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N.º 13

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Junho de 1972 

Homens do Porto – Barcelos e Vila da Feira

Por Roberto Vaz de Oliveira


Licenciado nas Faculdades de Direito e Letras – Secção de

Ciências Histórico-Geográficas – pela Universidade de Coimbra

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ADENDA

GUILHERME BRAGA

Por lapso deixei de me referir a um episódio que ligou o nome do poeta a esta Vila.

Como é bem sabido, a divulgação de «Os Falsos Apóstolos» provocou reacção no país criando-lhe muitos opositores.

À imitação do que fizera o cónego de Lamego, António Lopes Roseira, um farmacêutico desta Vila queimou, aqui, um exemplar daquela obra.

Um tal José das Chagas, em correspondência que publicou no «Diário da Tarde» de 25 de Setembro de 1871 (pág. 2), diz que o autor dos «Falsos Apóstolos» reagiu atirando ao farmacêutico «quatro quadras com quatro flechas eivadas».

Heliodoro Salgado, no prefácio da 2.ª edição daquele livro apenas publicou três daquelas quadras, omitindo a segunda.

No único exemplar daquele jornal que existe na Biblioteca Nacional de Lisboa está recortado o lugar onde os versos foram publicados.

Tu, bom homem, que sabes o mistério,

Torvo e fatal, das abortivas plantas,

Por um morto credor do cemitério,

Credor da igreja por mil coisas santas;

... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Tu queimaste na sombra o rude canto

Que ardente me inspirava a nova ideia,

Face a face com Deus no templo santo

Do eterno azul que sobre nós se arqueia!

 

Tu, de meus versos dispersaste ao vento

Desfeita em cinza a multidão sombria?!

Dalguém, dalguém talvez, nesse momento,

Ria a caveira, sob a lajem fria...

O Dr. Vaz Ferreira no seu «Ferro-Velho» (Correio da Feira, número 2310 de 7 de Novembro de 1942), comentando este acontecimento, pergunta: – «Como é que o sr. José Chagas dizendo que as quadras são quatro, nos apresenta três? Qual era o veneno que as ervava? Seria o das plantas abortivas que fez o Sr. José Chagas não dar à luz a segunda quadra e substituí-la por pontinhos?»

Registo, mas não sei dar a resposta.

No mesmo artigo o Dr. Vaz Ferreira narra:

«O Guilherme Braga ainda esteve na Feira, hospedado na quinta das Ribas, em Fevereiro de 1874, quando escreveu um folhetim a respeito das quatro «soirées masquées»: as primeiras em casa do Dr. Manuel Bandeira, onde compôs as quadras «Rosas e ortigas», a terceira em casa do António Augusto Duarte Silva e a quarta no bonito palacete ocupado pelo Joaquim Eduardo de Almeida Teixeira, à esquina da praça do Dr. Roberto Alves, dono em seguida desse prédio, onde habita o volumoso tesoureiro de finanças».

A tudo isto tenho que comentar.

Não conheço aquele folhetim, apenas estou informado de uma «soirée masquês» em casa do Dr. Manuel Bandeira, assim como nunca ouvi referir as outras duas últimas.

A casa habitada pelo tesoureiro de Finanças (Felisberto Bordalo de Vilhena) não está situada na esquina da praça do Dr. Roberto Alves, mas na esquina da rua deste nome com a praça do Dr. Gaspar Moreira.

Finalmente, quero mencionar o que a respeito do poeta disse «O Primeiro de Janeiro» de 7 de Novembro do ano findo (1971).

Por ocasião da eleição da Madre Abadessa do Mosteiro de Avé Maria, que se elevava onde hoje está a estação de S. Bento, no Porto, realizavam-se aí festas denominadas outeiros, que ficaram célebres com o nome de abadessados.

A elas acorriam os mais afamados poetas repentistas «para recitar as suas poesias, glosando os motes que lhes davam freiras ou seculares».

Nas últimas que nele se realizaram, entre os doces, vinhos finos e licores que foram servidos, glosaram, além de outros, Guilherme Braga, Guerra Junqueiro e Manuel Vieira de Andrade.

Creio que o nosso poeta se sentiu bem naquele meio monástico, propício à inspiração do seu temperamento lírico.

Vila da Feira – Casa das Ribas

1971 – 1972

 

páginas 33 a 52

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