(MEDITAÇÃO BASEADA EM VÁRIAS FONTES)
Todos
sabemos que Páscoa significa «passagem»: a passagem do Espírito de
Deus pelas casas dos egípcios, provocando a morte dos filhos
primogénitos. E o Faraó viu-se obrigado a permitir que Moisés
conduzisse o Povo de Deus para a Terra Prometida. Páscoa será assim
a libertação do mal. O inglês pass-over traduz literalmente o
termo hebraico «pesach», que significa «passar sobre», abrindo
caminho livre para uma nova vida.
Passagem
da morte para a vida, sofrimento e guerra para paz, confusão para
ordem, prisão para liberdade…
Todas
estas coisas fazem parte da vida (não só do ser humano). Pode-se
mesmo dizer que são parte dos constituintes da «bipolaridade» do
Universo: ordem-caos, vida-morte, espírito-matéria, infinito-finito,
céu-terra, amor-ódio, mulher-homem, nascimento-crescimento, forma
inicial-desdobramento das potencialidades que superam conflitos.
OVO e
AVE provêm do mesmo radical proto-indo-europeu: AWI.
AVE
representa a potencialidade de criar o que parece inteiramente novo
e alheio, mas que por sua vez dará origem a AVE… donde a velha
questão: que vem primeiro: ovo ou galinha? Curiosamente, um sábio da
antiguidade oriental já teria lançado a resposta ao dilema: «A Ave
está no Ovo como o Ovo está na Ave». Parece um jogo, mas não: é a
forma paradoxal de exprimir o que apenas se sente ter sentido quando
acima da lógica…
Podemos
lembrar a ideia do «eterno retorno», mas de um «retorno» não ao
mesmo ou semelhante estado inicial: seria o eterno retorno à
contínua evolução de tudo o que existe. Por isso, também não é
exacto afirmar que a História não se repete: repete-se perante os
condicionalismos característicos (e quase permanentes) da actividade
dos seres humanos, que não têm coragem de admitir que apenas vivem
fomentando hábitos perniciosos e potencialmente destruidores.
Tentando acordar estes cegos e surdos, os principais grupos humanos
formam rituais, quer meramente sociais quer sobretudo religiosos,
que mais profundamente respondem a esta necessidade de «repetição
sempre nova».
Ovo é
portanto o símbolo da vida sempre renovada. Juntos, Ovo e Ave
simbolizam a unidade do Universo, aparentemente dividido na infinda
bipolaridade acima referida.
A
perfeição do ovo é, desde as mais antigas e diversas culturas,
símbolo da formação do mundo. Fecundado pela mãe Sol, separa-se em
duas metades: céu e terra, os dois sexos, o ouro e a prata (da gema,
forma-se a terra; e da clara, mais leve, forma-se o céu). Por sua
vez, a unidade primordial é recordada no célebre Ying-Yang. Abrir
este OVO requer muita sabedoria…
Na
língua egípcia, ovo é feminino, originando em especial as forças
vitais da espécie humana.
Hoje em
dia, OVO continua a ser o símbolo da Totalidade, que domina o
Caos. Símbolo da Renovação contínua, da Eternidade vencedora da
morte e da caducidade, símbolo da solução dos conflitos interiores,
como entre o conforto inútil e a aventura criadora, e portanto
também o símbolo da prosperidade.
MARAVILHOSO OVO DE PÁSCOA.
É
a forma perfeita, que contém o mistério da vida e de tudo o que
existe – dentro de tanta fragilidade…
Aveiro,
28-03-2024 |