Sempre que vou a Braga, algo de novo
me faz vibrar.
Por um lado, reminiscências da
meninice, lembranças de oito deliciosos dias passados no cimo da Rua
Central, confiando às folhas de costaneira os meus primeiros
escritos, laboriosa compilação de histórias de que já nem sequer me
lembro, mas que então, saídas da boca da criada trintona de meus
tios, me transportavam a não sei que mundos de fantasia. Que
saudades, meu Deus!
Por outro lado, Braga fala-me de
Caetano Brandão. E Caetano Brandão é um fruto da minha árvore, um
pomo mais preciosíssimo gerado do mesmo ramo, do mesmo tronco, da
mesma raiz donde brotei, e alimentado do mesmo sol, da mesma aragem,
da mesma água que eu bebi.
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Monumento a D. Frei Caetano Brandão, erigido em Loureiro, sua
terra natal. |
Braga é a Sé. É a Sé local
obrigatório de romagem para mim. Para lá me dirigi, uma vez mais, há
cerca de um mês, em visita ao túmulo de Caetano Brandão, o famoso
Arcebispo, nado e criado em terras de Azeméis.
Mas algo de novo tinha ainda Braga,
nesse dia, para me dar. E para me fazer vibrar.
Encontrava-me na Praça que fica
defronte ao Hospital de São Marcos. Nunca me parecera tão bela. E os
meus olhos deleitavam-se na traça primorosa do edifício, acariciada
por um sol primaveril.
Logo me aflorou à mente a figura
cativante de D. Frei Caetano Brandão. Associação de ideias? Talvez!
É que eu lera, há muito tempo, que, aquando da sua morte, ali foram
venerados retratos seus, como se de um santo se tratasse.
E quis ver. Inquirir.
Da Secretaria do Hospital, o senhor
Lopes remeteu-me à sacristia da Igreja. Que «parece-que-sim-senhor»!
E eu fui. Através de compridos
corredores, que mais longos se tornavam ante a minha ânsia de
encontrar.
E encontrei mesmo! Ali estava
Caetano Brandão.
Imponente no seu grande retrato.
Como um Rei! E ao lado, noutro quadro grande, imponente também, o D.
Frei Bartolomeu dos Mártires, o Arcebispo Santo que Frei Luís de
Sousa imortalizou.
Lado a lado, os dois Arcebispos,
nascidos em berço plebeu mas elevados, por virtudes e obras, à
categoria de vultos nacionais, dominam aquela sala, repartindo as
honras do seu reinado. Sozinhos. Reis incontestados de Braga.
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Valeu a pena esta minha passagem na
Roma Portuguesa.
Uma vez mais, Braga fez-me vibrar,
ao revelar-me, a uma luz nova, a grandeza do insigne filho de
Loureiro.
Abril, 1972.
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NOTAS
D. Frei Caetano Brandão nasceu no
lugar da Igreja, da Freguesia de Loureiro, em 11 de Setembro de
1740.
Professou na Terceira Ordem da
Penitência (vulgo Padres Borras, ramo da Ordem Franciscana),
estudando em Coimbra, onde frequentou a Universidade e se tornou
bacharel.
Exerceu o professorado em colégios
da sua Ordem, e foi orador de mérito.
Aos 43 anos (1783) é nomeado Bispo
de Belém do Pará, então ainda na administração portuguesa.
Em 1789 regressa à Metrópole,
nomeado Arcebispo de Braga.
Espírito profundamente franciscano,
impregnou de simplicidade e de doação pelos outros toda a sua vida,
mormente como Bispo de Pará e Arcebispo de Braga, onde desenvolveu
extraordinária acção pastoral e social.
Morreu em 1805, na capital do Minho. |