Terra amiga que nasceu nas areias
do Mar e que nelas se criou e cresceu, no marulhar suave das ondas
mansas e no fragor das procelas, aprendendo a lutar e perdoar,
mesmo quando sangrou perante a incompreensão do mundo que a
rodeava, numa negativa feroz e sistemática ao seu legítimo direito
de viver.
Lutou contra o Mar, quando
buscava, nas suas águas, o sustento das suas gentes e procurava
criar uma vida honesta e de trabalho aos que viessem.
Lutou contra o Mar, quando as suas
casinhas, uma a uma, ruíam perante o ímpeto das águas ou com a
falta de base nas areias que as sustentavam.
Viu cair a sua velha Igreja, feita
com o amor e o suor dos seus habitantes, que mais choraram a casa
que era de todos, que as próprias que lhes serviram de lar.
Lutou quando lhe pretenderam negar
o direito de independência, mesmo quando os seus habitantes
procuravam, para si e para os seus, a justiça de se considerarem
iguais perante os bens do espírito, instituídos, em nome do
Senhor, pela Santa Igreja.
Lutou, quando pretendendo o seu
governo próprio, as portas se lhe fechavam, já à vista da carta de
alforria que estava tão próxima, pois assim o ordenava o direito
natural das gentes e assim o queriam alguns Amigos, bons e
valiosos, que enfrentando vinganças e inimizades, fizeram vencer e
proclamar o incontestável direito de viver e progredir.
Continuou a lutar e nem sempre tem
vencido, que o não consente o andar das coisas deste Mundo, mas
não desanima, antes cobra forças dos seus próprios desaires para
se lançar na luta e vencer sem ódio, pedir sem mendigar, no
orgulho próprio da raça vareira que a criou.
Muito há que lutar ainda, mas
Espinho pode proclamar a sua actual grandeza como excepcional
vitória, legando, aos que vierem, o seu próprio passado, na
certeza de que eles hão-de trabalhar, mais e mais, na ânsia,
sempre insatisfeita, de dignificar Espinho, a terra que tão poucos
fizeram e que hoje é de tantos.
*
* *
Em recuados tempos, um naufrágio
deixou, sobre as águas do nosso mar, dois espanhóis, naturais da
Galiza, que baldadamente procuravam alcançar o areal, recobrando
forças num voto feito a Nossa Senhora, de construir uma capelinha
em sua honra, se Ela os ajudasse a vencer as águas, o que tiveram
por milagre quando sentiram chão firme debaixo dos pés.
Assim passou a lenda, através de
gerações, mas a dar-lhe foros de verdade, tivemos a primeira
capela e, nas descendências dos espanhóis que, de seus nomes,
dizia-se chamarem-se Eugénio e Márcio Esteves, os apelidos, muito
vulgares, de Esteves Galego.
Ainda há muitas famílias de
vareiros que o usam, o que parece confirmar a lenda.
Já, a esse tempo, o nosso areal
devia ser povoado de pequenos palheiros, embora com reduzida
população, pois a Capela, a despeito das suas pequenas proporções,
já devia ser destinada a um razoável número de habitantes.
Diz-se que os dois galegos, uma
vez alcançada a praia, agarrados a uma prancha auxiliadora, se
deram ao cuidado de ver de que madeira ela era feita e, enquanto
que um dizia ser de castanho, o outro afirmava, peremptoriamente
ser de pinho, e assim, no seu falar galego exclamava: «No! És piño!»,
e que, desta discussão, nasceu o nome de Espinho.
Nas «Memórias sobre os Forais das
Terras Portuguesas», pode ler-se:
«Creio que Espinho deve o seu nome
à penedia espiniforme, a qualquer espinhaço de praia: há ali um
lugar chamado Espinho da Terra, indicando um Espinho do Mar».
/ 6 /
Esta afirmação pode ser feita por
comparação com a praia da Aguda, nome que os pescadores de
Angeiras davam a uma pedra, pela qual se guiavam, quando vinham
nas suas bateiras descarregar o caranguejo que vendiam aos
lavradores de Arcozelo, para adubação das suas terras.
Chavamam-lhe, então, a praia de Pedra Aguda.
No entanto, tudo parece, quanto à
questão do nome de Espinho, tratar-se de lenda ou mera suposição,
pois Espinho deve ter tido a sua origem no lugar de Espinho, hoje
integrado na freguesia de S. Félix da Marinha e que pertenceu, já,
à freguesia de Anta.
Segundo investigações e em
documentos dos anos de 1055 e 1058, respeitantes a vendas de
propriedades, falava-se na «villa Spino», que confrontava, a
norte, com Brito e do sul com Anta.
Capela dos Galegos
Eram abundantes, no seu areal,
pequeninos arbustos de folha acinzentada e eriçados de espinhos,
bem como os espinhosos cardos que ali chamavam abundância de
pintassilgos, que neles matavam a fome e servia de seu sustento
predilecto.
Os vareiros, que do sul vieram e
aqui se instalaram, fizeram a sua praia de pesca no ponto onde é
hoje a praia de banhos, construindo os seus barracos no local hoje
conhecido pelo Rio largo, ao norte de Espinho actual e fronteiro
ao lugar que lhe deu o nome, tendo assim nascido a classificação
de Espinho Mar e Espinho Terra.
Estavam perto do mar e ao mesmo
tempo dos pinhais de S. Félix da Marinha, onde iam aos tocos
(raízes de pinheiros), quando o mar não permitia a pesca. Com eles
se aqueciam pelo Inverno fora e se forneciam para a lareira. Desde
sempre os vareiros tiveram por hábito tirar tocos, pois que, em
suas consciências, isso não era pecado nem roubo.
Existe uma certa diferença entre
os vareiros de Espinho e os de outras praias a sul (Furadouro e
Torreira), e admite-se que tenha concorrido, para tal, a afluência
de trabalhadores que tinham ido para o Douro e que dali vieram por
motivo da crise originada pela filoxera nas vinhas.
Segundo parece, já por volta do
ano de 1800, existia a Capela, sendo a população do lugar, cerca
de 1807, constituída por cento e vinte casais de pescadores.
Durante muitos anos, conforme
consta dos assentos da Paróquia de Anta, o aglomerado de Espinho
que nascia, era conhecido por lugar da Praia, nos baptismos de
1843 e ainda além de 1854.
O lugar de Espinho aparece num
óbito de 1857, mas tudo leva a crer que ainda se tratasse do
pertencente, hoje, à freguesia de S. Félix da Marinha e, àquele
tempo, da Paróquia de Anta.
Assim viveram os pescadores,
durante muitos anos, até que, com a vinda de famílias da Vila da
Feira, Paços de Brandão, Oleiros, Rio Maior e outras localidades,
se criou uma pequena praia de banhos, derivando a pesca mais para
sul, pois que, até aí, era feita no seguimento da actual Rua 19.
A esse tempo, dizia-se que as
águas do mar curavam a escrofulose, infiltrando-se as emanações
salinas no sangue, dando forças às fibras musculares.
O industrial de Oleiros, José de
Sá Couto, foi o primeiro a construir uma casa de pedra e cal, na
Praça
/ 7 / Velha, perto do mar,
tendo sido sócio de várias companhas de pesca.
Era pessoa importante, tendo sido
agraciado, por S. M. a Rainha D. Maria II com o grau de Cavaleiro
da Ordem de Cristo.
Seu filho, Joaquim de Sá Couto,
Comendador da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa, graça
concedida por S. M. EI Rei D. Luís, foi o grande fomentador da
construção em Espinho, dado que, além de muitas casas que mandou
construir e o mar levou em grande parte, pôs os seus largos
capitais à disposição dos habitantes, que assim puderam construir
o seu próprio lar.
Até aos nossos dias, ficou o
edifício onde existiu o Hotel Beira Alta, que foi uma das grandes
edificações do tempo.
Por seu legado, foi construído o
Hospital de Nossa Senhora da Saúde, em Oleiros, que se destinava a
servir todas as povoações limítrofes, desde Paços de Brandão até
Espinho.
Teve o seu nome numa das
principais ruas, a Rua Sá Couto, hoje 18, e é o patrono do Ciclo
Preparatório do Ensino Secundário, instalado no edifício da Escola
Industrial e Comercial.
É de justiça juntar o seu nome ao
do comerciante Manuel Alves Moreira, o Moreira da Idanha, que
também teve larga intervenção nas primitivas construções de
Espinho.
O Comendador Sá Couto deixou o seu
nome ligado a todas as iniciativas do começo de Espinho, podendo
salientar-se, entre outras a construção da Capela de Nossa Senhora
da Ajuda, a construção de um edifício para Assembleia Recreativa,
para a criação de um apeadeiro do Caminho de Ferro em Espinho e
tinha um nome respeitado entre as gentes do mar, ao lado de quem
sempre estava, como pode ver-se na acta da Comissão edificadora da
Capela:
«O Senhor Sá Couto disse que,
sendo opinião dos arrais inclinada à construção da Capela nas
proximidades da antiga (à beira mar), se conformava com ela».
Prestou-se, também, a dirigir os
serviços de construção da referida Capela.
Espinho foi criando foros de
verdadeira praia, com as principais famílias do País, merecendo
menção especial as da Vila da Feira, que deram a Espinho o melhor
da sua amizade, embora ensombrada por algumas questões que mais se
deveram a um exacerbado espírito de bairrismo.
Muitos dos feirenses fizeram
justiça ao direito de progredir que se ia manifestando,
continuando com a sua amizade pelo tempo fora.
O ponto de reunião era na antiga
Assembleia, que se situava na Praça Velha e ocupava um edifício
pertencente a José Rodrigues de Oliveira Pinho (o três quilhas) e
dava acesso ao salão nobre uma escada de pedra, que ficava
encostada à casa da Sr.ª Rosa da Graça.
Era voltada a nascente, para onde
tinha uma esbeiçada varanda de madeira. Passou à casa da família
do Anão, na mesma Praça, tendo ainda passado a outro prédio, até à
construção de uma em edifício próprio.
No dia 1 de Outubro do ano de
1864, reunia-se uma Comissão presidida pelo Conselheiro José
Luciano de Castro, para a construção do edifício, que devia ser
au rez-de-chaussez, com uma sala para baile, outra para
bilhar, outra para jogo, toilette para damas, outro para
cavalheiros, cozinha e latrinas, tudo com a devida capacidade.
Foi, mais tarde, aumentada com um
andar, tendo-se dissolvido a Sociedade em 1915, pelo que passou a
propriedade particular.
Durante muitos anos funcionou, nos
baixos do edifício da Assembleia, o Café Peninsular, que reunia de
800 a 1 000 senhoras e cavalheiros.
Realizavam-se matinées às
quintas-feiras e cotillons, sendo, no dizer do tempo, um
alfobre de casamentos.
Foi construída num local onde era
um palheiro de madeira, ao lado de um edifício que depois deu
lugar ao Hotel e Café Chinês, havendo, já nesse tempo, o edifício
do Hotel Bragança, na Avenida 8, onde hoje é o Palácio Hotel.
Ramalho Ortigão, em Praias de
Portugal, escreve que «em poucas praias é tão animada, como em
Espinho, a vida de Club, expressão que, neste caso, não tem
o sentido inglês, segundo o qual, o club era de criação
democrática do fim do século passado e era uma reunião
exclusivamente de homens.
Em Espinho, o Club é o
ponto de reunião de todos os banhistas, de ambos os sexos».
Sobre o vestir das senhoras e a
vantagem em simplificar a vida de praia, escrevia o Rev. Padre
António André de Lima:
«As senhoras iam à Assembleia com
os vestidos com que foram aos banhos.
Deixe-se a grilheta dos bons
tempos de luxo e etiqueta para as cidades.
Nas praias deve andar-se com toda
a liberdade, de cabelos ao vento e sem chapéu, de vestidos largos
e cómodos, que não exerçam pressão sobre o corpo».
Deve esclarecer-se que, naquele
tempo, as senhoras iam à praia vestidas com tanto cuidado como
hoje ao Casino, com chapéu, vestidos compridos, sapatos e meias e
uma sombrinha, por causa do sol que as crestava e não era bonito.
/ 8 /
Se hoje vivesse, muito teria que
ver o bom do Padre Lima...
Espinho em 1872.
Estavam lançadas as bases de
Espinho e, enquanto que os fidalgos faziam o Espinho da Terra, os
vareiros continuavam na vida da pesca, valorizando e aumentando o
Espinho do Mar.
Primitivamente, a sardinha era
pescada no Furadouro, mas, conduzida ao Porto, chegava muito
amassada pela viagem, perdendo sabor e frescura.
Assim aumentou a pesca na nossa
costa, mais perto dos mercados consumidores, onde, com verdade, se
podia apregoar a «De Espinho Viva!».
Ao princípio, lançavam as redes ao
mar, muito perto da costa e eram puxadas à mão, por duas filas de
homens.
Era uma alegria o sacar da rede e
os poetas vareiros daquele tempo davam largas à sua veia. Ainda
ficaram, até aos nossos dias, algumas amostras que reflectem o
despique entre eles, não esquecendo o velho tema: o Amor.
Nossa Senhora da Ajuda,
Ramo de manjericão.
Dai aos Três Anjos sardinha
E aos da Velha biqueirão.
Vamos ver o barco novo
Que se vai deitar ao mar.
Nossa Senhora vai dentro
E os anjinhos a remar.
Oh! Que lindos olhos pretos
Tem a filha do arrais.
Queria ser homem dela
E não me importava o mais!
Mais tarde, as redes passaram a
ser puxadas por bois, parecendo que a transformação foi feita em
Paramos, na Companha do Morgado desse nome, descendente de uma
ilustre família de Portugal.
Dizia-se que tinha uma casa à
beira mar, para passar o Verão e que era transportada para fora do
perigo das águas, durante o Inverno, em cima de carros de bois
preparados para tal.
Durante muitos anos, trabalharam
cinco companhas no mar, havendo um ano em que trabalharam seis e o
rendimento anual, de cada uma, pouco ultrapassava seis contos de
reis.
Embora hoje, se encontre reduzido
o pessoal e o gado, a pesca de arrasto processa-se nos moldes de
há umas dezenas de anos.
Os barcos de Espinho diferem dos
da Torreira no número de remos, pois que aqueles possuem quatro
(dois de cada lado), enquanto que os de Espinho têm só dois (um de
cada lado).
Antigamente, o pessoal da companha
era composto por cinquenta homens a quem chamavam camaradas, sendo
trinta e seis de mar e catorze de terra.
Havia o arrais do mar, que se
sentava à ré do barco e dirigia os trabalhos e o arrais de terra,
a quem estava entregue todo o cuidado da recolha da rede.
/ 9 /
As cordas, que vinham paralelas,
eram puxadas por vinte e quatro juntas de bois, sendo doze de cada
lado.
Entrada dos barcos de pesca.
Quando o lanço era maior e com
perigo de rebentar o saco, era-lhe adicionado outro saco a que
chamavam funda e que evitava de se perder o peixe. Quando a pesca
era boa, davam, cada Companha, quatro a cinco lanços por dia,
havendo, há umas dezenas de anos, grande abundância de peixe na
nossa costa, em especial a sardinha. Hoje, essa abundância está
muito reduzida, apenas compensada pelo alto valor que é dado ao
peixe de Espinho, pago por mais alto preço.
Se a pesca excedia uma importância
determinada, havia a teca para os camaradas, que era dada
em sardinha, enquanto os homens do gado também a recebiam quando
essa importância atingia uma cifra maior. Tudo isso era
condicionado por contrato que, mais ou menos, seguia sempre as
mesmas normas.
Hoje está bastante modificado, mas
a base continua a mesma de há muitos anos atrás.
Ainda trabalha uma Companha,
graças ao espírito bairrista de um Espinhense, pronto a
sacrificar-se para que não acabe um dos grandes motivos turísticos
de Espinho.
Como pesca de desporto, a nossa
costa é excelente para a pesca à cana, que dá robalos, sargos,
linguado e faneca.
Houve, em Espinho, uma grande
frota de bateiras que, em número de algumas dezenas, se dedicavam
à pesca do caranguejo, que servia de estrumação para os campos.
Cada bateira, com a tripulação de
seis homens, ia para o mar à tardinha, depois da saída das
companhas, e voltava de madrugada.
O pessoal era composto por
camaradas das redes e o caranguejo amontoava-se pela praia fora,
sendo adquirido pelos lavradores, geralmente dos lados de Arada,
que vinham buscá-lo em carros de bois.
Mais tarde, os vareiros foram para
a Aguda, onde continuaram com a pesca do caranguejo, juntando a do
camarão, que era de bom rendimento.
Pela falta do pescado preferido,
foram-se dedicando à faneca e outras espécies, sendo reduzido,
hoje, o número de bateiras que vão ao mar, aliando-se a isso a
modernização da lavoura, recorrendo aos adubos compostos, de mais
fácil transporte e aplicação.
Ainda assim, alguns pescadores vão
continuando a enfrentar as ondas, com um lucro que, se não é
bastante compensador, lhes vai dando o pão-nosso de cada dia.
Também se pescava em Espinho pelo
sistema de manjueiras, que, ao contrário das mugigangas
para a pesca do caranguejo, não necessitava de barco.
Eram as redes canjadas na
vazante da maré, em umas estacas espetadas na areia e recolhidas
na vazante seguinte, dando alguns robalos.
Era uma pesca pobre e pouco
compensadora, que hoje já não se usa.
Espinho tem, hoje, uma única
campanha a trabalhar, que rendeu, no ano de 1968, a importância de
cerca de 700 contos.
Em 1908, D. Miguel de Unamuno,
frequentador de Espinho e grande filósofo e pensador espanhol,
escrevia:
/ 10 /
«A maneira de puxar as redes com
juntas de bois é o que mais carácter dá um labor agrícola, dando
azo à imaginação para comparar com o trabalho dos campos nesta
região em que, como digo, o mar parece que se ruraliza».
Espinho deve, ao mar, o princípio
da sua vida, na labuta incessante do dia a dia dos que buscavam
ganhar o pão, e na procura pelas pessoas abastadas do interior,
das suas águas para os banhos e passar uns tempos de folgança.
Embora com condições de
crescimento, ele seria fatalmente lento, tão moroso como eram os
transportes a esse tempo, não permitindo, aos de mais longe, gozar
o nosso clima privilegiado, sobretudo no Verão, onde o calor não
atormenta.
|
|
No entanto, é justo salientar o
quanto deve Espinho ao Caminho-de-Ferro, que, vindo abrir novas
perspectivas, estabeleceu condições para um maior comércio, para
estabelecimento de indústrias e mais fácil transporte aos que de
mais longe viessem.
Em 1867, com a abertura do troço
Gaia-Aveiro, abriu novos horizontes e, embora não fizessem justiça
imediata a Espinho, que via os comboios só de passagem, depressa
os Amigos da terra nos concederam o Bem de a termos para nós e
para o nosso progresso.
Quando da abertura da linha do
caminho de ferro entre Aveiro e Gaia, Espinho possuía, unicamente,
uma casa de guarda de passagem de nível, pelo que era geral o
descontentamento, dado o prejuízo causado aos habitantes, que
tinham que se deslocar a Esmoriz ou à Granja, à falta de paragem
dos comboios em Espinho.
O Comendador Joaquim de Sá Couto,
usando da sua grande influência e com o auxílio do chefe político
Anselmo Braancamp, que então residia na Granja, conseguiu que a
casa da guarda da passagem de nível, perto da actual passarelle,
passasse a apeadeiro.
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NOSSA SENHORA DA AJUDA
Padroeira de Espinho, peregrina
dos templos que lhe foram dedicados, encontra-se, hoje, na Capela
de Santa Maria Maior, depois da destruição da sua capela da Rua do
Cruzeiro,
Não se conhece, ao certo, a data
da sua proclamação, por parte da gente de Espinho, como padroeira
de Espinho Mar e Espinho Terra, mas a sua imagem, de há muitos
anos, percorre, no seu dia. grande. as ruas de Espinho com a sua
bênção.
Existe, na Igreja Matriz, uma
imagem de Nossa Senhora da Ajuda, escultura diferente, onde Nossa
Senhora socorre uns náufragos, salvando-os das ondas do mar.
A festa de Nossa Senhora da Ajuda
realiza-se no penúltimo domingo de Setembro. |
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No ano de 1870, o barracão que
servia de apeadeiro de Espinho, deu 1.200.000 réis de rendimento à
Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, e já o número de
banhistas regulava por perto de quatro mil.
A 28 de Outubro de 1870, foi
composta uma Comissão que se propunha fazer erigir uma Capela, em
local próximo da outra, em vista da primitiva já não satisfazer às
necessidades espirituais da população, sobretudo na época balnear.
Faziam parte da Comissão o Conde
da Graciosa, D. Francisco Maria de Sousa Brandão, Dr. Rufine
Joaquim Borges de Castro, Dr. João da Veiga Campos, João de Sousa
Cirne, João de Azevedo Aguiar Brandão, Manuel Pinto Gomes de
Menezes, Manuel Pinto de Almeida, Joaquim de Sá Couto e Padre
Francisco Pinto Alves Brandão.
Logo a seguir veio a discordância
do local da construção, pois que, se uns a queriam perto da antiga
Capela, conhecida pela Capela dos Galegos e junto ao mar, outros a
pretendiam mais a nascente, fora do perigo das invasões das águas.
Largo de Nossa Senhora da Ajuda.
Tendo sido consultada a vontade
das Companhas de pesca, que nessa altura tinham real valor nas
coisas de Espinho, os arrais foram unânimes em escolher a
vizinhança do mar e que eles queriam com uma superfície superior
ao salão da Assembleia e espaço reservado aos banhistas, tendo
rendido 202.000 réis a primeira subscrição.
O Padre Francisco Brandão ofereceu
o terreno da sua própria casa, na condição de receber em outra
parte um igual, comprometendo-se os arrais ao transporte da pedra
e saibro, condicionando a esmola ao rendimento do pescado.
O Padre Francisco ofereceu, em
nome de sua Mãe, das suas próprias pedreiras, toda a cantaria
necessária à obra.
Não havendo acordo no local da
construção, foi resolvido, por alguns dissidentes, edificar uma
Capela em terreno cedido pelo Conde da Graciosa e Caetano de Meio
Menezes e Castro, Capela que ainda hoje existe, consagrada a Santa
Maria Maior e que foi benzida a 25 de Setembro de 1877.
Faziam parte da Comissão o Conde
da Graciosa, Visconde de Foz de Arouce, Caetano de Melo Menezes e
Castro, Francisco Cardoso Valente, Conselheiro José de Melo
Geraldes Sampaio e Bourbon, Joaquim de Almeida Correia Leal e
Manuel António Pereira.
A 31 de Janeiro seguinte, o
Cardeal D. Américo autoriza o culto na Capela de Nossa Senhora da
Ajuda, acabada de construir, junto à praia, com sermão e exposição
do Santíssimo Sacramento, tendo já sido organizada a Irmandade de
Nossa Senhora da Ajuda, a cargo de quem ficava a Capela, com
capelão privativo.
A Capela dos Galegos, que lhe
ficava em frente e um pouco à direita, foi então destruída tendo
lugar, mais tarde, a construção de um coreto para a festividade da
Padroeira.
Em 1873 principiaram as
negociações entre a Câmara da Feira e a Companhia Real dos
Caminhos de Ferro Portugueses para a construção de uma estação do
caminho de ferro em Espinho, para substituir o barracão, que
servia de apeadeiro, sendo Director da Companhia Manuel Afonso
Espregueira.
Não houve entendimento, mas,
estando o Director a veranear na Granja, foram encarregados, pela
Câmara da Feira, o Conde da Graciosa e e Conselheiro Correia Leal,
de levar o caso a bom termo, o que conseguiram.
/
11
/
A estação foi inaugurada no ano
seguinte e rei reformada em 1898, tendo sido acrescentada, em
virtude da sua exiguidade para o movimento de então.
A 1 de Agosto de 1877, é pedida
licença ao Bispo do Porto, Cardeal D. Américo para que, durante a
época balnear, o Santíssimo esteja no Sacrário da Capela de
Espinho, autorização que é concedida em 21 de Agosto de 1877,
sendo Abade de Anta o Rev. Manuel Ribeiro de Figueiredo.
Pode dizer-se, em verdade, que
Espinho recebeu o seu maior incremento com a criação da Irmandade
de Nossa Senhora da Ajuda, criada em 7 de Fevereiro de 1886, donde
sairia o brado de independência para a criação da freguesia de
Espinho.
Sob a presidência do farmacêutico
José António Pires de Resende, como Juiz da Irmandade do
Santíssimo Sacramento, procedeu-se à eleição da Mesa, tendo ficado
eleitos:
Juiz:
António Pinho Branco Miguel
Procurador fiscal:
Augusto Francisco Pereira
Secretário:
Jeremias Pais de Almeida
Vice-Secretário:
António de Oliveira Chibante
Tesoureiro:
Manuel Luís Mendes
Vogais:
Guilherme Soares Maganinho
José Alves da Rocha
José de Oliveira Dias Pinhal
/ 12 / Em Maio de 1886, a
Irmandade resolve a compra de alfaias e de uma pia baptismal,
atendendo ao crescimento da população de Espinho, onde havia mais
nascimentos que em todas as outras freguesias de Anta, tendo já,
nessa altura, uma população composta de 650 fogos.
Rua 19
Pede-se ao Bispo do Porto, Cardeal
D. Américo, para que os baptizados dos nascidos em Espinho se façam
na sua Capela, que estava mais limpa que a Matriz, acrescentando o
inconveniente da Confraria de Santa Luzia, fabriqueira da Matriz, se
negar a fornecer a cera para os baptizados dos naturais de Espinho.
A 19 do mesmo mês, uma provisão do
Bispo do Porto autorizava que os baptizados se fizessem na Capela de
Espinho.
No entanto, as dissidências
continuavam, ao ponto de os de Anta não permitirem que os de Espinho
pegassem às varas do pálio nem tomassem parte nas procissões,
empunhando cruzes, lâmpadas ou alfaias pertencentes à Matriz,
havendo dificuldades para administrar os Sacramentos aos enfermos de
Espinho, tantos eram os problemas que se criavam.
Um dia, apareceu afogada na lagoa
que existe ao norte de Espinho, uma rapariga que se dirigia para a
casa de seus pais, em Avanca ou proximidades, para com eles consoar.
As duas margens dessa lagoa eram de
S. Félix da Marinha e por isso os moradores de Espinho mandaram
dizer ao Pároco que viesse, com a sua gente, buscar o cadáver, para
lhe dar sepultura no adro da sua Igreja.
O Pároco de S. Félix respondeu que a
levassem para o adro de Anta e eles assim fizeram. No entanto, como
os Párocos andavam desavindos por causa dos limites das duas
freguesias, o Pároco da freguesia de Anta apressou-se a participar o
caso ao Bispo da Diocese, o qual ordenou que se levantasse um auto
do facto e se procedesse às devidas investigações por meio de prova
testemunhal.
Sendo-lhe remetido o auto e ouvidos
os Párocos das duas freguesias, Sua Eminência sentenciou que, desde
então em diante, acolá, na lagoa, a margem do norte, linha recta da
entrada nela pelo Rio Largo ou Regueirão, pertencia a S. Félix da
Marinha e a outra margem, a do sul, a Anta.
Antigamente, quando a Lagoa ou
Regueirão se enchia com as águas do Rio Largo, diz-se que as suas
águas, em razão do mar as não receber, vinham por onde hoje é a
Avenida 8, até alturas da Rua 1.º de Dezembro, hoje Rua 29, de onde
saíam em direcção ao mar, tendo de passar de barco quem quisesse
seguir para o lado poente de Espinho.
|
Conselheiro Correia Leal. |
|
A 5 de Dezembro de 1886, a Irmandade
contrata, como seu Capelão privativo, o Rev. Manuel Pinto da Silva,
com o ordenado anual de 200.000 réis, com a obrigação de rezar missa
aos domingos e dias santificados,
/ 13 / acompanhar as
procissões e os enterros dos Irmãos, a Novena ao Menino Jesus e o
Terço aos domingos de tarde, no tempo da Quaresma, tomando a seu
cargo a boa conservação das alfaias e o bom andamento das coisas
religiosas.
A 1 de Janeiro de 1887, reúne
extraordinariamente a Irmandade para despedir o Capelão, que se
tinha negado a dar o Menino a beijar, nas Festas do Natal e Ano
Novo, o que causou grande descontentamento no povo e poderia ter
resultados muito graves.
Embora fosse aprovada a moção, não
foi posta em prática, naturalmente por explicações dadas pelo
Capelão, que mais tarde havia de ser o primeiro Abade da freguesia
de Espinho.
|
A Igreja Matriz a ser destruída pelo
mar. Para ver toda a zona envolvente, antes da invasão do mar,
ver o postal
30. |
Uma Comissão comprou, por 1.200.000
réis, o terreno para a feira de Espinho, juntando 10411.000 réis,
tendo ofertado o sobrante à Câmara da Feira, para ser aplicado num
jardim, o que não se concretizou.
A 13 de Julho de 1887, a Irmandade
reúne extraordinariamente para considerar a criação da freguesia de
Espinho, indicando a Capela para Igreja Matriz e oferecendo as
alfaias existentes, deliberando que, para tal, se oficiasse ao
Governo de Sua Majestade.
A 7 de Julho, a Irmandade toma
conhecimento de que o Abade de Anta se nega a baptizar em Espinho e
que assiste aos enfermos tarde e mal, além do desprezo com que
continuam a ser tratados os naturais deste lugar.
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A 7 de Julho, a Companha do Senhor
dos Naufragados oferece uns paramentos vermelhos, com a condição de
não servirem em outro templo que não seja de Espinho, tendo o
farmacêutico José António Pires de Resende e esposa oferecido um
frontal para o altar mor, nas mesmas condições.
Estava o lugar de Espinho em plena
efervescência, esperando a sua emancipação, que se deve ao valor
pessoal do Conselheiro Joaquim de Almeida Correia Leal, de Paços de
Brandão, mas frequentador de Espinho, onde tinha residência própria,
que, para tanto, exerceu a sua alta influência.
Na acta da Irmandade de Nossa
Senhora da Ajuda, ficou exarado o seguinte:
«Conselheiro Joaquim de Almeida
Correia Leal, o homem mais prestante à sua terra e aos seus
eleitores que a Feira conheceu desde a implantação do Governo
liberal em Portugal, carácter nobre a afável, activo e obsequioso,
ninguém ignora como S. Ex.ª de todo o coração e com a sublime
bondade que lhe é peculiar, acedeu ao pedido da mesma Irmandade ou
povoação de Espinho, concorrendo com todas as suas forças, conselhos
e alta posição para que esta novel povoação fosse elevada à
categoria de freguesia.
Amante apaixonado desta terra,
tem-lhe provado a sua dedicação, não só acompanhando-nos e
secundando-nos sempre em nossas úteis e grandiosas aspirações e
conquistas, em nossos progressos e nossas aflições, mas atraindo
para esta terra melhoramentos a que o seu nome ficará eternamente
unido como o do grande tribuno aveirense ficou ao fogoso Pégaso,
que, chispando fogo e devorando as distâncias, atravessa,
vertiginosamente, de Aveiro a Gaia».
Ao homenagear o Conselheiro Correia
leal, a Irmandade não esquecia o grande tribuno aveirense, José
Estêvão Coelho de Magalhães, a quem se deve a passagem da linha do
caminho-de-ferro pelo nosso litoral.
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O retrato do Conselheiro Correia
Leal encontra-se na Sacristia da Igreja Matriz, ao lado de Manuel
António Pereira, de quem foi grande amigo, sendo devido, em grande
parte, a essa amizade, o acendrado entusiasmo do Conselheiro Correia
Leal pela causa da emancipação de Espinho e que, por isso, sofreu
desgostos e vexames dos seus conterrâneos, que lhe apedrejaram a
residência em Paços de Brandão e a sua Quinta do Reboleiro, na Vila
da Feira.
/ 14 /
Manuel António Pereira, a pedido do
seu amigo Conselheiro Correia Leal, traçou os limites da freguesia
de Espinho, tendo em conta o avanço do mar e o crescimento da
povoação.
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Espinho, vítima do mar. |
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Sem dúvida, o Conselheiro Correia
Leal foi o grande criador da freguesia de Espinho.
A freguesia era criada em 17 de
Setembro do ano de 1889, sendo inaugurada a Igreja Matriz em 22 do
mesmo mês, pelo Sr. D. Manuel Luís Coelho da Silva, que foi, mais
tarde, Bispo de Coimbra.
Por decreto de 23 de Maio de 1899,
Espinho havia sido desanexada da freguesia de Anta, tendo sido autor
do decreto o Conselheiro José Luciano de Castro.
Embora se afirme que os ataques do
mar já vinham de longa data, só de notícias certas se sabe que o
primeiro se deu em 9 de Março de 1869, seguindo-se-lhe outro em
1871, avançando o mar, nessas três investidas, cerca de 95 metros,
embora sem prejuízo para as casas da povoação.
Todavia, de Outubro a Dezembro de
1889, o mar fez um novo avanço de cinquenta metros, destruindo vinte
casas de madeira, habitações de pescadores.
Era crença, entre os vareiros, que o
mar viria até à feira, pois era vulgar ouvir-se, aos mais
fatalistas, que o mar «vinha buscar o que era
dele», visto que supunham que o mar já tinha coberto a população de
Espinho.
A fúria das águas.
No entanto, a dar visos de verdade a
esta afirmação, há o facto de terem sido encontradas conchas na
abertura de poços no interior de Espinho, bem como uma crista de
pedra que atravessa a povoação em diagonal, com a chamada pedra
negra do mar e com as suas arestas polidas, como se andasse, sobre
elas, o movimento das águas durante séculos.
Começou o pânico, tendo sido ouvidas
as opiniões dos técnicos, que se contradiziam, pelo que foi nomeada
uma Comissão, em 1892, para estudar o assunto.
Durante três anos o mar não fez
novos ataques, fazendo supor que tudo voltaria à normalidade, mas no
começo de 1896 voltou a atacar, destruindo várias casas, incluindo a
sacristia da Igreja paroquial, a 22 de Fevereiro. Sossegou até
Outubro, mas os ataques voltaram de tal forma que, em começos de
1898, já tinha levado terreno edificado com 65 metros de largura por
oitocentos metros de comprimento, de norte a sul.
/ 15 /
Para se fazer uma ideia, sobre as
invasões do mar, pode dizer-se que, sendo a distância, da linha do
caminho de ferro à esplanada (Rua 2), de 135 metros, era, no
princípio, de 350 metros da linha à última casa da praia.
Depois de 1889, o mar invadiu várias
vezes, sendo as maiores investidas em 1896, 1898, 1908, 1911 e 1936,
que destruiu o Posto de Socorros a Náufragos, voltando a dar
prejuízos em 1943, limitando Espinho, pelo Poente, à Rua 2.
Foi atingida parte da Piscina, que
foi reconstruída, tendo sido feita uma defesa frontal, debaixo de
direcção do Engenheiro Tovim, a quem Espinho muito ficou a dever e
cuja memória é lembrada com saudade.
Nos últimos anos os esporões foram
reforçados, tendo sido criados alguns, de emergência, com resultados
francamente positivos.
Nos primeiros trabalhos sobre a
defesa da praia, foram estudadas as correntes e a sua influência
quanto ao avanço do mar sobre Espinho, do que pouco ou nada
resultou, tendo o Governo nomeado, em 1889, os Engenheiros
Hidráulicos Melo e Matos e Silvério Pereira da Silva, que, depois de
estudarem o fenómeno, propunham, como único meio de obstar às
investidas das águas, a construção de três esporões, que, pelo seu
custo, não foram construídos na ocasião.
A defesa frontal, feita com uma
muralha de 354,50 metros, foi destruída pelo mar, a 31 de Janeiro de
1911.
Esta muralha, feita com a
discordância do Engenheiro Von Hafe, salvou alguma coisa de Espinho,
pois ainda resistiu durante certo tempo.
Pela saída, por motivos urgentes nas
obras do porto do Douro e Leixões do Eng. Francisco Perdigão, passou
a dirigir as obras de defesa o Eng. José Gromwel Camossa Vaz Pinto.
De acordo com a parecer favorável do
Conselho Superior de Obras Públicas e Minas, de 12 de Janeiro de
1911, sobre o resultado das experiências feitas, foi, por Portaria
de 24 de Maio seguinte, determinado ao Engenheiro Director da 1.ª
Direcção dos Serviços Fluviais e Marítimos, o Eng. Von Hafe, a
elaboração do projecto definitivo das Obras de Defesa de Espinho
que, apresentado em 5 de Agosto, teve o parecer favorável da maioria
dos vogais daquele douto Conselho, sendo aprovado pelo Governo, em
Portaria de 26 de Agosto do mesmo ano.
Principiava, assim, a defesa do mar
que traria bons frutos, pelo tempo fora, pois que não pode
duvidar-se da defesa do mar pelo sistema preconizado pelos primeiros
técnicos ouvidos e confirmados pela opinião do Eng. Von Hafe.
Embora já criada a freguesia de
Espinho, a freguesia de Anta pretendia continuar na cobrança dos
impostos, por não haver Junta de Freguesia constituída ainda em
Espinho, ao que a Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda se opôs,
manifestando o desejo de, se para tanto fosse necessário, ir
reclamar até aos degraus do Trono e opinando que esse dinheiro devia
ser gasto na construção do novo cemitério, a grande aspiração do
povo de Espinho.
No ano de 1889, Espinho tem a sua
primeira Praça de Touros, construída nos terrenos próximos do
mercado
/ 16 / semanal e que tinha
lugares para mil e quinhentos espectadores, sendo inaugurada em 15
de Agosto desse mesmo ano.
Nela toureou, a cavalo, algumas
vezes, o distinto desportista aveirense Mário Duarte.
Capela de Santa Maria Maior.
A Companhia Real dos Caminhos de
Ferro Portugueses, em vista do aumento de Espinho da parte de cima
da linha férrea, fez instalar uma passarelle que se tornara
desnecessária na linha de Cascais.
Esta passerelle, em vista da
necessidade do tráfego ferroviário, foi depois aumentada,
conservando, no entanto, as suas características primitivas.
O proprietário João Baptista de
Carvalho, morador no Porto e frequentador de Espinho, mandou
construir, num terreno que dava para as Ruas 19 e 16, o Teatro
Aliança, muito bom para o tempo e que serviu Espinho durante muitos
anos, sendo demolido após a construção do Teatro S. Pedro.
Vieram ali, as melhores Companhias
de Teatro, mas a afluência de público não era de molde a encorajar.
O teatro só enchia nas noites de récitas de caridade, mas para isso
era necessário que se fechasse o jogo naquela noite, obrigando o
público a assistir.
Tinha, anexo, um esplêndido jardim,
o High Life, bem arborizado e com um coreto, sendo mais conhecido
pelo Jardim do Teatro. Teve, mais tarde, recintos para ténis e
patinagem, chegando a funcionar um cinema.
No centro do Jardim tinha uma roleta
para os menos encorajados e que era conhecida por «Pataqueira».
A 8 de Abril de 1890, um anónimo
ofereceu, por intermédio do Abade de Espinho, um relógio para a
torre da Igreja que, depois das invasões, foi transferido para a
Capela de Santa Maria Maior, onde ainda se encontra em serviço.
A 20 de Agosto, a Irmandade agradece
a Manuel José de Sousa Ferreira o levantamento da planta para a
freguesia de Espinho e mandou encaixilhar a cópia ofertada.
É possível que essa planta seja a
que se conhece como mais antiga e que se refere ao Plano de
Melhoramentos de Espinho.
Embora não passe da actual Rua 16, o
seu traçado é bastante parecido com o actual, com ligeiras
modificações.
Foi aprovado, em 1900, um plano de
arruamentos. A planta definitiva foi oferecida pela Engenheiro
Bandeira Neiva, que sofreu pequenas
modificações Introduzidas pelo Engenheiro Bandeira Coelho.
A Irmandade de Nossa Senhora da
Ajuda, à falta de Junta de Paróquia que ainda não existia, deliberou
oficiar ao Director Geral da Companhia Real dos Caminhos de Ferro
Portugueses, chamando-lhe a atenção para o facto de serem, agora,
pertença de Espinho, alguns terrenos que a Junta de Silvalde
pretendia vender e interessavam à Companhia para o novo traçado, em
razão do avanço do mar.
A 9 de Março de 1891, sendo Pároco
da Freguesia o Rev. Manuel Pinto da Silva e Regedor José António
Pereira da Rocha, reunia, pela primeira vez, a Junta de Freguesia,
composta por António de Pinho Branco Miguel como Presidente, Manuel
Fernandes Tato como Vice-Presidente e António Maria Pereira
Americano, Marcelino de Oliveira Dias e José Rodrigues Cação Serrano
como vogais.
A 17 de Março representava a Sua
Majestade para que os serviços dos Correios fossem completos durante
todo o ano, em virtude do grande comércio que Espinho já tinha a
esse tempo.
A 13 de Abril, o lavrador Joaquim
Francisco da Silva Rocha e sua mulher Fabiana Alves de Oliveira, de
Anta, ofereciam um terreno no lugar da Orgueira, junto da Fonte do
Mocho, para que fosse adaptado a cemitério paroquial
A primeira fase das obras foi à
praça pela quantia de 930.000 reis, tendo sido vendido o primeiro
talhão
/ 17 / de cinco metros
quadrados, ao preço de 400 reis cada metro, rendendo 2.000 reis.
Foram cedidos muitos baldios que a
Junta possuía ao sul de Espinho, para construções destinadas aos
desalojados pelo mar, sendo gratuita a cedência dos destinados ao
Bairro que a Rainha Senhora Dona Maria Pia mandou construir, a
expensas suas. Este Bairro tomou o nome da sua doadora, tendo sido
mais tarde, destruído pelo mar.
Com o crescimento de Espinho para
Nascente, os naturais tinham começado o estabelecer a classificação
de Espinho Mar e Espinho Terra, para distinguir a parte piscatória
da nascente, que se começava a formar.
Os seus habitantes eram
classificados em três categorias, pois que, enquanto que os vareiros
chamavam, para si, essa classificação, conheciam os das aldeias
vizinhas por vilões enquanto que os banhistas ou gentes mais
diferenciadas eram os fidalgos.
Dos antigos veraneantes, podia
contar-se a figura excelsa do Bispo de Viseu, D. António Alves
Martins, que tinha o seu palheiro numa praça que sempre foi
conhecida pela Praça do Bispo, até ser arrebatada pelo mar.
As Festas a Nossa Senhora da Ajuda
foram sempre feitas pela Irmandade, mas em razão dos prejuízos
sofridos com o mar, uma Comissão propôs-se fazer as festividades.
A Companhia Real dos Caminhos de
Ferro Portugueses mandou substituir a vedação da linha, que era
feita de travessas velhas, por outra mais elegante, no alinhamento
da Rua 19, com umas cancelas mais próprias, de acordo com a Câmara
da Feira, mas que foram pagas pela Câmara de Espinho, tendo custado
500 000 reis.
A estrada das Vareiras, a nascente
de Espinho, era um ramal da estrada mourisca, que, vindo de Aveiro,
passava por Arada, Maceda, Cortegaça, Esmoriz, Paramos, Silvalde,
Anta, Villa Spino (Espinho antigo), Arcozelo, Gulpilhares e Vilar
até à Via Romana, estrada militar de outrora.
A actual Rua 62 reunia-se à estrada
mourisca no lugar da Ponte de Anta. A actual Rua 19 passava pelo
mercado semanal, Anta e Nogueira até à Via Militar dos Romanos, que
é hoje, com pequenas variantes, a estrada nacional n.º 1, de Lisboa
ao Porto.
A estrada 62, que seguia a que vinha
do norte, passava junto ao Largo da Graciosa até à Rua 23 e depois
seguia, em linha recta, na direcção do Coteiro da areia, onde hoje
há uma importante fábrica de cordas, seguindo para a Vila da Feira.
A actual Rua 62, que já teve o nome
de Passeio Alegre, deve o seu número ao facto de haver sido estrada
nacional com aquele número e parte da qual, do Largo da Graciosa
para sul, foi sacrificada à urbanização do Espinho.
Em 1894, ao sul de Espinho, existia
uma pequena fábrica de salga e conserva de sardinha, pertencente à
firma Cirne & C.ª.
Daí para sul, antes dos ventos terem
arrastado grandes volumes de areia, as ervas cresciam na humidade e
o terreno era propício à caça das narcejas.
Por ali andavam os caçadores de
Espinho e ali se juntaram os irmãos Brandões e Gomes, que já haviam
sido sócios em indústrias no Brasil e que tinham voltado a Portugal
sem grandes lucros, em virtude de uma crise que os havia
prejudicado.
A caça não era muita e, em dado
momento, Henrique Brandão, espírito irrequieto de homem
empreendedor, lembrava ao seu antigo sócio Augusto Gomes, a
possibilidade de tentarem uma indústria na sua terra.
A conversa tomou interesse e, quando
pensavam no caminho a seguir, viram que, pouco a norte, uma pequena
indústria poderia ser grande no futuro.
Assim tomaram a fábrica da firma
Cirne & C.ª e os nomes de Henrique Brandão, Alexandre Brandão, José
Gomes e Augusto Gomes, com Alfredo Menéres, capitalista, marcavam um
caminho novo para Espinho.
Assim se fundou a Real Fábrica de
Conservas a Vapor de Brandão Gomes & C.ª para correr o mundo com o
nome de Espinho e com a mais saborosa sardinha da costa, preparada
com o maior cuidado e saber, não se conhecendo, hoje, preparação
melhor nem maior resistência ao tempo.
Mandaram vir técnicos do estrangeiro
e tudo foi aperfeiçoado, desde o preparo da sardinha aos legumes,
ervilhas, picles, azeite e tudo o que uma fábrica pode fazer para
exportar.
O nome de Brandão Gomes era
conhecido em todo o mundo, havendo a maior preferência pelos seus
produtos, tendo sido um dos nossos melhores embaixadores no Brasil,
para onde exportavam em larga escala.
Eram fornecedores da Casa Real e, em
carta assinada pelo Conde de Sabugosa, como Mordomo-Mor e em nome de
El-Rei D. Carlos, de 14 de Março de 1905, autorizava o uso da coroa
real em todos os produtos da fábrica.
O pessoal, que era muito para o
tempo, vinha das aldeias próximas e era tão bem pago que se dizia
que, uma rapariga que entrasse, como operária para a fábrica, tinha
um dote.
Desde a sua fundação que a indústria
de conservas ia sempre melhorando, ao ponto de manter a fama da
maior fábrica de conservas da Península.
Introduziu a solda mecânica em
substituição da manual, com tipografia e litografia próprias e
/ 18 / depósitos para azeite
com uma capacidade muito fora do vulgar.
Os seus escritórios deviam ser o que
havia de melhor no tempo, e os telefones vieram para Espinho para
servir a Fábrica, que tinha um movimento que tudo justificava.
Quando havia sardinha, era sempre a
melhor destinada à Fábrica, pois não olhavam a preço.
Tinha um cais privativo na Companhia
Portuguesa dos Caminhos-de-Ferro, com um carrinho, puxado por um
garrano, que todo o dia transportava as conservas para serem
embarcados nos vagões.
Foi a Fábrica, durante muitos anos,
o maior valor político de Espinho e, com a saída dos sócios Henrique
Pinto Alves Brandão, José de Oliveira Gomes e Clemente Menéres,
ficou a Sociedade reduzida a Augusto de Oliveira Gomes e Alexandre
Pinto Alves Brandão.
Mais tarde, com a falta de sardinha
na costa de Espinho, a Fábrica foi perdendo o seu valor e diminuindo
a sua laboração.
Numa das esquinas do antigo Hotel
Bragança, havia um reclamo eléctrico que deve ter sido, se não o
primeiro, pelo menos um dos primeiros do País.
Recebeu, no dia 8 de Novembro do ano
de 1908, a visita de El-Rei D. Manuel II, para o que foram
distribuídos convites a pessoas gradas.
Teve uma Banda de Música privativa
e, quando eram realizadas visitas oficiais, a Banda tocava em todas
as solenidades.
O edifício da Fábrica também foi
afectado pelas últimas invasões do mar, na parte poente do edifício,
tendo perdido algumas instalações.
O valor dos seus sócios teve larga
influência na criação do Concelho de Espinho. O sócio Augusto de
Oliveira Gomes foi a primeira autoridade concelhia a ser escolhida,
por Alvará do Governador Civil de Aveiro, Dr. Albano de Melo, que o
nomeava administrador, interino, em 15 de Setembro de 1899, para
proceder à instalação do Concelho.
Em 2 de Julho de 1899 assinava as
actas, como Presidente da Junta de Paróquia o novo Abade de Espinho,
Rev. Manuel Nunes de Campos, natural da freguesia de Vila Chã de Sá,
da Diocese de Viseu.
Começou a demarcação dos terrenos
para a edificação da nova Igreja, o que haveria de sofrer várias
modificações.
Primitivamente, estava indicado o
terreno onde hoje é o Parque João de Deus, ideia que teve que ser
abandonada pelo facto desse terreno já ter sido destinado a parque.
Foi escolhido outro, perto do
definitivo, que sofreu alterações.
Cópia da acta n.º 1:
«Secção de Juramento, posse e
instalação da Comissão Municipal do Concelho de Espinho efectuada em
21 de Setembro de 1899.
Ano de Nascimento de Nosso Senhor
Jesus Cristo de mil oitocentos e noventa e nove, aos vinte e um dias
do mês de Setembro, nesta povoação de Espinho e sala que há-de
servir para as sessões da Comissão Municipal do concelho do mesmo
nome, sendo presentes: Augusto de Oliveira Gomes, administrador
deste dito Concelho, acompanhado de José de Melo Macedo, que para
este efeito servirá de secretário ad-hoc; Henrique Pinto Alves
Brandão, Doutor António Augusto de Castro Soares, José António Pires
de Resende, João Francisco da Silva Guetim e António de Oliveira
Salvador, vogais efectivos da Comissão Municipal do mesmo Concelho,
nomeados por Decreto de sete e publicado no Diário do Governo número
duzentos e seis de treze do corrente mês, para, interinamente,
gerirem os negócios municipais nos termos do parágrafo quarto do
artigo dezassete do Código Administrativo; nas mãos daquele
Administrador prestou cada um dos referidos vogais o juramento sobre
os Santos Evangelhos, de fidelidade ao Rei reinante e de obediência
à Carta Constitucional da Monarquia e às Actas Adicionais e às Leis
do Reino.
Constituída, assim, a Comissão
Municipal, sob a presidência do vogal mais velho, que se verificou
ser João Francisco da Silva Guetim, procedeu-se à eleição para os
cargos de Presidente e Vice-Presidente e, corridas as votações e
escrutínios, verificou-se ficarem eleitos, por maioria, presidente o
Doutor António Augusto de Castro Soares e Vice-Presidente Henrique
Pinto Alves Brandão.
Assumindo logo a Presidência, a
convite do vogal mais velho João Francisco da Silva Guetim, o
Presidente eleito, Doutor António Augusto de Castro Soares, que
agradeceu, aos seus colegas, a prova de consideração que acabavam de
testemunhar-lhe e enalteceu os valiosos e relevantíssimos serviços
prestados a Espinho pelos Excelentíssimos Senhores: Conselheiro
Correia Leal, como benemérito fundador desta freguesia e como
promotores da nossa autonomia administrativa: Alfredo Menéres,
Marquês da Graciosa, Brandão Gomes & C.ª, Vaz Preto, José Pessanha,
Conde de Castelo de Paiva, Conselheiro Pereira Dias, Ressano Garcia,
Doutor Francisco Furtado, Macário de Castro e tantos outros
cavalheiros, Associações, Imprensa, Governo e, em especial, Augusto
de Oliveira Gomes, que, sobre todos se salientou de modo
verdadeiramente admirável, como heróico combatente em prol dos
autonómicos interesses de Espinho e, por último, lembrou o
respeitável nome da primeira autoridade administrativa deste
Distrito, o Excelentíssimo Senhor Conselheiro Albano de Melo, pela
correcta e
/ 19 / honestíssima maneira
de proceder, informando o Governo de Sua Majestade com a mais subida
imparcialidade das nossas circunstâncias, demonstrando um alto
espírito de pública inteireza de carácter».
Foram, interinamente, nomeados, por
unanimidade, Fernando Anselmo de Melo Geraldes Sampaio de Bourbon
para Secretário e Manuel da Rocha Coimbra para Contínuo.
A Câmara agradece ao industrial
Alexandre Pinto Alves Brandão a oferta de um estojo com uma pena de
ouro, para Serviço da Presidência.
A 27 de Setembro, o vogal António de
Oliveira Salvador lembra a necessidade de se levantar a planta de
Espinho.
A 4 de Outubro, o Pároco e
Presidente da Junta pediu, à Câmara, a cedência gratuita de um
baldio municipal, para a edificação de uma nova Igreja.
É concedida uma licença para
edificar, mas com a condição de fazer passeios em toda a frente
edificada.
A Câmara agradeceu ao Eng. Augusto
Júlio Bandeira Neiva, que se propôs fazer o levantamento topográfico
de Espinho e a respectiva planta.
A Câmara resolveu pagar as cancelas
da Rua 19, embora encomendadas à Companhia Real dos
Caminhos-de-Ferro pela Câmara da Vila da Feira, tendo, por falta de
verba, a firma Brandão Gomes & C.ª abonado a importância de 500000
reis.
A 13 de Novembro de 1899, é feita
eleição para a Câmara, tendo sido eleitos os mesmos membros da
Comissão Municipal, que prestaram novo juramento, ficando os mesmos
cargos distribuídos e passando a exercer funções na Câmara Municipal
de Espinho, em substituição da Comissão Municipal do Concelho de
Espinho.
É passado um mandado de pagamento a
favor de João Jorge de Miranda, no valor de 7040 réis, por
fornecimento de mobiliário para a Câmara.
A 20 de Dezembro é pedida, ao
Governo, a construção de uma Escola, pois que a única que existe
está em muito más condições. Os industriais Augusto Gomes, Henrique
Brandão e Alexandre Brandão e outros, ofereceram 500 000 réis para
ajuda da respectiva construção, tendo a Junta de Freguesia
contribuído com igual quantia.
A 11 de Janeiro de 1900, a Junta de
Freguesia deliberou representar ao Governo de Sua Majestade, pedindo
a criação de uma Comarca com sede em Espinho.
A Câmara resolve mandar proceder à
numeração dos prédios, estabelecendo a taxa de 50 réis por cada
número a afixar nas portas.
Quando havia várias Companhas em
Espinho, era sempre um espectáculo a saída para o mar, na ânsia de
todos chegarem primeiro para a venda do pescado.
Era vulgar a ricaxia, quando
dois barcos entravam ao mesmo tempo, provocando uma corrida entre
eles, o que dava a maior das alegrias aos vencedores com dichotes
depreciativos para os vencidos.
Era vulgar, quando o arrais do mar
era mais maldoso, ensarilhar as redes das outras Companhas, que,
algumas vezes, chegavam desfeitas à praia.
Ambos os hábitos se foram banindo,
pelo desgaste que traziam ao material de pesca e pelos prejuízos que
davam com a fuga do pescado pelas redes prejudicadas.
/ 21 / O Engenheiro Bandeira
Neiva ofertou à Câmara a planta de Espinho, prontificando-se a
dirigir a demarcação das ruas.
A iluminação pública era feita com
candeeiros de petróleo, havendo já uma pequena fábrica geradora de
electricidade, situada ao lado da Fotografia Evaristo, funcionando
só na época balnear.
O Dr. António Augusto de Castro
Soares, Presidente da Câmara, oferece os seus honorários, no ano de
1900, de Subdelegado de Saúde «pois que entende de seu dever prestar
à querida Praia de Espinho todo o auxílio, aliviando-a de encargos
para que ela tenha sobejos recursos».
Piscina de Espinho.
Em 1901 fica resolvido que, não
sendo viável a Avenida Espinho-Granja no local onde estava marcada,
propõe que a essa rua se dê o nome de Avenida do Teatro.
É hoje a Rua 16, indicada na planta
de Espinho como Avenida Espinho-Granja.
É delimitado, definitivamente, o
terreno para a construção dos Paços do Concelho, Parque, Mercado
Diário e Largo da Igreja.
O industrial Augusto de Oliveira
Gomes oferece terreno para rectificação do Parque e abertura de uma
Avenida, que ainda hoje tem o seu nome.
Projectava-se Espinho para nascente,
vindo o sonho do Doutor António Augusto de Castro Soares a ser
realizado por seu filho, o Doutor Augusto Braga de Castro Soares, em
1943, quando Presidente da Câmara de Espinho, ficando-se-Ihe, ainda,
a dever, além dos Paços do Concelho e Parque João de Deus e o actual
Matadouro Municipal.
A vontade de Augusto de Oliveira
Gomes foi continuada por seu filho, Fernando de Miranda Gomes, com a
abertura das ruas 19 e 33, até ao centro de Anta, com largas
perspectivas de serem continuadas ainda mais para nascente, com
incalculável benefício para o futuro desenvolvimento de Espinho.
Paços do Concelho.
O Doutor Augusto Braga de Castro
Soares é natural de Espinho, onde nasceu a 7 de Novembro de 1900.
Fernando de Miranda Gomes, também
natural de Espinho, nasceu a 12 de Agosto do mesmo ano.
Foi pedido, para Espinho, um Posto
Fiscal para verificação de bagagens, evitando demoras na fronteira
aos naturais de Espanha e frequentadores de Espinho na época
balnear, pedido que foi atendido, tendo funcionado muitos anos.
A 19 de Maio de 1901, o Presidente
da Junta dá conhecimento de ter adquirido, por aforamento, o terreno
para a Igreja, tendo sido apresentada uma planta que, embora
aprovada oficialmente pelo Governo Civil, a Junta rejeitou, por não
a considerar à altura do futuro de Espinho nem às exigências do
público, tendo sido aberto concurso para nova planta, com um
orçamento que não deveria exceder 15 contos de réis, sendo o
primeiro prémio de 250000 réis e o segundo de 100000 réis.
Foram apresentadas três propostas,
assinadas por Augusto Eduardo Arouca e Hermógenes Júlio dos Reis,
José Marques da Silva e Arnaldo Redondo Adães
/ 22 / Bermudes, que foram
rejeitadas por se encontrarem incompletas.
Nesse ano tomou posse do cargo de
Administrador do Concelho, José Fernandes Mourão, substituindo
Augusto de Oliveira Gomes.
Um anónimo construiu, a expensas
suas, cem metros da Rua do Cruzeiro.
O Abade da freguesia protestou
contra o facto das sessões eleitorais serem realizadas na Igreja
Matriz.
A Câmara oficiou à Companhia Real
dos Caminhos-de-Ferro para que fosse estabelecido um comboio à saída
dos teatros do Porto, em vista da frequência do público, tanto de
Espinho como de Ovar.
Em 1902 tomou posse da Presidência
da Câmara o Doutor Joaquim Pinto Coelho, entrando o industrial
Alexandre Pinto Alves Brandão para a vaga deixada por seu irmão
Henrique.
O Doutor Pinto Coelho, na sua posse,
resume o seu programa no seguinte:
«Administração económica, imparcial,
norteada pelos rigorosos princípios da sã justiça em obediência à
lei e à Moralidade, pondo, acima de todas, as questões de higiene e
comodidades dos seus administrados e hóspedes de Espinho, povoação
que precisa impor-se como terra hospitaleira, firmando os seus
créditos de estância balnear confortável».
A Câmara pede para que lhe seja dada
autorização para estabelecer concurso para a iluminação do concelho,
a gás iluminante ou electricidade.
Neste ano morreu o Par do Reino
Manuel Vaz Preto Geraldes, que havia prestado grandes serviços à
causa da emancipação de Espinho.
Em virtude de se não haver
efectuado, pelas razões apontadas, a classificação das plantas para
a Igreja Matriz, o industrial Henrique Pinto Alves Brandão, tendo
imenso desejo de ver, quanto antes, realizada uma obra de que
Espinho tanto carecia, declarou oferecer, a expensas suas, à Junta
de Freguesia, a planta da Igreja, apresentando um projecto assinado
pelo Arquitecto Adães Bermudes, que foi aprovado em definitivo,
sendo a empreitada entregue a Joaquim de Oliveira Barbosa, de
Ramalde, com obras de cantaria, terraplanagem, rebocos e
guarnecimentos, vidraças, pinturas de liso, coberturas e obras
metálicas por 17000000 réis.
As contas da luz eléctrica, deram,
no ano de 1901, um lucro de 359250 réis, conforme foi publicado,
destinando-se, unicamente, às casas particulares, sendo a luz
pública a petróleo.
Em 1902, João Baptista de Carvalho
pede licença à Câmara para o estabelecimento, dentro do Concelho, de
uma linha americana, de tracção eléctrica ou animal, que nunca
chegou a ter efectivação.
Em Dezembro, abandona a freguesia,
por ter sido colocado em outra paróquia, o Abade Manuel Nunes de
Campos, que teve, da parte de todo o povo e autoridades, uma grande
manifestação de apreço e carinho.
Ainda veio muitas vezes a Espinho a
acompanhar, à última morada, os seus antigos paroquianos e amigos.
Morreu na freguesia de Arcozelo,
concelho de Gaia, onde está sepultado.
A 1 de Janeiro de 1903, passou a
paroquiar a freguesia de Espinho o Rev. Joaquim Teixeira da Silva
Amaral, natural de Chave, do concelho de Arouca.
Grande foi a obra do Abade Amaral,
sobretudo no esforço que lhe deu a consolação de ver completada a
obra grandiosa da Igreja Matriz de Espinho, que ele encontrou nos
alicerces.
Deu-se inteiramente à sua Igreja,
lutando com falta de rendimento e com a incompreensão de alguns, no
dia a dia de uma obra que viu nascer, tomar corpo, para honra e
glória de Espinho e de satisfação de quantos o ajudaram.
Morreu em Espinho, a 15 de Dezembro
de 1956, com noventa e três anos de idade.
A 4 de Janeiro a Junta tinha feito o
dispêndio de 412977 réis nas obras já realizadas, começando a lutar
com falta de verba.
Além disso, as deficiências de
construção levam a Junta a mandar substituir parte da argamassa e
delibera vender terrenos que, em opinião consignada na acta, seriam
excelentes para o cultivo da vinha e que hoje se encontram no centro
da vila de Espinho.
Para ajudar às despesas feitas, o
industrial Alexandre Pinto Alves Brandão, oferece a quantia de
200000, em virtude de não haver dinheiro para pagar as obras já
feitas, no montante de 666020 réis.
A pedido da Câmara de Espinho, os
exames oficiais de quarta classe, da instrução primária, que se
realizavam em Oliveira de Azeméis, passaram a ser feitos em Ovar,
para os habitantes de Espinho.
Foi dada a concessão da luz
eléctrica a Júlio Domenech e Emílio Ruy del Portal, de Espanha,
tendo sido feito, por aqueles concessionários, o depósito de
garantia de 500 000 réis, passando a concessão, no ano seguinte, à
Companhia Geral de Electricidade, com sede em Espinho, de gerência
espanhola.
Em 1904 é inaugurado o Jardim da
Graciosa, com um coreto e um pequeno lago.
O Administrador do Concelho, José
Fernandes Mourão pede a demissão do cargo, sendo substituído,
interinamente, por Augusto de Oliveira Gomes.
Por motivo da eleição para a Câmara,
passa a ocupar a Presidência Henrique Pinto Alves Brandão, sendo
Vice-Presidente José de Oliveira Gomes.
Espinho principia a ter iluminação
eléctrica nas ruas, por se encontrar em funcionamento a Fábrica de
Electricidade, que funcionou perto do actual Quartel da
Guarda-Fiscal, passando, mais tarde, para um edifício
/ 23 / da Rua 23, onde hoje
estão instalados os Serviços Municipalizados e Polícia.
A Irmandade de Nossa Senhora da
Ajuda, em 4 de Fevereiro de 1906, proclama Irmã benemérita a Senhora
Condessa da Foz de Arouce, pelos benefícios concedidos para a
construção da Capela de Nossa Senhora da Ajuda, que primitivamente
foi do Senhor dos Naufragados e que passava a servir de Matriz, em
virtude do mar ter desfeito a Igreja.
Por uma Comissão de Melhoramentos
acabou de ser construída uma Praça de Touros, de que faziam parte,
como maiores accionistas, Henrique Pinto Alves Brandão e Manuel
Francisco de Castro.
Era construída de pedra e cal, sendo
o estilo árabe predominante no seu exterior e ali tourearam os
melhores nomes do toureiro em Portugal, incluindo as três gerações
dos Casimiros, frequentadores da Praia do Espinho, tendo aqui
nascido a filha de José Casimiro, Mirita, que muito tem honrado o
teatro nacional.
Tinha lotação para cinco mil
espectadores e foi, mais tarde, destruída pelo tempo.
Em seu lugar, existe hoje a Creche
da Fosforeira Portuguesa.
Nesta Praça foram corridos touros de
morte.
A 24 de Fevereiro de 1907, o
empreiteiro das obras da Igreja pede a rescisão do contrato,
continuando as obras por conta da Junta de Freguesia.
Em vista da exiguidade do orçamento,
a Junta de Freguesia oficia a Sua Majestade para que, por intermédio
do Ministério das Obras Públicas, se digne subsidiar a construção do
Altar-Mor da Igreja Matriz, tendo pedido, à Irmandade de Nossa
Senhora da Ajuda a cedência de um dos sinos da antiga Igreja para o
serviço da nova Paroquial, chamando a si a Comissão Fabriqueira da
Paróquia de Espinho, que, até aí, era exercida pela referida
Irmandade.
Em Dezembro de 1907 a Junta agradece
ao Governo de Sua Majestade o subsídio de 800000 réis e bem assim ao
Conselheiro Correia Leal, Juiz do Supremo Tribunal de Justiça, pela
valiosa interferência para que tal subsídio fosse concedido.
A obra do altar-mor, no respeitante
a marcenaria, foi adjudicada a Alberto de Sousa Reis, de Argoncilhe,
pela importância de 675000 réis, que mais tarde havia de fundar em
Espinho, uma fábrica de móveis que tem o seu nome.
A Junta resolveu ceder terrenos à
Companhia Real dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, para instalação de
uma nova linha, a 500 réis cada metro.
Em Fevereiro de 1907, em sessão da
Câmara, o seu Presidente sugere que se vá pensando na construção do
edifício para os Paços do Concelho, no seu local definitivo, em
vista do mar ter destruído o primitivo e, segundo declarou, não
faltavam, para tal, recursos à Municipalidade.
Solicita-se ao Governo a construção
da Avenida de Espinho à Granja.
Em 19 de Setembro de 1907 houve, na
praça de touros, recentemente construída, um espectáculo de bailados
e descantes populares, a que hoje chamariam folclore, com preços que
variavam, sendo o mais barato, ao sol, a 60 réis.
A 8 de Novembro de 1908 visitou
Espinho, Sua Majestade El-Rei D. Manuel II, que veio inaugurar o
troço da linha do Vale do Vouga, de Espinho a Oliveira de Azeméis,
visitando a Fábrica Brandão Gomes.
A linha foi aberta à exploração em
21 de Dezembro desse mesmo ano.
Tempos depois de cair a Igreja, a
Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda transferiu-se para a nova
Capela, quase em frente à Rua do Cruzeiro, mas o mar, em 1909,
parecia também não a querer poupar, começando a destruí-la, razão
porque a Irmandade pensou em fazer pequenas obras de reconstrução.
No entanto, a Câmara pensou em
expropriá-la, para urbanizar o local, declarando que pagaria todos
os prejuízos, ao que a Irmandade se opôs tenazmente, ao ponto de
declarar que «A Mesa Administrativa desta Irmandade, desde que tomou
posse dos seus cargos, envidou todos os esforços e continuará com
toda a sua actividade, a fim de conseguir manter inalteráveis os
seus direitos, adquiridos por força dos Estatutos e da Lei, custe o
que custar e doa a quem doer».
Embora aberta ao culto, esta Capela
teve, por despacho de 10 de Junho de 1910, autorização para a sua
bênção.
Nesse ano, o mar resolveu a questão
entre a Irmandade e a Câmara, avançando até à Rua do Cruzeiro nesse
local, tendo-se a Irmandade instalado na Capela de Santa Maria
Maior, a 11 de Fevereiro de 1911.
O Capelão da Irmandade pediu um
aumento de 10000 réis por ano, em 1908.
Pelo motivo da crescente invasão do
mar, o quarteirão do Hotel Beira Alta foi posto à venda por 800 000,
não tendo compradores, em virtude do receio do avanço das águas.
A 20 de Dezembro de 1909, foi posto
a concurso o lugar de Capelão da Irmandade de Nossa Senhora da
Ajuda, sendo nomeado, por proposta mais vantajosa, o Rev. Padre
Joaquim Baptista de Aguiar, que mais tarde teve, em Espinho, um
Colégio para rapazes e foi Capelão do Corpo Expedicionário em
França, onde muito acarinhou alguns espinhenses.
A proposta era de 120000 réis por
ano, com as obrigações dos anteriores.
Por deliberação da Câmara, que desde
1908 era da Presidência do Dr. António Augusto de Castro Soares,
/ 24 / foi resolvido, por proposta do
Vereador Narciso André de lima, fazer uma pequena ponte sobre o Rio
Largo, de maneira a dar passagem para norte, aos habitantes do lugar
do mesmo nome.
A PRAIA DE BANHOS EM 1910
Em outros tempos, o banho de mar era
considerado como sendo a terapêutica para certos males, no número
dos quais estava, em grande plano, a escrofulose.
Era tomado logo de manhã, recolhendo
as pessoas a casa, evitando o sol, que nesse tempo, crestava e dava
ar bronzeado às donzelas, que o evitavam com as suas sombrinhas.
Às mais tímidas, o banho era dado
petos banheiros, que as levavam ao colo, atirando-as à primeira onda
que viesse mais mansa.
Era chamado o banho de choque, que
ainda foi usado muitos anos.
Entre as barracas de madeira, havia
um grande tolde de pano, onde as pessoas se abrigavam do sol e davam
largas às suas conversas.
Mais tarde apareceram as barracas de
pano, alindando a praia e acabando com a monotonia das de madeira e
com a falta de higiene que elas provocavam.
Em Fevereiro de 1909, a Câmara
agradeceu ao Visconde de Assentiz a sua valiosa interferência na
construção da linha do Vale do Vouga.
Estabeleceu-se a taxa do serviço dos
bombeiros, feitos em cinematógrafos, teatros e touradas.
A FONTE DO MOCHO
Era situada ao norte de Espinho,
perto do local onde hoje se ergue o Pavilhão da Associação Académica
de Espinho e foi sacrificada à urbanização, pela necessidade de se
continuar a Rua 20 e abrir perspectivas para o norte.
Tinha uma água muito pura, que
servia para o chá e preparar bebidas mais requintadas.
Era um passeio muito agradável e
dizia-se que, quem uma vez bebesse a água da Fonte do Mocho, nunca
mais saía de Espinho.
Tinha largas tradições entre os
naturais de Espinho e os seus veraneantes, não só pela frescura da
sua água como pelo interesse do local.
Tinha ao lado um grande tanque, onde
muita gente ia lavar a roupa, que as lavadeiras anunciavam como mais
bem lavada, se o fosse pela água do Mocho.
Hoje, nada existe, a não ser a
recordação dos tempos antigos, em que a Fonte do Mocho era um
verdadeiro monumento de Espinho, querida pelos seus naturais e
admirada pelos visitantes.
A 7 de Janeiro de 1910, o naufrágio
dum barco das companhas roubou a vida a 7 pescadores, tendo a Câmara
recebido telegramas da Rainha Senhora D. Amélia, de El-Rei D. Manuel
II, e do Governo Civil e donativos do serviço de Socorros a
Náufragos, incluindo prémios aos tripulantes de outro barco que, com
perigo e abnegadamente, salvaram muitas vidas.
A Câmara insiste com a Companhia
Geral de Electricidade para uma melhor iluminação pública de Espinho
que, em 1907, era feita com 160 lâmpadas de 16 velas e doze postes
com globos de iluminação por arcos voltaicos de oito amperes, e que
funcionavam de 15 de Julho a 15 de Novembro de cada ano.
A Companhia Geral de Electricidade
passou a fornecer energia durante toda a noite, em vez de a
suspender às duas horas da manhã. A Câmara deu um subsídio, pelo
prejuízo que essa decisão trouxe, pois a luz era paga por avença,
conforme o número de lâmpadas e não por contador.
A C. P. informou que, conforme o
pedido da Câmara, resolvera atrelar carruagens aos comboios
procedentes de Badajoz e destinados a Espinho, por motivo da
afluência de veraneantes espanhóis.
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CAPELA DE S. PEDRO pág. 25
Construída por iniciativa de alguns
Espinhenses e com donativos de residentes em Espinho e Matosinhos,
foi acabada no ano de 1941, tendo sido inaugurada em Novembro e
benzida no mesmo mês pelo Rev. Abade da Freguesia Padre Joaquim
Teixeira da Silva Amaral.
É situada ao sul de Espinho, perto
das instalações da antiga fábrica Brandão Gomes, servindo toda a
povoação dos pescadores.
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A 11 de Setembro de 1910 reuniu,
pela última vez, a Junta de Freguesia de Espinho com a Presidência
do Abade da freguesia, Rev. Joaquim Teixeira da Silva Amaral.
A 10 de Outubro de 1910, o Dr.
Joaquim Pinto Coelho, como representante do Governo Provisório da
República, empossa a Comissão Administrativa da Câmara Municipal, de
que também fazia parte, com os vogais Alfredo Berredo, Francisco de
Resende, António Cruz e Francisco Alves Vieira, ficando o Dr. Pinto
Coelho como Presidente.
Passado pouco tempo, o Dr. Pinto
Coelho, por impossibilidade prevista no Código Administrativo,
deixou essas funções para exercer as de Administrador do Concelho.
Passou a assinar as actas, como
Presidente, o antigo Vogal Alfredo Berredo.
/ 25 /
A 11 de Outubro de 1910, o Dr.
Joaquim Pinto Coelho, como Administrador do Concelho de Espinho e
Delegado do Governo Provisório da República e do Governador Civil de
Aveiro, dava posse à Comissão Administrativa da Junta de Freguesia,
que era composta por Manuel Casal Ribeiro, como Presidente; Manuel
Gomes Ferreirinha, como Vice-Presidente; Joaquim Luís Rodrigues, 1.º
secretário; António Pinto Loureiro, como Tesoureiro e Pompeu Duarte
de Araújo, como Vogal.
Compareceu também o antigo
Presidente da Junta, o Rev. Abade da Freguesia, Padre Joaquim
Teixeira da Silva Amaral.
Diz a respectiva acta que «o cidadão
Joaquim Teixeira da Silva Amaral declara que da melhor vontade
prestaria os seus serviços à Comissão Paroquial, sempre que deles
careça e que, dentro do regime republicano fará tudo quanto possa
para a prosperidade da Pátria e da sua Paróquia».
Bem cumpriu, através dos anos, a sua
promessa de bem servir Espinho com a dignidade de um bom sacerdote e
um acrisolado amor à terra, que lhe ficou a dever a conclusão da sua
Igreja Paroquial, o que só se tornou possível com o seu trabalho e
sacrifício, aliados à boa compreensão e generosidade dos habitantes.
Neste ano foi criado o primeiro
hospital em Espinho, com esmolas e ofertas de artigos dos
habitantes.
Uma Comissão foi a Lisboa pedir a
criação de uma Comarca, com sede em Espinho.
A Junta de Freguesia resolveu ceder
a Capela de Santa Maria Maior à Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda,
visto que, ao contrário do que se supunha, aquela era propriedade
paroquial e não particular.
/ 26 /
Mercados
O antigo Mercado de Espinho, situado
da parte de Baixo da Rua do Cruzeiro, teve o seu desaparecimento com
as invasões do mar. Depois foi transferido, por volta de 1910, para
o recinto da Capela de Santa Maria Maior, tendo passado ao actual,
que foi construído em 1914.
Tem grande movimento diário, ali se
encontrando os talhos e peixarias, além da venda de verduras e
legumes.
O mercado, que em outros tempos se
realizava nos dias 1 e 15 de cada mês passou, com o aumento da
população, a ser semanal, sendo hoje um dos maiores, se não o maior
mercado semanal do País.
É provido de tudo, desde as roupas
feitas até à verdura, tendo um movimento que dá a Espinho, às
segundas-feiras, a aparência de um dia de festa.
É situado no Terreiro de D. Afonso
Henriques, na Rua 19, perto do edifício da Câmara Municipal,
estendendo-se para sul nos terrenos que estavam destinados ao desvio
da linha da Companhia Portuguesa, onde já tem alguns quarteirões
devidamente preparados.
Além do seu aspecto comercial também
representa um grande cartaz de turismo, pela variedade dos produtos
expostos à venda, nele se conservando o antigo costume da venda
directa do produtor ao consumidor.
Representa ainda uma grande receita
para a Câmara e é um auxiliar do próprio comércio local, pela
afluência de compradores que, nesse dia, aproveitam para vir a
Espinho, principalmente das aldeias circunvizinhas.
Tem várias carreiras de camionetas
exclusivas da segunda-feira, servindo as aldeias a alguns
quilómetros de distância.
O recinto, belamente arborizado, é
muito agradável de verão, com uma folhagem bastante densa e
protectora.
O seu arranjo tem merecido o maior
cuidado de todas as Vereações, com um piso agradável e limpo e com
um permanente cuidado na distribuição dos lugares de venda, em
atenção aos produtos oferecidos. |