O culto devido à árvore

São as árvores, nossas patrícias, o mais belo ornamento dos largos, praças e avenidas da nossa terra!

Olhar carinhosamente e zelar pela sua conservação é, pois, não só um dever moral e de consciência que nos impõe a civilização, como o despertar de um sentimento de nobreza pelo qual se pode aquilatar da educação de um povo.

Na verdade, se aprofundarmos a sua acção na vida progressiva dos povos, e se, mais longe quisermos levar o exame da nossa observação, iremos, irresistivelmente, ao encontro de milhentas aplicações, que a sua generosidade nos proporciona através dos séculos.

E assim, quer a encaremos como essência florestal, acariciando com sua fresca sombra o viandante nas horas ardentes da canícula, ou a vejamos donairosa / 111 / ostentando os primores de seus nacarados frutos, deliciando-nos e fazendo realçar a majestade do pomar, quer, finalmente, a consideremos no aspecto elegante da sua mimosa inflorescência perfumando o ambiente com o odor inebriante de suas variegadas flores, a árvore, é, em todos os casos, bem digna da nossa admiração e respeito.

Analisemo-la, pois, na multiplicidade de aspectos, que à sua prestimosa acção deve a humanidade, com passagem pelo braço singelo que embalou a nossa meninice pela vida em fora, até à tumba macabra, que transportará os nossos despojos ao seio fecundante da Terra-Mater.

E deste modo, a transcendentalidade da sua especiosa madeira surge-nos em toda a parte:

De onde veio a matéria prima de que são formados os móveis que guarnecem a nossa habitação, o telhado que a protege contra as intempéries, as portas e janelas que a isolam dos olhares perscrutadores da rua?

Da árvore.

O engenhoso arado que rasga a terra bendita em busca do pão quotidiano da nossa existência; o carro que transporta e movimenta a actividade da grei dos campos; a portentosa máquina que à boca dos sacos nos diz do esforço dispendido em prol da produção, e a variadíssima utensilagem manual de que o homem se apropria na luta rural, de onde procede?

Da árvore.

As caravelas que serviram aos nossos arrojados navegadores na descoberta de novos territórios e nos conquistaram um lugar de honra no xadrez das nações civilizadas, aonde foram colher os materiais que as compunham?

À árvore.

A lenha que crepita na lareira, aquece o ambiente, prepara os cozinhados que nos servem de alimento e consolam o corpo ameaçado pelos frios glaciais, quem a produziu?

A árvore.

E até o próprio lenho crucial onde crucificaram o Redentor, tudo, enfim a preciosa árvore forneceu à ingrata humanidade, que, tantas vezes, tão mal cor responde à sua generosa prodigalidade!

B. de M.

 

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