3º Domingo do Advento (ano B)
1ª leitura: Livro de Isaías, 61, 1-2ª.10-1
2ª leitura: 1ª Carta de S. Paulo aos Tessalonicenses, 5, 16-24
Evangelho: S. João, 1, 6-8.19-28
É
assim a tradução literal da frase que precede a «confissão» de João
Baptista – e assim aparecia nos antigos missais, não sem causar
certo gozo à malta nova ao ouvir no evangelho expressão tão
arrevesada.
Na
verdade, «confessar» significa uma declaração firme (aplicada
sobretudo à declaração de culpabilidade). E o arrevesado serve para
sublinhar que se trata de uma declaração sem evasivas nem
subterfúgios. É não ter medo de dizer a verdade. Seja ou não custoso
para quem ouve, seja ou não custoso para quem diz.
Na 1ª
leitura, o profeta Isaías proclama que age com a força do espírito
de Deus. E como está tão seguro disso? – Porque não despreza os
pobres, antes lhes abre novos horizontes; porque não passa ao lado
de quem sofre, antes lhe dá conforto com a sua presença e com
palavras reveladoras do sentido da existência.
É de
notar que, quando Jesus foi convidado a comentar um texto bíblico na
sinagoga de Nazaré (Lucas, 4, 18-19), utilizou esta citação de
Isaías. E mais tarde, quando João Baptista, já na prisão de Herodes,
mandou perguntar a Jesus se ele era mesmo «aquele que deve vir»
(Mateus, 11, 2-6), Jesus reafirma a sua missão tornando a
apresentar-se nos termos do mesmo texto de Isaías, mas acrescentando
que compete a cada pessoa pronunciar-se a favor (de Jesus) ou
contra. Nesta posição de cada qual se baseia o Juízo de Deus
(Mateus, 10, 32-33).
O
evangelho mostra claramente a preocupação de João Baptista e de
muitos crentes sobre qual era o seu papel e o de Jesus no projecto
de revelação de Deus. O Baptista parecia consciente da missão
especial de Jesus, mas nem podia crer no que estava a acontecer…
Pelos
tempos fora, a pergunta «quem és tu?» – dirigida a todos os profetas
antigos ou modernos e ao próprio Jesus Cristo como um vivente que
questiona a humanidade – deve ser feita por cada um de nós, na
medida em que não queira ficar a «ver passar o comboio». Porque nós
não podemos confiar levianamente em ninguém, nem no próprio Jesus
Cristo (Lucas, 14, 28-32). Precisamos de saber o que ele significa
para nós, e depois agir em consonância.
A 2ª
leitura mostra a força com que S. Paulo acreditava na missão de
Jesus e como a sua vinda final fará felizes a todos aqueles que não
«confessaram a fé» apenas com palavras. Nesta carta ecoa o verso de
Isaías (60, 17): «A Paz será a tua inspectora; a Justiça, a tua
regra suprema» (Isaías, 60, 17).
A
vitória final do bem sobre o mal (implicando o «juízo» de Deus, como
revelação do sentido da vida e de como lhe procurámos dar sentido)
pertence ao núcleo duro da fé cristã. A esta vitória alude a
expressão muito usada por S. Paulo de a «futura vinda de Nosso
Senhor Jesus Cristo» na qual será a todos manifestada a união entre
Deus e a humanidade.
No tempo de Natal, reforça-se a intuição de muitos profetas, como
Isaías, e Deus surge como «habitando entre nós», presente nas
crianças que nascem e que morrem, nos adultos com sucesso e sem
sucesso, na alegria e no sofrimento. Um Deus próximo, para quem cada
ano da nossa vida pode ser um ano de mais profunda amizade com todos
porque com ele também. Um amigo que nos acompanha – com quem podemos
falar – tanto no auge da angústia como no auge do prazer. Não é um
Deus que nos faz «beatos», um Deus para quem «certas coisas que
fazemos» são «feias», e que exige um culto pouco ou nada alegre. É
um Deus para quem tudo o que fazemos na vida pode ser bom – sob uma
única condição: fazer coincidir o nosso bem com o bem dos outros.
Porque todos os nossos dons são proféticos (2ª leitura) – e são-no
porque o espírito de Deus (Marcos,1,8) está sempre em nós, lutando a
nosso lado para que não fiquemos insatisfeitos. |