Alberto Ribeiro Soares,
Companhia de Artilharia N.º 106. História das Operações em Angola - 1961/63,
Coimbra, 2001, 26 pp.
20-JUL-1962 — Chegada à nova ZA. A CART 106
deixa de depender operacionalmente do Comando do Sector 3 e passa a depender do
BCAÇ 230 (SALAZAR).
Destaca 1 Pelotão (+) para o TERREIRO e 1 Pelotão (+) para a ROÇA SANTA EULÁLIA,
ficando o Comando e 1 Pelotão (+) em BOLONGONGO.
25-JUL-1962 — Um grupo IN estimado em 60 elementos executa um ataque com catanas à ROÇA CASSULE. Logo se iniciaram operações de limpeza nas margens do Rio DANGE, entre a PONTE DA SOCOLANGE e a confluência dos rios LUFUA e DANGE, onde tem sido assinalada presença IN.
27-JUL-1962 — Iniciam-se as apresentações de população no TERREIRO e na ROÇA RODRIGUES & IRMÃO.
06-SET-1962 — Passa a comandar a CART 106 o Capitão Miliciano de Artilharia JOSÉ CÉSAR RESTOLHO MATEUS.
20-SET-1962 — Remodelação do dispositivo,
passando a CART 106 a ocupar também a ROÇA RODRIOUES & IRMÃO com 1 Pelotão,
ficando em BOLONGONGO apenas o Comando e 1 Secção.
Continua o patrulhamento intensivo dos vales dos rios DANGE e LUFUA e da zona da
foz do Rio LOMBO. Forças da CART 106 atravessam por várias vezes o Rio DANGE,
tendo actuado na margem direita deste rio (Sector D), onde destruiu vários
acampamentos.
08-0UT-1962 — A CART 106 colabora numa operação lançada pelo BCAÇ 317 a norte do Rio DANGE, actuando na margem esquerda deste; as Nossas Forças foram alvejadas com 1 tiro de Morteiro executado pelas forças actuantes na margem direita, felizmente sem consequências.
27-OUT-1962 — A CART 106 passa a ocupar também as Roças SOCOLANGE e CANZELE, com 2 Secções em cada uma; tem 1 Pelotão na ROÇA SANTA EULÁLIA, 1 Pelotão na ROÇA RODRIGUES & IRMÃO, 2 Secções no TERREIRO e o Comando em BOLONGONGO. 13NOV1962 — A CART 106 marcha para o QUITEXE.
RESUMO
Durante os escassos 4 meses de permanência na região do TERREIRO, a CART 106 fez sentir a sua acção através de constantes batidas a pé nas margens dos rios DANGE e LUFUA, e de acções de vigilância nas regiões de QUIVOTA e QUINDUNGUE, o que provocou a apresentação da grande parte dos povos da região que estavam refugiados na mata, num total de mais de 2.000 pessoas.
Neste período, forças da CART 106 entraram por 12 vezes em contacto com o IN, destruíram 14 acampamentos, capturaram armamento diverso, documentos e vários utensílios; matou 13 terroristas, fez 32 prisioneiros e feriu bastantes, 10 dos quais comprovados.
A prematura saída da CART 106 desta ZA, precisamente na altura em que começava a tirar resultados práticos das suas acções, impediu que o seu esforço tivesse mais profundidade e projecção.
O estado sanitário do pessoal, na altura em que vai entrar no Sector D e já com 19 meses de comissão, é considerado bastante deficiente. Registaram-se no período mais de 20 casos de hepatite e foram evacuados para a Metrópole 4 Praças. Ao sair de BOLONGONGO há cerca de 30 homens com baixa.
A acção da CART 106 na região do TERREIRO mereceu do Quartel General da Região Militar de Angola a citação que se transcreve (Nota n.º 92.741 P.o 343.41 de 05-Nov-1962 da 3a REP do QG/RMA):
“Ao: Sr. Comandante do Sector D
Para conhecimento: Comandante do BCAÇ 317
Comandante da CART 106
Assunto: ATRIBUIÇÃO DA CART 106 AO COMSEC D
01 - Conforme Rádio 7144 desse COMSEC está previsto o deslocamento da CART 106
do TERREIRO para QUITEXE a partirde07NOV1962.
02 - Nas vésperas da referida CART 106 ser atribuída ao COMSEC D, é com a maior
satisfação que informo V. Ex.a de que aquela Companhia, que teve à
sua responsabilidade as regiões de TERREIRO, QUICULUNGO e BOLONGONGO,
desenvolveu uma actividade digna de ser notada. Instalada numa zona pacificada,
não se deixou levar pelo comodismo dessa particularidade, tendo mantido, pelo
contrário, mercê de uma rede constante de vigilância, quer de dia, quer de
noite, constituída por postos de vigilância colocados em locais de observação
predominantes sobre o Rio DANGE, uma actividade digna de ser notada como
bastante eficiente, tanto mais que se tratava de uma Companhia recente naquela
região e que procurou, logo de início, devido às suas constantes batidas e
nomadizações, tomar conhecimento perfeito da sua ZA.
À CART 106 se devem, em larga medida, as numerosas apresentações de nativos ultimamente verificadas nos postos de TERREIRO e BOLONGONGO
Soube ainda a referida CART 106 granjear o maior apreço por parte da população civil da região.
03 - Nesta conformidade, este Comando tem a convicção de que a CART 106 continuará na sua nova ZA a garantir um bom rendimento operacional, o que, a verificar-se, confirmará a opinião que sobre a mesma formaram os Comandos do BCAÇ 114, BCAÇ 21961 e BCAÇ 230, sob cujas ordens serviu.
O CHEFE DO ESTADO-MAIOR
José Manuel Bethencourt Rodrigues,
Tenente-Coronel do CEM”