita ao novo Internato
A Senhora D. Maria Teresa Lobo,
visitou, no dia 25 do referido mês, as velhas instalações do
Internato Distrital de Aveiro, tendo-se deslocado, no mesmo dia, às
novas instalações, já em vias de acabamento, que demoradamente
percorreu, acompanhada pelo Chefe do Distrito, Presidente,
Vice-Presidente e Vogais da Junta Distrital.
O Subsecretário de Estado da
Assistência presidiu ainda a um encontro com os responsáveis da
Junta Distrital, tendo o respectivo Presidente prestado
pormenorizadas informações relativas à situação financeira da
respectiva autarquia, por força da construção
do novo Internato, bem como acerca
do funcionamento de tão meritória obra de assistência.
Aquela distinta Senhora prometeu
conceder um subsídio anual que possibilite o funcionamento dos
Serviços do novo Internato, nos moldes inéditos, pré-estabelecidos,
em ordem a resolver-se definitiva e eficazmente, o crucial problema
de educação de rapazes no nosso Distrito, tendo ainda prestado
preciosos ensinamentos relacionados com a montagem de todos os
Serviços.
O Senhor Presidente da Junta
Distrital agradeceu em termos repassados do maior reconhecimento o
auxílio e profícua colaboração dispensados.
A Subsecretária de Estado da Assistência visitando as velhas
instalações do Internato.
NOVA JUNTA DISTRITAL
A sessão de transmissão de poderes
realizou-se no Salão Nobre da Junta Distrital de Aveiro, sob a
presidência do primeiro Magistrado Administrativo do Distrito, Dr.
Francisco do Vale Guimarães, que dava a direita ao novo Presidente
da Junta Distrital, Engenheiro José
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Gamelas Júnior, Comandante Militar, Presidente da Câmara Municipal
de Aveiro, Deputado Manuel Homem Ferreira, Presidente da Junta
Autónoma e Governador Civil substituto; à esquerda o Presidente da
Junta Distrital cessante, Dr. Fernando de Oliveira, e Engenheiro
Engrácia Carrilho, Presidente da Comissão de Planeamento da Zona
Centro, Deputados Lopo Cancela de Abreu e Manuel Soares, Comandante
do Regimento de Infantaria n.º 10, Presidente do Grémio do Comércio
e o novo Vice-Presidente da Junta Distrital, Engenheiro Manuel
Gonzalez Queirós. Em lugar de destaque, o Vigário Geral da Diocese,
em representação do Prelado.
Presente muita gente, tanto da
cidade como de todo o distrito, que enchia completamente o salão da
Junta Distrital.
No uso da palavra, o Presidente
cessante, em brilhante improviso, aludiu ao facto de cada vez mais
rarearem as pessoas que se devotam à causa pública e congratulou-se
com a eleição do novo Presidente da Junta Distrital de Aveiro, para
o quadriénio agora iniciado e endereçou aos restantes componentes do
Corpo Administrativo Distrital as mais cordiais saudações e, a
finalizar, prometeu a todos incondicional apoio.
O novo Presidente da Junta Distrital
pronunciou brilhante discurso que, na íntegra, a seguir se publica.
Reverendíssimo Vigário Geral da
Diocese, em representação do Sr. Bispo de Aveiro
Senhor Governador Civil
Senhores Deputados
Minhas Senhoras e meus Senhores
Vão para V. Ex.ª Reverendíssima as
minhas primeiras palavras. De saudação amiga são elas ao amigo
ilustre que muito respeito e admiro pelas suas virtudes, cultura e
inteligência; e por seu intermédio, de saudação filial ao Bispo de
Aveiro que aqui dignamente representa, que tanto venero e estimo.
Como católico, atrevo-me a pedir que
lhe transmita as minhas homenagens pela forma de evidente equilíbrio
como, neste mundo conturbado, conduz a Barca de Pedro nesta nossa
Diocese; é chama viva que alimenta os espíritos, guiando-os para o
amor na vertical, sem o qual o amor humano e fraterno se arrisca ao
efémero ou à vacuidade.
Minhas Senhoras e meus Senhores
São geralmente de expectativa e
também de compromisso estas ocasiões: todos anseiam ouvir do
empossado palavras arrojadas e diferentes, viradas ao futuro, que
definam novos voos, perspectivas que fujam à rotina ou situações de
maior esperança, já que o
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passado vai perdendo vida e pertence à história e o presente nunca
chega para responder à permanente insatisfação humana.
Mas – pobre de mim! – se a
apreciação que daí ressalta se faz em termos de comparação, logo me
apercebo do desfavor em que me encontro, porque é inevitável que
aparece, para medida de confronto, a situação mais próxima, a que
está mais viva na memória.
Reunião da Junta Distrital.
Não estarei, na verdade, em posição
fácil, porque sei do valimento da sua obra. A minha fugidia passagem
pela Junta que cessou as suas funções, deu-me possibilidade de dar
testemunho e põe-me à vontade para fazer esta afirmação. Por isso e
antes do mais, desejo prestar aqui a minha homenagem ao Dr. Fernando
de Oliveira e aos restantes seus companheiros que serviram esta
Junta Distrital, sob a sua presidência, pela dedicação, espírito de
sacrifício e inteligência com que orientaram os seus destinos.
Dentro de coordenadas de tolerância e ao mesmo tempo de persistência
e fidelidade a uma linha de acção, foi possível um condicionalismo
humano, onde é patente uma atmosfera de dignidade, que coloca este
órgão administrativo em posição de alto prestígio distrital. E não
menos importante, ainda, é contar no seu historial a realização de
uma obra grandiosa que representa um marco inapagável a assinalar o
seu mandato. Para satisfação de todos nós, já se avista, quase
pronta, a construção da primeira fase do novo edifício para o
internato.
Por estarmos em desvantagem, porém,
não é motivo para nos sentirmos complexados ou para nos quedarmos na
contemplação passiva ou negativa da tarefa feita. Nem os meus
antigos companheiros certamente me perdoariam se tal acontecesse,
pela ameaça que daí adviria de destruição inglória da sua obra e,
mais do que isso, porque constituiria rude golpe na vida e projecção
desta casa; nem as Juntas anteriores deixariam de me estigmatizar
pelo derrubar de uma empresa que, na fase do seu arranque, tantos
espinhos teve e feridas que penso estejam já cicatrizadas.
Pois, como instituição humana que é,
formada por homens vivos, ciosos da sua verticalidade, em que no
cimo domina a cabeça, servida por um corpo e uns sentidos
naturalmente fadados a um movimento em frente, não há outra
alternativa que não seja aplanar caminhos para novas etapas
evolutivas.
Sessão Solene na Junta Distrital.
Aplanar caminhos... Duas palavras de
sentido genérico que podem cair no abstracto se, entretanto, não for
dada resposta à pergunta: Mas como?
Em muitos aspectos, a Junta
Distrital pode ser considerada como uma empresa a administrar.
Então, aplanar caminhos poderá ter o significado da necessidade de
traçar coordenadas ou linhas mestras que servirão de sustentáculo e
inspirarão todas os acções de gestão. Nesta ordem de ideias,
resumidamente, importará:
a) visualizar para prever e
antecipar medidas a tomar em face da interpretação de elementos
disponíveis, possibilitando a determinação dos
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sectores mais importantes que carecem de decisões;
b) fixar objectivos e princípios ou
critérios sobre que assentam planos e controle dos empreendimentos;
c) atingir os resultados pela
colaboração interessada de todos, na base de uma descentralização de
funções, mas responsabilizada;
d) procurar melhorar os resultados à
custa de estímulos, de decisões oportunas e adopção de medidas
correctivas; e, finalmente,
e) provocar o progresso e
valorização dos colaboradores, à custa de um trabalho de equipa.
O Sr. presidente da Junta Distrital, dando nota, através de
elucidativos gráficos, da actividade desenvolvida no campo da
assistência.
Este esquema orientador, ordenado
com tanta singeleza, que mundo de problemas, porém, não encerra? Na
sua base está o homem, com os seus defeitos e virtudes, com a sua
inteligência e força anímica, tendências, cultura, problemas
pessoais que o possam dominar, o meio em que vive e serve, etc. É
ele que o há-de pôr em prática, sob pena de ser letra morta ou
símbolo irónico do fracasso que a evidência da pretensão mais
denuncia. Com ele nada pode ser geométrico; consente uma directriz,
aceita uma razão que o encaminhe, mas labora em erro quem lhe julgue
uma anuência rectilínea. É que o homem não é máquina que trabalhe
por simples pressão de um botão ou um tipo uniforme esculpido por
mão hábil de artista; antes é multifacetado e muitas vezes
contraditório, e nessa variedade de aspectos reside a sua maravilha.
O fundamental será encontrar a zona
de equilíbrio técnico e humano, o denominador comum a partir do qual
se hão-de conseguir os fins, como meta que imperiosamente importa
atingir, sem desmerecer ou deixar de considerar os meios
indispensáveis para o efeito.
Não é tarefa fácil, com certeza. Mas
com uma definição clara de objectivos, persistência e determinação
na acção, abertura de relações em trabalho de grupo para a colheita
de soluções adequadas, de forma a que todos dêem o maior rendimento
e sintam que merece a pena o esforço dispendido por uma causa
concreta, sei já que é possível avançar e ter êxito.
Aplanar caminhos... Pois não nos
fenecerá o ânimo por a jornada ser longa.
Importa, naturalmente, que aqui
tenha uma palavra aos meus colegas, que comigo foram também
empossados. Estou convencido que havemos de fazer um feixe de vimes;
apenas agora lhes peço fé na nossa missão e confiança na
objectivação dos propósitos que nos hão-de animar. E não posso
deixar de me dirigir também a todos os colaboradores, desde os mais
humildes aos mais qualificados, que constituem as peças desta
máquina em movimento: conto convosco. Como vós podeis contar comigo.
Depois da estratégia, segue-se a
táctica. Conhecerás a árvore pelos seus frutos. A Junta Distrital é
um órgão administrativo que tem uma personalidade, que se projecta
para o exterior, como a de qualquer indivíduo. Mas só se projecta
para fora o
/ 91 / que existe dentro. E esta
projeçção tem que ter o cunho de autenticidade.
O Presidente cessante, Dr. Fernando de Oliveira, no uso da palavra.
É este aspecto – trabalhar o seu
interior para uma projecção autêntica – que constituirá a nossa
principal tarefa. E trabalhar é, aliás, o único ponto de que me
sirvo para aqui fazer uma promessa, porque sei que vou cumprir.
E assim, dentro do seu âmbito
sectorial, em linhas simples mas objectivamente, julgamos não
oferecer dúvidas que interessará:
1) No fomento
É este um sector extraordinariamente
importante, que atingiu já projecção nacional, mercê da sua
qualificada composição e obra realizada, principalmente no serviço
de assistência às Câmaras Municipais de mais débeis recursos.
Todavia, dadas as perspectivas que
se antevêem de maior amplitude de serviços, que o próprio Governo,
através do Ministério do Interior, recomenda e incentiva com
redobrado empenho por todo o País, haverá necessariamente de
transformar desde já muitos aspectos da sua actividade, com a
adopção de esquemas de trabalho em moldes empresariais. Aliás, este
objectivo já começou a ser concretizado com a aprovação recente de
um regulamento de serviços, elaborado com a participação de todos os
técnicos responsáveis. Importa agora insuflar-lhe vida, para que,
como guia válido, dê mais vida ao sector.
Que o mesmo espírito de equipa, que
presidiu às reuniões efectuadas para o efeito, continue com o mesmo
interesse, porque será dentro desta fórmula de actuação, à mesa
redonda, que se irá progredir com vista à obtenção de uma maior
eficiência e maior produtividade.
É com as Câmaras Municipais que este
sector mais contacta. Por isso, quero aproveitar a oportunidade para
as saudar nas pessoas dos seus presidentes, e, especialmente àquelas
com quem mantemos relações de serviço mais apertadas, peço que
contem com a nossa boa vontade e espírito de bem servir, ao mesmo
tempo que apelo para a sua boa compreensão, a fim de nos desculparem
possíveis faltas, certamente inevitáveis por insuficiência de
recursos humanos ou por derivarem de uma fase de perturbação que as
transformações normalmente motivam.
2) Na assistência
Eis aqui uma seçção que irá sofrer
transformações radicais. São cento e cinquenta razões, tantas
quantas os rapazes que ali, em média, vivem, vindos da miséria e dos
tugúrios, muitas vezes da fome permanente e de meios moralmente
degradados, que justificam a adopção de medidas de vulto e
profundas, ao mesmo tempo corajosas e prudentes.
Espera-se modificar toda a sua
estrutura e os métodos pedagógicos, logo que o Internato mude para
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o novo edifício. Para isso, pensa-se objectivar esta pretensão com
recurso ao modelo da «Obra da Rua», a que o Padre Américo dedicou a
sua frutuosíssima vida como Apóstolo do Evangelho vivido, fazendo da
lama luz. Cremos que será esta a melhor forma de educação o de
fornecer aos rapazes a estrutura mental e moral indispensável para
que amanhã se sintam na sociedade iguais a qualquer outro ser, sem
marca ou complexos que lhes afectem a inteligência e a alma. Sabemos
das dificuldades que este programa encerra, mas tudo quanto seja
avanço, mesmo pequeno, nesta direcção, é ganho para os rapazes e
para a sociedade.
Independentemente desta acção e do
carinho que as Casas da Criança existentes hão-de continuar a
merecer, é lógico que se pensará também na construção da segunda
fase do edifício do Internato, ficando assim acabada esta magnífica
e utilíssima obra, que se espera não contraste com aquela outra
humana que ali se vai encetar.
3) Na cultura
Parece-me que este pelouro deve
também merecer novo impulso no sentido de ser aumentado o seu âmbito
de acção. É certo que me faltam ainda elementos que considero
indispensáveis para o objectivar conscientemente. Mas julgo que só
limitações de natureza financeira poderão impedir que nos debrucemos
mais sobre os vultos de relevo que viveram no Distrito,
desenterrando-os da poeira dos tempos para os dar a conhecer às
gerações que passam, tal como hoje já se está a fazer com um deles:
D. João Evangelista de Lima Vidal. E continuará a ser preocupação
desta Junta a valorização da sua Revista, a exploração do folclore
do Distrito e da sua arte regional e a promoção do inventário das
relíquias arqueológicas e históricas, dos monumentos artísticos e
das belezas naturais existentes.
A mesa de honra a que presidiu o Governador Civil do Distrito, Dr.
Vale Guimarães.
É este um esboço que aqui, decerto
incompletamente, fica traçado. É o mais fácil. Para lhe dar
concretização conveniente, porém, não dispensa a Junta a colaboração
de todos quantos queiram e tenham possibilidades de dar ajuda, na
medida em que o assunto requer especialização e sensibilidade
própria, que não é apanágio de todos, mas apenas de poucos. O apelo
aqui fica feito.
E suponho que neste sector, mais
talvez que nos outros, a imprensa, a cujos representantes dos órgãos
regionais e diários, manifesto o meu apreço, simpatia e admiração
pela sua labuta nem sempre isenta de espinhos, terá lugar de
merecido relevo, pela colaboração e préstimo que pode conceder a
esta Junta Distrital e ainda pela crítica independente e
construtiva, que desejaremos abertamente, até como fonte de
purificação de ideias e de processos de actuação. E não será
naturalmente a imprensa o meio mais indicado para a projecção
autêntica da personalidade deste órgão administrativo?
Antes de terminar, desejaria ainda
ter uma palavra agora de carácter pessoal.
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O lugar que hoje aqui ocupo, não o
solicitei, nem tão pouco, por qualquer gesto ou palavra discreta ou
indiscreta, manifestei o desejo de vir a ser distinguido pela
função, que os Procuradores do Conselho do Distrito haveriam de me
confiar, numa decisão que me desvanece e a que só poderei responder
através de uma actuação que procurarei não desmereça a sua escolha.
A primeira notícia que sobre este
assunto recebi, a minha reacção imediata foi de recusa; todo o meu
ser vibrou no sentido da negativa, não só por razões particuliares
especiais que, contudo, já se antevia virem a perder virulência, mas
também porque não via, de momento, forma de conciliar uma vida
profissional absorvente com as exigências da nova função.
Este estado de espírito perdurou
ainda durante alguns dias; e cheguei mesmo à fase de decisão, para
apresentar no momento oportuno. Mas, depois de meditação mais
serena, comecei, na verdade, a admitir egoísmo na minha atitude. Que
coragem revelava eu, se fugisse às responsabilidddes? Ficaria a
minha consciência em paz, refugiando-me num passivismo cómodo, mas
contrário à minha personalidade e ao meu carácter? Não poderia a
recusa ser interpretada como uma ingratidão para com aqueles que não
duvidaram de mim e em mim confiaram como homem? Que espécie de
católico mostraria ser, negando-me ao sacrifício e a dar um pouco de
mim aos outros?
Rectifiquei então a minha primitiva
resolução. E uma pessoa que mais influiu nesta decisão final, foi e
é o exemplo do Governador Civil de Aveiro, que deixou a sua
profissão, sacrificou as suas comodidades e a vida familiar, para
viver em pleno e com dedicação extrema os problemas e a vida da sua
terra. Permitam que aqui um pequenino aveirense dirija pessoalmente
a outro, que é grande – o Dr. Vale Guimarães – uma palavra muito
sentida de apreço, reveladora da muita estima que lhe dedico, e
também ao Governador Civil outra de respeito, admiração e
agradecimento pela notável obra que já realizou em prol de Aveiro e
do seu Distrito.
E é através de V. Ex.ª, Sr.
Governador Civil, que também rendo as minhas homenagens ao Almirante
Américo Tomás, como símbolo vivo da República e da Pátria, e ao
Professor Marcelo Caetano, de quem passo a ser uma peça, embora
muito minúscula, da máquina que impulsionou e fervilha e evolui na
ordem e na paz.
Como nota final, atrevo-me a abusar
da paciência de V. Ex.as, mas não resisto à tentação de
focar ainda um facto curioso relacionado com a minha decisão.
Há dias, tinha entre mãos um livro
de D. João Evangelista de Lima Vidal, por sinal editado por esta
Junta. Costumo ler com frequência o nosso Bispo, porque encontro
sempre nele, na sua prosa, que tantas vezes é música e poesia,
ópticas novas na observação das coisas e dos problemas da vida.
Não admira, por isso, que também
dele me lembrasse no transe por que passava. Num fim de tarde sereno
não muito distante, dei uma volta junto aos canais da nossa ria, ali
para as bandas da Barra. Gosto de ali ir, para fugir ao bulício da
vida e para retemperar as forças. D. João, quando ausente de
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Aveiro, também se habituara a ir ali, como primeiro sítio das suas
rápidas visitas à sua pequena pátria. Só os aveirenses sentem e
compreendem este encanto e sedução.
Olhando a quietude das águas e o
vasto horizonte límpido já inimitavelmente colorido pelo início da
luz crepuscular, como que em sonho, cheguei a perguntar:
– Meu querido Bispo, se te pedisse,
(o tratamento por tu suponho que seja regra no além) se te pedisse
conselho para este meu caso, que me dirias?
Abri então o livro que me
acompanhava e salta-me aos olhos aquela passagem em que ele se diz
puxado e sai de «espectador silencioso» para se arrojar como
elemento operoso e decisivo na restauração da Diocese de Aveiro.
O novo Presidente da Junta Distrital, Eng.º Agrónomo José Gamelas
Júnior, no uso da palavra.
Julguei ver ali a resposta
inspirada. Plasmado do seu espírito, imaginei-o então «com os beiços
a saber a salgado, a pingar gotas da ria por todo o corpo, por toda
a alma», a segredar-me:
– Mas que queres que te responda?
Repara na vida que tive, quando palmilhei essas nossas tão lindas
terras, e o amor que Aveiro para mim representava, ao ponto de
estar, desde o princípio, na primeira linha na restauração da sua
Diocese, contra outra Diocese. Mas olha à tua volta, por todo
Distrito: que vês? Acima de tudo o homem, o homem que desespera e
confia, que luta e reza, que ama e sofre! Todos são aveirenses, que
trabalham e vivem!... Não queres tu ser aveirense? Um dia não
gostaram lá muito que eu fechasse um discurso, dizendo: «Mas tem que
ser!» Mas olha que agora não há outro fecho, não há outra resposta.
Pois aqui estou, meu Bispo, e que
Deus me ajude.
A finalizar, o Governador Civil do
Distrito felicitou o novo Presidente da Junta Distrital pelo belo
discurso proferido e regozijou-se com o facto de o Conselho do
Distrito ter eleito, por unanimidade, tão ilustre Aveirense para a
chefia da Junta Distrital.
O Governador Civil, depois de aludir
às atribuições cometidas à autarquia distrital, salientou o
valimento dos Serviços Técnicos de Fomento e formulou votos para que
tais serviços cada vez com maior intensidade prestem activa
colaboração às Câmaras Municipais do Distrito.
No capítulo da assistência,
referiu-se à inauguração para breve do novo Internato Distrital de
Aveiro e no campo da cultura salientou a obra imensa a levar a
efeito.
De seguida, o Senhor Governador
Civil evocou o nome do saudoso Dr. Aulácio Rodrigues de Almeida,
antigo Presidente e salientou o prestígio que trouxe para a Junta
Distrital a acção do Presidente cessante, Dr. Femando de Oliveira,
cuja reeleição só não se concretizou porque ele foi chamado ao cume
da actividade política no distrito. Depois de agradecer a obra
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levada a cabo pela Junta Distrital cessante, referiu-se às
qualidades de inteligência do Engenheiro José GameIas Júnior, que –
disse –, é dotado de vasta cultura, carácter firme e grande espírito
de serviço, além de ser profissional distintíssimo. Regozijava-se
pois, inteiramente, com a escolha. E iguais elogiosas palavras foram
dirigidas ao novo Vice-Presidente, Engenheiro Manuel Gonzalez
Queirós e dos Vogais Dr. Henrique Souto, Dr. José Seiça e Castro e
Dr. António Eduardo de Pinho e Freitas, cujos nomes e personalidades
– disse – já excederam os limites dos respectivos concelhos a que
pertencem. A Junta estava confiada a homens de valor distrital,
animados do melhor propósito de bem servir um distrito grande e
próspero como o nosso, contribuindo ainda para sua maior
prosperidade e grandeza.
No mesmo dia, o novo Presidente da
Junta Distrital ofereceu, num dos Hoteis da cidade, um jantar íntimo
a que assistiram o Chefe do Distrito, Presidente da Câmara Municipal
de Aveiro e outras entidades e os Chefes de serviços da Junta
Distrital. Aos brindes foram uma vez mais enaltecidas as qualidades
tanto do novo como do Presidente cessante.
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