OUTONO

Outono melancólico e cinzento! Outono que tornas o céu nublado! Tudo fica envolto num manto de tristeza quando tu chegas dessa grande viagem que fizeste por mundos de nós desconhecidos.

As folhas das árvores amarelecem, acabando por cair dos troncos. As andorinhas fogem para regiões onde sintam menos a tua frieza. Olha o oceano como está revoltado com a tua vinda! Repara nas enormes vagas que ele forma e como parecem mais escuras as suas águas. E as crianças que tão felizes brincaram nas praias de areias doiradas deixam de ter esse prazer, quando tu vens. Imagino-te como uma estranha criatura de cabelos e olhos cor de cinza, de corpo magro, embrulhado numa capa alvadia, de rosto amarelecido, de lábios cerrados, sem nunca se entreabrirem num sorriso. Vejo-te caminhar lentamente apoiado a um bordão, onde a tua mão ossuda se agarra. E assim vais, sem chorar nem rir, sem articular uma palavra, sem soltar um gemido.

E lembrar-me eu, que por tua causa tantas mães choram os filhos! Chove; o vento lamenta-se à tua aproximação; relampeja; ribombam os trovões, e o dia despede-se mais cedo de nós; no céu, a lua, quando as nuvens a não cobrem, treme com o ar fino da noite. Tu caminhas sempre, vagarosamente, insensível a tudo, Outono melancólico e cinzento!

SUSANA MARIA

 

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