Síntese -
Costa e Melo, de modo aparentemente inocente, descreve o grande
concerto dado pela orquestra Sinfónica de Bamberg, dirigida pelo
maestro Rudolf Kempe, a que assistiu no teatro Rivoli, no Porto. Ao
enaltecer o excelente desempenho do maestro na direcção do seu "povo
da orquestra" - os músicos - Costa e Melo reflecte sobre "...todo o
prazer consciente da livre entrega do povo ao seu chefe, da livre
dádiva do chefe ao seu povo, da comunhão livre no levantar da
catedral sonora que era de todos e a todos por igual permitia o
aleluia da própria liberdade." Sublinha a satisfação "...de todos
esses que sabem ser conduzidos sem a tirania que tantas vezes anda
presa ao simples uso de qualquer batuta...em pleno repúdio de
qualquer forçada sujeição." Termina o artigo apresentando o maestro
como "...símbolo do quanto pode fazer a comunhão dos seres ligados
pelo mesmo sonho, embora separados, formalmente, pelas hierarquias."
Nota:
- Estávamos
no final de 1959, pouco mais de uma ano havia passado desde as
últimas eleições presenciais onde, surpreendentemente, saiu
vitorioso o candidato do regime Américo Tomás (9.08.1958), apesar do
enorme apoio popular obtido pelo candidato da Oposição Democrática
Humberto Delgado.
- Durante este ano de 1959,
Salazar, para evitar surpresas, aprovou uma revisão constitucional
(lei nº 2100, de 29 de Agosto), onde o Presidente da República
passou a ser eleito por um colégio eleitoral restrito (deputados da
Assembleia Nacional, membros da Câmara corporativa, representantes
da estruturas administrativas dos territórios ultramarinos e
representantes das câmaras municipais), acabando, desta forma, com o
sufrágio directo. Este processo de eleição do P.R. foi aplicado em
1965 e 1972, mantendo-se o mesmo candidato presidencial (Américo
Tomás). |