O PAÍS viveu com profunda emoção e
séria preocupação, horas dolorosas nas últimas semanas do mês de
Setembro.
É que, o Timoneiro que guiava a
Nação por mais de quatro décadas, jazia no leito de dor.
Quando há três anos Salazar saudava
a reeleição de Sua Excelência o Presidente da República, Almirante
Américo Tomás, com aquele talento da previsão que foi uma das suas
clarividências políticas, previa então:
«Seja qual for
a evolução dos acontecimentos, não pode haver dúvida de que é nos
sete anos a seguir que, por imperativos naturais ou políticos, se
não pode fugir a opções delicadas e, embora não forçosamente à
revisão, à reflexão ponderada do regime em vigor.
E acrescentava:
«É nas mãos do Chefe do Estado que
virão a pesar as maiores dificuldades e da sua consciência que
dependerão as mais graves decisões.»
O Venerando Chefe do Estado,
reeleito em 1965, anunciara e levara a cabo, com o sentido nacional
que preside à inspiração de todos os seus actos, as árduas tarefas
que lhe couberam. A sua mensagem à Nação, proclamando a «opção e a
decisão», teve os dramáticos acentos da eloquente simplicidade e da
majestade.
Transcrever a histórica mensagem é
forma de homenagear o Egrégio Português.
«É num momento
particularmente grave e difícil na vida da Nação que lhes dirijo as
palavras breves, mas necessárias, que ela deve ouvir directamente do
Chefe do Estado.
Adoeceu
gravemente, no passado dia 6, o Senhor Presidente do Conselho e
quando tudo parecia indicar, após feliz e oportuna intervenção
cirúrgica, que a sua convalescença seria rápida e o reconduziria, em
breve período de tempo, à sua vida normal, sobreveio-lhe nova e
muito mais grave enfermidade que o prostrou em estado de coma no
princípio da tarde do dia 16, donde ainda não saiu, apesar da sua
excepcional resistência e dos desvelados e constantes cuidados dos
seus competentíssimos médicos assistentes.
Um problema
inesperado e de extrema gravidade surgiu assim para o País e passou
a atormentar todos os portugueses, que, com a maior calma,
patentearam ao Mundo uma maturidade e um civismo consoladoramente
notáveis. E entre todos o mais atormentado é necessariamente o Chefe
do Estado, que, de primeiro responsável pelos destinos da Nação,
passou agora à situação indesejável de responsável único. Todos têm
nele os olhares ansiosamente fixados, aguardando uma solução que
mantenha Portugal na marcha firme que vinha trilhando através de
inúmeras dificuldades.
Tem-se debatido
o Chefe do Estado, há 10 dias, entre os seus sentimentos afectivos
e de gratidão, que quanto maiores mais honram o homem, e aqueles que
a razão e o dever lhe impõem neste momento crucial da vida da Nação.
E não sendo já admissível, para os superiores interesses de
Portugal no momento que vive, adiar por mais tempo a decisão a
tomar, decisão que sei teria o pleno acordo do Senhor Presidente do
Conselho se o pudesse manifestar, redigi e enviei para publicação no
Diário do Governo de amanhã o seguinte diploma:...».
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SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Almirante Américo Deus Rodrigues
Tomás
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