Os
tempos do abrir a boca e engolir os outros desapareceram.
Todos sabemos, mesmo, que a evolução se deu no bom sentido, e que, por efeitos do alargamento, o futebol assentou
raízes em várias regiões, influenciando até em múltiplos
sectores da actividade portuguesa.
Por efeitos desta expansão e das constantes e regulares
deslocações dos clubes de Lisboa e Porto à Província, o desnível entre os concorrentes foi aos poucos desaparecendo, para dar lugar a um nivelamento técnico. Isto não
significa,
manifestamente, igualdade de valores, mas representa tão
somente uma forte tendência do Jogo. O estado antigo de coisas, em que
Lisboa vinha à Província,
e ganhava sem esforço e com o sorriso da boa disposição, foi substituído
pela fórmula de que todos os
encontros são difíceis e não é possível vencer a batalha sem sangue,
suor e lágrimas...
Só nos grandes centros urbanos era possível ver-se bom futebol e futebol
praticado por boas
equipas, mas, hoje, os factos modificaram-se profundamente, ao ponto de
assistirmos a partidas de
excelente qualidade, por vezes. em diferentes terras do País. A
tendência dos clubes de Lisboa, aliás,
com os pesados encargos que advêm da aquisição e manutenção dos melhores
jogadores portugueses,
apareçam eles onde apareçam (Rola, do Clube Desportivo de Estarreja,
filiado na Associação de futebol
de Aveiro, foi adquirido por setenta contos!) é para reduzirem as suas
deslocações à Província e levantarem organizações que lhes permitam fazer face às suas grandes
despesas, para as quais não chega
uma cotização fabulosa.
Julgamos, porém, através de tudo, que já não se voltará para
trás,
devendo intensificar-se a propaganda do jogo e a sua expansão. A orientação da centralização do
futebol apenas nos grandes
centros urbanos cederá necessariamente o passo à directriz de fazer
intervir nos grandes campeonatos
um número cada vez maior de clubes disseminados pelas várias regiões do
País. Exige-o, racionalmente, o desenvolvimento do futebol.
Infelizmente, um número grande de Associações ainda não tem
representação num Campeonato
que se diz de Portugal, mas que é de âmbito restrito. Na época passada,
toda a faixa do centro do
País, de Lisboa ao Porto, ficou em branco, pela descida da Associação
Académica, felizmente já de
regresso; e, na presente temporada, dá-se o facto, que consideramos
grave, de se efectuarem desafios
da Primeira Divisão, no Porto, domingo sim domingo não.
É, nesta altura, quando tudo indicava que se insistisse na orientação,
dando-se a fixação no
número de catorze, que é um passo para novo alargamento e abrir de mais
amplas perspectivas, que
vem a medida, que consideramos iníqua, da redução para doze, por uma
penada federativa, sem se atender ao tremendo esforço realizado em determinadas regiões, a
direitos conquistados, numa visão
mesquinha e limitada do que interessa ao futebol português.
A corrente sadia e menos apegada aos Grandes
Clubes, que, aliás, não
deixa de considerar e ter em alta conta ― ainda no ano passado quase todos os participantes da
Primeira Divisão pediram para o número de 14 ser alargado para ingresso da Académica
― continua a
defender a orientação do Campeonato da Primeira Divisão abrir aos poucos as asas de maneira a cobrir
e a abarcar todo o território
português. Necessariamente que os estreantes na Prova devem reflectir
no começo hesitações de toda a ordem, mas a sua educação técnica não deixará
de dar-se. À volta
desses clubes juntam-se todas as
forças da região, surgindo assim equipas fortes.
A Associação de Futebol de Aveiro
― escrevemos de Aveiro, numa manhã
chuvosa, mas com a ria refulgente em tons maravilhosos de um azul suave e doce
― uma das
mais importantes do Pais,
pela quantidade de jogadores inscritos e pelo número de clubes
importantes espalhados na sua jurisdição, não participa na Primeira Divisão. Até um dia...
Pensemos todos no que este facto representaria para o distrito, em
movimento e força, expansão
desportiva e fortalecimento dos clubes. O dia há-de chegar! |