INTRODUÇÃO
Com a publicação deste estudo,
desejo prestar uma merecida e oportuna homenagem a toda a imprensa
denominada periódica (jornais) da minha terra, hoje representada
pelo semanário «Correio da Feira», único sobrevivente, entre muitos
que, com ele, alinharam o passo durante dezenas de anos, o que se
deve ao esforço e tenacidade do que foi seu proprietário e director,
José Soares de Sá, bem continuado por suas filhas, D. Brízida Monte
Santos Soares Alvão e D. Maria Luísa Soares de Sá Braga, que,
dedicadamente, assumem hoje, respectivamente, a responsabilidade da
sua direcção e administração.
A esta homenagem bem justa por
valiosos motivos, desejo associar uma saudação, muito viva e
calorosa, a todos os que trabalharam, e trabalham nos jornais que se
publicaram e publicam neste concelho, não esquecendo os seus mais
humildes servidores, testemunhando-lhes, assim, e à memória de
tantos, a gratidão do povo do nosso concelho que aqui me permito
representar, lembrando quanto é ingrata a missão da pequena imprensa
regional, onde a insatisfação vai desde os que nela trabalham até ao
público, que dela se utiliza.
Prossigo na execução do plano, que
já anunciei, de elaborar trabalhos que possam beneficiar
empreendimento de maior vulto: a publicação de uma história
desenvolvida da vila e do concelho da Feira, que se torna necessário
fazer, associando-me, assim, àqueles que já para ela têm contribuído
com seus valiosos trabalhos, procurando entusiasmar e incentivar
outros que, impulsionados pelo seu bairrismo e auxiliados pela sua
cultura, venham ao nosso encontro com as suas faculdades de estudo,
inteligência e alimentados de muita perseverança...
Daí resultaria obra muito útil,
sobretudo se, por boa conjugação de esforços, for possível encontrar
meio de dividir as tarefas, de modo a evitar repetições,
conquistando-se ao tempo uma maior brevidade na conclusão da obra.
Para tanto, há necessidade urgente
de arrecadar e catalogar na Biblioteca Municipal, na maior amplitude
possível, os livros, documentos, papéis, e demais elementos de
interesse e de estudo que existam dispersos e até em risco de se
perderem, e que os seus respectivos proprietários possam ceder, para
que venham a ser utilizados pelos estudiosos, contribuindo-se, para
fortalecer os alicerces de uma meritória obra de cultura que não se
confinaria, apenas, ao interesse local por também ser de natureza
regional.
Pode-se mesmo ir mais longe:
catalogar as principais obras que, não podendo ser integradas na
Biblioteca, estejam em mãos de particulares e tenham, para o efeito,
manifesto proveito, ficando a servir de guia para todos os que
necessitem consultá-los e de caminho aberto para eventuais
aquisições no futuro, por parte da Câmara Municipal.
Todo este trabalho deve ser
acompanhado da reorganização da actual Biblioteca Municipal, de modo
a nobilitá-la e a torná-la útil e digna da alta função para que foi
criada, o que é desejado, com alvoroço, por todos os feirenses que
vêem na cultura uma necessidade imperiosa da sua vida espiritual,
por vezes tão abandonada ao ostracismo.
Entre os elementos de interesse e de
estudo, atrás apontados, sobressaem os jornais, fontes abundantes de
informações e de conhecimentos que convém divulgar para facilitar o
estudo daqueles que encontrem encanto e utilidade em viver em
contacto com o passado, para o dar a conhecer aos do presente e aos
vindouros, pois são verdadeiros cartórios, com documentos preciosos
que, divulgados, também podem estimular e auxiliar estudos que
interessem à história da nossa terra.
Podemos, assim, ouvir a voz dos
nossos conterrâneos de antanho, acompanhando a evolução da sua vida
entre o dobrar dos sinos que anunciaram a sua
/ 52 /
natividade para esta vida e para a de além.
Justifica-se, deste modo, a
preferência que dei à conclusão e publicação deste trabalho sobre
outros que tenho entre mãos, esperando que muitos me acompanhem
neste propósito de enriquecimento cultural.
Impõe-se, materializando o que atrás
dissemos que, sem demora, se vão remetendo os jornais e revistas
locais, sobretudo os mais antigos, para as respectivas Bibliotecas
Municipais, num amplo e continuado esforço de defesa dum apreciável
património municipal que cumpre defender, num movimento de
solidariedade cultural de todo o distrito, obstando, no máximo
possível, às barbaridades que o vão comprometendo e desfalcando dia
a dia.
Também seria interessante promover,
em todo o distrito, a troca de jornais antigos, concentrando-os nos
arquivos dos respectivos concelhos, favorecendo-se a formação de
colecções o mais completas que for possível.
Durante as aturadas pesquisas que
fiz para a elaboração deste trabalho, tomei conhecimento das
inúmeras destruições que se fizeram de colecções de jornais,
sobretudo por falecimento de seus velhos detentores, pois,
antigamente, em famílias cultas, havia o bom hábito de guardar os
jornais locais.
Se quem os ler atentamente pode
colher elementos úteis para a história da nossa terra, deve,
contudo, estar precavido contra os exageros desencadeados pelas
paixões que dominam muitas das suas páginas.
Infelizmente, o entusiasmo provocado
pela defesa dos ideais políticos e religiosos e dos interesses
partidários e até as inclinações pessoais dos directores dos
jornais, apesar de proclamarem a sua independência, prejudicam a
imparcialidade que é de desejar.
Só o tempo e os acontecimentos podem
atenuar ou acabar com estes defeitos, que infelizmente deixam muitas
ruínas no seu caminho, provocando grandes danos; os seus escritos,
próprios do ambiente que os determinou, fazem com que os seus
desígnios se encaminhem mais para o ataque pessoal do que para a
defesa doutrinária, mascarando a verdade conforme a conveniência
política a que se hipotecaram.
Assim, para que o trabalho seja
proveitoso e confinado à verdade, torna-se necessário saber tirar
das páginas chamuscadas, se não ardidas pelo fogo da paixão, as
informações úteis, à semelhança de quem retira, com as mãos, as
castanhas da fogueira, sem queimar os dedos, pois a verdadeira
história só se pode fazer quando o historiador tem a força e, por
vezes, a coragem de se vencer a si próprio, integrando-se na época e
no ambiente em que os factos se geraram e se desenvolveram.
A proximidade, e sobretudo a
actualidade em relação às ocorrências que servem de base a um estudo
obrigam a um especial cuidado, bem necessário ao desenvolvimento de
um trabalho como este, que toma a natureza de «jornal dos jornais»,
em número único.
Desejamos ser objectivos, sem magoar
quem quer que seja, nem a memória dos que já partiram sem, contudo,
esquecer o que devemos à verdade e a nós próprios.
Há necessidade de se promover a
publicação de trabalhos, da natureza deste, em todos os concelhos do
nosso distrito, de modo a poderem ser reunidos em volume,
iniciando-se uma nova modalidade de política cultural, à base
regional, que afirme a unidade e a inteira colaboração entre todos
os concelhos do distrito.
Também se pode desenvolver esta
política, e com a mesma orientação, alargando-a, sucessivamente, a
outros sectores da vida dos mesmos concelhos, onde se verifique uma
identidade ou afinidade de actividades ou motivos, como sejam:
história das armas, selos, bandeiras e estandartes concelhios, do
teatro, dos conventos, do folclore, do turismo, etc.
O estudo dos jornais, sobretudo o
dos mais antigos, deve ser de certo modo detalhado, remediando-se,
na medida do possível, as consequências do desaparecimento, tão
frequente, de grande parte deles.
Convém indicar onde eles estão
arrecadados, possibilitando, com tal prática, o seu estudo a todos
os que, porventura, se interessem pelos acontecimentos locais.
Consumi dilatados meses na procura
de jornais de modo a poder oferecer um trabalho que abrangesse o
maior número dos que se publicaram na vila e concelho.
Apesar dos esforços que desenvolvi,
não me foi possível ver qualquer exemplar dos dois jornais, adiante
referidos: o «Jornal dos Anúncios» (1884) e o «Brinco» (1908). O
mesmo quanto ao manuscrito «A Feira» (1910).
Encontrei muitos na Biblioteca
Municipal da Feira, que pertenceram às colecções do Dr. António
Toscano Soares Barbosa, que foi ilustre Delegado do Procurador Régio
e, em seguida e durante muitas dezenas de anos – até ao termo da sua
vida profissional, contador judicial desta comarca – e José Adão
Rodrigues Pinhal, grande bairrista e dedicado feirense, a quem a
vila, o concelho e designadamente a sua freguesia natal – Santa
Maria de Arrifana – tanto devem, em prestimosos e dedicados
serviços, de tal modo que se tornou conhecido por «Cônsul da Feira
no Porto».
Outros, tenho-os no meu arquivo.
Dos mais antigos ainda se encontram
alguns, mas muito poucos, na Biblioteca Municipal do Porto e na
Biblioteca Nacional de Lisboa.
Na redacção do «Correio da Feira»
pode-se encontrar a valiosa colecção deste jornal.
Desde que se tornou obrigatório o
depósito dos jornais que se forem publicando, em determinadas
bibliotecas, fácil é a consulta: (Decreto-Lei n.º 19952, de 27
/ 53 / de Junho
de 1931, decretos, de 19 de Dezembro do mesmo ano, 24569, de 18 de
Outubro de 1934, 25134 de 15 de Março de 1935, decretos-lei, 386841
de 18 de Março de 1952, 46 350 de 22 de Maio de 1965 e portarias
8634, de 19 de Fevereiro de 1935 e 14205 de 23 de Dezembro de 1952).
Beneficiam-se, entre outros, do
depósito, as bibliotecas Nacional de Lisboa, da Academia de Ciências
de Lisboa, Geral da Universidade de Coimbra, Municipal Central de
Lisboa, Pública Municipal do Porto, Pública de Évora, Pública de
Braga, Popular Central de Lisboa, Municipal de Coimbra e ainda os
Ministérios do Interior e da Justiça.
Algumas colecções são raríssimas.
Assim acontece com as revistas musicais de publicação quinzenal, que
se intitularam «Miscelânea Musical» e o «Eurico», que se editou
nesta vila em sua continuação.
Daquela só conheço duas, que se
completam; uma na mão do Dr. Humberto Xavier de Paiva, que nesta
vila foi distinto veterinário municipal e a quem a vila e concelho
muito devem no domínio da sua actividade profissional e no campo da
assistência, da arte e da cultura, e de sua mulher, a senhora D.
Gilberta Xavier de Paiva, distinta pianista, fundadora, nesta vila
da Feira, da Academia de Música de Santa Maria; e outra na mão do
distinto maestro António de Melo, da cidade de Lisboa.
Existe também o número 1 na
Biblioteca Nacional de Lisboa.
Do «Eurico» só conheço uma colecção
na mão do referido maestro António de Melo: dela foi principal
redactor o grande maestro Miguel Ângelo, do Porto.
À generosa ajuda destes ilustres
colaboradores devo a possibilidade que tive de estudar as duas
referidas revistas e de adquirir as fotografias que delas se
publicam.
A eles protesto o meu agradecimento
que torno extensivo a Francisco Vicente da Costa Neves, desta vila,
muito devotado feirense e antigo funcionário da Repartição de
Finanças, pelo auxílio que me deu, com valiosas informações, muito
seguras e honestas, sobre a existência e a vida de vários jornais,
que foi buscar ao vasto manancial de conhecimentos que tem da
história contemporânea da Feira.
Só assim, e com lances de
felicidade, consegui compulsar os jornais publicados de modo a fazer
um estudo cuidadoso sobre a imprensa periódica na vila da Feira, no
qual se inclui, como pertencendo ao resto do concelho: o «Arrifanense»,
que se publicou na referida freguesia de Santa Maria de Arrifana e o
«Leverense», que se publicou na freguesia de Lever, enquanto
pertenceu ao concelho da Feira, do qual foi desanexada em 1926 para
ser integrada no do de Vila Nova de Gaia. Incluo, ainda os
paroquiais e o desportivo.
Quase todos os jornais que se
publicaram na vila e concelho da Feira, como de resto aconteceu e
acontece na província, inscreveram no seu programa a defesa dos
interesses regionais e locais: apenas se exceptuam, em razão dos
seus fins, a «Miscelanea Musical» com a sua continuação o «Eurico» e
o «Diário D'Anuncios».
Cumpriram a sua missão o melhor que
puderam, conforme o critério dos seus directores, nem sempre bem
esclarecidos ou com possibilidades de inteira independência; até se
encontram os que se enfeudaram à parte comercial, como necessidade
para angariar os meios necessários para a subsistência dos seus
proprietários, como aconteceu com o «Campeão da Feira».
Na sua esmagadora maioria, os
jornais que se estudam foram políticos e com essa finalidade se
fundaram, representando e defendendo o interesse de ideais ou
partidários, motivo de manifesta perda da sua independência, embora,
por vezes, invocada nos seus cabeçalhos.
Nas duas últimas décadas do século
passado, as que nos interessa considerar, (pois o primeiro jornal da
Feira foi fundado em 1882), existiram dois partidos políticos que se
alternavam no poder, dando lugar ao chamado rotativismo político: o
Progressista, fundado em 1877 em resultado da fusão do Histórico com
o dos Reformistas, chefiado por Anselmo Braancamp Freire a quem
sucedeu, por sua morte em 1885, o conselheiro José Luciano de
Castro, do concelho de Anadia, e o Regenerador que, quando se
constituiu, foi chefiado pelo Marechal Saldanha e depois,
sucessivamente, pelo grande Fontes Pereira de Melo e conselheiro
Hintze Ribeiro.
Em 1901, o conselheiro João Franco
abriu cisão neste partido, formando o Regenerador-Liberal, conhecido
por Franquista, de que ele foi chefe e, em 1904, outro tanto sucedeu
ao partido Progressista pela cisão aberta pelo conselheiro José
Maria de Alpoim, que fundou o partido Dissidente ou Alpoinista, de
que foi chefe.
Por morte do conselheiro Hintze
Ribeiro, em 1907, a chefia do partido foi confiada ao conselheiro
Júlio de Vilhena, na qual se manteve até 1910, data em que lhe
sucedeu o conselheiro Teixeira de Sousa, mas no mesmo dia em que a
este foi confiado tal encargo foi eleito, chefe de facção
conservadora do mesmo partido, o conselheiro Campos Henriques.
Assim foi até à proclamação da
República.
Todos aqueles partidos tiveram a sua
representação assegurada na imprensa da vila.
O partido Progressista viu a sua
política defendida pelo «Feirense» que foi seu órgão (1-883),
continuado pela «Voz da Feira» e a partir de 3 de Agosto de 1902
pelo «Jornal da Feira», que embora só desde então se intitulasse seu
órgão, já de há muito alinhava ao lado daquele partido: em 1904
surge, como órgão do partido, o «Progresso da Feira».
/
54 / O Dissidente teve como
seu órgão o «Notícias da Feira» (1909), que continuou o «Informador»
(1907): este, nos seus últimos tempos, já tinha tendência Alpoinista.
O Regenerador, que também foi
apoiado pelo referido «Jornal da Feira», teve como seu órgão, a
partir de 1897, o «Correio da Feira» que, depois da morte de Hintze
Ribeiro, seguiu o conselheiro Júlio de Vilhena e, depois, o
conselheiro Campos Henriques como regenerador-conservador, enquanto
a facção do conselheiro Teixeira de Sousa teve o apoio da «Gazeta
Feirense» (1908), conhecida pela «lefa», que em 7 de Fevereiro de
1910 já se intitulava «único órgão do partido regenerador do
concelho da Feira».
Por sua vez, o Franquista teve como
seu órgão, no concelho, o «Comércio da Feira» (1902).
Os Republicanos, até 1910, não
tiveram órgão privativo.
Os Católicos (nacionalistas), até
esta data, acolhiam-se ao «Correio da Feira» e os Legitimistas não
tinham representação na imprensa local.
Depois da proclamação da República
formaram-se três partidos: o Republicano Português, também conhecido
por Democrático, o Evolucionista e o Unionista, chefiados,
respectivamente, pelo Doutor Afonso Costa, e Drs António José de
Almeida e Brito Camacho.
Os demais republicanos agrupavam-se,
como independentes, sob a chefia de Machado dos Santos.
Apenas os dois primeiros tiveram
órgãos a representá-los nesta vila e concelho.
O Democrático pelo «Democrata
Feirense» (1914) e o Evolucionista pelo já referido «Correio da
Feira».
Antes de tomarem esta posição
partidária, ambos se intitularam e sucessivamente, órgãos do partido
Republicano, primeiro este e depois aquele.
O «Progresso da Feira» continuou a
ser de tendência monárquica.
Como é sabido, os partidos da
República, em dado momento, passaram a pulverizar-se em pequenos
partidos.
Destes, apenas teve representação,
nesta vila, o Liberal-Republicano, da direcção do Dr. António
Granjo, do qual foi órgão o «Correio da Feira» designando-se órgão
do partido Republicano-Liberal. O partido Católico foi representado
pelo jornal «Vila da Feira» (1902).
Como semanários nacionalistas
apontamos dois: um em continuação do «Democrata Feirense» denominado
«Povo Feirense» (1938) e outro, «Tradição» (1932), este de tendência
monárquica.
Finalmente, em 1957, fundou-se o
«Notícias», independente, que a partir de 1964 (3.ª série) passou a
ter feição de jornal católico.
Todos os jornais da sede foram
semanais, com excepção da «Miscelânea Musical» e «Eurico» que foram
quinzenais e «O Campeão da Feira» que foi bi-semanário.
Alongarei o estudo aos jornais
paroquiais, quer periódicos quer em números únicos, ao desportivo,
e, por curiosidade, aos manuscritos.
Como afirma José Tengarrinha, na sua
«História da Imprensa Periódica Portuguesa», são condições
indispensáveis para que uma publicação possa ser considerada jornal,
«a periodicidade, encadeamento e conteúdo específico diverso do livro
ou do panfleto «(fI. 16) no qual se pode incluir «o problema dos
números únicos (ou mais propriamente das publicações avulsas ou
comemorativas) (fI. 20).
Na ordenação deste trabalho,
seguimos o critério da periodicidade em seu conceito genérico e,
assim, estudaremos, em primeiro lugar, os periódicos – jornais da
vila e concelho, depois os paroquiais e o desportivo, seguindo-se os
números únicos, tipo jornal e comemorativos e depois, como
curiosidade, os manuscritos.
|
|
Pouco se tem escrito sobre os
jornais da vila e concelho da Feira. Lembramos as referências feitas
pelo Dr. António Zagalo dos Santos (Imprensa periódica do distrito
de Aveiro – Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. 9.º págs. 69 e 121)
com adições por A. Carneiro da Silva (cit. Revista e volume pág.
296), trabalhos de mérito mas muito incompletos e com equívocos.
Ainda se pode indicar o artigo
publicado no «Comércio da Feira», (n.º 33 de 14 de Agosto de 1902).
Finalmente, podemos citar os
trabalhos de Augusto Xavier da Silva Pereira, «Jornalismo Português»
e «Jornais Portugueses».
|
IMPRENSA PERIÓDICA (JORNAIS)
A
DA VILA E CONCELHO
1
JORNAL DA FElRA
Em 20 de Agosto de 1882,
iniciou-se, na Vila da Feira, a publicação do seu primeiro jornal
– «Jornal da Feira» – semanário que se distribuía aos domingos com
4 páginas, cada uma com 5 colunas: o seu formato era de 0,47 x
0,32.
Este jornal teve dois formatos no
seu cabeçalho: um que se manteve até ao número 1042 e outro que
apareceu com o número seguinte, que coincidiu com o número um da
segunda série (3 de Agosto de 1902).
Foi impresso na tipografia
municipal, na Praça Velha, que o seu proprietário arrendara, por
arrematação, e onde tinha a sua sede e redacção.
Foi fundado por Manuel José da
Silva Ribeiro, um
/ 55 / jovem muito audacioso que, durante toda a sua vida,
votou um especial carinho à imprensa periódica, que sempre serviu
com dedicação.
Nasceu na Vila da Feira, em 8 de
Março de 1850, filho legítimo de Manuel José da Silva Ribeiro, e
de sua mulher D. Marcolina (também conhecida por Miquelina) de
Freitas Apenceler Ribeiro, que foram proprietários da parte
nascente do prédio que hoje pertence a Francisco Plácido de
Resende, que faceia a Praça do Doutor Oliveira Salazar pelo lado
norte: era neto paterno de Manuel Ribeiro e de Custódia Moreira e
materno de Joaquim Manoel de Freitas e Clara Joana Apenceler.
Casou com Maria do Vale de Moura
Ribeiro e faleceu, em Espinho, em 6 de Julho de 1922, em estado
de grande decadência económica, não obstante ter herdado bens de
certo valor de seus pais e sogros. Como me informou o já referido
Francisco Vicente da Costa Neves, orientou a construção do altar
da Senhora de Lourdes, na Capela da Piedade desta Vila, e
construiu o prelo de madeira onde se imprimiu o jornal – «Brinco»
adiante referido, com o auxílio de um hábil carpinteiro, filho de
um tal João de Freitas, assim como se dedicou à manufactura de
miniaturas do Castelo da Feira e de outros monumentos além de
outros trabalhos de artesanato, actividades de que se socorreu,
sobretudo quando lhe faltaram os meios necessários para poder
viver.
|
|
/
56 / Não obstante os
esforços que empreguei, mesmo entre os membros da sua família, não
me foi possível obter a sua fotografia.
Na vida deste jornal destacam-se
três épocas bem distintas: a) – uma que decorre desde a sua
fundação, em 20 de Agosto de 1882, até 3 de Agosto de 1902,
completando 20 anos, com 1042 números; b) – outra, desde esta
data até ao número 1094 de 26 de Julho de 1903 com o qual
completou o 21.º ano; c) – outra, desde 3 de Agosto de 1900 até à
sua extinção em 10 de Julho de 1904, com a publicação do seu
número 1144, quando estava para completar 22 anos.
|
a)
Durante este período e desde a sua
fundação, o Manuel Ribeiro figurou, a princípio, como seu editor
responsável, redactor e proprietário, intitulando-se, depois e
sucessivamente, como administrador e director: tinha por editor
António d'Almeida Júnior.
A sua actividade caracterizou-se
pela defesa dos interesses locais, nomeadamente na da integridade
do concelho da Feira, quando do seu desmembramento com a criação
do concelho de Espinho em 1899, sendo então, juntamente com o
«Correio da Feira», verdadeiros órgãos da causa da defesa dos
interesses da vila e do concelho
/ 57 / dando,
assim, o «Jornal da Feira», cumprimento à promessa feita no
primeiro número do seu programa, quando fez a sua apresentação:
«pugnar quanto em nossas forças caiba por tudo quanto possa
contribuir para a prosperidade desta terra».
Politicamente, embora iniciasse a
sua actividade dentro da norma enunciada no número quatro daquele
programa «auxiliar aquele partido político que melhor cumpra o seu
programa quando esse programa nos satisfaça», veio a inclinar-se
para o partido regenerador que nele tinha o jornal da sua
confiança.
Mas, ainda dentro deste período –
evoluiu para o partido progressista que no concelho era chefiado
pelo abade Manuel d'Oliveira Costa, que então era presidente da
Câmara Municipal da Feira, conhecido por abade Costa ou abade de
Arrifana por ter, durante muitos anos, paroquiado esta freguesia
do concelho e que era natural de Milheirós de Poiares, também
deste concelho da Feira.
Isto provocou a fundação do
«Correio da Feira» como órgão daquele partido. Assim o afirmou
este jornal no seu número de 23 de Julho de 1904, com áspera
censura ao «Jornal da Feira». «Estão na memória de todos os
acontecimentos de há sete anos, em que pela deslealdade do «Jornal
da Feira» tivemos que fundar o «Correio» para vir à imprensa em
defesa do partido regenerador que aquele abandonara. Então o sr.
Manuel José da Silva Ribeiro, proprietário do «Jornal da Feira»,
desamparando os regeneradores, seguiu aberta e ostensivamente os
progressistas...»
|
Dr. João Pereira de Magalhães |
|
No dizer deste «Correio» a
filiação do «Jornal da Feira» no partido progressista data de
1896.
Em 30 de Julho de 1899 (número
887) o «Jornal da Feira» proclama a sua independência perante os
partidos políticos, nomeadamente do progressista pelo qual
combatia para se dedicar, exclusivamente, à luta pela integridade
do concelho da Feira, por certo muito ressentido com a atitude do
chefe daquele partido, conselheiro José Luciano de Castro, que
presidia ao ministério que criou, então, o concelho de Espinho.
Mais tarde retomou a defesa dos
interesses do mesmo partido até ser reconhecido como seu órgão
neste concelho.
O «Jornal da Feira» chegou a
anunciar a sua extracção em 1200 exemplares (número 893, de 17 de
Setembro de 1899).
b)
No segundo período, ou seja desde
o dia 3 de Agosto de 1902 (número 1043), tomou a posição de órgão
do referido partido progressista sob a direcção do Dr. João de
Magalhães (João Pereira de Magalhães), mantendo-se, como seu
editor, aquele António d'Almeida Júnior e, como seu proprietário e
administrador, o referido Manuel Ribeiro que o jornal apelidou de
«benemérito a quem a Feira deve a primeira creação d'um jornal»:
aparece como secretário Américo de Resende.
O Dr. João de Magalhães
nasceu em Torres Vedras em 22 de Maio de 1873, quando seu pai aí
era magistrado, descendendo duma distinta família de S. Jorge, do
concelho da Feira: – seu pai foi o distinto Desembargador Dr.
Joaquim Pereira de Magalhães e sua mãe D. Luísa Augusta Coelho da
Rocha. Bacharel formado na Faculdade de Direito da Universidade de
Coimbra, fixou-se na Vila da Feira, onde exerceu com grande
permanência e brilho, a profissão de advogado. Militando no
partido progressista, foi eleito deputado pelo círculo de Aveiro,
(em 1906 e 1910) de que fazia parte o concelho da Feira sendo
designado secretário da Câmara dos Deputados, onde se estreou em
22 de Novembro de 1906. Foi presidente da Câmara Municipal da
Feira, nas vereações de 1907, 1908, vice-presidente e vereador em
outras gerências, sócio da Sociedade de Geografia e Secretário
Geral da Província de Macau por duas vezes, a primeira em 1918 e a
segunda em 1926.
/
58 / Foi aí Governador
interino de 5 de Abril de 1929 a 30 de Março de 1931, onde
desempenhou as funções de Encarregado do Governo, de 15 de Outubro
de 1931 a 21 de Junho de 1932.
Faleceu naquela Província, e no
exercício daquele cargo de Secretário-Geral, em 9 de Agosto de 1933.
Muito culto, era de um trato muito
distinto, tendo manifestado sempre a sua grande dedicação pela vila
e concelho de Feira, na defesa dos quais sempre se esforçou.
Fez parte de vários elencos de
actores amadores que tanto se evidenciaram na vila, em récitas que
ficaram memoráveis.
O referido Américo de Rezende (Américo
Soares de Rezende) nasceu na freguesia de Sanfins, deste
concelho da Feira, em 29 de Abril de 1875, sendo seus pais António
Joaquim de Rezende e sua mulher Maria Soares da Mota, tendo falecido
em 10 de Outubro de 1913.
Foi durante muitos anos ajudante do
escrivão-notário (2.º ofício) José Cândido Marques de Azevedo,
salientando-se, também, como actor amador e organizador de festas
no distinguido meio social da Feira, de então.
Foi vereador da Câmara Municipal da
Feira de 1908 a 1910 e administrador do concelho (1911).
No artigo de fundo daquele número
1043, quando o jornal dá a explicação da sua filiação política,
reconhecendo a chefia do conselheiro José Luciano de Castro,
proclama os méritos do seu referido director, o referido Dr. João
de Magalhães «Um carácter primoroso e um partidário já velho de
convicções profundas e dedicadas» que, então, era o vice-presidente
da Câmara Municipal.
Confessa que de há muito as suas
afeições políticas convergiam para o partido progressista,
acrescentando «Absolutamente desiludidos e convencidos pela
experiência de duas longas dezenas de anos que a independência em
política é inútil e ineficaz, resolvemos abraçar os ideais do
partido monárquico mais avançado do país... Ninguém nos poderá
acoimar de trânsfugas, porque nunca tivemos praça assente em partido
algum».
Parece, por isto, que quando teve
tendência regeneradora, como o acusa com acrimónia o citado «Correio
da Feira» de 23 de Julho de 1904, era apenas «político miliciano».
Refere, como fazendo parte da
redacção, o já aludido abade Manuel d'Oliveira Costa, Dr. Gaspar
Alves Moreira, Dr. Crispim Teixeira Borges de Castro, Manuel Caetano
d'Oliveira e Domingos Augusto de Sousa.
A parte literária, como se diz no
referido artigo, ficava a cargo de um colaborador especial.
Ainda durante este período o jornal
continuou a ser impresso na tipografia municipal.
c)
Neste terceiro e último período, que
teve início com o n.º 1095 em 12 de Agosto de 1903, deixaram de ser,
aqueles, director e secretário: embora o jornal não designasse quem
o dirigia, o certo é que o Manuel Ribeiro assumiu, de novo, a
responsabilidade do cargo, assim como ficou a ser o editor a partir
do número 1129 de 27 de Março de 1904, conservando-se no exercício
de todas as funções dentro do jornal, até à sua extinção.
A 10 de Julho de 1904, em suplemento
ao n.º 1144, Manuel José da Silva Ribeiro anunciou estar inibido de
continuar a publicação do jornal por a aludida tipografia
municipal, onde ele ainda se imprimia, ter sido arrematada pelo
proprietário e administrador do jornal «Progresso da Feira» –
Domingos Augusto de Sousa.
A partir do referido n.º 1095, o
jornal retomou a antiga numeração. Do «Jornal da Feira» foram
colaboradores, o Dr. Eduardo Vaz de Oliveira, além dos referidos
vultos do partido progressista.
Publicou em folhetim – «Feira
Espinho 1.ª parte. A contribuição do concelho de Espinho» seguido do
aditamento. «Passagem do concelho da Feira para o Distrito do
Porto», o que tudo teve seu início em 27 de Outubro de 1901, (n.º
1003).
O Dr. Zagalo dos Santos, no referido
artigo publicado no Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. 9, pág.
157, diz que este jornal se publicou em 1881, quando é certo que
teve o seu início em Agosto de 1882 e seu termo em Julho de 1904
durando, assim, cerca de 22 anos.
Também foi referido no trabalho de
Carneiro da Silva (cit. Arquivo vol. 9.º pág. 297) e no «Comercio da
Feira» (n.º 33 de 14 de Agosto de 1902).
Xavier da Silva, na citada obra
«Jornais Portugueses» diz a pág. 86 «Jornal da Feira» 1882.
Deste «Jornal da Feira» existem
poucos números na Biblioteca Nacional de Lisboa e alguns na
Municipal da Feira.
Tenho no meu arquivo uma colecção
desde o número 885 – até final, Manuel José da Silva Pereira,
merece uma especial referência de louvor por ter tido a iniciativa
de fundar o primeiro jornal da Feira e de o ter mantido durante
tantos anos, através de muitos sacrifícios.
A ele se deve a publicação de mais
jornais e revistas, pois além de ser fundador, proprietário e
dirigente, durante muitos anos, deste «Jornal da Feira» (1882-1904):
a) – Fundou e editou, juntamente com
seus irmãos, a revista «Miscelanea Musical» (1883-1884), continuada
por «Eurico», da qual foi editor juntamente com seu irmão Joaquim;
/
59 /
b) – Fundou e foi
proprietário do «Diário dos Anúncios» (1885);
c) - Montou o «Campeão da Feira»
(1885).
O «Jornal da Feira» além do
interesse que tem, como primeiro jornal publicado na Feira, torna-se
agradável pela sua apresentação, no estilo da época, com regular
impressão, colaboração apreciável e respeitadora e muito devotado à
Feira.
Saía regularmente e parece, pelo que
ele anunciava, que tinha muitos assinantes.
2
O FEIRENSE
Este semanário iniciou a sua
publicação em 23 de Março de 1883: publicava-se aos Sábados com 4
páginas, cada uma com 5 colunas e com a dimensão de 0,48 x 0,325.
João José Ferreira (reprodução do
n.º 907 do Jornal da Feira de 24/12/1899) |
A sua existência não ultrapassou
1898, pois a partir de 15 de Outubro deste ano começou a
imprimir-se o jornal que lhe sucedeu, a «Voz da Feira», sendo certo
que ainda existia em 19 de Março de 1898, data em que, com o seu n.º
781, começou o 16.º ano. Imprimia-se no lugar das Eiras, n.º 803,
onde estavam instaladas as oficinas, redacção e administração.
Não consegui encontrar o seu
primeiro número e, assim, não me foi dado conhecer o programa aí
enunciado. Apenas posso reportar-me ao que aquele número 781
anunciava, em seu artigo de fundo: «O programa que traçamos no
primeiro número é ainda o mesmo que hoje adoptamos. Estamos no mesmo
campo e influenciados pelas mesmas crenças...»
|
A sua tendência política era a favor
do partido progressista.
Deste jornal existem alguns números
na Biblioteca Municipal da Feira (nomeadamente dos anos 12, 15 e
16).
Foi seu proprietário, director e
editor responsável, João José Ferreira que sucessivamente se
foi designando redactor principal, editor responsável, editor e
redactor principal. Em 22 de Março de 1897 aparece como editor
responsável seu pai, José João Ferreira.
Veio, em criança, do Porto para a
Feira com seu
/ 60 /
referido pai que se estabeleceu com oficina de sapataria nos baixos
da casa, hoje dos herdeiros de José Soares de Sá, na Praça do Dr.
Gaspar Moreira, que ao tempo pertencia ao Desembargador Castro
Matoso. Casou com uma senhora desta Vila, irmã de uma tal Emília do
Lambro, que há cerca de 70 anos morreu num incêndio ocorrido numa
dependência da Igreja da Misericórdia, desta Vila.
João José Ferreira amanuense da
Câmara Municipal e, em 1899, abandonou a Vila da Feira por ter
abraçado a causa da emancipação do concelho de Espinho.
Aqui, ocupou o lugar de secretário
da Câmara Municipal.
O Dr. Zagalo dos Santos informa, no
seu já referido trabalho, que este semanário foi «jornal
progressista primeiro e depois republicano. Direcção de José João
Ferreira. Saiu o 1.º número em 23 de Março de 1883».
Há equívoco no nome, pois José João
Ferreira, era o pai, assim como na referência à defesa dos
princípios republicanos. Este jornal também é mencionado no citado
n.º 33 de 14 de Agosto de 1902, do «Comércio da Feira» dizendo-se,
aí, que começou a sua publicação em tipografia especial.
Foi neste jornal que José Soares de
Sá, que veio a ser o director do «Correio da Feira», que ainda se
publica, iniciou a sua actividade profissional, como empregado de
administração.
|
|
«O Feirense», além de se propor
defender os interesses locais, missão que não lustrou, era um
jornal noticioso, político à moda de então, com várias secções, como
revista financeira, correspondências diversas e poesias, entre elas
algumas de Guilherme Braga. Na B. M. da Feira existem números deste
jornal.
3
MISCELÂNEA MUSICAL
Em 15 de Abril de 1883 (Domingo)
iniciou-se, nesta Vila, a publicação do quinzenário de revista
musical, intitulado «Miscelanea Musical», da qual foram editores, a
princípio, Joaquim Ribeiro & Irmãos, revista que conseguiu reunir,
no primeiro ano, 24 números e, no segundo, seis e um suplemento.
Saiu regularmente, de quinze em
quinze dias, deixando apenas de se publicar no mês de Abril de
1884, na transição do 1.º para o 2.º ano, que teve o seu termo com o
suplemento ao número 6.
A «Miscelanea Musical», com o
formato de 0,35x0,26, tinha 4 páginas com 2 colunas cada uma, com
diversos artigos, acabando pelo noticiário. Cada número era
acompanhado de uma música, tendo algumas (2, 3, 4, 6, 7 e 8) a
inscrição – Grv J. Ribeiro – Vila da Feira.
Pelo menos a partir do 2.º ano, os
números eram revestidos por uma capa que se reproduz em fotografia.
Até ao n.º 20 o texto foi impresso
na tipografia municipal da Feira onde se imprimia o «Jornal da
Feira», que era propriedade e editado pelo Manuel José da Silva
Ribeiro, irmão do Joaquim Ribeiro falado no cabeçalho da revista: a
partir do n.º 21 passou a ser editado na tipografia de Manuel Luís
de Sousa Ferreira, da cidade do Porto, mas o 2.º volume já aparece
como editado na Vila da Feira.
|
Este Joaquim Ribeiro (Joaquim
José da Silva Ribeiro) que nasceu na Vila da Feira, em 30 de
Abril de 1848, era filho legítimo do já aludido Manuel da Silva
Ribeiro e de sua mulher Marcolina (ou Miquelina) de Freitas
Apenceler.
Teve como irmãos germanos: o já
referido Manuel José da Silva Ribeiro Júnior, fundador do «Jornal da
Feira» que, como dissemos, nasceu a 8 de Março de 1850; Clara
Apenceler de Freitas, nascida em 2 de Junho de 1851, que casou com
José Maria Fernandes Pereira.
/ 61 / –
Xabregas; Augusto que nasceu em 7 de Janeiro de 1853; Camila nascida
em 15 de Dezembro de 1855; Marcolina, nascida em 20 de Abril de
1857 e António, nascido em 9 de Dezembro de 1858.
|
Todos nasceram na Vila da Feira.
Não sei quais destes irmãos foram os
associados do Joaquim Ribeiro como editores da revista: se todos, ou
só parte deles.
No 2.º ano são designados como
editores, Joaquim Ribeiro & Irmão, sendo de presumir que este fosse
o aludido Manuel.
No volume, propriedade do maestro
António de Melo, encontra-se a seguinte anotação de Artur
Boaventura Abranches Nogueira, que talvez tivesse sido proprietário
desse volume: «As correspondências de Lisboa para a «Miscelanea
Musical» e para o «Eurico» (de que se publicaram os cinco números
aqui juntos) assinadas com o pseudónimo de Ruy Blas, são minhas».
O número 6 do 2.º ano, ou o seu
referido suplemento (não se pode averiguar a qual pertence) é
acompanhado de uma valsa-Polka de Miguel Ângelo, dedicado à sua
discípula D. Maria S. Vasconcelos Leão.
Este número já foi orientado por
este grande maestro, da cidade do Porto, como expressamente se
reconhece no artigo de fundo do 1.º número do «Eurico»
/ 62 / que se
editou em continuação da «Miscelanea».
No artigo de fundo de apresentação
(número um do ano primeiro), denuncia-se a finalidade e
oportunidade da sua publicação nos seguintes termos.
«Há muito que em Portugal se notava
a absoluta carência de um jornal que se dedicasse única e
exclusivamente ao estudo e à apreciação das diversas produções
musicais que quotidianamente são postas em circulação, tanto no
nosso país como no estrangeiro. Por diversas circunstâncias que não
nos é dado apreciar, nunca se tratou de preencher tão sensível
lacuna, que nem mesmo o nosso pequeno e modesto desenvolvimento
artístico podia, por forma nenhuma justificar... Os países, ainda os
mais atrasados neste ramo de conhecimentos, dispõem d'um e mais
órgãos onde de uma maneira especial se ventilam as questões musicaes,
já cuidando do progresso e desenvolvimento da arte musical, já
registando os diversos commetimentos artísticos de seus filhos. Não
vimos com pretensões illusorias de obviar a essa falta de uma
maneira infallivel. O que contudo asseveramos é que, o que nos falta
em força e competencia sobra-nos em diligência e boa vontade...»
A iniciativa e os propósitos foram
ousados: se é certo que não se pode atribuir à revista,
extraordinário
/ 63 /
mérito, é de justiça anotar o amor que os seus editores votavam à
música e a esperança em que em si mesmo depositavam de bem a
servirem.
Na referência que lhe fez o
«Comercio da Feira», no citado n.º 33, diz-se que esta revista foi
fundada pelo Manuel da Silva Ribeiro sob a firma Joaquim Ribeiro &
Irmão, sendo impresso na tipografia municipal, tendo saído 36
números; a referência ao local de impressão deve-se corrigir nos
termos atrás referidos.
Também a esta revista se refere o
Dr. António Zagalo dos Santos, no seu referido artigo publicado no
Arquivo do Distrito de Aveiro, designando-a como «quinzenário de
revista musical e peças escolhidas para piano», atribuindo-lhe
erradamente a direcção ao Dr. Aguiar Cardoso.
Xavier da Silva, na mencionada obra
«Jornaes Portugueses», a pág. 101, diz «Miscelânea Musical – 1883
.– Vila da Feira e Porto – seguido de Eurico».
A Bibliophilie Musicale de
Michel'Angelo Lambertini MCMXVIII descreve esta revista sob o n.º
2058 como «Miscelânea Musical – Vila da Feira 1 année 1883-4, n. 1,
3 a 24 – II année – 1884 n. 1 a 6, dernier de Ia publi.»
Não obstante o referido, podemos
afirmar que tam.bém existe n.º 2 que já compulsei, na colecção
pertencente à senhora D. Gilberta Xavier de Paiva, colecção que é
formada pelos primeiros 22 números do 1.º volume com falta, apenas,
do n.º 6 de 1 de Dezembro de 1883.
Na colecção, encadernada, que
pertence ao referido maestro António de Melo, pode-se admirar quase
toda a colecção, à qual apenas falta o n.º 2: por certo, foi esta
colecção que informou a mencionada Bibliografia Musical. São duas
colecções muito raras, sobretudo esta última.
Além destas duas colecções, únicas
que conheço, sei que há um exemplar do número um, na Biblioteca
Nacional de Lisboa.
Já o artigo de fundo do n.º 1 do
«Eurico» começava por afirmar que, por se terem, já então, esgotado
alguns números da parte literária da «Miscelanea», era impossível
obter a colecção completa.
|
|
4
EURICO
À «Miscelânea Musical» sucedeu outra
revista de música – «Eurico», designada por «Quinzenário de revista
musical» de que foi redactor o grande maestro e distinto professor
de música Miguel Ângelo (Miguel Ângelo Pereira), continuando a ser
editores os referidos Joaquim Ribeiro & Irmão: no seu cabeçalho
inscreve «Agência Geral – Rafael Angelo – Rua Formosa 325, Porto.
O seu formato era igual ao da «Miscelanea»
com igual número de páginas. Deste jornal publicaram-se 5 números,
sendo o primeiro em 15 de Setembro de 1884 (segunda feira) e o
quinto em 30 de Novembro do mesmo ano (domingo): cada um era
distribuído protegido com uma capa de papel, subscrita por Rafael
Bordalo Pinheiro, cuja fotografia se publica, na qual se repetem
aqueles dizeres com o acréscimo de «escolhidas peças de teatro»,
nomeando-se Miguel Ângelo como redactor principal e Rafael Ângelo
como único agente em Portugal.
No artigo de fundo daquele primeiro
número e com o título de «Expediente» explica-se a razão por que se
suspendeu a publicação da «Miscelanea Musical» e se deu início, em
continuação, à publicação desta nova revista: «o Eurico apresenta-se
literariamente de lança em riste para combater tudo e todos que por
obras ou acções venham empanar o brilho da Arte ou prejudicar o bom
nome de artista, e de coração magnânimo para exaltar méritos e
registar virtudes onde quer que as hajam. Musicalmente publicará com
preferência as obras de compositores portugueses de verdadeiro e
reconhecido mérito e d'entre as composições de extranhos,
escolherá aquellas que possam auxiliar os bons professores na
educação musical dos seus discipulos. A competencia do nosso
redactor garante a execução d'este programa».
|
Nos seus números ocupava-se, além do
mais, de problemas de educação musical (Hector Berlioz), com
conselhos aos professores de piano (por Felix de Coupper),
noticiário, com publicação, em cada número, de uma música
consagrada.
No seu número quatro presta
homenagem ao fundador do «Comércio do Porto» Manuel de Sousa
Carqueja, por ocasião do seu falecimento.
Confirmando o que já anteriormente
foi dito, Miguel Ângelo já tinha colaborado no último número de «Miscelanea
Musical» (ano II, n.º 6).
|
Claramente se diz naquele
«Expediente». «Todavia para completar a colecção publicada sob a
direcção do snr. Miguel Angelo é necessário obter o 6.º número de
Miscelanea (2.º anno), que esta empresa enviará aos seus assignantes
que o reclamarem pelo preço da assignatura por numero».
A biografia de Miguel Ângelo
Pereira e um breve estudo sobre a sua obra, estão publicadas na
Grande Enciclopedia Luso-Brasileira, vol. 21, fI. 162, de onde
extratamos e em resumo:
Foi um grande maestro, professor de
música e compositor de envergadura no Porto, tendo nascido em
Barcelinhos em 27 de Janeiro de 1843, sendo filho de Bento de Araújo
Pereira, com quem aprendeu música. Veio a batisar-se no Porto, onde
seus pais viviam.
Na sua infância, o pai teve que
emigrar para o Brasil por motivos políticos e ele ficou, em
Portugal, a valer à família com os poucos rendimentos que tinham,
/ 64 / amparados
pelas gratificações que recebia, por ajudar à missa. Indo para o
Brasil, tirou o curso do Conservatório, onde se distinguiu como
pianista. Regressando a Portugal, com 20 anos, iniciou a sua
carreira ascensional como professor e compositor. Nesta actividade
notabilizou-se produzindo várias obras, entre elas – um Te Deum – a
quatro vozes a grande orquestra, executado quando, no Porto, se
inaugurou a estátua de D. Pedro V e uma marcha «Progredior»
executada em 1865, aquando da exposição Universal do Porto, por
orquestra, banda e órgão. Entretanto, orientado pelo artista francês
Widor, tornou-se um organista distinto.
Mas a sua glória atingiu a maior
altura com a composição, em 1865, da ópera «Eurico», com base no
célebre livro, do mesmo nome, de Alexandre Herculano, representada
em S. Carlos em 1870, no Porto no teatro de S. João em 1874, onde
mereceu a oferta de uma batuta de prata, e no Rio de Janeiro em
1878.
Tudo isto se desenvolveu numa época
em que no Porto havia «intensa actividade musical, em que se
admiravam outros grandes artistas».
O valor de Miguel Ângelo e da sua
obra foram exaltados pelo poeta Guilherme Braga e pelo grande
arqueólogo e crítico de arte Dr. Joaquim de Vasconcelos, marido da
Doutora D. Carolina Michaëlis.
No Porto, fundou e dirigiu a
Sociedade do Quarteto, que mais tarde foi integrada no Orfeão
Portuense.
No dizer daquela Enciclopédia, a
publicação do
/ 65 /
«Eurico» teve «o fim único de desenvolver campanhas de baixo insulto
contra os artistas e os críticos», campanha de escândalo, aliás já
enunciada no artigo de fundo do primeiro número desta revista, atrás
transcrito em parte.
Foi o início do declínio do artista
que se pronunciou, sobretudo, a partir de 1885 devido ao seu
temperamento irascível, que o levou, no fim da sua vida, a recolher
a uma casa de saúde do Porto, onde veio a falecer a 1 de Fevereiro
de 1901.
Além das referidas obras deixou
muitas outras, algumas das quais foram editadas ainda em sua vida.
Do exposto vê-se que, Miguel Ângelo,
escolheu para esta revista o nome da sua principal obra e que maior
nome lhe deu, como compositor, – «Eurico».
A este distinto maestro refere-se o
Dicionário de Música Ilustrada de Tomás Boalle e Fernando Lopes
Graça, pág. 362 e 363, Vol. I-Z (2.º) 1958.
Miguel Ângelo teve, pelo menos, dois
filhos, também músicos distintos, Américo Ângelo Pereira e Virgílio
Pereira.
Este foi, como seu pai, maestro e
professor de música: em 1941 organizou o conhecido Coral da Câmara
das «Pequenas cantoras do Postigo do Sol» constituído
/ 66 / por
educandas do Recolhimento das Meninas Desamparadas.
A estes, refere-se a aludida
Enciclopédia no seu vol. 21, respectivamente, a pág. 115 e 186.
O «Eurico» é uma revista muito rara,
mais rara do que a Miscelanea. Só conheço um exemplar da sua
colecção, aliás completa, encadernada juntamente com a «Miscelanea
Musical».
Pertence ao já referido maestro
António de Melo, que teve a gentileza de mo facultar para estudo e
para obter as fotografias que se publicam.
Por isso, aqui lhe renovo o meu
agradecimento e o protesto da minha gratidão.
A esta revista – «Eurico» – se
refere A. Carneiro da Silva no citado Arquivo do Distrito de Aveiro,
vol. 9.º pág. 304, dizendo que A. X. Silva Pereira nota este
periódico no seu citado trabalho «Jornalismo Português» acompanhado
da seguinte informação: «quinzenário de revista mensal – 15 de
Setembro 1884 a 25 de Fevereiro de 1885. Vila da Feira»; o mesmo
Silva Pereira, no seu trabalho «Jornais Portugueses» a fls. 60, diz
«Eurico» (O) – 1884 – Vila da Feira e Porto. Foi o seguimento de
Miscelanea Musical. Findou em 1 de Março de 1887».
Há equívoco porque o seu termo foi
em 30 de Novembro de 1884 e não em 25 de Fevereiro de 1885.
Também a ela se refere a já referida
Bibliophilie Musicale de Michel Angelo Lambertini – sob o n.º 2047,
a fI. 239 «Eurico – Villa da Feira e Porto, I année, 1884 n. 1 a 5
les seuls publiés».
O «Eurico» não pode ser considerado,
em absoluto, um periódico feirense: foi-o na medida em que deu
seguimento à «Miscelanea Musical» e pela continuidade dada à sua
editoria na Vila da Feira, a cargo dos feirenses Joaquim Ribeiro &
Irmão e, ainda pela colaboração que estes lhe prestaram.
5
DIARIO D'ANUNClOS
Não encontrei qualquer exemplar
deste jornal, sendo escassas as referências a ele feitas; por isso,
não me foi possível estudá-lo. O «Comércio da Feira», na citada
local – imprensa jornalística (n.º 33 de 14 de Agosto de 1902) diz
«Mais tarde, em 7 de Julho de 1884, também se imprimiram na mesma
tipografia (a municipal) alguns números d'um pequeno jornal –
Diário d'Anúncios fundado pelo snr. Manoel Jose da Silva Ribeiro»,
que fundou e manteve o já referido «Jornal da Feira».
Penso que há equívoco nesta data,
porque o «Campeão da Feira» refere, no seu n.º 3, de 9 de Março de
1885 (segunda feira):
«Jornal Novo. Mais um vae entrar no
mundo na terça-feira, dia que os prophetas inculcam de mau para
começo de qualquer obra.
No entanto, repiquem os sinos,
fluctuem as bandeiras e ponham-se luminarias, para solenisar o 2.º
aniversário do progresso do concelho da Feira, que vae de vento em
pôpa. O titulo do novo jornal será Diário d'Anúncios e como tal
destina-se unicamente à assambarcação de anuncios, o que para nós é
indiferente.
Os preços das nossas publicações
ficarão como estavãm. Não lutamos para o exterminio de ninguém.
Trabalhamos unica e gratuitamente para ajudar um nosso antigo
empregado, que se acha em pessimas circunstâncias».
Daqui se deduz que o «Diário
d'Anuncios» iniciou a sua publicação em 10 de Março de 1885, o que
vem confirmar a afirmação feita pelo «Comércio da Feira» de se terem
imprimido apenas «alguns numeros», pois o último foi impresso em 20
de Abril de 1885.
Pela referência feita por este
«Comercio da Feira», vê-se que o «Diário d'Anuncios» era de formato
pequeno.
6
O CAMPEÃO DA FEIRA
Iniciou a sua publicação em 2 de
Março de 1885, como bi-semanário, às segundas e quintas-feiras.
Teve seu termo em 20 de Abril desse
ano, imprimindo-se, apenas, treze números.
Era de formato pequeno – 0,33 x
0,235, com 4 páginas, tendo, cada uma, quatro colunas.
Foi este jornal montado pelo já
falado Manuel da Silva Ribeiro, tendo como director Luz de Almeida,
e teve a sua sede no largo da Praça (Praça Velha), ficando como seu
proprietário Manuel da Cunha.
Intitulava-se político, noticiário e
literário.
No artigo de fundo do primeiro
número, denominado «O nosso programa» diz: «vimos apenas para o
campo de lucta patriotica pugnando pelos intresses do concelho da
Feira como o afirma o nosso titulo».
Não consegui ler todo este artigo
dado o estado de deterioração do único exemplar que me foi possível
consultar. Contudo, ainda se consegue ler «Um jornal criado para a
colaboração do bem... para a censura contra os erros e abusos, para
a protecção dos desvalidos, para a estatistica dos criminosos, para
a lembrança aos que podem melhorar a nossa situação emfim, para tudo
quanto é alegre e productivo e patriótico, é sempre bem vindo...»
Nesse mesmo número e com o título
unicamente de explicação diz:
«Uns montam uma tipografia para
publicar um jornal
/
67 / político cujo fim é o arranjo da fatia. Outros para
acordar os preguiçosos que nada querem fazer de util para a sua
terra para apontar os erros e os abusos dos que «mandam» clamando
contra elles e pedindo, senão o castigo, pelo menos a reparação. E o
«Campeão da Feira» não foi criado para o primeiro fim, mas sim para
o segundo e terceiro seguinte: acudir a uma família necessitada e
sem lume, sem pão, dando trabalho ao chefe da mesma (que é
tipografo) e trabalho honesto e digno que produsa o remedio salutar
para si e para os seus cuja infelicidade depende dos feirenses
condoidos».
|
No 13.º número, o seu proprietário
Manuel da Cunha anuncia a sua suspensão por «não poder continuar
a sustentá-lo isto devido à falta de meios», acabando por
agradecer ao Manuel José da Silva Ribeiro o grande auxílio que
lhe prestou e a Luz d'Almeida, por tanto que o ajudou
gratuitamente.
Aquele Manuel Cunha, num comunicado
de 7 de Março, publicado no número 3, de 9 do mesmo mês, explica
como se fundou o jornal. |
Depois de se referir à sua precária
situação económica e a ter baldadamente batido a várias portas para a
poder solucionar exclama: «tanto andei, tanto sofri e tanto pedi que
no dia 20 de fevereiro me disse o sr. Manuel José da Silva Ribbeiro
– se você quer eu monto-lhe um jornal pequeno, dou-lhe papel, tinta
e mais necessarios durante 4 numeros e pode com o produto d'elle e
dos anuncios remediar a sua vida e arranjar um bocado de pão: e
terminados os 4 numeros apenas me dará 20 p. c. para pagar o papel e
tinta. Eu aceitei n'aquela ocasião e agradeço no presente tanto a
ele, como ao publico, benfeitor.
Esta é a verdade».
Nesse mesmo número vem um anúncio em
que ele se oferece como tipógrafo.
O que deixamos transcrito bem nos
elucida sobre a razão porque se fundou este jornal e as condições em
que viveu; o seu proprietário quis encontrar nele o meio de matar a
fome, num esforço de salvação, o que aliás não conseguiu. Isto
dá-nos um índice das condições em que, por vezes, viviam os que, na
província, se dedicavam à tão árdua e ingrata profissão do
jornalismo. A situação precária em que vivia o jornal explica o
modo como recebeu a aparição do «Diário dos Anúncios» que vinha
afectar a principal fonte da
/ 68 / sua
receita: é curioso notar que este Diário pertencia exactamente ao
Silva Ribeiro que montou, por caridade, para com Manuel da Cunha, o
«Campeão da Feira».
Nestas condições, o que havia a
esperar da isenção e da independência do jornalista?
«O Campeão da Feira» tinha, entre
outras, as seguintes secções: revista estrangeira, noticiário,
secção literária e de variedades, além de correspondências,
inclusive de Lisboa; e até tinha – uma secção alegre...
A este jornal refere-se o «Comercio
da Feira», no citado n.º 33 «Em 2 de Março de 1885 encetou na mesma
tipografia (a municipal) a sua publicação – o «Campeão da Feira» um
pequeno jornal de quatro colunas, fundado pelo sr. Manuel da Silva
Ribeiro e de que era director Luz d'Almeida e de que sairam 13
números».
O Dr. Zagalo dos Santos, no seu já
referido trabalho, limita-se a dizer, quanto a este jornal – «Semanário
político – noticioso e literário. Publicou-se em 2 de Março de
1885».
Xavier da Silva, na mencionada obra
«Jornaes Portugueses» diz a fls. 27, «Campeão da Feira (O), 1885,
Vila da Feira».
Além da colecção completa deste
jornal, existente na Biblioteca Municipal, (com alguns números mal
conservados) sei que está depositado, na Biblioteca Nacional de
Lisboa, um exemplar do número um.
7
A VOZ DA FEIRA
Iniciou a sua publicação em 15 de
Outubro de 1898 – tendo em consideração que os seus números 8 e 10
saíram, respectivamente, em 3 e 17 de Dezembro de 1898 e que teve o
seu termo, com o n.º 12, em 31 de Dezembro do mesmo ano.
Confirma-o o «Correio da Feira», no
número 91 de 1 de Janeiro de 1899 anunciando: «terminou ontem a sua
publicação o semanário «Voz da Feira», sucessor do Feirense, de que
era redactor e editor o sr. José João Ferreira, e que fora o orgão
do partido progressista no Concelho».
Tinha o formato de 0,475 x 0,325 e
publicava-se aos sábados com quatro páginas: era impresso no lugar
das Eiras, onde tinha a sua sede e administração.
|
|
O «Comércio da Feira» no citado
local do seu n.º 33, diz que ele era impresso na tipografia do
referido «Feirense», e que deles saíram poucos números.
Aquele Ferreira, que também se
intitulou administrador deste jornal era o pai do João José a que
nos referimos quando estudámos o «Feirense».
Designou-se semanário político,
noticioso e independente mas caracterizou-se, sobretudo, por ser
noticioso com artigos diversos. Embora sucessor do «Feirense» nunca
se confessou enfeudado aos progressistas, embora fosse um
simpatizante da política deste partido.
Este jornal não é referido, nem pelo
Dr. Zagalo dos Santos, nem por A. Carneiro da Silva.
Existem alguns exemplares dele na
Biblioteca Municipal da Feira, e um – o n.º 8, na Biblioteca
Nacional de Lisboa.
8
CORREIO DA FEIRA
Iniciou a sua publicação em 11 de
Abril de 1897: com grande tenacidade e muitos sacrifícios dos seus
directores e proprietários, entrou já no seu 73.º ano, tudo fazendo
supor e assim desejamos, que possa beneficiar-se da justa
consagração do centenário da sua existência.
Até ao seu número 107 de 23 de Abril
de 1899, distribuía-se aos domingos; mas a partir do número
seguinte, como ainda hoje, distribui-se aos sábados.
|
O seu formato variou desde o número
um, 0,445 x 0,315, até ao que hoje adopta, 0,515 x 0,355.
O número de páginas, que durante
muito tempo foi de quatro é, hoje, normalmente de seis, tendo
variado o número de colunas de cada página que a princípio era de
quatro e passou para cinco, como já sucede desde 1898.
|
O «Correio da Feira», durante a sua
longa existência, tem usado vários tipos no seu título.
Assim, manteve um deles até ao
número 34, iniciando outro, diferente e maior, com o número 35 de 5
de Dezembro de 1897, que se manteve até ao número 38: com o número
39 de 2 de Janeiro de 1898, surge outro.
No número 84 de 15 de Novembro de
1898, regressa ao usado no número 35, explicando que o fazia para
não se confundir com o que então usava a «Voz da Feira».
A partir do número 92 de 8 de
Janeiro de 1899, retomou o daquele 39, que é igual ao que hoje usa.
A administração do jornal
instalou-se, primeiramente, na Praça de Camões (hoje largo do Dr.
Oliveira Salazar) e do número 35 de 5 de Dezembro de 1897, em
diante, também aí se fixou a redacção.
A partir do citado número 92, embora
a redacção continuasse na Praça de Camões, a administração passou
para o lugar das Eiras.
A começar no número 69 de 31 de
Julho de 1898, o «Correio da Feira» passou a ser impresso na
tipografia Gandra, da rua de Entre Paredes 80, da cidade do
/ 69 / Porto,
mas desde o mencionado número 92 já o jornal é impresso na
tipografia do lugar das Eiras neste número esclarece-se –
«Expediente – A redacção do Correio da Feira, que continua a ser na
Praça de Camões, participa aos seus assignantes que, por contrato
feito com o sr. José Soares de Sá, do Largo das Eiras, passa este a
editar e administrar o jornal por sua conta».
Todo o material e apetrechamento de
tipografia foi adquirido pelo Soares de Sá.
A partir do número 210 de 13 de
Abril de 1901, já anota – «Redacção, administração e tipografia» –
no largo das Eiras.
Decorridos anos, em 1903, Soares de
Sá adquiriu a casa que fora a residência, com estabelecimento
comercial, de Francisco de Oliveira Ramos, na rua do Dr. Roberto
Alves (então rua Direita n.º 66), defronte da chamada casa da
Secretaria e, nela, instalou a sua habitação, redacção e oficinas de
composição do jornal: a redacção ficou no rés-do-chão, com frente
para a rua e a tipografia numa larga loja contígua.
Desde o número 351 de 26 de Dezembro
daquele ano, anuncia que a redacção, administração e tipografia
estava situada naquela rua.
No número 1000 de 16 de Setembro de
1916, já informa que, a redacção, administração, tipografia e
oficinas de impressão, estavam na Praça Velha (hoje do Dr. Gaspar
Moreira), onde ainda se mantêm na casa onde viveu e morreu José
Soares de Sá.
Este jornal, do número 32 de 14 de
Novembro de 1897, ao 91 de 1 de Janeiro de 1899, iniciava o seu
texto com um «Sumário» e, desde o 53 de 10 de Abril de 1898, ao 108
de 29 de Abril de 1899, afirmava ter uma extracção de 1000
exemplares.
Foram fundadores do «Correio» os
vultos proeminentes da política regeneradora da Feira: Dr. António
de Castro Pereira Corte Real (mais tarde e sucessivamente, visconde
e conde de Fijô), deputado pela Feira em diversas legislaturas e
presidente da Câmara Municipal da Feira, nos exercícios de 1882-83,
1884-1885 e
/ 70 /
1886; Dr. Vitorino Joaquim Correia de Sá, distinto advogado, que
foi presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal da Feira,
nos exercícios 1914-1917 e 1918, da qual já havia sido
vice-presidente em 1912; Dr. Manuel Batista Camossa Nunes Saldanha
(visconde de Albergaria de Souto Redondo), que foi presidente da
mesma Câmara Municipal, nos exercícios de 1890-92, 1893-97; Joaquim
José Pinto Valente, ao tempo proprietário da casa chamada dos
Leões, na Praça hoje denominada do Doutor Oliveira Salazar.
No número um deste jornal não era
referido o nome do director, mas indicava-se, como secretário da
redacção, este Pinto Valente: desde o número 53 de 10 de Abril de
1898, com que se iniciou o 2.º ano, deixou o seu nome de figurar no
cabeçalho do jornal, no qual também não era mencionado o de José
Soares de Sá.
A propriedade do jornal era
atribuída à «Empresa do Correio da Feira», figurando como editor
responsável José Gomes da Silva.
A partir do citado número 92 já
aparece como editor, administrador e proprietário, José Soares de
Sá.
No número 524 de 20 de Abril de
1907, aparece como director o mencionado Pinto Valente, mantendo o
Soares de Sá a posição de administrador e proprietário, mas desde o
número 588 de 11 de Julho de 1900, este já é enunciado como director
e proprietário. No número 708 de 5 de Novembro de 1910, intitula-se
director, editor e administrador, passando, desde o número 767 de
30 de Março de 1912, a director, administrador, proprietário e
editor, o que se manteve até ao número 3239 de 8 de Abril de 1961.
José Soares de Sá
nasceu na Vila da Feira, na rua do Dr. Eduardo Vaz, em 2 de Outubro
de 1872: era filho de José Marcelino Soares de Sá e de Teresa
Joaquina de Sá.
Casou com D. Clotilde Ferreira Monte
Santos e Sá, filha de Manuel Ferreira de Monte Santos, que morou na
sua casa do chafariz, da Praça da República (então largo das Eiras)
e aí faleceu em 1916.
Fez parte da Mesa da Santa Casa da
Misericórdia da Feira e de agrupamentos artísticos desta vila,
especialmente como executante em diversas tunas e orquestras, pois
era um grande apaixonado pela música.
Muito lhe interessou o teatro, como
bem evidenciou, com entusiasmo, através do noticiário do seu jornal
e na sua comparticipação em récitas de amadores, como
/ 71 / as de 19
de Dezembro de 1897 e 20 de Janeiro de 1898, realizadas no Real
Teatro D. Fernando II, com o drama – Condessa de Marsay (na
representação da qual teve lugar de destaque a actriz portuense D.
Adélia Sanguinetti), fazendo parte do grupo dos actores feirenses
ensaiados pelo conselheiro Dr. Manuel Augusto Correia Bandeira, que
deixou grande nome na tradição do teatro da Vila da Feira.
O Correio da Feira ofereceu, então,
os programas, cada um com uma poesia dedicada pela redacção.
Como já dissemos, iniciou a sua vida
de trabalho como empregado de administração no «Feirense».
José Soares de Sá, depois de uma
vida que não lhe foi fácil, de intensa luta, conseguiu triunfar
legando a seus filhos o «Correio da Feira», como adiante será
referido.
Ao seu esforço muito deve o jornal
e, à sua memória, esta terra que o viu nascer e que ele muito amou
e defendeu com carinho e intransigência.
Joaquim José Pinto Valente era
natural desta Vila, filho de Bento José Valente e de Eduarda Rosa de
Jesus. Além da actividade neste jornal foi director do jornal
«Gazeta Feirense», como adiante será referido, findo o qual foi
exercer o cargo de escrivão de direito para Angra do Heroísmo,
onde faleceu. |
|
Depois de uma vida exaustiva de
trabalho, quando já tinha cerca de 90 anos, José Soares abandonou a
direcção e a editoria do «Correio da Feira» (número 3240 de 15 de
Abril de 1961) ficando como directora e editora sua filha D. Brízida
Monte Santos Soares Alvão e, como proprietários e administradores,
ele e seus filhos.
José Soares do seu casamento com a
referida D. Clotilde, houve os seguintes filhos: aquela D. Brízida,
que foi casada com Albino Monteiro Alvão; D. Maria Luísa Soares de
Sá Braga, casada com Ernani Neves Braga; José Manuel dos Santos
Soares de Sá, casado com D. Odete Guerra Maio e ainda D. Ercília
Soares de Sá, casada com Armando Lopes, já falecidos, com
descendência.
A partir do número 3439 de 13 de
Fevereiro, em virtude do seu falecimento, passaram a ser
proprietários e administradores do jornal, José Soares de Sá, Sucrs.
Desde o número 3509 de 11 de Junho
de 1966 até
/ 72 /
hoje, apresenta-se como directora e editora aquela D. Brízida e como
administradora sua irmã D. Maria Luísa.
|
D. Brízida Monte Santos Soares
Alvão nasceu na Vila da
Feira em 25 de Janeiro de 1904: é filha dos já referidos José Soares
de Sá e de sua mulher D. Clotilde Ferreira Monte Santos e Sá. Foi
casada com Albino Monteiro Alvão, já falecido. É sócia honorária da
Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria, no Rio de Janeiro. |
Sua irmã D. Maria Luísa, também
nasceu nesta vila, em 14 de Março de 1906 e está casada com Ernani
Neves Braga.
O «Correio de Feira», como já se
disse, fundou-se em 11 de Abril de 1897, com o fim de defender a
política do partido regenerador com o auxílio e apoio dos já
mencionados vultos do partido no concelho, contando-se entre os
fundadores o já referido visconde de Albergaria de Souto Redondo,
que no concelho representava a causa dos nacionalistas (católicos).
No artigo de fundo do seu número um
dizia: «O nosso Semanário – Na hoste gloriosa da imprensa vem
alistar-se mais um combatente. Jura fidelidade aos eternos
principios de justiça e da verdade, e nas pugnas incruentas em que
vai lidar, defendera com honra e denodo o partido regenerador sem
esquecer o respeito devido aos adversários, que enfileirados sob
outra signo pelejam connosco pela patria e pela liberdade...»
concluindo «E assim norteados combateremos todas as injustiças e
arbitrariedades, reclamaremos direitos sem descuidar os deveres
correlativos e especialmente propugnaremos com todo o zelo as
necessidades locaes».
No número 22 de 5 de Setembro de
1897, já inscrevia, ao lado do seu título – «O Correio da Feira é o
orgão do partido regenerador local» e no número 53 de 10 de Abril de
1898, em destaque e por baixo do seu título, «Orgão do partido
regenerador do concelho da Feira».
A partir do número 117 de 1 de Julho
de 1899 altera para «Orgão do partido regenerador e dos interesses
do concelho da Feira»: esta modificação resultou, por certo, da luta
que, então, se travava entre a Feira e Espinho, devido à elevação
desta vila a concelho.
/
73 / Desavenças políticas
surgiram entre José Soares de Sá, por um lado e Pinto Valente e o
Dr. Henrique Vaz Ferreira, por outro lado, em resultado de
dissidências que se deram no partido regenerador após a morte do
conselheiro Hintze Ribeiro, em 1908.
|
José Soares de Sá
Director do "Correio da Feira" |
Delas resultou o «Correio da Feira»
acatar a chefia do conselheiro Júlio de Vilhena, ao contrário
daqueles outros dois: daí este jornal, no seu número 589 de 18 de
Julho desse ano, ter anunciado em grandes letras, que passava a ser
composto sem qualquer ingerência dos mesmos, afirmando que
«prosseguirá enfileirado entre os seus colegas ortodoxos da imprensa
do partido regenerador defendendo-lhe as ideias e os interesses».
Comentando esta atitude, o «Diário
Popular», jornal em que directamente superintendia o conselheiro
Júlio de Vilhena, refere no seu número de 22 do mesmo mês de Julho:
«Apesar do sr. Vaz Ferreira se ter separado do Correio da Feira este
jornal nosso presado colega continua sendo genuinamente regenerador
e continuará assim abertamente ao lado do prestigioso chefe do
partido regenerador».
Em razão de tais divergências, em 23
de Novembro de 1908, aparece um novo jornal «Gazeta Feirense»,
propriedade do Dr. Vaz Ferreira e direcção de Pinto Valente.
D. Brísida Monte Santos Soares Alvão
Directora do "Correio da Feira" |
No número 691 de 9 de Julho de
1910, apoia as seguintes afirmações feitas pelo conselheiro Campos
Henriques «Somos os que fomos sempre: monarchicos firmes, quer nas
horas de fortuna quer nas de adversidade. É assim que se afirmou em
todas as circunstâncias o partido regenerador».
Isto visava directamente os
dissidentes Dr. Henrique Vaz Ferreira e Pinto Valente, pois José
Soares de Sá, em suplemento ao número 696, com data de 16 de Agosto
de 1910, em folha volante de pequeno formato e para agastar aquele,
anunciava (como director e administrador do «Correio da Feira») que
o governo demitira o Dr. Vaz Ferreira de Governador Civil de Aveiro.
|
No número 697 de 20 de Agosto de
1910, declara-se fiel à chefia do partido por parte daquele
conselheiro Campos Henriques, que a facção da direita deste partido
elegeu em sucessão do conselheiro Júlio de Vilhena.
Pouco tempo durou esta filiação
partidária porque, no dia 8 de Outubro seguinte, o «Correio da
Feira», no seu número 704, intitula-se semanário político e abraça o
regime republicano.
A seguir ao número 727 de 18 de
Março de 1911, e com data de 22 deste mês, foi distribuída, em
pequeno formato, outra folha volante assinada pelo «Editor José
Soares de Sá», comunicando aos assinantes, anunciantes, colegas e
amigos que o jornal tinha sido suspenso pelo administrador do
concelho, Ernesto Belesa de Andrade, lavrando o seu protesto contra
a falta de liberdade de imprensa, declarando que lhe era imposta a
suspensão da sua publicação.
Em 1 de Julho de 1911, e com o seu
número 728, recomeça a sua publicação normal.
Em artigo de fundo, e dirigido aos
seus leitores, diz que a suspensão, que tivera lugar em 22 de Março,
fora levantada em 9 de Maio, lavrando o seu protesto, dizendo que
não curou de averiguar o que motivou ou fundamentou essa suspensão e
que não solicitara «a graça de continuar a publicar o semanário».
A partir do número 729 de 8 de Julho
de 1911, passou a denominar-se «Semanário Republicano» e ao número
756 de 13 de Janeiro de 1912, intitula-se «Orgão do partido
Republicano do Concelho», publicando, nesse número e nos seguintes
(757 e 758), a respectiva comunicação datada de 10 desse mês, feita
pelo Dr. António Ferreira Pinto da Mota, como presidente da
«Comissão Política Municipal do Partido Republicano».
Manteve esta representação até ao
número 832 de 5 de Julho de 1913. No seguinte de 12 de Julho de
1913, começa a designar-se «Orgão Filiado no Partido Republicano
Português».
A partir do número 907 de 5 de
Dezembro de 1914, já se intitula «Semanário Republicano
Evolucionista», para, desde o número 1156 de 11 de Outubro de 1919,
/ 74 / se
inculcar «Semanário Republicano liberal», designação que ainda se
mantinha no número 1255 de 15 de Outubro de 1921.
No seguinte de 22 de Outubro, e
assim depois da morte do Dr. António Granjo, orientador daquele
partido liberal, passou a denominar-se «Semanário Republicano».
|
|
Desde o número 1373 de 26 de Janeiro
de 1924 «Semanário Republicano Independente» e assim até ao número
1420 de 27 de Dezembro de 1924; a partir do seguinte de 3 de
Janeiro de 1925, «Semanário Republicano Independente» e desde o 1679
de 26 de Julho de 1930, «Semanário Republicano Independente –
Regionalista».
A partir do número 2267 de 10 de
Janeiro de 1942, e até ao 3438 de 6 de Fevereiro de 1965, acresce «Fundado
em 11 de Abril de 1897».
Desde o número 2456 de 24 de
Novembro de 1945, passa a «Semanário Republicano Regionalista»,
título que ainda hoje usa.
O «Correio da Feira», além dos já
referidos suplementos ao número 696 e ao que se seguiu ao 727,
publicou: um ao número 100, em 6 de Março de 1899, intitulando-se
órgão regenerador, dedicado ao comício que, no referido Real Teatro
D. Fernando II, desta Vila da Feira teve lugar, na véspera, a favor
da integridade do concelho; outro ao 344 de 7 de Novembro de 1903,
sobre publicações literárias; outro ao número 467 em 19 de Março de
1906, anunciando a queda do governo progressista e que fora
encarregado de formar governo, o conselheiro Hintze Ribeiro; outro
ao n.º 1596 de 9 de Junho de 1928 com artigo do Dr. Aguiar Cardoso.
Este jornal teve, além de outros, os
seguintes colaboradores: Dr. António Augusto Aguiar Cardoso, Dr.
Henrique Vaz Ferreira, Dr. Eduardo Vaz de Oliveira, Dr. António
Ferreira Soares, Dr. Vitorino Joaquim Correia de Sá, Conde de Fijô
(Dr. António de Castro Pereira Corte Real), D. Fernando Tavares e
Távora, Joaquim José Pinto Valente, Dr. Paulo de Sá, Francisco
Vicente da Costa Neves, Manuel José Lopes Pereira, João Correia de
Sá, D. Maria da Luz Albuquerque, Alberto Ferreira Monte Santos,
Capitão Alípio de Oliveira, Albino Alvão, Hugo Rocha, Joaquim
Batista de Freitas, Ferreira da Rocha, Vicente Reis e Dr. Manuel de
Paiva.
Ao «Correio da Feira» refere-se o
Dr. Zagalo dos Santos, na já citada obra, nada esclarecendo a mais
do que ficou relatado.
O «Comércio da Feira», no já
referido número 33 de Agosto de 1902, informa que tendo cessado a
publicação do Feirense, em 1898, José João Ferreira fundou a «Voz
da Feira» impresso nesta Vila, na tipografia do Feirense e
acrescentou «Por contrato celebrado entre o Sr. José João Ferreira e
José Soares de Sá, passou o «Correio da Feira» a ter como
administrador, editor e proprietário este último e ficando a
imprimir-se na
/ 77 /
antiga tipographia do Feirense, agora convertido em tipographia do
Correio da Feira.
O «Correio da Feira» manteve vivas e
duras lutas, do que resultaram vários embaraços, com julgamentos por
crises de liberdade de imprensa, situações que sempre enfrentou com
energia e sem desfalecimentos.
Durante muitos anos manteve-se,
conforme o estilo da época, com a feição antiquada dos periódicos de
província; ultimamente tem-se transformado muito, adaptando-se às
exigências do nosso tempo.
Fazemos votos para que
evolucionando, melhore mais os eu aspecto gráfico e se torne um
periódico ainda mais sugestivo e atraente.
Pensamos que seria um grande
benefício se alargasse a sua esfera de acção publicando
correspondência de todos os concelhos que formaram o território
antigamente abrangido pelas Terras de Santa Maria da Feira.
Só a sua administração poderá
apreciar da possibilidade desta iniciativa que muito beneficiaria o
jornal, com utilidade manifesta para toda a nossa região.
O «Correio da Feira» tem boa
impressão e sempre se caracterizou pela assiduidade de belíssimos
colaboradores, e pela dedicação e entusiasmo com que tem defendido
os interesses da vila e do concelho.
Existem muitos números antigos,
deste jornal, na Biblioteca Municipal da Feira e alguns na Nacional
de Lisboa; pode-se consultar a valiosa colecção na posse das suas
actuais directora e administradora.
|