Filho de José Tude de Oliveira
Velha e de Rosa Lau de Oliveira, depois de frequentar o Liceu de Aveiro,
empregou-se no Porto e, em breve, o desporto era a grande paixão da sua
vida. Pelo Fluvial praticou remo, «cross-country» e basquetebol,
modalidade em que chegou a ser seleccionado para o Porto-Lisboa.
Como o F. C. do Porto abrisse uma escola pugilística sob a direcção de
Ferreira
Júnior, Horácio Velha frequentou-a, passando a representar os «azuis-brancos".
E, em
1928, efectuou, na Invicta, os seus primeiros combates. Castro Mendes,
com quem se
estreou, foi obrigado a desistir ao 2.° «round». No mesmo ano e por intermédio de Oliveira Valença, deslocou-se a Vigo,
onde
boxou duas vezes vitoriosamente. Depois abalou para os Estados Unidos, sempre agarrado ao seu sonho
– ser
alguém
no mundo do boxe. E, na realidade, as suas aspirações não se desfizeram,
como tantas
vezes acontece, quais outras bolas de sabão... Na pátria por excelência
do pugilismo,
Horácio Velha começou a impor-se de tal modo que, em breve, arrecadava
colecção invejável de triunfos, obtida a partir de certa altura sobre homens de
prestígio: Charlie Taylor,
Willie, Lefty Wright, Watter Petter, campeão da Alemanha, Kid Sullivan, Nadeau, Patsy
Reno, Jimmy Abbruzzi, T onny Aquaro...
Um dia, coube-lhe finalmente defrontar o campeão do mundo, Lou Bruillard. Porém, Horácio não conseguiu pôr K. O. o antagonista e, por isso, ante
ruidosos
protestos, foi declarado vencido aos pontos... Em 1934, o «iron-man», como o cognominavam os americanos, foi ao Brasil,
onde
disputou cinco combates,. vencendo sem dificuldade Valdemar Januário, Vitor Manine,
António Gauchito e Tobias Viana. Contra Rubens Soares foi obrigado pelo
árbitro a perder
aos pontos... Após esta derrota em frente de dois... adversários, Horácio
regressou a Portugal,
efectuando uma série de bons combates: vencedor de De Cêa e Amoedo sem
dificuldade;
de AngelSobral, campeão de Espanha, aos pontos; do francês Thouvenin por
K. O. ao
1.º «round»; aos pontos do campeão espanhol Martinez, que anos
antes pusera /p. 33/
Crespo K. O. ao 1.º «round»; de Ferrer e de Gavalda... Seus
adversários foram também Kid Janas e Wouters, dados por certa crítica
como carecidos de valor.... A verdade
é que Kid Janas viria a ser campeão de França dos médios e Wouters,
campeão belga,
havia feito «match» nulo com SibyIIe, ex-campeão da Europa dos leves. O
mesmo Wouters
não tardaria em conquistar o título europeu dos meios-médios – para
confusão de certos cépticos... O próprio Martinez, vencido por Horácio, disputou depois, em
Berlim, o título
europeu dos meios-médios a Gustavo Eder, perdendo apenas por pontos em
15 assaltos. Voltando aos Estados
Unidos, Horácio, menos desiludido pelos punhos dos
adversários do que pelos golpes de certos personagens que pululavam nos meios
pugilísticos, combateu novamente na América. A Califórnia foi o palco das suas lutas de agora e Joe Noto e Migdget
Mexico dois
dos vencidos... De passagem, afirme-se que no ano anterior Mexico
defrontara Tony
Canzoneri, combate de onde saiu o «chalanger» de Lou Ambers, campeão
mundial dos leves... Desejoso de voltar ao seu país, o ilhavense encetou segunda viagem. Em
Novembro
de 1937, em Lisboa, encontrou Viez, ex-campeão francês dos leves,
contentando-se com
um empate.
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Durante o combate, travado nos Estados
Unidos, entre Rudy Marshall, campeão da
Nova Inglaterra, e Horácio Velha, não havia
maneira do negro abandonar a defensiva. Porém, no
intuito de enervar o branco,
Rudy, a certa altura do 7.º «round», increpou
Horácio: – Ó meu preto português, porque é que
tu não combates? O pugilista ilhavense compreendeu
imediatamente o truque. E, sem perder a serenidade
ante tal «achado» do adversário, objectou com o melhor sorriso que pôde
arranjar: – Ó meu branquinho de neve, porque não
arranjas tu uma bicicleta para fugir mais
depressa pelo ringue? O negro embuchou, acabando Horácio por
lhe amarrotar os queixos... |