As Horas de Penélope, Âncora, Âncora Editora, 2005, 117 pp. - ISBN 972 780 160 9

Acerca do livro

  Esta é a hora mágica
Em que os deuses
Regressam do seu sono

Em que as palavras
Que nos foram dadas
Se tornam nossas.


Assim começam as Horas de Penélope. Numa alegoria ao que resta por ler. E por sentir. Ao longo da miríade de sentimentos-poema que enchem o livro.

As palavras, que lhe foram dadas no seu estado bruto, natural, granítico, assumem a forma lapidada de um significado especial, pessoal, íntimo, onde o fenómeno natural se casa com os sentimentos mais profundos, numa cópula pacífica que elimina a razão. E então, sim, vemos com nitidez como as palavras se tornaram dela, da autora.

A poesia reside nas coisas, nos actos, nos gestos, e o poeta é apenas um observador privilegiado, cujos olhos da alma vêem para além da realidade imanente — ou a poesia é a deformação das mesmas coisas, dos mesmos actos, dos mesmos gestos, esculpida pelo cinzel sensível dos poetas? Isto é, para colocar o pensamento de um modo mais simples, o poeta vê ou cria? Não é fácil responder. E é curioso notar que, em As Horas de Penélope, Ângela Leite intenta dar-nos uma resposta. Caindo, ela própria, na contradição, quando, no belo poema «A Natureza das coisas», constrói a destruição da sua própria afirmação.

Um mistério. A arte. Também a arte que inunda As Horas de Penélope e que, deliciosamente, é trazida até nós.

A. Magalhães Pinto

 

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