O Amor e o Medo

Amar é não ter medo

do rumor das árvores frondosas,

do entrechoque das ondas,

da utopia dos mares,

das nuvens que sorvem as montanhas

como um polvo gigante cobrindo a terra.

 

Amar é não ter medo

do murmúrio do regato,

da fonte que ri escondida,

do cheiro sensual dos campos,

de encher as mãos com o sumo da alfazema,

de sentar-se numa rocha sobre o abismo.

 

Amar é não ter medo

de ver a noite apagar o dia,

e de ver o dia a vencer a noite

num jogo de forças leal e incansável.

 

Amar é não ter medo

da fonte que vai secar,

do castanheiro a abater,

do rio a soterrar,

do jardim a entulhar.

 

Amar é não ter medo

de ver em mim toda esta natureza,

onde a noite joga com o dia.

 

Amar é não ter medo

de ver partir quem se ama,

de ver o amor dos filhos

 a dar vida por terras novas.

 

Amar é amar em mim

tudo o que sou,

sem ter medo de chorar,

sem ter medo de confiar,

sem ter medo de não ser amado,

sem ter medo do rumor das ramagens

agitadas por mãos sem amor.

 

Amar é não ter medo

de não ver o amor,

e de acreditar que o amor está por toda a parte.

 

Amar é não ter medo

de ter por si mesmo amor.

 

Amar é não ter medo

de amar.

Braga, 1 de Maio de 2004

 

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06-11-2024