Pórtico
Ao
vermos transcorrer mais um ano de existência do Almanaque
Alentejano, podemos debruçar-nos sobre o passado, com confiança,
orgulhosos pela obra realizada durante uma existência bem vivida e bem
cumprida e confiante nas nossas energias e na nossa devoção pela obra
regionalista, o que nos dá a certeza de poder continuar a merecer o
apoio e as simpatias das alentejanas e dos alentejanos de boa-vontade,
que, acima de tudo, sabem colocar o bem comum e um Alentejo maior.
Destes doze anos de existência temos sabido extrair os ensinamentos e as
directrizes indispensáveis à manutenção do prestígio do Almanaque
Alentejano, à ânsia inveterada de querermos ser, de ano para ano, mais
útil para o Alentejo, cujo passado é uma epopeia e cujo futuro se poderá
entenebrecer-se se não houver quem saiba erguê-lo tão alto que ninguém
possa alegar que o não vê.
O Almanaque Alentejano é, na verdade, segundo a opinião de
muitos, um caso único. Fez-se de nada e sem nada: sem capital, sem
auxílios de espécie alguma, sem aquelas condições tidas como
fundamentais pela generalidade dos homens de dinheiro, dos homens de
teres e haveres que nunca procuram ajudar aqueles que trabalham e têm
iniciativa. Mas fez-se.
Fez-se com muito trabalho, muita energia, muita paciência e ilimitada
confiança em nós próprios. Arrostando imensas dificuldades de toda a
ordem, lutando com a descrença e a má vontade de muitos, dispusemo-nos
aos grandes riscos, às grandes derrotas e grandes triunfos – e vencemos.
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Quando um ano surge, todos o desejam
cheio de alegria e felicidade – eterno sonho de todos nós, para tantos,
por desgraça, eternamente irrealizável. Voltará com o novo ano a solução
de problemas que traga ao Mundo inquieto um melhor entendimento entre os
homens? Voltará, enfim, à Humanidade a alegria de viver, reflexo da
tranquilidade dos homens e das nações, e de confiança no seu futuro?
Que o ano de 1950 decorra alegremente, que as nações prosperem em paz e
floresçam, desanuviando-as de ódios e de lutas – é todo o nosso desejo.
Os homens devem unir-se no amor da sua Pátria e no intento de a tornar
digna. O Mundo é grande, não pelo território que tem, mas pelos seus
homens. E estes, se tal merecerem, devem querer, acima de tudo, a
grandeza e prosperidade da terra em que nasceram.
As nações têm direito a esperar a cooperação de todos os homens bons,
pois só elas, no estado actual das coisas, oferecem ao Mundo garantias
de paz.
Que todos os portugueses daquém e dalém mar tenham no ano de 1950 mil
venturas e saibam semear no coração dos filhos o desinteresse pessoal e
o amor da nossa Pátria, num forte sentimento de independência nacional,
que o novo ano traga às suas casas abundância e alegria e, vendo-o
passar, recordem com saudade que sempre se tem duma época bem vivida.
Felicidade sem dissensões nem azares. Que todos cooperem entre si para o
bem comum e se convençam de que, quem ama a Pátria e para ela trabalha,
presta a si e aos seus o maior benefício.
Demo-nos as mãos e trabalhemos pelo bem-comum.
FAUSTO GONÇALVES
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