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N.º 10

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1970 

 

Salazar: Mito ou Génio?

Por Fernando de Oliveira

Constituiria grave injustiça esta Revista ignorar um facto transcendente da vida nacional: o passamento de Salazar.

Com efeito, a História deste País, que contém em si mesmo os sinais mais contraditórios do génio e da «apagada e vil tristeza», haverá de registar nos seus anais um mandato de 40 anos, que se poderá discutir mas que não será legítimo menosprezar e muito menos ignorar.

A perspectiva histórica fará esbater sombras e avivar contornos ainda mal definidos, não obstante a má memória dos homens, melhor, no entanto, que a das nações.

É que restarão sempre cidadãos independentes, que nunca se deixaram atrelar ao carro do Poder para melhor vencer na vida, eriçada de incompreensões, invejas, ódios, paixões, fanatismos e tibiezas.

Muitos de nós seríamos tentados a dizer que nem sempre estivemos de acordo com Salazar.

Isso, se determinado por honesto sentido crítico, será uma manifestação de independência e de liberdade, quer nos situemos no conceito de Stuart Mill, quer muito simplesmente no de S. Pedro.

Mas se nos recolhermos à nossa insignificância, não seremos obrigados a reconhecer, humildemente, que nos falecem meios para apreciar e compreender, pelo menos imediatamente, os nebulosos rasgos dum génio? / 4 /

É que, em boa verdade, o génio ou se aceita ou se repudia.

Está nisso uma atitude de confiança ou de desconfiança, de fé ou de cepticismo no mandatário dos nossos interesses.

Contestado ou aceite, vilipendiado ou adulado, uma certeza transparece com nitidez na figura enorme de Salazar: a sua honestidade, o seu desapego aos bens materiais, a sua dedicação à causa da Pátria, que tomou como esposa, o seu fascínio de autêntico condutor de homens, em resumo, o seu fulgurante génio político.

Como sempre, muitos o idolatraram, mas não tiveram categoria para seguir o seu trilho, outros o contestaram e entretanto lhe copiaram os métodos.

Curvemo-nos, pois, ante a sua veneranda memória. Como lapidarmente definiu Marcelo Caetano, o que fica para a História é o saldo positivo da sua acção governativa. É caso para dizer: Morreu o Génio! Viva o Génio.

FERNANDO DE OLIVEIRA

 

páginas 3 e 4

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