Acesso à hierarquia superior.

N.º 8

Publicação Semestral da Junta Distrital de Aveiro

Dezembro de 1969 

Imprensa Periódica da Vila e Concelho da Feira

Por Roberto Vaz de Oliveira

Licenciado nas Faculdades de Direito e Letras – Secção de

Ciências Histórico-Geográficas – pela Universidade de Coimbra

 

INTRODUÇÃO

Com a publicação deste estudo, desejo prestar uma merecida e oportuna homenagem a toda a imprensa denominada periódica (jornais) da minha terra, hoje representada pelo semanário «Correio da Feira», único sobrevivente, entre muitos que, com ele, alinharam o passo durante dezenas de anos, o que se deve ao esforço e tenacidade do que foi seu proprietário e director, José Soares de Sá, bem continuado por suas filhas, D. Brízida Monte Santos Soares Alvão e D. Maria Luísa Soares de Sá Braga, que, dedicadamente, assumem hoje, respectivamente, a responsabilidade da sua direcção e administração.

A esta homenagem bem justa por valiosos motivos, desejo associar uma saudação, muito viva e calorosa, a todos os que trabalharam, e trabalham nos jornais que se publicaram e publicam neste concelho, não esquecendo os seus mais humildes servidores, testemunhando-lhes, assim, e à memória de tantos, a gratidão do povo do nosso concelho que aqui me permito representar, lembrando quanto é ingrata a missão da pequena imprensa regional, onde a insatisfação vai desde os que nela trabalham até ao público, que dela se utiliza.

Prossigo na execução do plano, que já anunciei, de elaborar trabalhos que possam beneficiar empreendimento de maior vulto: a publicação de uma história desenvolvida da vila e do concelho da Feira, que se torna necessário fazer, associando-me, assim, àqueles que já para ela têm contribuído com seus valiosos trabalhos, procurando entusiasmar e incentivar outros que, impulsionados pelo seu bairrismo e auxiliados pela sua cultura, venham ao nosso encontro com as suas faculdades de estudo, inteligência e alimentados de muita perseverança...

Daí resultaria obra muito útil, sobretudo se, por boa conjugação de esforços, for possível encontrar meio de dividir as tarefas, de modo a evitar repetições, conquistando-se ao tempo uma maior brevidade na conclusão da obra.

Para tanto, há necessidade urgente de arrecadar e catalogar na Biblioteca Municipal, na maior amplitude possível, os livros, documentos, papéis, e demais elementos de interesse e de estudo que existam dispersos e até em risco de se perderem, e que os seus respectivos proprietários possam ceder, para que venham a ser utilizados pelos estudiosos, contribuindo-se, para fortalecer os alicerces de uma meritória obra de cultura que não se confinaria, apenas, ao interesse local por também ser de natureza regional.

Pode-se mesmo ir mais longe: catalogar as principais obras que, não podendo ser integradas na Biblioteca, estejam em mãos de particulares e tenham, para o efeito, manifesto proveito, ficando a servir de guia para todos os que necessitem consultá-los e de caminho aberto para eventuais aquisições no futuro, por parte da Câmara Municipal.

Todo este trabalho deve ser acompanhado da reorganização da actual Biblioteca Municipal, de modo a nobilitá-la e a torná-la útil e digna da alta função para que foi criada, o que é desejado, com alvoroço, por todos os feirenses que vêem na cultura uma necessidade imperiosa da sua vida espiritual, por vezes tão abandonada ao ostracismo.

Entre os elementos de interesse e de estudo, atrás apontados, sobressaem os jornais, fontes abundantes de informações e de conhecimentos que convém divulgar para facilitar o estudo daqueles que encontrem encanto e utilidade em viver em contacto com o passado, para o dar a conhecer aos do presente e aos vindouros, pois são verdadeiros cartórios, com documentos preciosos que, divulgados, também podem estimular e auxiliar estudos que interessem à história da nossa terra.

Podemos, assim, ouvir a voz dos nossos conterrâneos de antanho, acompanhando a evolução da sua vida entre o dobrar dos sinos que anunciaram a sua / 52 / natividade para esta vida e para a de além.

Justifica-se, deste modo, a preferência que dei à conclusão e publicação deste trabalho sobre outros que tenho entre mãos, esperando que muitos me acompanhem neste propósito de enriquecimento cultural.

Impõe-se, materializando o que atrás dissemos que, sem demora, se vão remetendo os jornais e revistas locais, sobretudo os mais antigos, para as respectivas Bibliotecas Municipais, num amplo e continuado esforço de defesa dum apreciável património municipal que cumpre defender, num movimento de solidariedade cultural de todo o distrito, obstando, no máximo possível, às barbaridades que o vão comprometendo e desfalcando dia a dia.

Também seria interessante promover, em todo o distrito, a troca de jornais antigos, concentrando-os nos arquivos dos respectivos concelhos, favorecendo-se a formação de colecções o mais completas que for possível.

Durante as aturadas pesquisas que fiz para a elaboração deste trabalho, tomei conhecimento das inúmeras destruições que se fizeram de colecções de jornais, sobretudo por falecimento de seus velhos detentores, pois, antigamente, em famílias cultas, havia o bom hábito de guardar os jornais locais.

Se quem os ler atentamente pode colher elementos úteis para a história da nossa terra, deve, contudo, estar precavido contra os exageros desencadeados pelas paixões que dominam muitas das suas páginas.

Infelizmente, o entusiasmo provocado pela defesa dos ideais políticos e religiosos e dos interesses partidários e até as inclinações pessoais dos directores dos jornais, apesar de proclamarem a sua independência, prejudicam a imparcialidade que é de desejar.

Só o tempo e os acontecimentos podem atenuar ou acabar com estes defeitos, que infelizmente deixam muitas ruínas no seu caminho, provocando grandes danos; os seus escritos, próprios do ambiente que os determinou, fazem com que os seus desígnios se encaminhem mais para o ataque pessoal do que para a defesa doutrinária, mascarando a verdade conforme a conveniência política a que se hipotecaram.

Assim, para que o trabalho seja proveitoso e confinado à verdade, torna-se necessário saber tirar das páginas chamuscadas, se não ardidas pelo fogo da paixão, as informações úteis, à semelhança de quem retira, com as mãos, as castanhas da fogueira, sem queimar os dedos, pois a verdadeira história só se pode fazer quando o historiador tem a força e, por vezes, a coragem de se vencer a si próprio, integrando-se na época e no ambiente em que os factos se geraram e se desenvolveram.

A proximidade, e sobretudo a actualidade em relação às ocorrências que servem de base a um estudo obrigam a um especial cuidado, bem necessário ao desenvolvimento de um trabalho como este, que toma a natureza de «jornal dos jornais», em número único.

Desejamos ser objectivos, sem magoar quem quer que seja, nem a memória dos que já partiram sem, contudo, esquecer o que devemos à verdade e a nós próprios.

Há necessidade de se promover a publicação de trabalhos, da natureza deste, em todos os concelhos do nosso distrito, de modo a poderem ser reunidos em volume, iniciando-se uma nova modalidade de política cultural, à base regional, que afirme a unidade e a inteira colaboração entre todos os concelhos do distrito.

Também se pode desenvolver esta política, e com a mesma orientação, alargando-a, sucessivamente, a outros sectores da vida dos mesmos concelhos, onde se verifique uma identidade ou afinidade de actividades ou motivos, como sejam: história das armas, selos, bandeiras e estandartes concelhios, do teatro, dos conventos, do folclore, do turismo, etc.

O estudo dos jornais, sobretudo o dos mais antigos, deve ser de certo modo detalhado, remediando-se, na medida do possível, as consequências do desaparecimento, tão frequente, de grande parte deles.

Convém indicar onde eles estão arrecadados, possibilitando, com tal prática, o seu estudo a todos os que, porventura, se interessem pelos acontecimentos locais.


Consumi dilatados meses na procura de jornais de modo a poder oferecer um trabalho que abrangesse o maior número dos que se publicaram na vila e concelho.

Apesar dos esforços que desenvolvi, não me foi possível ver qualquer exemplar dos dois jornais, adiante referidos: o «Jornal dos Anúncios» (1884) e o «Brinco» (1908). O mesmo quanto ao manuscrito «A Feira» (1910).

Encontrei muitos na Biblioteca Municipal da Feira, que pertenceram às colecções do Dr. António Toscano Soares Barbosa, que foi ilustre Delegado do Procurador Régio e, em seguida e durante muitas dezenas de anos – até ao termo da sua vida profissional, contador judicial desta comarca – e José Adão Rodrigues Pinhal, grande bairrista e dedicado feirense, a quem a vila, o concelho e designadamente a sua freguesia natal – Santa Maria de Arrifana – tanto devem, em prestimosos e dedicados serviços, de tal modo que se tornou conhecido por «Cônsul da Feira no Porto».

Outros, tenho-os no meu arquivo.

Dos mais antigos ainda se encontram alguns, mas muito poucos, na Biblioteca Municipal do Porto e na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Na redacção do «Correio da Feira» pode-se encontrar a valiosa colecção deste jornal.

Desde que se tornou obrigatório o depósito dos jornais que se forem publicando, em determinadas bibliotecas, fácil é a consulta: (Decreto-Lei n.º 19952, de 27 / 53 / de Junho de 1931, decretos, de 19 de Dezembro do mesmo ano, 24569, de 18 de Outubro de 1934, 25134 de 15 de Março de 1935, decretos-lei, 386841 de 18 de Março de 1952, 46 350 de 22 de Maio de 1965 e portarias 8634, de 19 de Fevereiro de 1935 e 14205 de 23 de Dezembro de 1952).

Beneficiam-se, entre outros, do depósito, as bibliotecas Nacional de Lisboa, da Academia de Ciências de Lisboa, Geral da Universidade de Coimbra, Municipal Central de Lisboa, Pública Municipal do Porto, Pública de Évora, Pública de Braga, Popular Central de Lisboa, Municipal de Coimbra e ainda os Ministérios do Interior e da Justiça.

Algumas colecções são raríssimas. Assim acontece com as revistas musicais de publicação quinzenal, que se intitularam «Miscelânea Musical» e o «Eurico», que se editou nesta vila em sua continuação.

Daquela só conheço duas, que se completam; uma na mão do Dr. Humberto Xavier de Paiva, que nesta vila foi distinto veterinário municipal e a quem a vila e concelho muito devem no domínio da sua actividade profissional e no campo da assistência, da arte e da cultura, e de sua mulher, a senhora D. Gilberta Xavier de Paiva, distinta pianista, fundadora, nesta vila da Feira, da Academia de Música de Santa Maria; e outra na mão do distinto maestro António de Melo, da cidade de Lisboa.

Existe também o número 1 na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Do «Eurico» só conheço uma colecção na mão do referido maestro António de Melo: dela foi principal redactor o grande maestro Miguel Ângelo, do Porto.

À generosa ajuda destes ilustres colaboradores devo a possibilidade que tive de estudar as duas referidas revistas e de adquirir as fotografias que delas se publicam.

A eles protesto o meu agradecimento que torno extensivo a Francisco Vicente da Costa Neves, desta vila, muito devotado feirense e antigo funcionário da Repartição de Finanças, pelo auxílio que me deu, com valiosas informações, muito seguras e honestas, sobre a existência e a vida de vários jornais, que foi buscar ao vasto manancial de conhecimentos que tem da história contemporânea da Feira.

Só assim, e com lances de felicidade, consegui compulsar os jornais publicados de modo a fazer um estudo cuidadoso sobre a imprensa periódica na vila da Feira, no qual se inclui, como pertencendo ao resto do concelho: o «Arrifanense», que se publicou na referida freguesia de Santa Maria de Arrifana e o «Leverense», que se publicou na freguesia de Lever, enquanto pertenceu ao concelho da Feira, do qual foi desanexada em 1926 para ser integrada no do de Vila Nova de Gaia. Incluo, ainda os paroquiais e o desportivo.

Quase todos os jornais que se publicaram na vila e concelho da Feira, como de resto aconteceu e acontece na província, inscreveram no seu programa a defesa dos interesses regionais e locais: apenas se exceptuam, em razão dos seus fins, a «Miscelanea Musical» com a sua continuação o «Eurico» e o «Diário D'Anuncios».

Cumpriram a sua missão o melhor que puderam, conforme o critério dos seus directores, nem sempre bem esclarecidos ou com possibilidades de inteira independência; até se encontram os que se enfeudaram à parte comercial, como necessidade para angariar os meios necessários para a subsistência dos seus proprietários, como aconteceu com o «Campeão da Feira».

Na sua esmagadora maioria, os jornais que se estudam foram políticos e com essa finalidade se fundaram, representando e defendendo o interesse de ideais ou partidários, motivo de manifesta perda da sua independência, embora, por vezes, invocada nos seus cabeçalhos.

Nas duas últimas décadas do século passado, as que nos interessa considerar, (pois o primeiro jornal da Feira foi fundado em 1882), existiram dois partidos políticos que se alternavam no poder, dando lugar ao chamado rotativismo político: o Progressista, fundado em 1877 em resultado da fusão do Histórico com o dos Reformistas, chefiado por Anselmo Braancamp Freire a quem sucedeu, por sua morte em 1885, o conselheiro José Luciano de Castro, do concelho de Anadia, e o Regenerador que, quando se constituiu, foi chefiado pelo Marechal Saldanha e depois, sucessivamente, pelo grande Fontes Pereira de Melo e conselheiro Hintze Ribeiro.

Em 1901, o conselheiro João Franco abriu cisão neste partido, formando o Regenerador-Liberal, conhecido por Franquista, de que ele foi chefe e, em 1904, outro tanto sucedeu ao partido Progressista pela cisão aberta pelo conselheiro José Maria de Alpoim, que fundou o partido Dissidente ou Alpoinista, de que foi chefe.

Por morte do conselheiro Hintze Ribeiro, em 1907, a chefia do partido foi confiada ao conselheiro Júlio de Vilhena, na qual se manteve até 1910, data em que lhe sucedeu o conselheiro Teixeira de Sousa, mas no mesmo dia em que a este foi confiado tal encargo foi eleito, chefe de facção conservadora do mesmo partido, o conselheiro Campos Henriques.

Assim foi até à proclamação da República.

Todos aqueles partidos tiveram a sua representação assegurada na imprensa da vila.

O partido Progressista viu a sua política defendida pelo «Feirense» que foi seu órgão (1-883), continuado pela «Voz da Feira» e a partir de 3 de Agosto de 1902 pelo «Jornal da Feira», que embora só desde então se intitulasse seu órgão, já de há muito alinhava ao lado daquele partido: em 1904 surge, como órgão do partido, o «Progresso da Feira».

/ 54 / O Dissidente teve como seu órgão o «Notícias da Feira» (1909), que continuou o «Informador» (1907): este, nos seus últimos tempos, já tinha tendência Alpoinista.

O Regenerador, que também foi apoiado pelo referido «Jornal da Feira», teve como seu órgão, a partir de 1897, o «Correio da Feira» que, depois da morte de Hintze Ribeiro, seguiu o conselheiro Júlio de Vilhena e, depois, o conselheiro Campos Henriques como regenerador-conservador, enquanto a facção do conselheiro Teixeira de Sousa teve o apoio da «Gazeta Feirense» (1908), conhecida pela «lefa», que em 7 de Fevereiro de 1910 já se intitulava «único órgão do partido regenerador do concelho da Feira».

Por sua vez, o Franquista teve como seu órgão, no concelho, o «Comércio da Feira» (1902).

Os Republicanos, até 1910, não tiveram órgão privativo.

Os Católicos (nacionalistas), até esta data, acolhiam-se ao «Correio da Feira» e os Legitimistas não tinham representação na imprensa local.

Depois da proclamação da República formaram-se três partidos: o Republicano Português, também conhecido por Democrático, o Evolucionista e o Unionista, chefiados, respectivamente, pelo Doutor Afonso Costa, e Drs António José de Almeida e Brito Camacho.

Os demais republicanos agrupavam-se, como independentes, sob a chefia de Machado dos Santos.

Apenas os dois primeiros tiveram órgãos a representá-los nesta vila e concelho.

O Democrático pelo «Democrata Feirense» (1914) e o Evolucionista pelo já referido «Correio da Feira».

Antes de tomarem esta posição partidária, ambos se intitularam e sucessivamente, órgãos do partido Republicano, primeiro este e depois aquele.

O «Progresso da Feira» continuou a ser de tendência monárquica.

Como é sabido, os partidos da República, em dado momento, passaram a pulverizar-se em pequenos partidos.

Destes, apenas teve representação, nesta vila, o Liberal-Republicano, da direcção do Dr. António Granjo, do qual foi órgão o «Correio da Feira» designando-se órgão do partido Republicano-Liberal. O partido Católico foi representado pelo jornal «Vila da Feira» (1902).

Como semanários nacionalistas apontamos dois: um em continuação do «Democrata Feirense» denominado «Povo Feirense» (1938) e outro, «Tradição» (1932), este de tendência monárquica.

Finalmente, em 1957, fundou-se o «Notícias», independente, que a partir de 1964 (3.ª série) passou a ter feição de jornal católico.

Todos os jornais da sede foram semanais, com excepção da «Miscelânea Musical» e «Eurico» que foram quinzenais e «O Campeão da Feira» que foi bi-semanário.

Alongarei o estudo aos jornais paroquiais, quer periódicos quer em números únicos, ao desportivo, e, por curiosidade, aos manuscritos.

Como afirma José Tengarrinha, na sua «História da Imprensa Periódica Portuguesa», são condições indispensáveis para que uma publicação possa ser considerada jornal, «a periodicidade, encadeamento e conteúdo específico diverso do livro ou do panfleto «(fI. 16) no qual se pode incluir «o problema dos números únicos (ou mais propriamente das publicações avulsas ou comemorativas) (fI. 20).

Na ordenação deste trabalho, seguimos o critério da periodicidade em seu conceito genérico e, assim, estudaremos, em primeiro lugar, os periódicos – jornais da vila e concelho, depois os paroquiais e o desportivo, seguindo-se os números únicos, tipo jornal e comemorativos e depois, como curiosidade, os manuscritos.

  Clicar para ampliar.

Pouco se tem escrito sobre os jornais da vila e concelho da Feira. Lembramos as referências feitas pelo Dr. António Zagalo dos Santos (Imprensa periódica do distrito de Aveiro – Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. 9.º págs. 69 e 121) com adições por A. Carneiro da Silva (cit. Revista e volume pág. 296), trabalhos de mérito mas muito incompletos e com equívocos.

Ainda se pode indicar o artigo publicado no «Comércio da Feira», (n.º 33 de 14 de Agosto de 1902).

Finalmente, podemos citar os trabalhos de Augusto Xavier da Silva Pereira, «Jornalismo Português» e «Jornais Portugueses».

 


IMPRENSA PERIÓDICA (JORNAIS)

 

A

DA VILA E CONCELHO

 

1

JORNAL DA FElRA

Em 20 de Agosto de 1882, iniciou-se, na Vila da Feira, a publicação do seu primeiro jornal – «Jornal da Feira» – semanário que se distribuía aos domingos com 4 páginas, cada uma com 5 colunas: o seu formato era de 0,47 x 0,32.

Este jornal teve dois formatos no seu cabeçalho: um que se manteve até ao número 1042 e outro que apareceu com o número seguinte, que coincidiu com o número um da segunda série (3 de Agosto de 1902).

Foi impresso na tipografia municipal, na Praça Velha, que o seu proprietário arrendara, por arrematação, e onde tinha a sua sede e redacção.

Foi fundado por Manuel José da Silva Ribeiro, um / 55 / jovem muito audacioso que, durante toda a sua vida, votou um especial carinho à imprensa periódica, que sempre serviu com dedicação.

Nasceu na Vila da Feira, em 8 de Março de 1850, filho legítimo de Manuel José da Silva Ribeiro, e de sua mulher D. Marcolina (também conhecida por Miquelina) de Freitas Apenceler Ribeiro, que foram proprietários da parte nascente do prédio que hoje pertence a Francisco Plácido de Resende, que faceia a Praça do Doutor Oliveira Salazar pelo lado norte: era neto paterno de Manuel Ribeiro e de Custódia Moreira e materno de Joaquim Manoel de Freitas e Clara Joana Apenceler.

Casou com Maria do Vale de Moura Ribeiro e faleceu, em Espinho, em 6 de Julho de 1922, em estado de grande decadência económica, não obstante ter herdado bens de certo valor de seus pais e sogros. Como me informou o já referido Francisco Vicente da Costa Neves, orientou a construção do altar da Senhora de Lourdes, na Capela da Piedade desta Vila, e construiu o prelo de madeira onde se imprimiu o jornal – «Brinco» adiante referido, com o auxílio de um hábil carpinteiro, filho de um tal João de Freitas, assim como se dedicou à manufactura de miniaturas do Castelo da Feira e de outros monumentos além de outros trabalhos de artesanato, actividades de que se socorreu, sobretudo quando lhe faltaram os meios necessários para poder viver.
 

 

/ 56 / Não obstante os esforços que empreguei, mesmo entre os membros da sua família, não me foi possível obter a sua fotografia.

Na vida deste jornal destacam-se três épocas bem distintas: a) – uma que decorre desde a sua fundação, em 20 de Agosto de 1882, até 3 de Agosto de 1902, completando 20 anos, com 1042 números; b) – outra, desde esta data até ao número 1094 de 26 de Julho de 1903 com o qual completou o 21.º ano; c) – outra, desde 3 de Agosto de 1900 até à sua extinção em 10 de Julho de 1904, com a publicação do seu número 1144, quando estava para completar 22 anos.


a)

Durante este período e desde a sua fundação, o Manuel Ribeiro figurou, a princípio, como seu editor responsável, redactor e proprietário, intitulando-se, depois e sucessivamente, como administrador e director: tinha por editor António d'Almeida Júnior.

A sua actividade caracterizou-se pela defesa dos interesses locais, nomeadamente na da integridade do concelho da Feira, quando do seu desmembramento com a criação do concelho de Espinho em 1899, sendo então, juntamente com o «Correio da Feira», verdadeiros órgãos da causa da defesa dos interesses da vila e do concelho / 57 / dando, assim, o «Jornal da Feira», cumprimento à promessa feita no primeiro número do seu programa, quando fez a sua apresentação: «pugnar quanto em nossas forças caiba por tudo quanto possa contribuir para a prosperidade desta terra».

Politicamente, embora iniciasse a sua actividade dentro da norma enunciada no número quatro daquele programa «auxiliar aquele partido político que melhor cumpra o seu programa quando esse programa nos satisfaça», veio a inclinar-se para o partido regenerador que nele tinha o jornal da sua confiança.

Mas, ainda dentro deste período – evoluiu para o partido progressista que no concelho era chefiado pelo abade Manuel d'Oliveira Costa, que então era presidente da Câmara Municipal da Feira, conhecido por abade Costa ou abade de Arrifana por ter, durante muitos anos, paroquiado esta freguesia do concelho e que era natural de Milheirós de Poiares, também deste concelho da Feira.

Isto provocou a fundação do «Correio da Feira» como órgão daquele partido. Assim o afirmou este jornal no seu número de 23 de Julho de 1904, com áspera censura ao «Jornal da Feira». «Estão na memória de todos os acontecimentos de há sete anos, em que pela deslealdade do «Jornal da Feira» tivemos que fundar o «Correio» para vir à imprensa em defesa do partido regenerador que aquele abandonara. Então o sr. Manuel José da Silva Ribeiro, proprietário do «Jornal da Feira», desamparando os regeneradores, seguiu aberta e ostensivamente os progressistas...»

Clicar para ampliar.
Dr. João Pereira de Magalhães

 

No dizer deste «Correio» a filiação do «Jornal da Feira» no partido progressista data de 1896.

Em 30 de Julho de 1899 (número 887) o «Jornal da Feira» proclama a sua independência perante os partidos políticos, nomeadamente do progressista pelo qual combatia para se dedicar, exclusivamente, à luta pela integridade do concelho da Feira, por certo muito ressentido com a atitude do chefe daquele partido, conselheiro José Luciano de Castro, que presidia ao ministério que criou, então, o concelho de Espinho.

Mais tarde retomou a defesa dos interesses do mesmo partido até ser reconhecido como seu órgão neste concelho.

O «Jornal da Feira» chegou a anunciar a sua extracção em 1200 exemplares (número 893, de 17 de Setembro de 1899).

b)

No segundo período, ou seja desde o dia 3 de Agosto de 1902 (número 1043), tomou a posição de órgão do referido partido progressista sob a direcção do Dr. João de Magalhães (João Pereira de Magalhães), mantendo-se, como seu editor, aquele António d'Almeida Júnior e, como seu proprietário e administrador, o referido Manuel Ribeiro que o jornal apelidou de «benemérito a quem a Feira deve a primeira creação d'um jornal»: aparece como secretário Américo de Resende.

O Dr. João de Magalhães nasceu em Torres Vedras em 22 de Maio de 1873, quando seu pai aí era magistrado, descendendo duma distinta família de S. Jorge, do concelho da Feira: – seu pai foi o distinto Desembargador Dr. Joaquim Pereira de Magalhães e sua mãe D. Luísa Augusta Coelho da Rocha. Bacharel formado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, fixou-se na Vila da Feira, onde exerceu com grande permanência e brilho, a profissão de advogado. Militando no partido progressista, foi eleito deputado pelo círculo de Aveiro, (em 1906 e 1910) de que fazia parte o concelho da Feira sendo designado secretário da Câmara dos Deputados, onde se estreou em 22 de Novembro de 1906. Foi presidente da Câmara Municipal da Feira, nas vereações de 1907, 1908, vice-presidente e vereador em outras gerências, sócio da Sociedade de Geografia e Secretário Geral da Província de Macau por duas vezes, a primeira em 1918 e a segunda em 1926.

/ 58 / Foi aí Governador interino de 5 de Abril de 1929 a 30 de Março de 1931, onde desempenhou as funções de Encarregado do Governo, de 15 de Outubro de 1931 a 21 de Junho de 1932.

Faleceu naquela Província, e no exercício daquele cargo de Secretário-Geral, em 9 de Agosto de 1933.

Muito culto, era de um trato muito distinto, tendo manifestado sempre a sua grande dedicação pela vila e concelho de Feira, na defesa dos quais sempre se esforçou.

Fez parte de vários elencos de actores amadores que tanto se evidenciaram na vila, em récitas que ficaram memoráveis.

O referido Américo de Rezende (Américo Soares de Rezende) nasceu na freguesia de Sanfins, deste concelho da Feira, em 29 de Abril de 1875, sendo seus pais António Joaquim de Rezende e sua mulher Maria Soares da Mota, tendo falecido em 10 de Outubro de 1913.

Foi durante muitos anos ajudante do escrivão-notário (2.º ofício) José Cândido Marques de Azevedo, salientando-se, também, como actor amador e organizador de festas no distinguido meio social da Feira, de então.

Foi vereador da Câmara Municipal da Feira de 1908 a 1910 e administrador do concelho (1911).

No artigo de fundo daquele número 1043, quando o jornal dá a explicação da sua filiação política, reconhecendo a chefia do conselheiro José Luciano de Castro, proclama os méritos do seu referido director, o referido Dr. João de Magalhães «Um carácter primoroso e um partidário já velho de convicções profundas e dedicadas» que, então, era o vice-presidente da Câmara Municipal.

Clicar para ampliar.

Confessa que de há muito as suas afeições políticas convergiam para o partido progressista, acrescentando «Absolutamente desiludidos e convencidos pela experiência de duas longas dezenas de anos que a independência em política é inútil e ineficaz, resolvemos abraçar os ideais do partido monárquico mais avançado do país... Ninguém nos poderá acoimar de trânsfugas, porque nunca tivemos praça assente em partido algum».

Parece, por isto, que quando teve tendência regeneradora, como o acusa com acrimónia o citado «Correio da Feira» de 23 de Julho de 1904, era apenas «político miliciano».

Refere, como fazendo parte da redacção, o já aludido abade Manuel d'Oliveira Costa, Dr. Gaspar Alves Moreira, Dr. Crispim Teixeira Borges de Castro, Manuel Caetano d'Oliveira e Domingos Augusto de Sousa.

A parte literária, como se diz no referido artigo, ficava a cargo de um colaborador especial.

Ainda durante este período o jornal continuou a ser impresso na tipografia municipal.

c)

Neste terceiro e último período, que teve início com o n.º 1095 em 12 de Agosto de 1903, deixaram de ser, aqueles, director e secretário: embora o jornal não designasse quem o dirigia, o certo é que o Manuel Ribeiro assumiu, de novo, a responsabilidade do cargo, assim como ficou a ser o editor a partir do número 1129 de 27 de Março de 1904, conservando-se no exercício de todas as funções dentro do jornal, até à sua extinção.

A 10 de Julho de 1904, em suplemento ao n.º 1144, Manuel José da Silva Ribeiro anunciou estar inibido de continuar a publicação do jornal por a aludida tipografia municipal, onde ele ainda se imprimia, ter sido arrematada pelo proprietário e administrador do jornal «Progresso da Feira» – Domingos Augusto de Sousa.

A partir do referido n.º 1095, o jornal retomou a antiga numeração. Do «Jornal da Feira» foram colaboradores, o Dr. Eduardo Vaz de Oliveira, além dos referidos vultos do partido progressista.

Publicou em folhetim – «Feira Espinho 1.ª parte. A contribuição do concelho de Espinho» seguido do aditamento. «Passagem do concelho da Feira para o Distrito do Porto», o que tudo teve seu início em 27 de Outubro de 1901, (n.º 1003). 

O Dr. Zagalo dos Santos, no referido artigo publicado no Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. 9, pág. 157, diz que este jornal se publicou em 1881, quando é certo que teve o seu início em Agosto de 1882 e seu termo em Julho de 1904 durando, assim, cerca de 22 anos.

Também foi referido no trabalho de Carneiro da Silva (cit. Arquivo vol. 9.º pág. 297) e no «Comercio da Feira» (n.º 33 de 14 de Agosto de 1902).

Xavier da Silva, na citada obra «Jornais Portugueses» diz a pág. 86 «Jornal da Feira» 1882.

Deste «Jornal da Feira» existem poucos números na Biblioteca Nacional de Lisboa e alguns na Municipal da Feira.

Tenho no meu arquivo uma colecção desde o número 885 – até final, Manuel José da Silva Pereira, merece uma especial referência de louvor por ter tido a iniciativa de fundar o primeiro jornal da Feira e de o ter mantido durante tantos anos, através de muitos sacrifícios.

A ele se deve a publicação de mais jornais e revistas, pois além de ser fundador, proprietário e dirigente, durante muitos anos, deste «Jornal da Feira» (1882-1904):

a) – Fundou e editou, juntamente com seus irmãos, a revista «Miscelanea Musical» (1883-1884), continuada por «Eurico», da qual foi editor juntamente com seu irmão Joaquim; / 59 /

b) – Fundou e foi proprietário do «Diário dos Anúncios» (1885);

c) - Montou o «Campeão da Feira» (1885).

O «Jornal da Feira» além do interesse que tem, como primeiro jornal publicado na Feira, torna-se agradável pela sua apresentação, no estilo da época, com regular impressão, colaboração apreciável e respeitadora e muito devotado à Feira.

Saía regularmente e parece, pelo que ele anunciava, que tinha muitos assinantes.

 

2

O FEIRENSE

Este semanário iniciou a sua publicação em 23 de Março de 1883: publicava-se aos Sábados com 4 páginas, cada uma com 5 colunas e com a dimensão de 0,48 x 0,325.

Clicar para ampliar.
João José Ferreira (reprodução do n.º 907 do Jornal da Feira de 24/12/1899)

A sua existência não ultrapassou 1898, pois a partir de 15 de Outubro deste ano começou a imprimir-se o jornal que lhe sucedeu, a «Voz da Feira», sendo certo que ainda existia em 19 de Março de 1898, data em que, com o seu n.º 781, começou o 16.º ano. Imprimia-se no lugar das Eiras, n.º 803, onde estavam instaladas as oficinas, redacção e administração.

Não consegui encontrar o seu primeiro número e, assim, não me foi dado conhecer o programa aí enunciado. Apenas posso reportar-me ao que aquele número 781 anunciava, em seu artigo de fundo: «O programa que traçamos no primeiro número é ainda o mesmo que hoje adoptamos. Estamos no mesmo campo e influenciados pelas mesmas crenças...»

A sua tendência política era a favor do partido progressista.

Deste jornal existem alguns números na Biblioteca Municipal da Feira (nomeadamente dos anos 12, 15 e 16).

Foi seu proprietário, director e editor responsável, João José Ferreira que sucessivamente se foi designando redactor principal, editor responsável, editor e redactor principal. Em 22 de Março de 1897 aparece como editor responsável seu pai, José João Ferreira.

Veio, em criança, do Porto para a Feira com seu / 60 / referido pai que se estabeleceu com oficina de sapataria nos baixos da casa, hoje dos herdeiros de José Soares de Sá, na Praça do Dr. Gaspar Moreira, que ao tempo pertencia ao Desembargador Castro Matoso. Casou com uma senhora desta Vila, irmã de uma tal Emília do Lambro, que há cerca de 70 anos morreu num incêndio ocorrido numa dependência da Igreja da Misericórdia, desta Vila.

João José Ferreira amanuense da Câmara Municipal e, em 1899, abandonou a Vila da Feira por ter abraçado a causa da emancipação do concelho de Espinho.

Aqui, ocupou o lugar de secretário da Câmara Municipal.

O Dr. Zagalo dos Santos informa, no seu já referido trabalho, que este semanário foi «jornal progressista primeiro e depois republicano. Direcção de José João Ferreira. Saiu o 1.º número em 23 de Março de 1883».

Há equívoco no nome, pois José João Ferreira, era o pai, assim como na referência à defesa dos princípios republicanos. Este jornal também é mencionado no citado n.º 33 de 14 de Agosto de 1902, do «Comércio da Feira» dizendo-se, aí, que começou a sua publicação em tipografia especial.

Foi neste jornal que José Soares de Sá, que veio a ser o director do «Correio da Feira», que ainda se publica, iniciou a sua actividade profissional, como empregado de administração.

Clicar para ampliar.

«O Feirense», além de se propor defender os interesses locais, missão que não lustrou, era um jornal noticioso, político à moda de então, com várias secções, como revista financeira, correspondências diversas e poesias, entre elas algumas de Guilherme Braga. Na B. M. da Feira existem números deste jornal.
 

3

MISCELÂNEA MUSICAL

Em 15 de Abril de 1883 (Domingo) iniciou-se, nesta Vila, a publicação do quinzenário de revista musical, intitulado «Miscelanea Musical», da qual foram editores, a princípio, Joaquim Ribeiro & Irmãos, revista que conseguiu reunir, no primeiro ano, 24 números e, no segundo, seis e um suplemento.

Saiu regularmente, de quinze em quinze dias, deixando apenas de se publicar no mês de Abril de 1884, na transição do 1.º para o 2.º ano, que teve o seu termo com o suplemento ao número 6.

A «Miscelanea Musical», com o formato de 0,35x0,26, tinha 4 páginas com 2 colunas cada uma, com diversos artigos, acabando pelo noticiário. Cada número era acompanhado de uma música, tendo algumas (2, 3, 4, 6, 7 e 8) a inscrição – Grv J. Ribeiro – Vila da Feira.

Pelo menos a partir do 2.º ano, os números eram revestidos por uma capa que se reproduz em fotografia.

Até ao n.º 20 o texto foi impresso na tipografia municipal da Feira onde se imprimia o «Jornal da Feira», que era propriedade e editado pelo Manuel José da Silva Ribeiro, irmão do Joaquim Ribeiro falado no cabeçalho da revista: a partir do n.º 21 passou a ser editado na tipografia de Manuel Luís de Sousa Ferreira, da cidade do Porto, mas o 2.º volume já aparece como editado na Vila da Feira.

Clicar para ampliar.

Este Joaquim Ribeiro (Joaquim José da Silva Ribeiro) que nasceu na Vila da Feira, em 30 de Abril de 1848, era filho legítimo do já aludido Manuel da Silva Ribeiro e de sua mulher Marcolina (ou Miquelina) de Freitas Apenceler.

Teve como irmãos germanos: o já referido Manuel José da Silva Ribeiro Júnior, fundador do «Jornal da Feira» que, como dissemos, nasceu a 8 de Março de 1850; Clara Apenceler de Freitas, nascida em 2 de Junho de 1851, que casou com José Maria Fernandes Pereira. / 61 / – Xabregas; Augusto que nasceu em 7 de Janeiro de 1853; Camila nascida em 15 de Dezembro de 1855; Marcolina, nascida em 20 de Abril de 1857 e António, nascido em 9 de Dezembro de 1858.

Todos nasceram na Vila da Feira.

Não sei quais destes irmãos foram os associados do Joaquim Ribeiro como editores da revista: se todos, ou só parte deles.

No 2.º ano são designados como editores, Joaquim Ribeiro & Irmão, sendo de presumir que este fosse o aludido Manuel.

No volume, propriedade do maestro António de Melo, encontra-se a seguinte anotação de Artur Boaventura Abranches Nogueira, que talvez tivesse sido proprietário desse volume: «As correspondências de Lisboa para a «Miscelanea Musical» e para o «Eurico» (de que se publicaram os cinco números aqui juntos) assinadas com o pseudónimo de Ruy Blas, são minhas».

O número 6 do 2.º ano, ou o seu referido suplemento (não se pode averiguar a qual pertence) é acompanhado de uma valsa-Polka de Miguel Ângelo, dedicado à sua discípula D. Maria S. Vasconcelos Leão.

Este número já foi orientado por este grande maestro, da cidade do Porto, como expressamente se reconhece no artigo de fundo do 1.º número do «Eurico» / 62 / que se editou em continuação da «Miscelanea».

No artigo de fundo de apresentação (número um do ano primeiro), denuncia-se a finalidade e oportunidade da sua publicação nos seguintes termos.

«Há muito que em Portugal se notava a absoluta carência de um jornal que se dedicasse única e exclusivamente ao estudo e à apreciação das diversas produções musicais que quotidianamente são postas em circulação, tanto no nosso país como no estrangeiro. Por diversas circunstâncias que não nos é dado apreciar, nunca se tratou de preencher tão sensível lacuna, que nem mesmo o nosso pequeno e modesto desenvolvimento artístico podia, por forma nenhuma justificar... Os países, ainda os mais atrasados neste ramo de conhecimentos, dispõem d'um e mais órgãos onde de uma maneira especial se ventilam as questões musicaes, já cuidando do progresso e desenvolvimento da arte musical, já registando os diversos commetimentos artísticos de seus filhos. Não vimos com pretensões illusorias de obviar a essa falta de uma maneira infallivel. O que contudo asseveramos é que, o que nos falta em força e competencia sobra-nos em diligência e boa vontade...»

A iniciativa e os propósitos foram ousados: se é certo que não se pode atribuir à revista, extraordinário / 63 / mérito, é de justiça anotar o amor que os seus editores votavam à música e a esperança em que em si mesmo depositavam de bem a servirem.

Na referência que lhe fez o «Comercio da Feira», no citado n.º 33, diz-se que esta revista foi fundada pelo Manuel da Silva Ribeiro sob a firma Joaquim Ribeiro & Irmão, sendo impresso na tipografia municipal, tendo saído 36 números; a referência ao local de impressão deve-se corrigir nos termos atrás referidos.

Também a esta revista se refere o Dr. António Zagalo dos Santos, no seu referido artigo publicado no Arquivo do Distrito de Aveiro, designando-a como «quinzenário de revista musical e peças escolhidas para piano», atribuindo-lhe erradamente a direcção ao Dr. Aguiar Cardoso.

Xavier da Silva, na mencionada obra «Jornaes Portugueses», a pág. 101, diz «Miscelânea Musical – 1883 .– Vila da Feira e Porto – seguido de Eurico».

A Bibliophilie Musicale de Michel'Angelo Lambertini MCMXVIII descreve esta revista sob o n.º 2058 como «Miscelânea Musical – Vila da Feira 1 année 1883-4, n. 1, 3 a 24 – II année – 1884 n. 1 a 6, dernier de Ia publi.»

Não obstante o referido, podemos afirmar que tam.bém existe n.º 2 que já compulsei, na colecção pertencente à senhora D. Gilberta Xavier de Paiva, colecção que é formada pelos primeiros 22 números do 1.º volume com falta, apenas, do n.º 6 de 1 de Dezembro de 1883.

Na colecção, encadernada, que pertence ao referido maestro António de Melo, pode-se admirar quase toda a colecção, à qual apenas falta o n.º 2: por certo, foi esta colecção que informou a mencionada Bibliografia Musical. São duas colecções muito raras, sobretudo esta última.

Além destas duas colecções, únicas que conheço, sei que há um exemplar do número um, na Biblioteca Nacional de Lisboa.

Já o artigo de fundo do n.º 1 do «Eurico» começava por afirmar que, por se terem, já então, esgotado alguns números da parte literária da «Miscelanea», era impossível obter a colecção completa.

Clicar para ampliar.


4

EURICO

À «Miscelânea Musical» sucedeu outra revista de música – «Eurico», designada por «Quinzenário de revista musical» de que foi redactor o grande maestro e distinto professor de música Miguel Ângelo (Miguel Ângelo Pereira), continuando a ser editores os referidos Joaquim Ribeiro & Irmão: no seu cabeçalho inscreve «Agência Geral – Rafael Angelo – Rua Formosa 325, Porto.

O seu formato era igual ao da «Miscelanea» com igual número de páginas. Deste jornal publicaram-se 5 números, sendo o primeiro em 15 de Setembro de 1884 (segunda feira) e o quinto em 30 de Novembro do mesmo ano (domingo): cada um era distribuído protegido com uma capa de papel, subscrita por Rafael Bordalo Pinheiro, cuja fotografia se publica, na qual se repetem aqueles dizeres com o acréscimo de «escolhidas peças de teatro», nomeando-se Miguel Ângelo como redactor principal e Rafael Ângelo como único agente em Portugal.

No artigo de fundo daquele primeiro número e com o título de «Expediente» explica-se a razão por que se suspendeu a publicação da «Miscelanea Musical» e se deu início, em continuação, à publicação desta nova revista: «o Eurico apresenta-se literariamente de lança em riste para combater tudo e todos que por obras ou acções venham empanar o brilho da Arte ou prejudicar o bom nome de artista, e de coração magnânimo para exaltar méritos e registar virtudes onde quer que as hajam. Musicalmente publicará com preferência as obras de compositores portugueses de verdadeiro e reconhecido mérito e d'entre as composições de extranhos, escolherá aquellas que possam auxiliar os bons professores na educação musical dos seus discipulos. A competencia do nosso redactor garante a execução d'este programa».

Clicar para ampliar.

Nos seus números ocupava-se, além do mais, de problemas de educação musical (Hector Berlioz), com conselhos aos professores de piano (por Felix de Coupper), noticiário, com publicação, em cada número, de uma música consagrada.

No seu número quatro presta homenagem ao fundador do «Comércio do Porto» Manuel de Sousa Carqueja, por ocasião do seu falecimento.

Confirmando o que já anteriormente foi dito, Miguel Ângelo já tinha colaborado no último número de «Miscelanea Musical» (ano II, n.º 6).

Claramente se diz naquele «Expediente». «Todavia para completar a colecção publicada sob a direcção do snr. Miguel Angelo é necessário obter o 6.º número de Miscelanea (2.º anno), que esta empresa enviará aos seus assignantes que o reclamarem pelo preço da assignatura por numero».

A biografia de Miguel Ângelo Pereira e um breve estudo sobre a sua obra, estão publicadas na Grande Enciclopedia Luso-Brasileira, vol. 21, fI. 162, de onde extratamos e em resumo:

Foi um grande maestro, professor de música e compositor de envergadura no Porto, tendo nascido em Barcelinhos em 27 de Janeiro de 1843, sendo filho de Bento de Araújo Pereira, com quem aprendeu música. Veio a batisar-se no Porto, onde seus pais viviam.

Na sua infância, o pai teve que emigrar para o Brasil por motivos políticos e ele ficou, em Portugal, a valer à família com os poucos rendimentos que tinham, / 64 / amparados pelas gratificações que recebia, por ajudar à missa. Indo para o Brasil, tirou o curso do Conservatório, onde se distinguiu como pianista. Regressando a Portugal, com 20 anos, iniciou a sua carreira ascensional como professor e compositor. Nesta actividade notabilizou-se produzindo várias obras, entre elas – um Te Deum – a quatro vozes a grande orquestra, executado quando, no Porto, se inaugurou a estátua de D. Pedro V e uma marcha «Progredior» executada em 1865, aquando da exposição Universal do Porto, por orquestra, banda e órgão. Entretanto, orientado pelo artista francês Widor, tornou-se um organista distinto.

Mas a sua glória atingiu a maior altura com a composição, em 1865, da ópera «Eurico», com base no célebre livro, do mesmo nome, de Alexandre Herculano, representada em S. Carlos em 1870, no Porto no teatro de S. João em 1874, onde mereceu a oferta de uma batuta de prata, e no Rio de Janeiro em 1878.

Tudo isto se desenvolveu numa época em que no Porto havia «intensa actividade musical, em que se admiravam outros grandes artistas».

O valor de Miguel Ângelo e da sua obra foram exaltados pelo poeta Guilherme Braga e pelo grande arqueólogo e crítico de arte Dr. Joaquim de Vasconcelos, marido da Doutora D. Carolina Michaëlis.

No Porto, fundou e dirigiu a Sociedade do Quarteto, que mais tarde foi integrada no Orfeão Portuense.

No dizer daquela Enciclopédia, a publicação do / 65 / «Eurico» teve «o fim único de desenvolver campanhas de baixo insulto contra os artistas e os críticos», campanha de escândalo, aliás já enunciada no artigo de fundo do primeiro número desta revista, atrás transcrito em parte.

Foi o início do declínio do artista que se pronunciou, sobretudo, a partir de 1885 devido ao seu temperamento irascível, que o levou, no fim da sua vida, a recolher a uma casa de saúde do Porto, onde veio a falecer a 1 de Fevereiro de 1901.

Além das referidas obras deixou muitas outras, algumas das quais foram editadas ainda em sua vida.

Do exposto vê-se que, Miguel Ângelo, escolheu para esta revista o nome da sua principal obra e que maior nome lhe deu, como compositor, – «Eurico».

A este distinto maestro refere-se o Dicionário de Música Ilustrada de Tomás Boalle e Fernando Lopes Graça, pág. 362 e 363, Vol. I-Z (2.º) 1958.

Miguel Ângelo teve, pelo menos, dois filhos, também músicos distintos, Américo Ângelo Pereira e Virgílio Pereira.

Este foi, como seu pai, maestro e professor de música: em 1941 organizou o conhecido Coral da Câmara das «Pequenas cantoras do Postigo do Sol» constituído / 66 / por educandas do Recolhimento das Meninas Desamparadas.

A estes, refere-se a aludida Enciclopédia no seu vol. 21, respectivamente, a pág. 115 e 186.

O «Eurico» é uma revista muito rara, mais rara do que a Miscelanea. Só conheço um exemplar da sua colecção, aliás completa, encadernada juntamente com a «Miscelanea Musical».

Pertence ao já referido maestro António de Melo, que teve a gentileza de mo facultar para estudo e para obter as fotografias que se publicam.

Por isso, aqui lhe renovo o meu agradecimento e o protesto da minha gratidão.

A esta revista – «Eurico» – se refere A. Carneiro da Silva no citado Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. 9.º pág. 304, dizendo que A. X. Silva Pereira nota este periódico no seu citado trabalho «Jornalismo Português» acompanhado da seguinte informação: «quinzenário de revista mensal – 15 de Setembro 1884 a 25 de Fevereiro de 1885. Vila da Feira»; o mesmo Silva Pereira, no seu trabalho «Jornais Portugueses» a fls. 60, diz «Eurico» (O) – 1884 – Vila da Feira e Porto. Foi o seguimento de Miscelanea Musical. Findou em 1 de Março de 1887».

Há equívoco porque o seu termo foi em 30 de Novembro de 1884 e não em 25 de Fevereiro de 1885.

Também a ela se refere a já referida Bibliophilie Musicale de Michel Angelo Lambertini – sob o n.º 2047, a fI. 239 «Eurico – Villa da Feira e Porto, I année, 1884 n. 1 a 5 les seuls publiés».

O «Eurico» não pode ser considerado, em absoluto, um periódico feirense: foi-o na medida em que deu seguimento à «Miscelanea Musical» e pela continuidade dada à sua editoria na Vila da Feira, a cargo dos feirenses Joaquim Ribeiro & Irmão e, ainda pela colaboração que estes lhe prestaram.

5

DIARIO D'ANUNClOS

Não encontrei qualquer exemplar deste jornal, sendo escassas as referências a ele feitas; por isso, não me foi possível estudá-lo. O «Comércio da Feira», na citada local – imprensa jornalística (n.º 33 de 14 de Agosto de 1902) diz «Mais tarde, em 7 de Julho de 1884, também se imprimiram na mesma tipografia (a municipal) alguns números d'um pequeno jornal – Diário d'Anúncios fundado pelo snr. Manoel Jose da Silva Ribeiro», que fundou e manteve o já referido «Jornal da Feira».

Penso que há equívoco nesta data, porque o «Campeão da Feira» refere, no seu n.º 3, de 9 de Março de 1885 (segunda feira):

«Jornal Novo. Mais um vae entrar no mundo na terça-feira, dia que os prophetas inculcam de mau para começo de qualquer obra.

No entanto, repiquem os sinos, fluctuem as bandeiras e ponham-se luminarias, para solenisar o 2.º aniversário do progresso do concelho da Feira, que vae de vento em pôpa. O titulo do novo jornal será Diário d'Anúncios e como tal destina-se unicamente à assambarcação de anuncios, o que para nós é indiferente.

Os preços das nossas publicações ficarão como estavãm. Não lutamos para o exterminio de ninguém. Trabalhamos unica e gratuitamente para ajudar um nosso antigo empregado, que se acha em pessimas circunstâncias».

Daqui se deduz que o «Diário d'Anuncios» iniciou a sua publicação em 10 de Março de 1885, o que vem confirmar a afirmação feita pelo «Comércio da Feira» de se terem imprimido apenas «alguns numeros», pois o último foi impresso em 20 de Abril de 1885.

Pela referência feita por este «Comercio da Feira», vê-se que o «Diário d'Anuncios» era de formato pequeno.

6

O CAMPEÃO DA FEIRA

Iniciou a sua publicação em 2 de Março de 1885, como bi-semanário, às segundas e quintas-feiras.

Teve seu termo em 20 de Abril desse ano, imprimindo-se, apenas, treze números.

Era de formato pequeno – 0,33 x 0,235, com 4 páginas, tendo, cada uma, quatro colunas.

Foi este jornal montado pelo já falado Manuel da Silva Ribeiro, tendo como director Luz de Almeida, e teve a sua sede no largo da Praça (Praça Velha), ficando como seu proprietário Manuel da Cunha.

Intitulava-se político, noticiário e literário.

No artigo de fundo do primeiro número, denominado «O nosso programa» diz: «vimos apenas para o campo de lucta patriotica pugnando pelos intresses do concelho da Feira como o afirma o nosso titulo».

Não consegui ler todo este artigo dado o estado de deterioração do único exemplar que me foi possível consultar. Contudo, ainda se consegue ler «Um jornal criado para a colaboração do bem... para a censura contra os erros e abusos, para a protecção dos desvalidos, para a estatistica dos criminosos, para a lembrança aos que podem melhorar a nossa situação emfim, para tudo quanto é alegre e productivo e patriótico, é sempre bem vindo...»

Nesse mesmo número e com o título unicamente de explicação diz:

«Uns montam uma tipografia para publicar um jornal / 67 / político cujo fim é o arranjo da fatia. Outros para acordar os preguiçosos que nada querem fazer de util para a sua terra para apontar os erros e os abusos dos que «mandam» clamando contra elles e pedindo, senão o castigo, pelo menos a reparação. E o «Campeão da Feira» não foi criado para o primeiro fim, mas sim para o segundo e terceiro seguinte: acudir a uma família necessitada e sem lume, sem pão, dando trabalho ao chefe da mesma (que é tipografo) e trabalho honesto e digno que produsa o remedio salutar para si e para os seus cuja infelicidade depende dos feirenses condoidos».

Clicar para ampliar.

No 13.º número, o seu proprietário Manuel da Cunha anuncia a sua suspensão por «não poder continuar a sustentá-lo isto devido à falta de meios», acabando por agradecer ao Manuel José da Silva Ribeiro o grande auxílio que lhe prestou e a Luz d'Almeida, por tanto que o ajudou gratuitamente.

Aquele Manuel Cunha, num comunicado de 7 de Março, publicado no número 3, de 9 do mesmo mês, explica como se fundou o jornal.

Depois de se referir à sua precária situação económica e a ter baldadamente batido a várias portas para a poder solucionar exclama: «tanto andei, tanto sofri e tanto pedi que no dia 20 de fevereiro me disse o sr. Manuel José da Silva Ribbeiro – se você quer eu monto-lhe um jornal pequeno, dou-lhe papel, tinta e mais necessarios durante 4 numeros e pode com o produto d'elle e dos anuncios remediar a sua vida e arranjar um bocado de pão: e terminados os 4 numeros apenas me dará 20 p. c. para pagar o papel e tinta. Eu aceitei n'aquela ocasião e agradeço no presente tanto a ele, como ao publico, benfeitor.

Esta é a verdade».

Nesse mesmo número vem um anúncio em que ele se oferece como tipógrafo.

O que deixamos transcrito bem nos elucida sobre a razão porque se fundou este jornal e as condições em que viveu; o seu proprietário quis encontrar nele o meio de matar a fome, num esforço de salvação, o que aliás não conseguiu. Isto dá-nos um índice das condições em que, por vezes, viviam os que, na província, se dedicavam à tão árdua e ingrata profissão do jornalismo. A situação precária em que vivia o jornal explica o modo como recebeu a aparição do «Diário dos Anúncios» que vinha afectar a principal fonte da / 68 / sua receita: é curioso notar que este Diário pertencia exactamente ao Silva Ribeiro que montou, por caridade, para com Manuel da Cunha, o «Campeão da Feira».

Nestas condições, o que havia a esperar da isenção e da independência do jornalista?

«O Campeão da Feira» tinha, entre outras, as seguintes secções: revista estrangeira, noticiário, secção literária e de variedades, além de correspondências, inclusive de Lisboa; e até tinha – uma secção alegre...

A este jornal refere-se o «Comercio da Feira», no citado n.º 33 «Em 2 de Março de 1885 encetou na mesma tipografia (a municipal) a sua publicação – o «Campeão da Feira» um pequeno jornal de quatro colunas, fundado pelo sr. Manuel da Silva Ribeiro e de que era director Luz d'Almeida e de que sairam 13 números».

O Dr. Zagalo dos Santos, no seu já referido trabalho, limita-se a dizer, quanto a este jornal – «Semanário político – noticioso e literário. Publicou-se em 2 de Março de 1885».

Xavier da Silva, na mencionada obra «Jornaes Portugueses» diz a fls. 27, «Campeão da Feira (O), 1885, Vila da Feira».

Além da colecção completa deste jornal, existente na Biblioteca Municipal, (com alguns números mal conservados) sei que está depositado, na Biblioteca Nacional de Lisboa, um exemplar do número um.

7

A VOZ DA FEIRA

 

 

Iniciou a sua publicação em 15 de Outubro de 1898 – tendo em consideração que os seus números 8 e 10 saíram, respectivamente, em 3 e 17 de Dezembro de 1898 e que teve o seu termo, com o n.º 12, em 31 de Dezembro do mesmo ano.

 

Confirma-o o «Correio da Feira», no número 91 de 1 de Janeiro de 1899 anunciando: «terminou ontem a sua publicação o semanário «Voz da Feira», sucessor do Feirense, de que era redactor e editor o sr. José João Ferreira, e que fora o orgão do partido progressista no Concelho».

Tinha o formato de 0,475 x 0,325 e publicava-se aos sábados com quatro páginas: era impresso no lugar das Eiras, onde tinha a sua sede e administração.

Clicar para ampliar.

O «Comércio da Feira» no citado local do seu n.º 33, diz que ele era impresso na tipografia do referido «Feirense», e que deles saíram poucos números.

Aquele Ferreira, que também se intitulou administrador deste jornal era o pai do João José a que nos referimos quando estudámos o «Feirense».

Designou-se semanário político, noticioso e independente mas caracterizou-se, sobretudo, por ser noticioso com artigos diversos. Embora sucessor do «Feirense» nunca se confessou enfeudado aos progressistas, embora fosse um simpatizante da política deste partido.

Este jornal não é referido, nem pelo Dr. Zagalo dos Santos, nem por A. Carneiro da Silva.

Existem alguns exemplares dele na Biblioteca Municipal da Feira, e um – o n.º 8, na Biblioteca Nacional de Lisboa.

8

CORREIO DA FEIRA

Iniciou a sua publicação em 11 de Abril de 1897: com grande tenacidade e muitos sacrifícios dos seus directores e proprietários, entrou já no seu 73.º ano, tudo fazendo supor e assim desejamos, que possa beneficiar-se da justa consagração do centenário da sua existência.

Até ao seu número 107 de 23 de Abril de 1899, distribuía-se aos domingos; mas a partir do número seguinte, como ainda hoje, distribui-se aos sábados.

Clicar para ampliar.

O seu formato variou desde o número um, 0,445 x 0,315, até ao que hoje adopta, 0,515 x 0,355.

O número de páginas, que durante muito tempo foi de quatro é, hoje, normalmente de seis, tendo variado o número de colunas de cada página que a princípio era de quatro e passou para cinco, como já sucede desde 1898.

O «Correio da Feira», durante a sua longa existência, tem usado vários tipos no seu título.

Assim, manteve um deles até ao número 34, iniciando outro, diferente e maior, com o número 35 de 5 de Dezembro de 1897, que se manteve até ao número 38: com o número 39 de 2 de Janeiro de 1898, surge outro.

No número 84 de 15 de Novembro de 1898, regressa ao usado no número 35, explicando que o fazia para não se confundir com o que então usava a «Voz da Feira».

A partir do número 92 de 8 de Janeiro de 1899, retomou o daquele 39, que é igual ao que hoje usa.

A administração do jornal instalou-se, primeiramente, na Praça de Camões (hoje largo do Dr. Oliveira Salazar) e do número 35 de 5 de Dezembro de 1897, em diante, também aí se fixou a redacção.

A partir do citado número 92, embora a redacção continuasse na Praça de Camões, a administração passou para o lugar das Eiras.

A começar no número 69 de 31 de Julho de 1898, o «Correio da Feira» passou a ser impresso na tipografia Gandra, da rua de Entre Paredes 80, da cidade do / 69 / Porto, mas desde o mencionado número 92 já o jornal é impresso na tipografia do lugar das Eiras neste número esclarece-se – «Expediente – A redacção do Correio da Feira, que continua a ser na Praça de Camões, participa aos seus assignantes que, por contrato feito com o sr. José Soares de Sá, do Largo das Eiras, passa este a editar e administrar o jornal por sua conta».

Todo o material e apetrechamento de tipografia foi adquirido pelo Soares de Sá.

A partir do número 210 de 13 de Abril de 1901, já anota – «Redacção, administração e tipografia» – no largo das Eiras.

Decorridos anos, em 1903, Soares de Sá adquiriu a casa que fora a residência, com estabelecimento comercial, de Francisco de Oliveira Ramos, na rua do Dr. Roberto Alves (então rua Direita n.º 66), defronte da chamada casa da Secretaria e, nela, instalou a sua habitação, redacção e oficinas de composição do jornal: a redacção ficou no rés-do-chão, com frente para a rua e a tipografia numa larga loja contígua.

Desde o número 351 de 26 de Dezembro daquele ano, anuncia que a redacção, administração e tipografia estava situada naquela rua.

No número 1000 de 16 de Setembro de 1916, já informa que, a redacção, administração, tipografia e oficinas de impressão, estavam na Praça Velha (hoje do Dr. Gaspar Moreira), onde ainda se mantêm na casa onde viveu e morreu José Soares de Sá.

Este jornal, do número 32 de 14 de Novembro de 1897, ao 91 de 1 de Janeiro de 1899, iniciava o seu texto com um «Sumário» e, desde o 53 de 10 de Abril de 1898, ao 108 de 29 de Abril de 1899, afirmava ter uma extracção de 1000 exemplares.

Foram fundadores do «Correio» os vultos proeminentes da política regeneradora da Feira: Dr. António de Castro Pereira Corte Real (mais tarde e sucessivamente, visconde e conde de Fijô), deputado pela Feira em diversas legislaturas e presidente da Câmara Municipal da Feira, nos exercícios de 1882-83, 1884-1885 e / 70 / 1886; Dr. Vitorino Joaquim Correia de Sá, distinto advogado, que foi presidente da Comissão Executiva da Câmara Municipal da Feira, nos exercícios 1914-1917 e 1918, da qual já havia sido vice-presidente em 1912; Dr. Manuel Batista Camossa Nunes Saldanha (visconde de Albergaria de Souto Redondo), que foi presidente da mesma Câmara Municipal, nos exercícios de 1890-92, 1893-97; Joaquim José Pinto Valente, ao tempo proprietário da casa chamada dos Leões, na Praça hoje denominada do Doutor Oliveira Salazar.

No número um deste jornal não era referido o nome do director, mas indicava-se, como secretário da redacção, este Pinto Valente: desde o número 53 de 10 de Abril de 1898, com que se iniciou o 2.º ano, deixou o seu nome de figurar no cabeçalho do jornal, no qual também não era mencionado o de José Soares de Sá.

A propriedade do jornal era atribuída à «Empresa do Correio da Feira», figurando como editor responsável José Gomes da Silva.

A partir do citado número 92 já aparece como editor, administrador e proprietário, José Soares de Sá.

No número 524 de 20 de Abril de 1907, aparece como director o mencionado Pinto Valente, mantendo o Soares de Sá a posição de administrador e proprietário, mas desde o número 588 de 11 de Julho de 1900, este já é enunciado como director e proprietário. No número 708 de 5 de Novembro de 1910, intitula-se director, editor e administrador, passando, desde o número 767 de 30 de Março de 1912, a director, administrador, proprietário e editor, o que se manteve até ao número 3239 de 8 de Abril de 1961.

José Soares de Sá nasceu na Vila da Feira, na rua do Dr. Eduardo Vaz, em 2 de Outubro de 1872: era filho de José Marcelino Soares de Sá e de Teresa Joaquina de Sá.

Casou com D. Clotilde Ferreira Monte Santos e Sá, filha de Manuel Ferreira de Monte Santos, que morou na sua casa do chafariz, da Praça da República (então largo das Eiras) e aí faleceu em 1916.

Fez parte da Mesa da Santa Casa da Misericórdia da Feira e de agrupamentos artísticos desta vila, especialmente como executante em diversas tunas e orquestras, pois era um grande apaixonado pela música.

Muito lhe interessou o teatro, como bem evidenciou, com entusiasmo, através do noticiário do seu jornal e na sua comparticipação em récitas de amadores, como / 71 / as de 19 de Dezembro de 1897 e 20 de Janeiro de 1898, realizadas no Real Teatro D. Fernando II, com o drama – Condessa de Marsay (na representação da qual teve lugar de destaque a actriz portuense D. Adélia Sanguinetti), fazendo parte do grupo dos actores feirenses ensaiados pelo conselheiro Dr. Manuel Augusto Correia Bandeira, que deixou grande nome na tradição do teatro da Vila da Feira.

O Correio da Feira ofereceu, então, os programas, cada um com uma poesia dedicada pela redacção.

Como já dissemos, iniciou a sua vida de trabalho como empregado de administração no «Feirense».

José Soares de Sá, depois de uma vida que não lhe foi fácil, de intensa luta, conseguiu triunfar legando a seus filhos o «Correio da Feira», como adiante será referido.

Ao seu esforço muito deve o jornal e, à sua memória, esta terra que o viu nascer e que ele muito amou e defendeu com carinho e intransigência.

Joaquim José Pinto Valente era natural desta Vila, filho de Bento José Valente e de Eduarda Rosa de Jesus. Além da actividade neste jornal foi director do jornal «Gazeta Feirense», como adiante será referido, findo o qual foi exercer o cargo de escrivão de direito para Angra do Heroísmo, onde faleceu. 

Clicar para ampliar.

Depois de uma vida exaustiva de trabalho, quando já tinha cerca de 90 anos, José Soares abandonou a direcção e a editoria do «Correio da Feira» (número 3240 de 15 de Abril de 1961) ficando como directora e editora sua filha D. Brízida Monte Santos Soares Alvão e, como proprietários e administradores, ele e seus filhos.

José Soares do seu casamento com a referida D. Clotilde, houve os seguintes filhos: aquela D. Brízida, que foi casada com Albino Monteiro Alvão; D. Maria Luísa Soares de Sá Braga, casada com Ernani Neves Braga; José Manuel dos Santos Soares de Sá, casado com D. Odete Guerra Maio e ainda D. Ercília Soares de Sá, casada com Armando Lopes, já falecidos, com descendência.

A partir do número 3439 de 13 de Fevereiro, em virtude do seu falecimento, passaram a ser proprietários e administradores do jornal, José Soares de Sá, Sucrs.

Desde o número 3509 de 11 de Junho de 1966 até / 72 / hoje, apresenta-se como directora e editora aquela D. Brízida e como administradora sua irmã D. Maria Luísa.

Clicar para ampliar.

D. Brízida Monte Santos Soares Alvão nasceu na Vila da Feira em 25 de Janeiro de 1904: é filha dos já referidos José Soares de Sá e de sua mulher D. Clotilde Ferreira Monte Santos e Sá. Foi casada com Albino Monteiro Alvão, já falecido. É sócia honorária da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria, no Rio de Janeiro.

Sua irmã D. Maria Luísa, também nasceu nesta vila, em 14 de Março de 1906 e está casada com Ernani Neves Braga.

O «Correio de Feira», como já se disse, fundou-se em 11 de Abril de 1897, com o fim de defender a política do partido regenerador com o auxílio e apoio dos já mencionados vultos do partido no concelho, contando-se entre os fundadores o já referido visconde de Albergaria de Souto Redondo, que no concelho representava a causa dos nacionalistas (católicos).

No artigo de fundo do seu número um dizia: «O nosso Semanário – Na hoste gloriosa da imprensa vem alistar-se mais um combatente. Jura fidelidade aos eternos principios de justiça e da verdade, e nas pugnas incruentas em que vai lidar, defendera com honra e denodo o partido regenerador sem esquecer o respeito devido aos adversários, que enfileirados sob outra signo pelejam connosco pela patria e pela liberdade...» concluindo «E assim norteados combateremos todas as injustiças e arbitrariedades, reclamaremos direitos sem descuidar os deveres correlativos e especialmente propugnaremos com todo o zelo as necessidades locaes».

No número 22 de 5 de Setembro de 1897, já inscrevia, ao lado do seu título – «O Correio da Feira é o orgão do partido regenerador local» e no número 53 de 10 de Abril de 1898, em destaque e por baixo do seu título, «Orgão do partido regenerador do concelho da Feira».

A partir do número 117 de 1 de Julho de 1899 altera para «Orgão do partido regenerador e dos interesses do concelho da Feira»: esta modificação resultou, por certo, da luta que, então, se travava entre a Feira e Espinho, devido à elevação desta vila a concelho.

/ 73 / Desavenças políticas surgiram entre José Soares de Sá, por um lado e Pinto Valente e o Dr. Henrique Vaz Ferreira, por outro lado, em resultado de dissidências que se deram no partido regenerador após a morte do conselheiro Hintze Ribeiro, em 1908.

Clicar para ampliar.
José Soares de Sá
Director do "Correio da Feira"

Delas resultou o «Correio da Feira» acatar a chefia do conselheiro Júlio de Vilhena, ao contrário daqueles outros dois: daí este jornal, no seu número 589 de 18 de Julho desse ano, ter anunciado em grandes letras, que passava a ser composto sem qualquer ingerência dos mesmos, afirmando que «prosseguirá enfileirado entre os seus colegas ortodoxos da imprensa do partido regenerador defendendo-lhe as ideias e os interesses».

Comentando esta atitude, o «Diário Popular», jornal em que directamente superintendia o conselheiro Júlio de Vilhena, refere no seu número de 22 do mesmo mês de Julho: «Apesar do sr. Vaz Ferreira se ter separado do Correio da Feira este jornal nosso presado colega continua sendo genuinamente regenerador e continuará assim abertamente ao lado do prestigioso chefe do partido regenerador».

Em razão de tais divergências, em 23 de Novembro de 1908, aparece um novo jornal «Gazeta Feirense», propriedade do Dr. Vaz Ferreira e direcção de Pinto Valente.

Clicar para ampliar.
D. Brísida Monte Santos Soares Alvão
Directora do "Correio da Feira"

No número 691 de 9 de Julho de 1910, apoia as seguintes afirmações feitas pelo conselheiro Campos Henriques «Somos os que fomos sempre: monarchicos firmes, quer nas horas de fortuna quer nas de adversidade. É assim que se afirmou em todas as circunstâncias o partido regenerador».

Isto visava directamente os dissidentes Dr. Henrique Vaz Ferreira e Pinto Valente, pois José Soares de Sá, em suplemento ao número 696, com data de 16 de Agosto de 1910, em folha volante de pequeno formato e para agastar aquele, anunciava (como director e administrador do «Correio da Feira») que o governo demitira o Dr. Vaz Ferreira de Governador Civil de Aveiro.

No número 697 de 20 de Agosto de 1910, declara-se fiel à chefia do partido por parte daquele conselheiro Campos Henriques, que a facção da direita deste partido elegeu em sucessão do conselheiro Júlio de Vilhena.

Pouco tempo durou esta filiação partidária porque, no dia 8 de Outubro seguinte, o «Correio da Feira», no seu número 704, intitula-se semanário político e abraça o regime republicano.

A seguir ao número 727 de 18 de Março de 1911, e com data de 22 deste mês, foi distribuída, em pequeno formato, outra folha volante assinada pelo «Editor José Soares de Sá», comunicando aos assinantes, anunciantes, colegas e amigos que o jornal tinha sido suspenso pelo administrador do concelho, Ernesto Belesa de Andrade, lavrando o seu protesto contra a falta de liberdade de imprensa, declarando que lhe era imposta a suspensão da sua publicação.

Em 1 de Julho de 1911, e com o seu número 728, recomeça a sua publicação normal.

Em artigo de fundo, e dirigido aos seus leitores, diz que a suspensão, que tivera lugar em 22 de Março, fora levantada em 9 de Maio, lavrando o seu protesto, dizendo que não curou de averiguar o que motivou ou fundamentou essa suspensão e que não solicitara «a graça de continuar a publicar o semanário».

A partir do número 729 de 8 de Julho de 1911, passou a denominar-se «Semanário Republicano» e ao número 756 de 13 de Janeiro de 1912, intitula-se «Orgão do partido Republicano do Concelho», publicando, nesse número e nos seguintes (757 e 758), a respectiva comunicação datada de 10 desse mês, feita pelo Dr. António Ferreira Pinto da Mota, como presidente da «Comissão Política Municipal do Partido Republicano».

Manteve esta representação até ao número 832 de 5 de Julho de 1913. No seguinte de 12 de Julho de 1913, começa a designar-se «Orgão Filiado no Partido Republicano Português».

A partir do número 907 de 5 de Dezembro de 1914, já se intitula «Semanário Republicano Evolucionista», para, desde o número 1156 de 11 de Outubro de 1919, / 74 / se inculcar «Semanário Republicano liberal», designação que ainda se mantinha no número 1255 de 15 de Outubro de 1921.

No seguinte de 22 de Outubro, e assim depois da morte do Dr. António Granjo, orientador daquele partido liberal, passou a denominar-se «Semanário Republicano».

Clicar para ampliar.

Desde o número 1373 de 26 de Janeiro de 1924 «Semanário Republicano Independente» e assim até ao número 1420 de 27 de Dezembro de 1924; a partir do seguinte de 3 de Janeiro de 1925, «Semanário Republicano Independente» e desde o 1679 de 26 de Julho de 1930, «Semanário Republicano Independente – Regionalista».

A partir do número 2267 de 10 de Janeiro de 1942, e até ao 3438 de 6 de Fevereiro de 1965, acresce «Fundado em 11 de Abril de 1897».

Desde o número 2456 de 24 de Novembro de 1945, passa a «Semanário Republicano Regionalista», título que ainda hoje usa.

O «Correio da Feira», além dos já referidos suplementos ao número 696 e ao que se seguiu ao 727, publicou: um ao número 100, em 6 de Março de 1899, intitulando-se órgão regenerador, dedicado ao comício que, no referido Real Teatro D. Fernando II, desta Vila da Feira teve lugar, na véspera, a favor da integridade do concelho; outro ao 344 de 7 de Novembro de 1903, sobre publicações literárias; outro ao número 467 em 19 de Março de 1906, anunciando a queda do governo progressista e que fora encarregado de formar governo, o conselheiro Hintze Ribeiro; outro ao n.º 1596 de 9 de Junho de 1928 com artigo do Dr. Aguiar Cardoso.

Este jornal teve, além de outros, os seguintes colaboradores: Dr. António Augusto Aguiar Cardoso, Dr. Henrique Vaz Ferreira, Dr. Eduardo Vaz de Oliveira, Dr. António Ferreira Soares, Dr. Vitorino Joaquim Correia de Sá, Conde de Fijô (Dr. António de Castro Pereira Corte Real), D. Fernando Tavares e Távora, Joaquim José Pinto Valente, Dr. Paulo de Sá, Francisco Vicente da Costa Neves, Manuel José Lopes Pereira, João Correia de Sá, D. Maria da Luz Albuquerque, Alberto Ferreira Monte Santos, Capitão Alípio de Oliveira, Albino Alvão, Hugo Rocha, Joaquim Batista de Freitas, Ferreira da Rocha, Vicente Reis e Dr. Manuel de Paiva.

Ao «Correio da Feira» refere-se o Dr. Zagalo dos Santos, na já citada obra, nada esclarecendo a mais do que ficou relatado.

O «Comércio da Feira», no já referido número 33 de Agosto de 1902, informa que tendo cessado a publicação do Feirense, em 1898, José João Ferreira fundou a «Voz da Feira» impresso nesta Vila, na tipografia do Feirense e acrescentou «Por contrato celebrado entre o Sr. José João Ferreira e José Soares de Sá, passou o «Correio da Feira» a ter como administrador, editor e proprietário este último e ficando a imprimir-se na / 77 / antiga tipographia do Feirense, agora convertido em tipographia do Correio da Feira.

O «Correio da Feira» manteve vivas e duras lutas, do que resultaram vários embaraços, com julgamentos por crises de liberdade de imprensa, situações que sempre enfrentou com energia e sem desfalecimentos.

Durante muitos anos manteve-se, conforme o estilo da época, com a feição antiquada dos periódicos de província; ultimamente tem-se transformado muito, adaptando-se às exigências do nosso tempo.

Fazemos votos para que evolucionando, melhore mais os eu aspecto gráfico e se torne um periódico ainda mais sugestivo e atraente.

Pensamos que seria um grande benefício se alargasse a sua esfera de acção publicando correspondência de todos os concelhos que formaram o território antigamente abrangido pelas Terras de Santa Maria da Feira.

Só a sua administração poderá apreciar da possibilidade desta iniciativa que muito beneficiaria o jornal, com utilidade manifesta para toda a nossa região.

O «Correio da Feira» tem boa impressão e sempre se caracterizou pela assiduidade de belíssimos colaboradores, e pela dedicação e entusiasmo com que tem defendido os interesses da vila e do concelho.

Existem muitos números antigos, deste jornal, na Biblioteca Municipal da Feira e alguns na Nacional de Lisboa; pode-se consultar a valiosa colecção na posse das suas actuais directora e administradora.

Continuação no número seguinte

páginas 51 a 75

Menu de opções

Página anterior

Página seguinte