Terra amiga que nasceu nas areias 
              do Mar e que nelas se criou e cresceu, no marulhar suave das ondas 
              mansas e no fragor das procelas, aprendendo a lutar e perdoar, 
              mesmo quando sangrou perante a incompreensão do mundo que a 
              rodeava, numa negativa feroz e sistemática ao seu legítimo direito 
              de viver. 
              
              Lutou contra o Mar, quando 
              buscava, nas suas águas, o sustento das suas gentes e procurava 
              criar uma vida honesta e de trabalho aos que viessem. 
              
              Lutou contra o Mar, quando as suas 
              casinhas, uma a uma, ruíam perante o ímpeto das águas ou com a 
              falta de base nas areias que as sustentavam. 
              
              Viu cair a sua velha Igreja, feita 
              com o amor e o suor dos seus habitantes, que mais choraram a casa 
              que era de todos, que as próprias que lhes serviram de lar. 
              
              Lutou quando lhe pretenderam negar 
              o direito de independência, mesmo quando os seus habitantes 
              procuravam, para si e para os seus, a justiça de se considerarem 
              iguais perante os bens do espírito, instituídos, em nome do 
              Senhor, pela Santa Igreja. 
              
              Lutou, quando pretendendo o seu 
              governo próprio, as portas se lhe fechavam, já à vista da carta de 
              alforria que estava tão próxima, pois assim o ordenava o direito 
              natural das gentes e assim o queriam alguns Amigos, bons e 
              valiosos, que enfrentando vinganças e inimizades, fizeram vencer e 
              proclamar o incontestável direito de viver e progredir. 
              
              Continuou a lutar e nem sempre tem 
              vencido, que o não consente o andar das coisas deste Mundo, mas 
              não desanima, antes cobra forças dos seus próprios desaires para 
              se lançar na luta e vencer sem ódio, pedir sem mendigar, no 
              orgulho próprio da raça vareira que a criou. 
              
              Muito há que lutar ainda, mas 
              Espinho pode proclamar a sua actual grandeza como excepcional 
              vitória, legando, aos que vierem, o seu próprio passado, na 
              certeza de que eles hão-de trabalhar, mais e mais, na ânsia, 
              sempre insatisfeita, de dignificar Espinho, a terra que tão poucos 
              fizeram e que hoje é de tantos. 
              
              
              
              * 
              
              
              
              *  * 
              
              Em recuados tempos, um naufrágio 
              deixou, sobre as águas do nosso mar, dois espanhóis, naturais da 
              Galiza, que baldadamente procuravam alcançar o areal, recobrando 
              forças num voto feito a Nossa Senhora, de construir uma capelinha 
              em sua honra, se Ela os ajudasse a vencer as águas, o que tiveram 
              por milagre quando sentiram chão firme debaixo dos pés. 
              
              Assim passou a lenda, através de 
              gerações, mas a dar-lhe foros de verdade, tivemos a primeira 
              capela e, nas descendências dos espanhóis que, de seus nomes, 
              dizia-se chamarem-se Eugénio e Márcio Esteves, os apelidos, muito 
              vulgares, de Esteves Galego. 
              
              Ainda há muitas famílias de 
              vareiros que o usam, o que parece confirmar a lenda. 
              
              Já, a esse tempo, o nosso areal 
              devia ser povoado de pequenos palheiros, embora com reduzida 
              população, pois a Capela, a despeito das suas pequenas proporções, 
              já devia ser destinada a um razoável número de habitantes. 
              
              Diz-se que os dois galegos, uma 
              vez alcançada a praia, agarrados a uma prancha auxiliadora, se 
              deram ao cuidado de ver de que madeira ela era feita e, enquanto 
              que um dizia ser de castanho, o outro afirmava, peremptoriamente 
              ser de pinho, e assim, no seu falar galego exclamava: «No! És piño!», 
              e que, desta discussão, nasceu o nome de Espinho. 
              
              Nas «Memórias sobre os Forais das 
              Terras Portuguesas», pode ler-se: 
              
              «Creio que Espinho deve o seu nome 
              à penedia espiniforme, a qualquer espinhaço de praia: há ali um 
              lugar chamado Espinho da Terra, indicando um Espinho do Mar».
              
              
              / 6 / 
              
              Esta afirmação pode ser feita por 
              comparação com a praia da Aguda, nome que os pescadores de 
              Angeiras davam a uma pedra, pela qual se guiavam, quando vinham 
              nas suas bateiras descarregar o caranguejo que vendiam aos 
              lavradores de Arcozelo, para adubação das suas terras. 
              Chavamam-lhe, então, a praia de Pedra Aguda. 
              
              No entanto, tudo parece, quanto à 
              questão do nome de Espinho, tratar-se de lenda ou mera suposição, 
              pois Espinho deve ter tido a sua origem no lugar de Espinho, hoje 
              integrado na freguesia de S. Félix da Marinha e que pertenceu, já, 
              à freguesia de Anta. 
              
              Segundo investigações e em 
              documentos dos anos de 1055 e 1058, respeitantes a vendas de 
              propriedades, falava-se na «villa Spino», que confrontava, a 
              norte, com Brito e do sul com Anta. 
              
              
                
              Capela dos Galegos 
              
              Eram abundantes, no seu areal, 
              pequeninos arbustos de folha acinzentada e eriçados de espinhos, 
              bem como os espinhosos cardos que ali chamavam abundância de 
              pintassilgos, que neles matavam a fome e servia de seu sustento 
              predilecto. 
              
              Os vareiros, que do sul vieram e 
              aqui se instalaram, fizeram a sua praia de pesca no ponto onde é 
              hoje a praia de banhos, construindo os seus barracos no local hoje 
              conhecido pelo Rio largo, ao norte de Espinho actual e fronteiro 
              ao lugar que lhe deu o nome, tendo assim nascido a classificação 
              de Espinho Mar e Espinho Terra. 
              
              Estavam perto do mar e ao mesmo 
              tempo dos pinhais de S. Félix da Marinha, onde iam aos tocos 
              (raízes de pinheiros), quando o mar não permitia a pesca. Com eles 
              se aqueciam pelo Inverno fora e se forneciam para a lareira. Desde 
              sempre os vareiros tiveram por hábito tirar tocos, pois que, em 
              suas consciências, isso não era pecado nem roubo. 
              
              Existe uma certa diferença entre 
              os vareiros de Espinho e os de outras praias a sul (Furadouro e 
              Torreira), e admite-se que tenha concorrido, para tal, a afluência 
              de trabalhadores que tinham ido para o Douro e que dali vieram por 
              motivo da crise originada pela filoxera nas vinhas. 
              
              Segundo parece, já por volta do 
              ano de 1800, existia a Capela, sendo a população do lugar, cerca 
              de 1807, constituída por cento e vinte casais de pescadores.
               
              
              Durante muitos anos, conforme 
              consta dos assentos da Paróquia de Anta, o aglomerado de Espinho 
              que nascia, era conhecido por lugar da Praia, nos baptismos de 
              1843 e ainda além de 1854. 
              
              O lugar de Espinho aparece num 
              óbito de 1857, mas tudo leva a crer que ainda se tratasse do 
              pertencente, hoje, à freguesia de S. Félix da Marinha e, àquele 
              tempo, da Paróquia de Anta. 
              
              Assim viveram os pescadores, 
              durante muitos anos, até que, com a vinda de famílias da Vila da 
              Feira, Paços de Brandão, Oleiros, Rio Maior e outras localidades, 
              se criou uma pequena praia de banhos, derivando a pesca mais para 
              sul, pois que, até aí, era feita no seguimento da actual Rua 19. 
              
              A esse tempo, dizia-se que as 
              águas do mar curavam a escrofulose, infiltrando-se as emanações 
              salinas no sangue, dando forças às fibras musculares. 
              
              O industrial de Oleiros, José de 
              Sá Couto, foi o primeiro a construir uma casa de pedra e cal, na 
              Praça 
              
              / 7 / Velha, perto do mar, 
              tendo sido sócio de várias companhas de pesca. 
              
              Era pessoa importante, tendo sido 
              agraciado, por S. M. a Rainha D. Maria II com o grau de Cavaleiro 
              da Ordem de Cristo. 
              
              Seu filho, Joaquim de Sá Couto, 
              Comendador da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa, graça 
              concedida por S. M. EI Rei D. Luís, foi o grande fomentador da 
              construção em Espinho, dado que, além de muitas casas que mandou 
              construir e o mar levou em grande parte, pôs os seus largos 
              capitais à disposição dos habitantes, que assim puderam construir 
              o seu próprio lar. 
              
              Até aos nossos dias, ficou o 
              edifício onde existiu o Hotel Beira Alta, que foi uma das grandes 
              edificações do tempo. 
              
              Por seu legado, foi construído o 
              Hospital de Nossa Senhora da Saúde, em Oleiros, que se destinava a 
              servir todas as povoações limítrofes, desde Paços de Brandão até 
              Espinho. 
              
              Teve o seu nome numa das 
              principais ruas, a Rua Sá Couto, hoje 18, e é o patrono do Ciclo 
              Preparatório do Ensino Secundário, instalado no edifício da Escola 
              Industrial e Comercial. 
              
              É de justiça juntar o seu nome ao 
              do comerciante Manuel Alves Moreira, o Moreira da Idanha, que 
              também teve larga intervenção nas primitivas construções de 
              Espinho. 
              
              O Comendador Sá Couto deixou o seu 
              nome ligado a todas as iniciativas do começo de Espinho, podendo 
              salientar-se, entre outras a construção da Capela de Nossa Senhora 
              da Ajuda, a construção de um edifício para Assembleia Recreativa, 
              para a criação de um apeadeiro do Caminho de Ferro em Espinho e 
              tinha um nome respeitado entre as gentes do mar, ao lado de quem 
              sempre estava, como pode ver-se na acta da Comissão edificadora da 
              Capela: 
              
              «O Senhor Sá Couto disse que, 
              sendo opinião dos arrais inclinada à construção da Capela nas 
              proximidades da antiga (à beira mar), se conformava com ela». 
              
              Prestou-se, também, a dirigir os 
              serviços de construção da referida Capela. 
              
              Espinho foi criando foros de 
              verdadeira praia, com as principais famílias do País, merecendo 
              menção especial as da Vila da Feira, que deram a Espinho o melhor 
              da sua amizade, embora ensombrada por algumas questões que mais se 
              deveram a um exacerbado espírito de bairrismo. 
              
              Muitos dos feirenses fizeram 
              justiça ao direito de progredir que se ia manifestando, 
              continuando com a sua amizade pelo tempo fora. 
              
              O ponto de reunião era na antiga 
              Assembleia, que se situava na Praça Velha e ocupava um edifício 
              pertencente a José Rodrigues de Oliveira Pinho (o três quilhas) e 
              dava acesso ao salão nobre uma escada de pedra, que ficava 
              encostada à casa da Sr.ª Rosa da Graça. 
              
              Era voltada a nascente, para onde 
              tinha uma esbeiçada varanda de madeira. Passou à casa da família 
              do Anão, na mesma Praça, tendo ainda passado a outro prédio, até à 
              construção de uma em edifício próprio. 
              
              No dia 1 de Outubro do ano de 
              1864, reunia-se uma Comissão presidida pelo Conselheiro José 
              Luciano de Castro, para a construção do edifício, que devia ser  
              au rez-de-chaussez, com uma sala para baile, outra para 
              bilhar, outra para jogo,  toilette para damas, outro para 
              cavalheiros, cozinha e latrinas, tudo com a devida capacidade. 
              
              Foi, mais tarde, aumentada com um 
              andar, tendo-se dissolvido a Sociedade em 1915, pelo que passou a 
              propriedade particular. 
              
              Durante muitos anos funcionou, nos 
              baixos do edifício da Assembleia, o Café Peninsular, que reunia de 
              800 a 1 000 senhoras e cavalheiros. 
              
              Realizavam-se matinées às 
              quintas-feiras e cotillons, sendo, no dizer do tempo, um 
              alfobre de casamentos. 
              
              Foi construída num local onde era 
              um palheiro de madeira, ao lado de um edifício que depois deu 
              lugar ao Hotel e Café Chinês, havendo, já nesse tempo, o edifício 
              do Hotel Bragança, na Avenida 8, onde hoje é o Palácio Hotel. 
              
              Ramalho Ortigão, em Praias de 
              Portugal, escreve que «em poucas praias é tão animada, como em 
              Espinho, a vida de Club, expressão que, neste caso, não tem 
              o sentido inglês, segundo o qual, o club era de criação 
              democrática do fim do século passado e era uma reunião 
              exclusivamente de homens. 
              
              Em Espinho, o Club é o 
              ponto de reunião de todos os banhistas, de ambos os sexos». 
              
              Sobre o vestir das senhoras e a 
              vantagem em simplificar a vida de praia, escrevia o Rev. Padre 
              António André de Lima: 
              
              «As senhoras iam à Assembleia com 
              os vestidos com que foram aos banhos. 
              
              Deixe-se a grilheta dos bons 
              tempos de luxo e etiqueta para as cidades. 
              
              Nas praias deve andar-se com toda 
              a liberdade, de cabelos ao vento e sem chapéu, de vestidos largos 
              e cómodos, que não exerçam pressão sobre o corpo». 
              
              Deve esclarecer-se que, naquele 
              tempo, as senhoras iam à praia vestidas com tanto cuidado como 
              hoje ao Casino, com chapéu, vestidos compridos, sapatos e meias e 
              uma sombrinha, por causa do sol que as crestava e não era bonito.
              
              
              / 8 / 
              
              Se hoje vivesse, muito teria que 
              ver o bom do Padre Lima... 
              
              
                
              Espinho em 1872. 
              
              Estavam lançadas as bases de 
              Espinho e, enquanto que os fidalgos faziam o Espinho da Terra, os 
              vareiros continuavam na vida da pesca, valorizando e aumentando o 
              Espinho do Mar. 
              
              Primitivamente, a sardinha era 
              pescada no Furadouro, mas, conduzida ao Porto, chegava muito 
              amassada pela viagem, perdendo sabor e frescura. 
              
              Assim aumentou a pesca na nossa 
              costa, mais perto dos mercados consumidores, onde, com verdade, se 
              podia apregoar a «De Espinho Viva!». 
              
              Ao princípio, lançavam as redes ao 
              mar, muito perto da costa e eram puxadas à mão, por duas filas de 
              homens. 
              
              Era uma alegria o sacar da rede e 
              os poetas vareiros daquele tempo davam largas à sua veia. Ainda 
              ficaram, até aos nossos dias, algumas amostras que reflectem o 
              despique entre eles, não esquecendo o velho tema: o Amor. 
              
              Nossa Senhora da Ajuda, 
               
              
              Ramo de manjericão. 
              
              Dai aos Três Anjos sardinha 
               
              
              E aos da Velha biqueirão. 
              
                
              
              Vamos ver o barco novo 
              
              Que se vai deitar ao mar. 
               
              
              Nossa Senhora vai dentro 
               
              
              E os anjinhos a remar. 
              
                
              
              Oh! Que lindos olhos pretos 
               
              
              Tem a filha do arrais.  
              
              Queria ser homem dela 
              
              E não me importava o mais! 
              
              Mais tarde, as redes passaram a 
              ser puxadas por bois, parecendo que a transformação foi feita em 
              Paramos, na Companha do Morgado desse nome, descendente de uma 
              ilustre família de Portugal. 
              
              Dizia-se que tinha uma casa à 
              beira mar, para passar o Verão e que era transportada para fora do 
              perigo das águas, durante o Inverno, em cima de carros de bois 
              preparados para tal. 
              
              Durante muitos anos, trabalharam 
              cinco companhas no mar, havendo um ano em que trabalharam seis e o 
              rendimento anual, de cada uma, pouco ultrapassava seis contos de 
              reis. 
              
              Embora hoje, se encontre reduzido 
              o pessoal e o gado, a pesca de arrasto processa-se nos moldes de 
              há umas dezenas de anos. 
              
              Os barcos de Espinho diferem dos 
              da Torreira no número de remos, pois que aqueles possuem quatro 
              (dois de cada lado), enquanto que os de Espinho têm só dois (um de 
              cada lado). 
              
              Antigamente, o pessoal da companha 
              era composto por cinquenta homens a quem chamavam camaradas, sendo 
              trinta e seis de mar e catorze de terra. 
              
              Havia o arrais do mar, que se 
              sentava à ré do barco e dirigia os trabalhos e o arrais de terra, 
              a quem estava entregue todo o cuidado da recolha da rede. 
              
              / 9 / 
              
              As cordas, que vinham paralelas, 
              eram puxadas por vinte e quatro juntas de bois, sendo doze de cada 
              lado. 
              
              
                
              Entrada dos barcos de pesca. 
              
              Quando o lanço era maior e com 
              perigo de rebentar o saco, era-lhe adicionado outro saco a que 
              chamavam funda e que evitava de se perder o peixe. Quando a pesca 
              era boa, davam, cada Companha, quatro a cinco lanços por dia, 
              havendo, há umas dezenas de anos, grande abundância de peixe na 
              nossa costa, em especial a sardinha. Hoje, essa abundância está 
              muito reduzida, apenas compensada pelo alto valor que é dado ao 
              peixe de Espinho, pago por mais alto preço. 
              
              Se a pesca excedia uma importância 
              determinada, havia a teca para os camaradas, que era dada 
              em sardinha, enquanto os homens do gado também a recebiam quando 
              essa importância atingia uma cifra maior. Tudo isso era 
              condicionado por contrato que, mais ou menos, seguia sempre as 
              mesmas normas. 
              
              Hoje está bastante modificado, mas 
              a base continua a mesma de há muitos anos atrás. 
              
              Ainda trabalha uma Companha, 
              graças ao espírito bairrista de um Espinhense, pronto a 
              sacrificar-se para que não acabe um dos grandes motivos turísticos 
              de Espinho. 
              
              Como pesca de desporto, a nossa 
              costa é excelente para a pesca à cana, que dá robalos, sargos, 
              linguado e faneca. 
              
              Houve, em Espinho, uma grande 
              frota de bateiras que, em número de algumas dezenas, se dedicavam 
              à pesca do caranguejo, que servia de estrumação para os campos. 
              
              Cada bateira, com a tripulação de 
              seis homens, ia para o mar à tardinha, depois da saída das 
              companhas, e voltava de madrugada. 
              
              O pessoal era composto por 
              camaradas das redes e o caranguejo amontoava-se pela praia fora, 
              sendo adquirido pelos lavradores, geralmente dos lados de Arada, 
              que vinham buscá-lo em carros de bois. 
              
              Mais tarde, os vareiros foram para 
              a Aguda, onde continuaram com a pesca do caranguejo, juntando a do 
              camarão, que era de bom rendimento. 
              
              Pela falta do pescado preferido, 
              foram-se dedicando à faneca e outras espécies, sendo reduzido, 
              hoje, o número de bateiras que vão ao mar, aliando-se a isso a 
              modernização da lavoura, recorrendo aos adubos compostos, de mais 
              fácil transporte e aplicação. 
              
              Ainda assim, alguns pescadores vão 
              continuando a enfrentar as ondas, com um lucro que, se não é 
              bastante compensador, lhes vai dando o pão-nosso de cada dia. 
              
              Também se pescava em Espinho pelo 
              sistema de manjueiras, que, ao contrário das mugigangas 
              para a pesca do caranguejo, não necessitava de barco. 
              
              Eram as redes canjadas na 
              vazante da maré, em umas estacas espetadas na areia e recolhidas 
              na vazante seguinte, dando alguns robalos. 
              
              Era uma pesca pobre e pouco 
              compensadora, que hoje já não se usa. 
              
              Espinho tem, hoje, uma única 
              campanha a trabalhar, que rendeu, no ano de 1968, a importância de 
              cerca de 700 contos. 
              
              Em 1908, D. Miguel de Unamuno, 
              frequentador de Espinho e grande filósofo e pensador espanhol, 
              escrevia: 
              
              / 10 / 
              
              «A maneira de puxar as redes com 
              juntas de bois é o que mais carácter dá um labor agrícola, dando 
              azo à imaginação para comparar com o trabalho dos campos nesta 
              região em que, como digo, o mar parece que se ruraliza». 
              
              Espinho deve, ao mar, o princípio 
              da sua vida, na labuta incessante do dia a dia dos que buscavam 
              ganhar o pão, e na procura pelas pessoas abastadas do interior, 
              das suas águas para os banhos e passar uns tempos de folgança. 
              
              Embora com condições de 
              crescimento, ele seria fatalmente lento, tão moroso como eram os 
              transportes a esse tempo, não permitindo, aos de mais longe, gozar 
              o nosso clima privilegiado, sobretudo no Verão, onde o calor não 
              atormenta. 
              
                
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              No entanto, é justo salientar o 
              quanto deve Espinho ao Caminho-de-Ferro, que, vindo abrir novas 
              perspectivas, estabeleceu condições para um maior comércio, para 
              estabelecimento de indústrias e mais fácil transporte aos que de 
              mais longe viessem. 
              
              Em 1867, com a abertura do troço 
              Gaia-Aveiro, abriu novos horizontes e, embora não fizessem justiça 
              imediata a Espinho, que via os comboios só de passagem, depressa 
              os Amigos da terra nos concederam o Bem de a termos para nós e 
              para o nosso progresso. 
              
              Quando da abertura da linha do 
              caminho de ferro entre Aveiro e Gaia, Espinho possuía, unicamente, 
              uma casa de guarda de passagem de nível, pelo que era geral o 
              descontentamento, dado o prejuízo causado aos habitantes, que 
              tinham que se deslocar a Esmoriz ou à Granja, à falta de paragem 
              dos comboios em Espinho. 
              
              O Comendador Joaquim de Sá Couto, 
              usando da sua grande influência e com o auxílio do chefe político 
              Anselmo Braancamp, que então residia na Granja, conseguiu que a 
              casa da guarda da passagem de nível, perto da actual passarelle, 
              passasse a apeadeiro. 
                   | 
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              NOSSA SENHORA DA AJUDA 
              
              Padroeira de Espinho, peregrina 
              dos templos que lhe foram dedicados, encontra-se, hoje, na Capela 
              de Santa Maria Maior, depois da destruição da sua capela da Rua do 
              Cruzeiro, 
              
              Não se conhece, ao certo, a data 
              da sua proclamação, por parte da gente de Espinho, como padroeira 
              de Espinho Mar e Espinho Terra, mas a sua imagem, de há muitos 
              anos, percorre, no seu dia. grande. as ruas de Espinho com a sua 
              bênção. 
              
              Existe, na Igreja Matriz, uma 
              imagem de Nossa Senhora da Ajuda, escultura diferente, onde Nossa 
              Senhora socorre uns náufragos, salvando-os das ondas do mar. 
              
              A festa de Nossa Senhora da Ajuda 
              realiza-se no penúltimo domingo de Setembro.  | 
                    | 
                 
               
              
              No ano de 1870, o barracão que 
              servia de apeadeiro de Espinho, deu 1.200.000 réis de rendimento à 
              Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses, e já o número de 
              banhistas regulava por perto de quatro mil. 
              
              A 28 de Outubro de 1870, foi 
              composta uma Comissão que se propunha fazer erigir uma Capela, em 
              local próximo da outra, em vista da primitiva já não satisfazer às 
              necessidades espirituais da população, sobretudo na época balnear. 
              
              Faziam parte da Comissão o Conde 
              da Graciosa, D. Francisco Maria de Sousa Brandão, Dr. Rufine 
              Joaquim Borges de Castro, Dr. João da Veiga Campos, João de Sousa 
              Cirne, João de Azevedo Aguiar Brandão, Manuel Pinto Gomes de 
              Menezes, Manuel Pinto de Almeida, Joaquim de Sá Couto e Padre 
              Francisco Pinto Alves Brandão. 
              
              Logo a seguir veio a discordância 
              do local da construção, pois que, se uns a queriam perto da antiga 
              Capela, conhecida pela Capela dos Galegos e junto ao mar, outros a 
              pretendiam mais a nascente, fora do perigo das invasões das águas. 
              
              
                
              Largo de Nossa Senhora da Ajuda. 
              
              Tendo sido consultada a vontade 
              das Companhas de pesca, que nessa altura tinham real valor nas 
              coisas de Espinho, os arrais foram unânimes em escolher a 
              vizinhança do mar e que eles queriam com uma superfície superior 
              ao salão da Assembleia e espaço reservado aos banhistas, tendo 
              rendido 202.000 réis a primeira subscrição. 
              
              O Padre Francisco Brandão ofereceu 
              o terreno da sua própria casa, na condição de receber em outra 
              parte um igual, comprometendo-se os arrais ao transporte da pedra 
              e saibro, condicionando a esmola ao rendimento do pescado. 
              
              O Padre Francisco ofereceu, em 
              nome de sua Mãe, das suas próprias pedreiras, toda a cantaria 
              necessária à obra. 
              
              Não havendo acordo no local da 
              construção, foi resolvido, por alguns dissidentes, edificar uma 
              Capela em terreno cedido pelo Conde da Graciosa e Caetano de Meio 
              Menezes e Castro, Capela que ainda hoje existe, consagrada a Santa 
              Maria Maior e que foi benzida a 25 de Setembro de 1877. 
              
              Faziam parte da Comissão o Conde 
              da Graciosa, Visconde de Foz de Arouce, Caetano de Melo Menezes e 
              Castro, Francisco Cardoso Valente, Conselheiro José de Melo 
              Geraldes Sampaio e Bourbon, Joaquim de Almeida Correia Leal e 
              Manuel António Pereira. 
              
              A 31 de Janeiro seguinte, o 
              Cardeal D. Américo autoriza o culto na Capela de Nossa Senhora da 
              Ajuda, acabada de construir, junto à praia, com sermão e exposição 
              do Santíssimo Sacramento, tendo já sido organizada a Irmandade de 
              Nossa Senhora da Ajuda, a cargo de quem ficava a Capela, com 
              capelão privativo. 
              
              A Capela dos Galegos, que lhe 
              ficava em frente e um pouco à direita, foi então destruída tendo 
              lugar, mais tarde, a construção de um coreto para a festividade da 
              Padroeira. 
              
              Em 1873 principiaram as 
              negociações entre a Câmara da Feira e a Companhia Real dos 
              Caminhos de Ferro Portugueses para a construção de uma estação do 
              caminho de ferro em Espinho, para substituir o barracão, que 
              servia de apeadeiro, sendo Director da Companhia Manuel Afonso 
              Espregueira. 
              
              Não houve entendimento, mas, 
              estando o Director a veranear na Granja, foram encarregados, pela 
              Câmara da Feira, o Conde da Graciosa e e Conselheiro Correia Leal, 
              de levar o caso a bom termo, o que conseguiram. 
              
              / 
              11 
              / 
              
              A estação foi inaugurada no ano 
              seguinte e rei reformada em 1898, tendo sido acrescentada, em 
              virtude da sua exiguidade para o movimento de então. 
              
              A 1 de Agosto de 1877, é pedida 
              licença ao Bispo do Porto, Cardeal D. Américo para que, durante a 
              época balnear, o Santíssimo esteja no Sacrário da Capela de 
              Espinho, autorização que é concedida em 21 de Agosto de 1877, 
              sendo Abade de Anta o Rev. Manuel Ribeiro de Figueiredo. 
              
              Pode dizer-se, em verdade, que 
              Espinho recebeu o seu maior incremento com a criação da Irmandade 
              de Nossa Senhora da Ajuda, criada em 7 de Fevereiro de 1886, donde 
              sairia o brado de independência para a criação da freguesia de 
              Espinho. 
              
              Sob a presidência do farmacêutico 
              José António Pires de Resende, como Juiz da Irmandade do 
              Santíssimo Sacramento, procedeu-se à eleição da Mesa, tendo ficado 
              eleitos: 
              
              Juiz: 
              
                        António Pinho Branco Miguel 
              
              Procurador fiscal: 
              
                        Augusto Francisco Pereira 
              
              Secretário: 
              
                        Jeremias Pais de Almeida 
              
              Vice-Secretário: 
              
                        António de Oliveira Chibante 
              
              Tesoureiro: 
              
                        Manuel Luís Mendes 
              
              Vogais: 
              
                        Guilherme Soares Maganinho 
               
              
                        José Alves da Rocha 
              
                        José de Oliveira Dias Pinhal 
               
            
            
            / 12 / Em Maio de 1886, a 
            Irmandade resolve a compra de alfaias e de uma pia baptismal, 
            atendendo ao crescimento da população de Espinho, onde havia mais 
            nascimentos que em todas as outras freguesias de Anta, tendo já, 
            nessa altura, uma população composta de 650 fogos. 
            
            
              
            Rua 19 
            
            Pede-se ao Bispo do Porto, Cardeal 
            D. Américo, para que os baptizados dos nascidos em Espinho se façam 
            na sua Capela, que estava mais limpa que a Matriz, acrescentando o 
            inconveniente da Confraria de Santa Luzia, fabriqueira da Matriz, se 
            negar a fornecer a cera para os baptizados dos naturais de Espinho. 
            
            A 19 do mesmo mês, uma provisão do 
            Bispo do Porto autorizava que os baptizados se fizessem na Capela de 
            Espinho. 
            
            No entanto, as dissidências 
            continuavam, ao ponto de os de Anta não permitirem que os de Espinho 
            pegassem às varas do pálio nem tomassem parte nas procissões, 
            empunhando cruzes, lâmpadas ou alfaias pertencentes à Matriz, 
            havendo dificuldades para administrar os Sacramentos aos enfermos de 
            Espinho, tantos eram os problemas que se criavam. 
            
            Um dia, apareceu afogada na lagoa 
            que existe ao norte de Espinho, uma rapariga que se dirigia para a 
            casa de seus pais, em Avanca ou proximidades, para com eles consoar. 
            
            As duas margens dessa lagoa eram de 
            S. Félix da Marinha e por isso os moradores de Espinho mandaram 
            dizer ao Pároco que viesse, com a sua gente, buscar o cadáver, para 
            lhe dar sepultura no adro da sua Igreja. 
            
            O Pároco de S. Félix respondeu que a 
            levassem para o adro de Anta e eles assim fizeram. No entanto, como 
            os Párocos andavam desavindos por causa dos limites das duas 
            freguesias, o Pároco da freguesia de Anta apressou-se a participar o 
            caso ao Bispo da Diocese, o qual ordenou que se levantasse um auto 
            do facto e se procedesse às devidas investigações por meio de prova 
            testemunhal. 
            
              
                | 
             
            Sendo-lhe remetido o auto e ouvidos 
            os Párocos das duas freguesias, Sua Eminência sentenciou que, desde 
            então em diante, acolá, na lagoa, a margem do norte, linha recta da 
            entrada nela pelo Rio Largo ou Regueirão, pertencia a S. Félix da 
            Marinha e a outra margem, a do sul, a Anta. 
            
            Antigamente, quando a Lagoa ou 
            Regueirão se enchia com as águas do Rio Largo, diz-se que as suas 
            águas, em razão do mar as não receber, vinham por onde hoje é a 
            Avenida 8, até alturas da Rua 1.º de Dezembro, hoje Rua 29, de onde 
            saíam em direcção ao mar, tendo de passar de barco quem quisesse 
            seguir para o lado poente de Espinho. 
                 | 
                
                 
                  
                Conselheiro Correia Leal.  | 
                  | 
               
             
            
            A 5 de Dezembro de 1886, a Irmandade 
            contrata, como seu Capelão privativo, o Rev. Manuel Pinto da Silva, 
            com o ordenado anual de 200.000 réis, com a obrigação de rezar missa 
            aos domingos e dias santificados, 
            
            / 13 / acompanhar as 
            procissões e os enterros dos Irmãos, a Novena ao Menino Jesus e o 
            Terço aos domingos de tarde, no tempo da Quaresma, tomando a seu 
            cargo a boa conservação das alfaias e o bom andamento das coisas 
            religiosas. 
            
            A 1 de Janeiro de 1887, reúne 
            extraordinariamente a Irmandade para despedir o Capelão, que se 
            tinha negado a dar o Menino a beijar, nas Festas do Natal e Ano 
            Novo, o que causou grande descontentamento no povo e poderia ter 
            resultados muito graves. 
            
            Embora fosse aprovada a moção, não 
            foi posta em prática, naturalmente por explicações dadas pelo 
            Capelão, que mais tarde havia de ser o primeiro Abade da freguesia 
            de Espinho. 
            
              
                |   | 
                
                 
                  
                A Igreja Matriz a ser destruída pelo 
                mar. Para ver toda a zona envolvente, antes da invasão do mar, 
                ver o postal 
                30.  | 
                
             
            Uma Comissão comprou, por 1.200.000 
            réis, o terreno para a feira de Espinho, juntando 10411.000 réis, 
            tendo ofertado o sobrante à Câmara da Feira, para ser aplicado num 
            jardim, o que não se concretizou. 
            
            A 13 de Julho de 1887, a Irmandade 
            reúne extraordinariamente para considerar a criação da freguesia de 
            Espinho, indicando a Capela para Igreja Matriz e oferecendo as 
            alfaias existentes, deliberando que, para tal, se oficiasse ao 
            Governo de Sua Majestade. 
            
            A 7 de Julho, a Irmandade toma 
            conhecimento de que o Abade de Anta se nega a baptizar em Espinho e 
            que assiste aos enfermos tarde e mal, além do desprezo com que 
            continuam a ser tratados os naturais deste lugar. 
                 | 
                  | 
               
             
            
            A 7 de Julho, a Companha do Senhor 
            dos Naufragados oferece uns paramentos vermelhos, com a condição de 
            não servirem em outro templo que não seja de Espinho, tendo o 
            farmacêutico José António Pires de Resende e esposa oferecido um 
            frontal para o altar mor, nas mesmas condições. 
            
            Estava o lugar de Espinho em plena 
            efervescência, esperando a sua emancipação, que se deve ao valor 
            pessoal do Conselheiro Joaquim de Almeida Correia Leal, de Paços de 
            Brandão, mas frequentador de Espinho, onde tinha residência própria, 
            que, para tanto, exerceu a sua alta influência. 
            
            Na acta da Irmandade de Nossa 
            Senhora da Ajuda, ficou exarado o seguinte: 
            
            «Conselheiro Joaquim de Almeida 
            Correia Leal, o homem mais prestante à sua terra e aos seus 
            eleitores que a Feira conheceu desde a implantação do Governo 
            liberal em Portugal, carácter nobre a afável, activo e obsequioso, 
            ninguém ignora como S. Ex.ª de todo o coração e com a sublime 
            bondade que lhe é peculiar, acedeu ao pedido da mesma Irmandade ou 
            povoação de Espinho, concorrendo com todas as suas forças, conselhos 
            e alta posição para que esta novel povoação fosse elevada à 
            categoria de freguesia. 
            
            Amante apaixonado desta terra, 
            tem-lhe provado a sua dedicação, não só acompanhando-nos e 
            secundando-nos sempre em nossas úteis e grandiosas aspirações e 
            conquistas, em nossos progressos e nossas aflições, mas atraindo 
            para esta terra melhoramentos a que o seu nome ficará eternamente 
            unido como o do grande tribuno aveirense ficou ao fogoso Pégaso, 
            que, chispando fogo e devorando as distâncias, atravessa, 
            vertiginosamente, de Aveiro a Gaia». 
            
            Ao homenagear o Conselheiro Correia 
            leal, a Irmandade não esquecia o grande tribuno aveirense, José 
            Estêvão Coelho de Magalhães, a quem se deve a passagem da linha do 
            caminho-de-ferro pelo nosso litoral. 
            
              
                |   | 
                
             
            O retrato do Conselheiro Correia 
            Leal encontra-se na Sacristia da Igreja Matriz, ao lado de Manuel 
            António Pereira, de quem foi grande amigo, sendo devido, em grande 
            parte, a essa amizade, o acendrado entusiasmo do Conselheiro Correia 
            Leal pela causa da emancipação de Espinho e que, por isso, sofreu 
            desgostos e vexames dos seus conterrâneos, que lhe apedrejaram a 
            residência em Paços de Brandão e a sua Quinta do Reboleiro, na Vila 
            da Feira. 
            
            / 14 / 
            
            Manuel António Pereira, a pedido do 
            seu amigo Conselheiro Correia Leal, traçou os limites da freguesia 
            de Espinho, tendo em conta o avanço do mar e o crescimento da 
            povoação. 
                 | 
                
                 
                  
                Espinho, vítima do mar.  | 
                  | 
               
             
            
            Sem dúvida, o Conselheiro Correia 
            Leal foi o grande criador da freguesia de Espinho. 
            
            A freguesia era criada em 17 de 
            Setembro do ano de 1889, sendo inaugurada a Igreja Matriz em 22 do 
            mesmo mês, pelo Sr. D. Manuel Luís Coelho da Silva, que foi, mais 
            tarde, Bispo de Coimbra. 
            
            Por decreto de 23 de Maio de 1899, 
            Espinho havia sido desanexada da freguesia de Anta, tendo sido autor 
            do decreto o Conselheiro José Luciano de Castro. 
            
            Embora se afirme que os ataques do 
            mar já vinham de longa data, só de notícias certas se sabe que o 
            primeiro se deu em 9 de Março de 1869, seguindo-se-lhe outro em 
            1871, avançando o mar, nessas três investidas, cerca de 95 metros, 
            embora sem prejuízo para as casas da povoação. 
            
            Todavia, de Outubro a Dezembro de 
            1889, o mar fez um novo avanço de cinquenta metros, destruindo vinte 
            casas de madeira, habitações de pescadores. 
            
            Era crença, entre os vareiros, que o 
            mar viria até à feira, pois era vulgar ouvir-se, aos mais 
            fatalistas, que o mar «vinha buscar o que era 
            dele», visto que supunham que o mar já tinha coberto a população de 
            Espinho. 
            
            
              
            A fúria das águas. 
            
            No entanto, a dar visos de verdade a 
            esta afirmação, há o facto de terem sido encontradas conchas na 
            abertura de poços no interior de Espinho, bem como uma crista de 
            pedra que atravessa a povoação em diagonal, com a chamada pedra 
            negra do mar e com as suas arestas polidas, como se andasse, sobre 
            elas, o movimento das águas durante séculos. 
            
            Começou o pânico, tendo sido ouvidas 
            as opiniões dos técnicos, que se contradiziam, pelo que foi nomeada 
            uma Comissão, em 1892, para estudar o assunto. 
            
            Durante três anos o mar não fez 
            novos ataques, fazendo supor que tudo voltaria à normalidade, mas no 
            começo de 1896 voltou a atacar, destruindo várias casas, incluindo a 
            sacristia da Igreja paroquial, a 22 de Fevereiro. Sossegou até 
            Outubro, mas os ataques voltaram de tal forma que, em começos de 
            1898, já tinha levado terreno edificado com 65 metros de largura por 
            oitocentos metros de comprimento, de norte a sul. 
            
            / 15 / 
            
            Para se fazer uma ideia, sobre as 
            invasões do mar, pode dizer-se que, sendo a distância, da linha do 
            caminho de ferro à esplanada (Rua 2), de 135 metros, era, no 
            princípio, de 350 metros da linha à última casa da praia. 
            
            Depois de 1889, o mar invadiu várias 
            vezes, sendo as maiores investidas em 1896, 1898, 1908, 1911 e 1936, 
            que destruiu o Posto de Socorros a Náufragos, voltando a dar 
            prejuízos em 1943, limitando Espinho, pelo Poente, à Rua 2. 
            
            Foi atingida parte da Piscina, que 
            foi reconstruída, tendo sido feita uma defesa frontal, debaixo de 
            direcção do Engenheiro Tovim, a quem Espinho muito ficou a dever e 
            cuja memória é lembrada com saudade. 
            
            Nos últimos anos os esporões foram 
            reforçados, tendo sido criados alguns, de emergência, com resultados 
            francamente positivos. 
            
            Nos primeiros trabalhos sobre a 
            defesa da praia, foram estudadas as correntes e a sua influência 
            quanto ao avanço do mar sobre Espinho, do que pouco ou nada 
            resultou, tendo o Governo nomeado, em 1889, os Engenheiros 
            Hidráulicos Melo e Matos e Silvério Pereira da Silva, que, depois de 
            estudarem o fenómeno, propunham, como único meio de obstar às 
            investidas das águas, a construção de três esporões, que, pelo seu 
            custo, não foram construídos na ocasião. 
            
            A defesa frontal, feita com uma 
            muralha de 354,50 metros, foi destruída pelo mar, a 31 de Janeiro de 
            1911. 
            
            Esta muralha, feita com a 
            discordância do Engenheiro Von Hafe, salvou alguma coisa de Espinho, 
            pois ainda resistiu durante certo tempo. 
            
            Pela saída, por motivos urgentes nas 
            obras do porto do Douro e Leixões do Eng. Francisco Perdigão, passou 
            a dirigir as obras de defesa o Eng. José Gromwel Camossa Vaz Pinto. 
            
            De acordo com a parecer favorável do 
            Conselho Superior de Obras Públicas e Minas, de 12 de Janeiro de 
            1911, sobre o resultado das experiências feitas, foi, por Portaria 
            de 24 de Maio seguinte, determinado ao Engenheiro Director da 1.ª 
            Direcção dos Serviços Fluviais e Marítimos, o Eng. Von Hafe, a 
            elaboração do projecto definitivo das Obras de Defesa de Espinho 
            que, apresentado em 5 de Agosto, teve o parecer favorável da maioria 
            dos vogais daquele douto Conselho, sendo aprovado pelo Governo, em 
            Portaria de 26 de Agosto do mesmo ano. 
            
            Principiava, assim, a defesa do mar 
            que traria bons frutos, pelo tempo fora, pois que não pode 
            duvidar-se da defesa do mar pelo sistema preconizado pelos primeiros 
            técnicos ouvidos e confirmados pela opinião do Eng. Von Hafe. 
            
            Embora já criada a freguesia de 
            Espinho, a freguesia de Anta pretendia continuar na cobrança dos 
            impostos, por não haver Junta de Freguesia constituída ainda em 
            Espinho, ao que a Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda se opôs, 
            manifestando o desejo de, se para tanto fosse necessário, ir 
            reclamar até aos degraus do Trono e opinando que esse dinheiro devia 
            ser gasto na construção do novo cemitério, a grande aspiração do 
            povo de Espinho. 
            
            No ano de 1889, Espinho tem a sua 
            primeira Praça de Touros, construída nos terrenos próximos do 
            mercado 
            
            / 16 / semanal e que tinha 
            lugares para mil e quinhentos espectadores, sendo inaugurada em 15 
            de Agosto desse mesmo ano. 
            
            Nela toureou, a cavalo, algumas 
            vezes, o distinto desportista aveirense Mário Duarte. 
            
            
              
            Capela de Santa Maria Maior. 
            
            A Companhia Real dos Caminhos de 
            Ferro Portugueses, em vista do aumento de Espinho da parte de cima 
            da linha férrea, fez instalar uma passarelle que se tornara 
            desnecessária na linha de Cascais. 
            
            Esta passerelle, em vista da 
            necessidade do tráfego ferroviário, foi depois aumentada, 
            conservando, no entanto, as suas características primitivas. 
            
            O proprietário João Baptista de 
            Carvalho, morador no Porto e frequentador de Espinho, mandou 
            construir, num terreno que dava para as Ruas 19 e 16, o Teatro 
            Aliança, muito bom para o tempo e que serviu Espinho durante muitos 
            anos, sendo demolido após a construção do Teatro S. Pedro. 
            
            Vieram ali, as melhores Companhias 
            de Teatro, mas a afluência de público não era de molde a encorajar. 
            O teatro só enchia nas noites de récitas de caridade, mas para isso 
            era necessário que se fechasse o jogo naquela noite, obrigando o 
            público a assistir. 
            
            Tinha, anexo, um esplêndido jardim, 
            o High Life, bem arborizado e com um coreto, sendo mais conhecido 
            pelo Jardim do Teatro. Teve, mais tarde, recintos para ténis e 
            patinagem, chegando a funcionar um cinema. 
            
            No centro do Jardim tinha uma roleta 
            para os menos encorajados e que era conhecida por «Pataqueira». 
            
            A 8 de Abril de 1890, um anónimo 
            ofereceu, por intermédio do Abade de Espinho, um relógio para a 
            torre da Igreja que, depois das invasões, foi transferido para a 
            Capela de Santa Maria Maior, onde ainda se encontra em serviço. 
            
            A 20 de Agosto, a Irmandade agradece 
            a Manuel José de Sousa Ferreira o levantamento da planta para a 
            freguesia de Espinho e mandou encaixilhar a cópia ofertada. 
            
            É possível que essa planta seja a 
            que se conhece como mais antiga e que se refere ao Plano de 
            Melhoramentos de Espinho. 
            
            Embora não passe da actual Rua 16, o 
            seu traçado é bastante parecido com o actual, com ligeiras 
            modificações. 
            
            Foi aprovado, em 1900, um plano de 
            arruamentos. A planta definitiva foi oferecida pela Engenheiro 
            
            Bandeira Neiva, que sofreu pequenas 
            modificações Introduzidas pelo Engenheiro Bandeira Coelho. 
            
            A Irmandade de Nossa Senhora da 
            Ajuda, à falta de Junta de Paróquia que ainda não existia, deliberou 
            oficiar ao Director Geral da Companhia Real dos Caminhos de Ferro 
            Portugueses, chamando-lhe a atenção para o facto de serem, agora, 
            pertença de Espinho, alguns terrenos que a Junta de Silvalde 
            pretendia vender e interessavam à Companhia para o novo traçado, em 
            razão do avanço do mar. 
            
            A 9 de Março de 1891, sendo Pároco 
            da Freguesia o Rev. Manuel Pinto da Silva e Regedor José António 
            Pereira da Rocha, reunia, pela primeira vez, a Junta de Freguesia, 
            composta por António de Pinho Branco Miguel como Presidente, Manuel 
            Fernandes Tato como Vice-Presidente e António Maria Pereira 
            Americano, Marcelino de Oliveira Dias e José Rodrigues Cação Serrano 
            como vogais. 
            
            A 17 de Março representava a Sua 
            Majestade para que os serviços dos Correios fossem completos durante 
            todo o ano, em virtude do grande comércio que Espinho já tinha a 
            esse tempo. 
            
            A 13 de Abril, o lavrador Joaquim 
            Francisco da Silva Rocha e sua mulher Fabiana Alves de Oliveira, de 
            Anta, ofereciam um terreno no lugar da Orgueira, junto da Fonte do 
            Mocho, para que fosse adaptado a cemitério paroquial 
            
            A primeira fase das obras foi à 
            praça pela quantia de 930.000 reis, tendo sido vendido o primeiro 
            talhão 
            
            / 17 / de cinco metros 
            quadrados, ao preço de 400 reis cada metro, rendendo 2.000 reis. 
            
            Foram cedidos muitos baldios que a 
            Junta possuía ao sul de Espinho, para construções destinadas aos 
            desalojados pelo mar, sendo gratuita a cedência dos destinados ao 
            Bairro que a Rainha Senhora Dona Maria Pia mandou construir, a 
            expensas suas. Este Bairro tomou o nome da sua doadora, tendo sido 
            mais tarde, destruído pelo mar. 
            
            Com o crescimento de Espinho para 
            Nascente, os naturais tinham começado o estabelecer a classificação 
            de Espinho Mar e Espinho Terra, para distinguir a parte piscatória 
            da nascente, que se começava a formar. 
            
            Os seus habitantes eram 
            classificados em três categorias, pois que, enquanto que os vareiros 
            chamavam, para si, essa classificação, conheciam os das aldeias 
            vizinhas por vilões enquanto que os banhistas ou gentes mais 
            diferenciadas eram os fidalgos. 
            
            Dos antigos veraneantes, podia 
            contar-se a figura excelsa do Bispo de Viseu, D. António Alves 
            Martins, que tinha o seu palheiro numa praça que sempre foi 
            conhecida pela Praça do Bispo, até ser arrebatada pelo mar. 
            
            As Festas a Nossa Senhora da Ajuda 
            foram sempre feitas pela Irmandade, mas em razão dos prejuízos 
            sofridos com o mar, uma Comissão propôs-se fazer as festividades. 
            
            A Companhia Real dos Caminhos de 
            Ferro Portugueses mandou substituir a vedação da linha, que era 
            feita de travessas velhas, por outra mais elegante, no alinhamento 
            da Rua 19, com umas cancelas mais próprias, de acordo com a Câmara 
            da Feira, mas que foram pagas pela Câmara de Espinho, tendo custado 
            500 000 reis. 
            
            A estrada das Vareiras, a nascente 
            de Espinho, era um ramal da estrada mourisca, que, vindo de Aveiro, 
            passava por Arada, Maceda, Cortegaça, Esmoriz, Paramos, Silvalde, 
            Anta, Villa Spino (Espinho antigo), Arcozelo, Gulpilhares e Vilar 
            até à Via Romana, estrada militar de outrora. 
            
            A actual Rua 62 reunia-se à estrada 
            mourisca no lugar da Ponte de Anta. A actual Rua 19 passava pelo 
            mercado semanal, Anta e Nogueira até à Via Militar dos Romanos, que 
            é hoje, com pequenas variantes, a estrada nacional n.º 1, de Lisboa 
            ao Porto. 
            
            A estrada 62, que seguia a que vinha 
            do norte, passava junto ao Largo da Graciosa até à Rua 23 e depois 
            seguia, em linha recta, na direcção do Coteiro da areia, onde hoje 
            há uma importante fábrica de cordas, seguindo para a Vila da Feira. 
            
            A actual Rua 62, que já teve o nome 
            de Passeio Alegre, deve o seu número ao facto de haver sido estrada 
            nacional com aquele número e parte da qual, do Largo da Graciosa 
            para sul, foi sacrificada à urbanização do Espinho. 
            
            Em 1894, ao sul de Espinho, existia 
            uma pequena fábrica de salga e conserva de sardinha, pertencente à 
            firma Cirne & C.ª. 
            
            Daí para sul, antes dos ventos terem 
            arrastado grandes volumes de areia, as ervas cresciam na humidade e 
            o terreno era propício à caça das narcejas. 
            
            Por ali andavam os caçadores de 
            Espinho e ali se juntaram os irmãos Brandões e Gomes, que já haviam 
            sido sócios em indústrias no Brasil e que tinham voltado a Portugal 
            sem grandes lucros, em virtude de uma crise que os havia 
            prejudicado. 
            
            A caça não era muita e, em dado 
            momento, Henrique Brandão, espírito irrequieto de homem 
            empreendedor, lembrava ao seu antigo sócio Augusto Gomes, a 
            possibilidade de tentarem uma indústria na sua terra. 
            
            A conversa tomou interesse e, quando 
            pensavam no caminho a seguir, viram que, pouco a norte, uma pequena 
            indústria poderia ser grande no futuro. 
            
            Assim tomaram a fábrica da firma 
            Cirne & C.ª e os nomes de Henrique Brandão, Alexandre Brandão, José 
            Gomes e Augusto Gomes, com Alfredo Menéres, capitalista, marcavam um 
            caminho novo para Espinho. 
            
            Assim se fundou a Real Fábrica de 
            Conservas a Vapor de Brandão Gomes & C.ª para correr o mundo com o 
            nome de Espinho e com a mais saborosa sardinha da costa, preparada 
            com o maior cuidado e saber, não se conhecendo, hoje, preparação 
            melhor nem maior resistência ao tempo. 
            
            Mandaram vir técnicos do estrangeiro 
            e tudo foi aperfeiçoado, desde o preparo da sardinha aos legumes, 
            ervilhas, picles, azeite e tudo o que uma fábrica pode fazer para 
            exportar. 
            
            O nome de Brandão Gomes era 
            conhecido em todo o mundo, havendo a maior preferência pelos seus 
            produtos, tendo sido um dos nossos melhores embaixadores no Brasil, 
            para onde exportavam em larga escala. 
            
            Eram fornecedores da Casa Real e, em 
            carta assinada pelo Conde de Sabugosa, como Mordomo-Mor e em nome de 
            El-Rei D. Carlos, de 14 de Março de 1905, autorizava o uso da coroa 
            real em todos os produtos da fábrica. 
            
            O pessoal, que era muito para o 
            tempo, vinha das aldeias próximas e era tão bem pago que se dizia 
            que, uma rapariga que entrasse, como operária para a fábrica, tinha 
            um dote. 
            
            Desde a sua fundação que a indústria 
            de conservas ia sempre melhorando, ao ponto de manter a fama da 
            maior fábrica de conservas da Península. 
            
            Introduziu a solda mecânica em 
            substituição da manual, com tipografia e litografia próprias e
            
            
            / 18 / depósitos para azeite 
            com uma capacidade muito fora do vulgar. 
            
            Os seus escritórios deviam ser o que 
            havia de melhor no tempo, e os telefones vieram para Espinho para 
            servir a Fábrica, que tinha um movimento que tudo justificava. 
            
            Quando havia sardinha, era sempre a 
            melhor destinada à Fábrica, pois não olhavam a preço. 
            
            Tinha um cais privativo na Companhia 
            Portuguesa dos Caminhos-de-Ferro, com um carrinho, puxado por um 
            garrano, que todo o dia transportava as conservas para serem 
            embarcados nos vagões. 
            
            Foi a Fábrica, durante muitos anos, 
            o maior valor político de Espinho e, com a saída dos sócios Henrique 
            Pinto Alves Brandão, José de Oliveira Gomes e Clemente Menéres, 
            ficou a Sociedade reduzida a Augusto de Oliveira Gomes e Alexandre 
            Pinto Alves Brandão. 
            
            Mais tarde, com a falta de sardinha 
            na costa de Espinho, a Fábrica foi perdendo o seu valor e diminuindo 
            a sua laboração. 
            
            Numa das esquinas do antigo Hotel 
            Bragança, havia um reclamo eléctrico que deve ter sido, se não o 
            primeiro, pelo menos um dos primeiros do País. 
            
            Recebeu, no dia 8 de Novembro do ano 
            de 1908, a visita de El-Rei D. Manuel II, para o que foram 
            distribuídos convites a pessoas gradas. 
            
            Teve uma Banda de Música privativa 
            e, quando eram realizadas visitas oficiais, a Banda tocava em todas 
            as solenidades. 
            
            O edifício da Fábrica também foi 
            afectado pelas últimas invasões do mar, na parte poente do edifício, 
            tendo perdido algumas instalações. 
            
            O valor dos seus sócios teve larga 
            influência na criação do Concelho de Espinho. O sócio Augusto de 
            Oliveira Gomes foi a primeira autoridade concelhia a ser escolhida, 
            por Alvará do Governador Civil de Aveiro, Dr. Albano de Melo, que o 
            nomeava administrador, interino, em 15 de Setembro de 1899, para 
            proceder à instalação do Concelho. 
            
            Em 2 de Julho de 1899 assinava as 
            actas, como Presidente da Junta de Paróquia o novo Abade de Espinho, 
            Rev. Manuel Nunes de Campos, natural da freguesia de Vila Chã de Sá, 
            da Diocese de Viseu. 
            
            Começou a demarcação dos terrenos 
            para a edificação da nova Igreja, o que haveria de sofrer várias 
            modificações. 
            
            Primitivamente, estava indicado o 
            terreno onde hoje é o Parque João de Deus, ideia que teve que ser 
            abandonada pelo facto desse terreno já ter sido destinado a parque. 
            
            Foi escolhido outro, perto do 
            definitivo, que sofreu alterações. 
            
            Cópia da acta n.º 1: 
            
            «Secção de Juramento, posse e 
            instalação da Comissão Municipal do Concelho de Espinho efectuada em 
            21 de Setembro de 1899. 
            
            Ano de Nascimento de Nosso Senhor 
            Jesus Cristo de mil oitocentos e noventa e nove, aos vinte e um dias 
            do mês de Setembro, nesta povoação de Espinho e sala que há-de 
            servir para as sessões da Comissão Municipal do concelho do mesmo 
            nome, sendo presentes: Augusto de Oliveira Gomes, administrador 
            deste dito Concelho, acompanhado de José de Melo Macedo, que para 
            este efeito servirá de secretário ad-hoc; Henrique Pinto Alves 
            Brandão, Doutor António Augusto de Castro Soares, José António Pires 
            de Resende, João Francisco da Silva Guetim e António de Oliveira 
            Salvador, vogais efectivos da Comissão Municipal do mesmo Concelho, 
            nomeados por Decreto de sete e publicado no Diário do Governo número 
            duzentos e seis de treze do corrente mês, para, interinamente, 
            gerirem os negócios municipais nos termos do parágrafo quarto do 
            artigo dezassete do Código Administrativo; nas mãos daquele 
            Administrador prestou cada um dos referidos vogais o juramento sobre 
            os Santos Evangelhos, de fidelidade ao Rei reinante e de obediência 
            à Carta Constitucional da Monarquia e às Actas Adicionais e às Leis 
            do Reino. 
            
            Constituída, assim, a Comissão 
            Municipal, sob a presidência do vogal mais velho, que se verificou 
            ser João Francisco da Silva Guetim, procedeu-se à eleição para os 
            cargos de Presidente e Vice-Presidente e, corridas as votações e 
            escrutínios, verificou-se ficarem eleitos, por maioria, presidente o 
            Doutor António Augusto de Castro Soares e Vice-Presidente Henrique 
            Pinto Alves Brandão. 
            
            Assumindo logo a Presidência, a 
            convite do vogal mais velho João Francisco da Silva Guetim, o 
            Presidente eleito, Doutor António Augusto de Castro Soares, que 
            agradeceu, aos seus colegas, a prova de consideração que acabavam de 
            testemunhar-lhe e enalteceu os valiosos e relevantíssimos serviços 
            prestados a Espinho pelos Excelentíssimos Senhores: Conselheiro 
            Correia Leal, como benemérito fundador desta freguesia e como 
            promotores da nossa autonomia administrativa: Alfredo Menéres, 
            Marquês da Graciosa, Brandão Gomes & C.ª, Vaz Preto, José Pessanha, 
            Conde de Castelo de Paiva, Conselheiro Pereira Dias, Ressano Garcia, 
            Doutor Francisco Furtado, Macário de Castro e tantos outros 
            cavalheiros, Associações, Imprensa, Governo e, em especial, Augusto 
            de Oliveira Gomes, que, sobre todos se salientou de modo 
            verdadeiramente admirável, como heróico combatente em prol dos 
            autonómicos interesses de Espinho e, por último, lembrou o 
            respeitável nome da primeira autoridade administrativa deste 
            Distrito, o Excelentíssimo Senhor Conselheiro Albano de Melo, pela 
            correcta e 
            
            / 19 / honestíssima maneira 
            de proceder, informando o Governo de Sua Majestade com a mais subida 
            imparcialidade das nossas circunstâncias, demonstrando um alto 
            espírito de pública inteireza de carácter». 
            
            Foram, interinamente, nomeados, por 
            unanimidade, Fernando Anselmo de Melo Geraldes Sampaio de Bourbon 
            para Secretário e Manuel da Rocha Coimbra para Contínuo. 
            
            A Câmara agradece ao industrial 
            Alexandre Pinto Alves Brandão a oferta de um estojo com uma pena de 
            ouro, para Serviço da Presidência. 
            
            A 27 de Setembro, o vogal António de 
            Oliveira Salvador lembra a necessidade de se levantar a planta de 
            Espinho. 
            
            A 4 de Outubro, o Pároco e 
            Presidente da Junta pediu, à Câmara, a cedência gratuita de um 
            baldio municipal, para a edificação de uma nova Igreja. 
            
            É concedida uma licença para 
            edificar, mas com a condição de fazer passeios em toda a frente 
            edificada. 
            
            A Câmara agradeceu ao Eng. Augusto 
            Júlio Bandeira Neiva, que se propôs fazer o levantamento topográfico 
            de Espinho e a respectiva planta. 
            
            A Câmara resolveu pagar as cancelas 
            da Rua 19, embora encomendadas à Companhia Real dos 
            Caminhos-de-Ferro pela Câmara da Vila da Feira, tendo, por falta de 
            verba, a firma Brandão Gomes & C.ª abonado a importância de 500000 
            reis. 
            
            A 13 de Novembro de 1899, é feita 
            eleição para a Câmara, tendo sido eleitos os mesmos membros da 
            Comissão Municipal, que prestaram novo juramento, ficando os mesmos 
            cargos distribuídos e passando a exercer funções na Câmara Municipal 
            de Espinho, em substituição da Comissão Municipal do Concelho de 
            Espinho. 
            
            É passado um mandado de pagamento a 
            favor de João Jorge de Miranda, no valor de 7040 réis, por 
            fornecimento de mobiliário para a Câmara. 
            
            A 20 de Dezembro é pedida, ao 
            Governo, a construção de uma Escola, pois que a única que existe 
            está em muito más condições. Os industriais Augusto Gomes, Henrique 
            Brandão e Alexandre Brandão e outros, ofereceram 500 000 réis para 
            ajuda da respectiva construção, tendo a Junta de Freguesia 
            contribuído com igual quantia. 
            
            A 11 de Janeiro de 1900, a Junta de 
            Freguesia deliberou representar ao Governo de Sua Majestade, pedindo 
            a criação de uma Comarca com sede em Espinho. 
            
            A Câmara resolve mandar proceder à 
            numeração dos prédios, estabelecendo a taxa de 50 réis por cada 
            número a afixar nas portas. 
            
            
              
            
            Quando havia várias Companhas em 
            Espinho, era sempre um espectáculo a saída para o mar, na ânsia de 
            todos chegarem primeiro para a venda do pescado. 
            
            Era vulgar a ricaxia, quando 
            dois barcos entravam ao mesmo tempo, provocando uma corrida entre 
            eles, o que dava a maior das alegrias aos vencedores com dichotes 
            depreciativos para os vencidos. 
            
            Era vulgar, quando o arrais do mar 
            era mais maldoso, ensarilhar as redes das outras Companhas, que, 
            algumas vezes, chegavam desfeitas à praia. 
            
            Ambos os hábitos se foram banindo, 
            pelo desgaste que traziam ao material de pesca e pelos prejuízos que 
            davam com a fuga do pescado pelas redes prejudicadas.   
            
              
            
            
            / 21 / O Engenheiro Bandeira 
            Neiva ofertou à Câmara a planta de Espinho, prontificando-se a 
            dirigir a demarcação das ruas. 
            
            A iluminação pública era feita com 
            candeeiros de petróleo, havendo já uma pequena fábrica geradora de 
            electricidade, situada ao lado da Fotografia Evaristo, funcionando 
            só na época balnear. 
            
            O Dr. António Augusto de Castro 
            Soares, Presidente da Câmara, oferece os seus honorários, no ano de 
            1900, de Subdelegado de Saúde «pois que entende de seu dever prestar 
            à querida Praia de Espinho todo o auxílio, aliviando-a de encargos 
            para que ela tenha sobejos recursos». 
            
            
              
            Piscina de Espinho. 
  
            
            Em 1901 fica resolvido que, não 
            sendo viável a Avenida Espinho-Granja no local onde estava marcada, 
            propõe que a essa rua se dê o nome de Avenida do Teatro. 
            
            É hoje a Rua 16, indicada na planta 
            de Espinho como Avenida Espinho-Granja. 
            
            É delimitado, definitivamente, o 
            terreno para a construção dos Paços do Concelho, Parque, Mercado 
            Diário e Largo da Igreja. 
            
            O industrial Augusto de Oliveira 
            Gomes oferece terreno para rectificação do Parque e abertura de uma 
            Avenida, que ainda hoje tem o seu nome. 
            
            Projectava-se Espinho para nascente, 
            vindo o sonho do Doutor António Augusto de Castro Soares a ser 
            realizado por seu filho, o Doutor Augusto Braga de Castro Soares, em 
            1943, quando Presidente da Câmara de Espinho, ficando-se-Ihe, ainda, 
            a dever, além dos Paços do Concelho e Parque João de Deus e o actual 
            Matadouro Municipal. 
            
            A vontade de Augusto de Oliveira 
            Gomes foi continuada por seu filho, Fernando de Miranda Gomes, com a 
            abertura das ruas 19 e 33, até ao centro de Anta, com largas 
            perspectivas de serem continuadas ainda mais para nascente, com 
            incalculável benefício para o futuro desenvolvimento de Espinho. 
            
            
              
            Paços do Concelho. 
            
            O Doutor Augusto Braga de Castro 
            Soares é natural de Espinho, onde nasceu a 7 de Novembro de 1900. 
            
            Fernando de Miranda Gomes, também 
            natural de Espinho, nasceu a 12 de Agosto do mesmo ano. 
            
            Foi pedido, para Espinho, um Posto 
            Fiscal para verificação de bagagens, evitando demoras na fronteira 
            aos naturais de Espanha e frequentadores de Espinho na época 
            balnear, pedido que foi atendido, tendo funcionado muitos anos. 
            
            A 19 de Maio de 1901, o Presidente 
            da Junta dá conhecimento de ter adquirido, por aforamento, o terreno 
            para a Igreja, tendo sido apresentada uma planta que, embora 
            aprovada oficialmente pelo Governo Civil, a Junta rejeitou, por não 
            a considerar à altura do futuro de Espinho nem às exigências do 
            público, tendo sido aberto concurso para nova planta, com um 
            orçamento que não deveria exceder 15 contos de réis, sendo o 
            primeiro prémio de 250000 réis e o segundo de 100000 réis. 
            
            Foram apresentadas três propostas, 
            assinadas por Augusto Eduardo Arouca e Hermógenes Júlio dos Reis, 
            José Marques da Silva e Arnaldo Redondo Adães 
            
            / 22 / Bermudes, que foram 
            rejeitadas por se encontrarem incompletas. 
            
            Nesse ano tomou posse do cargo de 
            Administrador do Concelho, José Fernandes Mourão, substituindo 
            Augusto de Oliveira Gomes. 
            
            Um anónimo construiu, a expensas 
            suas, cem metros da Rua do Cruzeiro. 
            
            O Abade da freguesia protestou 
            contra o facto das sessões eleitorais serem realizadas na Igreja 
            Matriz. 
            
            A Câmara oficiou à Companhia Real 
            dos Caminhos-de-Ferro para que fosse estabelecido um comboio à saída 
            dos teatros do Porto, em vista da frequência do público, tanto de 
            Espinho como de Ovar. 
            
            Em 1902 tomou posse da Presidência 
            da Câmara o Doutor Joaquim Pinto Coelho, entrando o industrial 
            Alexandre Pinto Alves Brandão para a vaga deixada por seu irmão 
            Henrique. 
            
            O Doutor Pinto Coelho, na sua posse, 
            resume o seu programa no seguinte: 
            
            «Administração económica, imparcial, 
            norteada pelos rigorosos princípios da sã justiça em obediência à 
            lei e à Moralidade, pondo, acima de todas, as questões de higiene e 
            comodidades dos seus administrados e hóspedes de Espinho, povoação 
            que precisa impor-se como terra hospitaleira, firmando os seus 
            créditos de estância balnear confortável». 
            
            A Câmara pede para que lhe seja dada 
            autorização para estabelecer concurso para a iluminação do concelho, 
            a gás iluminante ou electricidade. 
            
            Neste ano morreu o Par do Reino 
            Manuel Vaz Preto Geraldes, que havia prestado grandes serviços à 
            causa da emancipação de Espinho. 
            
            Em virtude de se não haver 
            efectuado, pelas razões apontadas, a classificação das plantas para 
            a Igreja Matriz, o industrial Henrique Pinto Alves Brandão, tendo 
            imenso desejo de ver, quanto antes, realizada uma obra de que 
            Espinho tanto carecia, declarou oferecer, a expensas suas, à Junta 
            de Freguesia, a planta da Igreja, apresentando um projecto assinado 
            pelo Arquitecto Adães Bermudes, que foi aprovado em definitivo, 
            sendo a empreitada entregue a Joaquim de Oliveira Barbosa, de 
            Ramalde, com obras de cantaria, terraplanagem, rebocos e 
            guarnecimentos, vidraças, pinturas de liso, coberturas e obras 
            metálicas por 17000000 réis. 
            
            As contas da luz eléctrica, deram, 
            no ano de 1901, um lucro de 359250 réis, conforme foi publicado, 
            destinando-se, unicamente, às casas particulares, sendo a luz 
            pública a petróleo. 
            
            Em 1902, João Baptista de Carvalho 
            pede licença à Câmara para o estabelecimento, dentro do Concelho, de 
            uma linha americana, de tracção eléctrica ou animal, que nunca 
            chegou a ter efectivação. 
            
            Em Dezembro, abandona a freguesia, 
            por ter sido colocado em outra paróquia, o Abade Manuel Nunes de 
            Campos, que teve, da parte de todo o povo e autoridades, uma grande 
            manifestação de apreço e carinho. 
            
            Ainda veio muitas vezes a Espinho a 
            acompanhar, à última morada, os seus antigos paroquianos e amigos. 
            
            Morreu na freguesia de Arcozelo, 
            concelho de Gaia, onde está sepultado. 
            
            A 1 de Janeiro de 1903, passou a 
            paroquiar a freguesia de Espinho o Rev. Joaquim Teixeira da Silva 
            Amaral, natural de Chave, do concelho de Arouca. 
            
            Grande foi a obra do Abade Amaral, 
            sobretudo no esforço que lhe deu a consolação de ver completada a 
            obra grandiosa da Igreja Matriz de Espinho, que ele encontrou nos 
            alicerces. 
            
            Deu-se inteiramente à sua Igreja, 
            lutando com falta de rendimento e com a incompreensão de alguns, no 
            dia a dia de uma obra que viu nascer, tomar corpo, para honra e 
            glória de Espinho e de satisfação de quantos o ajudaram. 
            
            Morreu em Espinho, a 15 de Dezembro 
            de 1956, com noventa e três anos de idade. 
            
            A 4 de Janeiro a Junta tinha feito o 
            dispêndio de 412977 réis nas obras já realizadas, começando a lutar 
            com falta de verba. 
            
            Além disso, as deficiências de 
            construção levam a Junta a mandar substituir parte da argamassa e 
            delibera vender terrenos que, em opinião consignada na acta, seriam 
            excelentes para o cultivo da vinha e que hoje se encontram no centro 
            da vila de Espinho. 
            
            Para ajudar às despesas feitas, o 
            industrial Alexandre Pinto Alves Brandão, oferece a quantia de 
            200000, em virtude de não haver dinheiro para pagar as obras já 
            feitas, no montante de 666020 réis. 
            
            A pedido da Câmara de Espinho, os 
            exames oficiais de quarta classe, da instrução primária, que se 
            realizavam em Oliveira de Azeméis, passaram a ser feitos em Ovar, 
            para os habitantes de Espinho. 
            
            Foi dada a concessão da luz 
            eléctrica a Júlio Domenech e Emílio Ruy del Portal, de Espanha, 
            tendo sido feito, por aqueles concessionários, o depósito de 
            garantia de 500 000 réis, passando a concessão, no ano seguinte, à 
            Companhia Geral de Electricidade, com sede em Espinho, de gerência 
            espanhola. 
            
            Em 1904 é inaugurado o Jardim da 
            Graciosa, com um coreto e um pequeno lago. 
            
            O Administrador do Concelho, José 
            Fernandes Mourão pede a demissão do cargo, sendo substituído, 
            interinamente, por Augusto de Oliveira Gomes. 
            
            Por motivo da eleição para a Câmara, 
            passa a ocupar a Presidência Henrique Pinto Alves Brandão, sendo 
            Vice-Presidente José de Oliveira Gomes. 
            
            Espinho principia a ter iluminação 
            eléctrica nas ruas, por se encontrar em funcionamento a Fábrica de 
            Electricidade, que funcionou perto do actual Quartel da 
            Guarda-Fiscal, passando, mais tarde, para um edifício 
            
            / 23 / da Rua 23, onde hoje 
            estão instalados os Serviços Municipalizados e Polícia. 
            
            A Irmandade de Nossa Senhora da 
            Ajuda, em 4 de Fevereiro de 1906, proclama Irmã benemérita a Senhora 
            Condessa da Foz de Arouce, pelos benefícios concedidos para a 
            construção da Capela de Nossa Senhora da Ajuda, que primitivamente 
            foi do Senhor dos Naufragados e que passava a servir de Matriz, em 
            virtude do mar ter desfeito a Igreja. 
            
            Por uma Comissão de Melhoramentos 
            acabou de ser construída uma Praça de Touros, de que faziam parte, 
            como maiores accionistas, Henrique Pinto Alves Brandão e Manuel 
            Francisco de Castro. 
            
            Era construída de pedra e cal, sendo 
            o estilo árabe predominante no seu exterior e ali tourearam os 
            melhores nomes do toureiro em Portugal, incluindo as três gerações 
            dos Casimiros, frequentadores da Praia do Espinho, tendo aqui 
            nascido a filha de José Casimiro, Mirita, que muito tem honrado o 
            teatro nacional. 
            
            Tinha lotação para cinco mil 
            espectadores e foi, mais tarde, destruída pelo tempo. 
            
            Em seu lugar, existe hoje a Creche 
            da Fosforeira Portuguesa. 
            
            Nesta Praça foram corridos touros de 
            morte. 
            
            A 24 de Fevereiro de 1907, o 
            empreiteiro das obras da Igreja pede a rescisão do contrato, 
            continuando as obras por conta da Junta de Freguesia. 
            
            Em vista da exiguidade do orçamento, 
            a Junta de Freguesia oficia a Sua Majestade para que, por intermédio 
            do Ministério das Obras Públicas, se digne subsidiar a construção do 
            Altar-Mor da Igreja Matriz, tendo pedido, à Irmandade de Nossa 
            Senhora da Ajuda a cedência de um dos sinos da antiga Igreja para o 
            serviço da nova Paroquial, chamando a si a Comissão Fabriqueira da 
            Paróquia de Espinho, que, até aí, era exercida pela referida 
            Irmandade. 
            
            Em Dezembro de 1907 a Junta agradece 
            ao Governo de Sua Majestade o subsídio de 800000 réis e bem assim ao 
            Conselheiro Correia Leal, Juiz do Supremo Tribunal de Justiça, pela 
            valiosa interferência para que tal subsídio fosse concedido. 
            
            A obra do altar-mor, no respeitante 
            a marcenaria, foi adjudicada a Alberto de Sousa Reis, de Argoncilhe, 
            pela importância de 675000 réis, que mais tarde havia de fundar em 
            Espinho, uma fábrica de móveis que tem o seu nome. 
            
            A Junta resolveu ceder terrenos à 
            Companhia Real dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, para instalação de 
            uma nova linha, a 500 réis cada metro. 
            
            Em Fevereiro de 1907, em sessão da 
            Câmara, o seu Presidente sugere que se vá pensando na construção do 
            edifício para os Paços do Concelho, no seu local definitivo, em 
            vista do mar ter destruído o primitivo e, segundo declarou, não 
            faltavam, para tal, recursos à Municipalidade. 
            
            Solicita-se ao Governo a construção 
            da Avenida de Espinho à Granja. 
            
            Em 19 de Setembro de 1907 houve, na 
            praça de touros, recentemente construída, um espectáculo de bailados 
            e descantes populares, a que hoje chamariam folclore, com preços que 
            variavam, sendo o mais barato, ao sol, a 60 réis. 
            
            A 8 de Novembro de 1908 visitou 
            Espinho, Sua Majestade El-Rei D. Manuel II, que veio inaugurar o 
            troço da linha do Vale do Vouga, de Espinho a Oliveira de Azeméis, 
            visitando a Fábrica Brandão Gomes. 
            
            A linha foi aberta à exploração em 
            21 de Dezembro desse mesmo ano. 
            
            Tempos depois de cair a Igreja, a 
            Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda transferiu-se para a nova 
            Capela, quase em frente à Rua do Cruzeiro, mas o mar, em 1909, 
            parecia também não a querer poupar, começando a destruí-la, razão 
            porque a Irmandade pensou em fazer pequenas obras de reconstrução. 
            
            No entanto, a Câmara pensou em 
            expropriá-la, para urbanizar o local, declarando que pagaria todos 
            os prejuízos, ao que a Irmandade se opôs tenazmente, ao ponto de 
            declarar que «A Mesa Administrativa desta Irmandade, desde que tomou 
            posse dos seus cargos, envidou todos os esforços e continuará com 
            toda a sua actividade, a fim de conseguir manter inalteráveis os 
            seus direitos, adquiridos por força dos Estatutos e da Lei, custe o 
            que custar e doa a quem doer». 
            
            Embora aberta ao culto, esta Capela 
            teve, por despacho de 10 de Junho de 1910, autorização para a sua 
            bênção. 
            
            Nesse ano, o mar resolveu a questão 
            entre a Irmandade e a Câmara, avançando até à Rua do Cruzeiro nesse 
            local, tendo-se a Irmandade instalado na Capela de Santa Maria 
            Maior, a 11 de Fevereiro de 1911. 
            
            O Capelão da Irmandade pediu um 
            aumento de 10000 réis por ano, em 1908. 
            
            Pelo motivo da crescente invasão do 
            mar, o quarteirão do Hotel Beira Alta foi posto à venda por 800 000, 
            não tendo compradores, em virtude do receio do avanço das águas. 
            
            A 20 de Dezembro de 1909, foi posto 
            a concurso o lugar de Capelão da Irmandade de Nossa Senhora da 
            Ajuda, sendo nomeado, por proposta mais vantajosa, o Rev. Padre 
            Joaquim Baptista de Aguiar, que mais tarde teve, em Espinho, um 
            Colégio para rapazes e foi Capelão do Corpo Expedicionário em 
            França, onde muito acarinhou alguns espinhenses. 
            
            A proposta era de 120000 réis por 
            ano, com as obrigações dos anteriores. 
            
            Por deliberação da Câmara, que desde 
            1908 era da Presidência do Dr. António Augusto de Castro Soares,
            
            
            / 24 / foi resolvido, por proposta do 
            Vereador Narciso André de lima, fazer uma pequena ponte sobre o Rio 
            Largo, de maneira a dar passagem para norte, aos habitantes do lugar 
            do mesmo nome. 
            
            
              
            
            A PRAIA DE BANHOS EM 1910 
            
            Em outros tempos, o banho de mar era 
            considerado como sendo a terapêutica para certos males, no número 
            dos quais estava, em grande plano, a escrofulose. 
            
            Era tomado logo de manhã, recolhendo 
            as pessoas a casa, evitando o sol, que nesse tempo, crestava e dava 
            ar bronzeado às donzelas, que o evitavam com as suas sombrinhas. 
            
            Às mais tímidas, o banho era dado 
            petos banheiros, que as levavam ao colo, atirando-as à primeira onda 
            que viesse mais mansa. 
            
            Era chamado o banho de choque, que 
            ainda foi usado muitos anos. 
            
            Entre as barracas de madeira, havia 
            um grande tolde de pano, onde as pessoas se abrigavam do sol e davam 
            largas às suas conversas. 
            
            Mais tarde apareceram as barracas de 
            pano, alindando a praia e acabando com a monotonia das de madeira e 
            com a falta de higiene que elas provocavam. 
  
            
            Em Fevereiro de 1909, a Câmara 
            agradeceu ao Visconde de Assentiz a sua valiosa interferência na 
            construção da linha do Vale do Vouga. 
            
            Estabeleceu-se a taxa do serviço dos 
            bombeiros, feitos em cinematógrafos, teatros e touradas. 
            
              
            
            
              
            
            
            A FONTE DO MOCHO 
            
            Era situada ao norte de Espinho, 
            perto do local onde hoje se ergue o Pavilhão da Associação Académica 
            de Espinho e foi sacrificada à urbanização, pela necessidade de se 
            continuar a Rua 20 e abrir perspectivas para o norte. 
            
            Tinha uma água muito pura, que 
            servia para o chá e preparar bebidas mais requintadas. 
            
            Era um passeio muito agradável e 
            dizia-se que, quem uma vez bebesse a água da Fonte do Mocho, nunca 
            mais saía de Espinho. 
            
            Tinha largas tradições entre os 
            naturais de Espinho e os seus veraneantes, não só pela frescura da 
            sua água como pelo interesse do local. 
            
            Tinha ao lado um grande tanque, onde 
            muita gente ia lavar a roupa, que as lavadeiras anunciavam como mais 
            bem lavada, se o fosse pela água do Mocho. 
            
            Hoje, nada existe, a não ser a 
            recordação dos tempos antigos, em que a Fonte do Mocho era um 
            verdadeiro monumento de Espinho, querida pelos seus naturais e 
            admirada pelos visitantes. 
            
              
            
            A 7 de Janeiro de 1910, o naufrágio 
            dum barco das companhas roubou a vida a 7 pescadores, tendo a Câmara 
            recebido telegramas da Rainha Senhora D. Amélia, de El-Rei D. Manuel 
            II, e do Governo Civil e donativos do serviço de Socorros a 
            Náufragos, incluindo prémios aos tripulantes de outro barco que, com 
            perigo e abnegadamente, salvaram muitas vidas. 
            
            A Câmara insiste com a Companhia 
            Geral de Electricidade para uma melhor iluminação pública de Espinho 
            que, em 1907, era feita com 160 lâmpadas de 16 velas e doze postes 
            com globos de iluminação por arcos voltaicos de oito amperes, e que 
            funcionavam de 15 de Julho a 15 de Novembro de cada ano. 
            
            A Companhia Geral de Electricidade 
            passou a fornecer energia durante toda a noite, em vez de a 
            suspender às duas horas da manhã. A Câmara deu um subsídio, pelo 
            prejuízo que essa decisão trouxe, pois a luz era paga por avença, 
            conforme o número de lâmpadas e não por contador. 
            
            A C. P. informou que, conforme o 
            pedido da Câmara, resolvera atrelar carruagens aos comboios 
            procedentes de Badajoz e destinados a Espinho, por motivo da 
            afluência de veraneantes espanhóis. 
            
              
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            CAPELA DE S. PEDRO pág. 25 
            
            Construída por iniciativa de alguns 
            Espinhenses e com donativos de residentes em Espinho e Matosinhos, 
            foi acabada no ano de 1941, tendo sido inaugurada em Novembro e 
            benzida no mesmo mês pelo Rev. Abade da Freguesia Padre Joaquim 
            Teixeira da Silva Amaral. 
            
            É situada ao sul de Espinho, perto 
            das instalações da antiga fábrica Brandão Gomes, servindo toda a 
            povoação dos pescadores. 
                 | 
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            A 11 de Setembro de 1910 reuniu, 
            pela última vez, a Junta de Freguesia de Espinho com a Presidência 
            do Abade da freguesia, Rev. Joaquim Teixeira da Silva Amaral. 
            
            A 10 de Outubro de 1910, o Dr. 
            Joaquim Pinto Coelho, como representante do Governo Provisório da 
            República, empossa a Comissão Administrativa da Câmara Municipal, de 
            que também fazia parte, com os vogais Alfredo Berredo, Francisco de 
            Resende, António Cruz e Francisco Alves Vieira, ficando o Dr. Pinto 
            Coelho como Presidente. 
            
            Passado pouco tempo, o Dr. Pinto 
            Coelho, por impossibilidade prevista no Código Administrativo, 
            deixou essas funções para exercer as de Administrador do Concelho. 
            
            Passou a assinar as actas, como 
            Presidente, o antigo Vogal Alfredo Berredo. 
            
            / 25 / 
            
            A 11 de Outubro de 1910, o Dr. 
            Joaquim Pinto Coelho, como Administrador do Concelho de Espinho e 
            Delegado do Governo Provisório da República e do Governador Civil de 
            Aveiro, dava posse à Comissão Administrativa da Junta de Freguesia, 
            que era composta por Manuel Casal Ribeiro, como Presidente; Manuel 
            Gomes Ferreirinha, como Vice-Presidente; Joaquim Luís Rodrigues, 1.º 
            secretário; António Pinto Loureiro, como Tesoureiro e Pompeu Duarte 
            de Araújo, como Vogal. 
            
            Compareceu também o antigo 
            Presidente da Junta, o Rev. Abade da Freguesia, Padre Joaquim 
            Teixeira da Silva Amaral. 
            
            Diz a respectiva acta que «o cidadão 
            Joaquim Teixeira da Silva Amaral declara que da melhor vontade 
            prestaria os seus serviços à Comissão Paroquial, sempre que deles 
            careça e que, dentro do regime republicano fará tudo quanto possa 
            para a prosperidade da Pátria e da sua Paróquia». 
            
            Bem cumpriu, através dos anos, a sua 
            promessa de bem servir Espinho com a dignidade de um bom sacerdote e 
            um acrisolado amor à terra, que lhe ficou a dever a conclusão da sua 
            Igreja Paroquial, o que só se tornou possível com o seu trabalho e 
            sacrifício, aliados à boa compreensão e generosidade dos habitantes. 
            
            Neste ano foi criado o primeiro 
            hospital em Espinho, com esmolas e ofertas de artigos dos 
            habitantes. 
            
            Uma Comissão foi a Lisboa pedir a 
            criação de uma Comarca, com sede em Espinho. 
            
            A Junta de Freguesia resolveu ceder 
            a Capela de Santa Maria Maior à Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda, 
            visto que, ao contrário do que se supunha, aquela era propriedade 
            paroquial e não particular.  
            
            / 26 /  
            
            
            
             
            Mercados 
            
            O antigo Mercado de Espinho, situado 
            da parte de Baixo da Rua do Cruzeiro, teve o seu desaparecimento com 
            as invasões do mar. Depois foi transferido, por volta de 1910, para 
            o recinto da Capela de Santa Maria Maior, tendo passado ao actual, 
            que foi construído em 1914. 
            
            Tem grande movimento diário, ali se 
            encontrando os talhos e peixarias, além da venda de verduras e 
            legumes. 
            
            O mercado, que em outros tempos se 
            realizava nos dias 1 e 15 de cada mês passou, com o aumento da 
            população, a ser semanal, sendo hoje um dos maiores, se não o maior 
            mercado semanal do País. 
            
            
              
            
            É provido de tudo, desde as roupas 
            feitas até à verdura, tendo um movimento que dá a Espinho, às 
            segundas-feiras, a aparência de um dia de festa. 
            
            É situado no Terreiro de D. Afonso 
            Henriques, na Rua 19, perto do edifício da Câmara Municipal, 
            estendendo-se para sul nos terrenos que estavam destinados ao desvio 
            da linha da Companhia Portuguesa, onde já tem alguns quarteirões 
            devidamente preparados. 
            
            Além do seu aspecto comercial também 
            representa um grande cartaz de turismo, pela variedade dos produtos 
            expostos à venda, nele se conservando o antigo costume da venda 
            directa do produtor ao consumidor. 
            
            Representa ainda uma grande receita 
            para a Câmara e é um auxiliar do próprio comércio local, pela 
            afluência de compradores que, nesse dia, aproveitam para vir a 
            Espinho, principalmente das aldeias circunvizinhas. 
            
            Tem várias carreiras de camionetas 
            exclusivas da segunda-feira, servindo as aldeias a alguns 
            quilómetros de distância. 
            
            O recinto, belamente arborizado, é 
            muito agradável de verão, com uma folhagem bastante densa e 
            protectora. 
            
            O seu arranjo tem merecido o maior 
            cuidado de todas as Vereações, com um piso agradável e limpo e com 
            um permanente cuidado na distribuição dos lugares de venda, em 
            atenção aos produtos oferecidos.  |