(CONCLUSÃO)

NTES de entrar, porém, examinemos a porta que fica no Largo do Arsenal do Exército; foi delineada por Larre e é toda em cantaria, com colunas coríntias e troféus militares a encimá-la.

Esse pórtico é também atribuído a Carlos Mardel, um húngaro que veio para Portugal em 1733, com a patente de capitão-engenheiro.

De ambos os lados dessa entrada se vêem um morteiro de ferro, e perto da casa da guarda ainda outro. Estes três morteiros foram trazidos do antigo baluarte de Alcântara e mandados ali colocar pelo barão de Almofala – coronel António José da Silva Leão – que foi inspector-geral de artilharia de 1834 a 1836.

Penetremos agora no vestíbulo, cuja decoração mereceu a máxima atenção de Castelbranco. Consiste ela em excelentes obras de talha e magníficos azulejos, coevos da sua fundação, estátuas, panóplias, troféus, milhares de objectos de material de guerra engenhosamente aplicados, e por pinturas a óleo.

O guarda-vento – que logo se vê ao entrar do edifício – portas, tecto e paredes do vestíbulo são ornamentados com objectos vários pertencentes ao antigo material de guerra.

A decoração do tecto apresenta ao centro uma figura de mulher – a História – tendo aos pés um génio que segura uma palma da vitória, e empunha na mão esquerda um dístico com as palavras: Descobertas e conquistas. Na parte de cima; dois /  420 / génios suspensos no azul: um mostrando uma fita com a palavra Portugalia e o outro segurando em cada mão uma corda de louro. A cercadura é de folhas de carvalho, e os quatro cantos têm os medalhões de D. João I, D. Nuno Álvares Pereira, D. Manuel e Vasco da Gama. Faltam ainda duas composições, visto serem três as que se destinam a substituir a antiga decoração do tecto. Este trabalho é do distinto pintor Sousa Rodrigues.

Neste vestíbulo encontram-se vários utensílios de guerra, de que se destacam: dois pedreiros, que datam de 1670; dois trons ou bombardas, dos fins do século XIV; e dois pelouros, um arremessado pelos mouros contra a fortaleza de Ormuz em 1552, e outro também arremessado pelos mouros contra a fortaleza de Safim em 1534.

Deixando à nossa direita um bufete em pau-santo – a que está sentado um primeiro-sargento de armada reformado que faz de porteiro – vemos, ao lado direito desse móvel, uma porta que comunica para a Biblioteca do Museu... que é só para vista, pois que querendo nós compulsar algum livro que nos esclarecesse acerca do edifício que estamos descrevendo, nos foi dito que «só os oficiais da arma de artilharia é que podiam ler e consultar livros! É do regulamento!» Vimos em casa o regulamento, que confirmou a asserção que nos fora feita.

À nossa esquerda temos a sala chamada de Vasco da Gama.

A decoração é do insigne artista Carlos Reis: na parede principal ostenta-se o mapa de Moçambique, e ao topo vêem-se – em medalhão – os retratos de Andrade Corvo e Mendes Leal, a quem se deve a delimitação daquela ilha. À esquerda há uma pintura toda camoniana: supõe-se a audiência solene de Júpiter no Olimpo, que, sentado num trono de nuvens, escuta Vénus a dirigir-lhe uma súplica a favor dos portugueses, apontando as naus que os levam à Índia e que estão na parte inferior /  421 / da tela. Vénus está rodeada pelas três Charites.

O tecto é uma grande parte da composição que também serviu de tecto a secção portuguesa de terra e mar na exposição de Paris, em 1900. É obra de Manini e foi oferecida a este Museu pelo Ministério das Obras Públicas. Estão no citado tecto descritas as viagens de exploração marítima levadas a cabo por Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Côrte-Real e Fernão de Magalhães, e bem assim as travessias de África realizadas por Capelo, Ivens e Serpa Pinto.

Ao centro da sala vê-se o busto de Vasco da Gama; é executado em mármore por Simões de Almeida, sobrinho.

No espelho das duas portas que abrem para o interior estão baixos-relevos representando: um a África e o outro a Ásia; ambos são fundidos, segundo moldes de Costa Mota, sobrinho, no Arsenal do Exército.

Nesta sala estão dois painéis, cuja pintura é igualmente de Carlos Reis.

Há de curioso nesta sala: meio-canhão pedreiro; canhão-pedreiro, que datam de 1495-1580; bombarda grossa, tomada em 1511 por Afonso de Albuquerque ao rei de Malaca, a quem foi oferecido pelo rei de Calecut; colubrina; falconete; espingardas, que pertencem ao século XV e quatro pelouros da praça de Diu.

Subindo a escada, chega-se ao patim onde se encontram: peças de campanha, de 1762, 1769, 1774 e 1775; bacamartes, de 1706,
 1714, etc., modelo do monumento ao Marechal Saldanha, completo; modelo do monumento que se pretendeu erigir ao Duque de Palmela, etc.

À direita desse patim encontra-se a sala D. Carlos I – que em breve deve tomar o nome de D. Manuel ll – que tem logo em frente um quadro de Ramalho: uma sentinela vestida com o uniforme moderno, que está junto do monumento do Bussaco, divisa por entre nuvens pouco densas o desenrolar duma fase da guerra de 27 de Setembro de 1810. Desce sobre o exército aliado uma figura alada – a Nação Portuguesa – ostentando no peito a cruz de Avis pintada na túnica; na mão direita segura uma corda de louro, e na esquerda a bandeira nacional desfraldada. No tecto irregular vêem-se dois consolos que apoiam uma / 422 / arquitrave dividindo a parte apainelada da parte plana. Nas faces desses consolos estas aIegorias: a Guerra, a Paz, a Glória e o Patriotismo. A parte plana é constituída por uma tela de Luciano Freire – que também pintou as figuras retro-mencionadas em que se faz a apoteose a alguns dos principais heróis da nossa epopeia, entre os quais: D. Duarte de Menezes, Afonso de Albuquerque, D. João de Castro, Rui Freire de Andrade, etc. Vêem-se os retratos de D. Carlos na parede principal, e o busto de D. Manuel II, obra de Francisco Franco, escultor moderno, encimado pelo retrato a óleo do mesmo soberano, de Félix da Costa, que pintou também o de D. Carlos.

As portas da parede principal são rematadas pelos esboços dos baixos-relevos de Costa Mota e que circundam a estátua de Afonso de Albuquerque, em Belém.

Esta sala – que é a do Supremo Conselho de Defesa Nacional – não está patente ao público; só por amável deferência do director do Museu, é que pode visitar-se.

A sala pegada a esta – que é mais pequena e aonde se realiza a reunião dos generais do Supremo Conselho de Defesa Nacional – tem o tecto decorado com dois quadros de Teixeira Bastos, alusivos ao valor militar do general Gomes Freire.

Saindo da sala D. Carlos, entramos na de D. Maria lI, cujo tecto é pintado por Bruno José do Vale, Bernardino Pereira Pegado e Pedro Alexandrino. Ao topo depara-se com o retrato de D. Maria II, de pé, devido ao artístico pincel de José Rafael. Os painéis do tecto que são alegóricos – têm grande mérito e foram desenhados por Feliciano Narciso que na pintura foi auxiliado por Bruno do Valei, Caetano da Silva, Santos Joaquim e Carvalho Rosa.

Como objectos de mais curiosidade que nesta sala estão patentes destacam-se: modelo em gesso da estátua do Duque da Terceira; modelo em marfim da espada de honra oferecida pelos negociantes portugueses no Rio de Janeiro ao capitão de  mar e guerra Joaquim Marques Lisboa, /  423 / pelos serviços por este oficial prestados na ocasião do naufrágio da nau Vasco da Gama, em 1849; peças de montanha, carabinas, espingardas, bacamartes, clavinas, pistolas, espadas, floretes e sabres.

Desta sala, passa-se a de D. José I, que é unicamente ornamentada em obra de talha. Tem o retrato de D. José e o busto de D. Pedro lll; o resto da decoração é constituído por quatro estátuas de madeira dourada: Valor, Fidelidade, Vulcano e Marte, devidas ao escultor Francisco António. Ao centro desta sala vêem-se os modelos do carro e da máquina para tirar da cova a estátua de D. José, a que aludimos, quando falámos do Arsenal do Exército; um desses modelos figura no retrato que de Bartolomeu da Costa publicamos e que amavelmente nos foi cedido pelo nosso particular amigo e primeiro iconógrafo português, Aníbal Fernandes Tomás, a quem – de passagem – agradecemos a deferência. Além dos modelos referidos há mais o da estátua daquele soberano. Nessa sala há ainda: pistolas, revolveres, carabinas, espingardas de épocas diferentes.

Logo em seguida vemos a sala D. João V, que tem o retrato deste monarca e a forma – depois dourada – que serviu para o busto destinado à sala de exposição dos paramentos da capela de S. João Baptista, em S. Roque, e além do que fica dito vêem-se mais, em madeira, Minerva e Neptuno, assim como duas pequenas telas: o combate de Matapan, e o embarque do conde de Rio Grande. A primeira é de Artur de Melo e a segunda de Luciano Freire.

Tem em exposição vários modelos de máquinas, cabrestantes, cabrilhas, reparos, e uma vitrina com o estandarte de damasco encarnado que estava para ser hasteado nas festas reais. É de 1750.

Saindo daqui entramos na sala D. Maria Pia. Ornamentam-na os retratos desta rainha e do príncipe D. Afonso, ambos trabalhos exímios de D. Emília dos Santos Braga. A decoração da sala consiste: nos medalhões de André de Albuquerque e Duarte Pacheco; e dois quadros: Afonso de Albuquerque na conquista de Malaca e a tomada de Socotorá. O primeiro é trabalho de Condeixa e o segundo de Jorge Colaço.

Nesta sala expõem-se modelos de máquinas de brocar, de peças, de reparos, de obuses, etc.

Temos agora ante nossos olhos a sala D. Amélia. Além do retrato desta soberana, vê-se o de D. Luís Filipe. As portas são encimadas com os medalhões de D. João de Castro e Nuno Álvares. A terminar a ornamentação há quatro estátuas de madeira: Minerva, Hércules, Lisboa – que tem ao lado um corvo – e Brasil.

Objectos expostos nesta sala: modelos de peças, de reparos, de canhões-obuses, / 424 / revólver Franters, estojo com a espada do infante D. João, e chapéu armado, espada e pistola do general António Cândido da Costa.

Saindo daqui, penetramos na sala Barão de Monte-Pedral, o fundador deste Museu.

A sua única decoração – além do retrato do barão de Monte-Pedral – é uma tela pequena com o retrato de Costa Cascais, os modelos da capela de Nossa Senhora da Vitória, do monumento do Bussaco e do das Linhas de Torres Vedras. Esses três modelos estão sob um pequeno estrado polido que assenta sobre as quatro arestas que constituíam, com outras, a estrela do monumento do Bussaco e que foram derrubadas por um raio. Ao centro ostenta-se um busto do general Castelbranco – a quem este Museu tanto deve – executado na oficina de Germano José de Sales & Filhos.

Tem várias curiosidades expostas, de que se destacam: cartuchos, balas, cápsulas, espoletas, cocharras, foguetes, granadas, etc., etc., além de instrumentos músicos antigos e pertencentes a bandas marciais.

A seguir é a sala Europa – a primeira das salas novas. Esta e as três que se seguem são todas decoradas com pinturas do mestre Columbano. A meio do tecto desta sala há uma alusão a Aljubarrota; aos lados: Europa; voto de Nuno Álvares; batalha dos Montes-Claros e tomada de Lisboa. Afora isso há uma outra tela de Sousa Rodrigues: Episódio do assédio de Lisboa; e em frente vê-se outra de L. Freire: Nuno Álvares.

Nesta sala vêem-se: pêndulas para marcar segundos; grafómetros, verificadores, alças, trabalhos artísticos representando: a instituição da Eucaristia e a Abundância, cunhos, bandeiras históricas, etc.

Sala África. Ao centro do tecto, alusão a Ceuta; aos lados: África; descobrimento do cabo da Boa Esperança; entrada de D. Afonso V em Tânger, e conquista de Ceuta. Na parede principal, D. Duarte de Menezes defendendo a retirada de D. Afonso V, pintado por Acácio Lino; em frente, outra tela do mesmo artista, alusiva ao Infante Santo. Na parede principal ainda se vê um medalhão de D. Duarte de Menezes, assim como à porta que dá para a sala imediata se depara com o busto deste insigne cavaleiro, executado por Costa Mota, sobrinho.

Expõem-se nesta sala: modelos vários; a espada que Mousinho de Albuquerque empunhava quando a 28 de Dezembro de 1895 aprisionou o Gungunhana, em Chaimite; a espada do almirante Baptista de Andrade, quando efectuou a ocupação de Ambriz; bandeiras; a lança que pertenceu ao soldado n.º 96 do 2.º esquadrão de lanceiros 1 – Francisco Relvas – um dos mais arroja dos combatentes da campanha do Barué, em 1902; espada que pertenceu ao há pouco falecido general Galhardo que dela se serviu nas operações de Gaza, etc., etc.

Sala Ásia. Ao meio do tecto, uma alusão a Goa; dos lados: Ásia; desembarque de / 425 / Vasco da Gama em Calecut; embaixada do Xeque Ismael a Albuquerque, e o cerco de Diu. Na parede principal o retrato de D. João de Castro, pintado por Melo Trigoso, cópia do que se supõe autêntico e que pertence a D. Teresa de Saldanha e Castro. Dois medalhões de Albuquerque e D. Francisco de Almeida completam a ornamentação desta sala que contém: espoletas, granadas, lanternetas, amostras de vários minérios, bandeiras históricas, etc.

Sala América. A meio do tecto, alusão ao Brasil; dos lados: América; colocação do primeiro padrão no Brasil; capitulação de Pernambuco em 1654, e os Montes-Gararapes. Na parede principal o retrato do general Castelbranco; os bustos de D. Luís e D. Pedro V completam a decoração da sala que apresenta capacetes, pelouros, moldes para fundição, em cera, dragonas, charlateiras, livros com aguarelas representando vários uniformes, etc., etc.

Sala D. Pedro IV. A meio do tecto: alegoria às campanhas da Liberdade; é trabalho de Columbano; aos lados: os retratos de Saldanha, Terceira, Sá da Bandeira e D. Pedro IV. Uma das paredes é quase toda revestida por uma primorosa tela de Veloso Salgado: a Pátria coroando os heróis da Liberdade. Enfeitam as restantes paredes os retratos de José Jorge Loureiro, de Matoso da Fonseca; conde das Antas, de Ribeiro Júnior; e o de Saldanha, oferecido ao Museu pelo comendador Guilherme João Carlos Henriques. Há também um painel pintado pelo general estrangeiro Hoffmmann: o combate de Ponte Ferreira; uma pequena tela representa a acção da Vila da Vitória, em 1829, oferecida ao Museu pela filha do conselheiro Luís José da Silva, um dos que acompanharam D. Pedro IV à ilha Terceira. Ao centro desta sala ergue-se o busto, em mármore, de Sá da Bandeira, trabalho executado e oferecido a este estabelecimento pela falecida titular duquesa de Palmela. Estas as decorações da sala que expõe uma colecção de artigos que foram pertença de Saldanha; manequins com uniformes do exército de 1833; o bastão do duque da Terceira; a espada que acompanhou Saldanha na batalha de Almoster, bandeiras históricas, etc.

Sala Pimentel Pinto. Tem um aspecto primoroso esta sala com colunas em escaiola, imitando mármore, e que encerra trabalhos picturais de Columbano e Domingos Costa. Aquele apresenta telas de assunto camoniano e este brasões de armas de Goa, Funchal, etc. Mostra-se nesta sala: medalhas, lanças, ferros de lanças, dois modelos em cera representando a máquina inventada por Bartolomeu da Costa, etc.

Sala D. João IV. É pequena esta sala, mas suficiente para ostentar os retratos dos principais vultos da Restauração de 1640, e uma tela de Salgado: a coroação de D. João IV. As portas são encimadas por duas pequenas telas de Gomes Fernandes e António Carneiro: a tomada de Salvaterra e o general Matias de Albuquerque na /  426 / batalha do Montijo. O tecto é pintado por João Vaz, sendo o chão em corticite. Vêem-se nesta sala: quatro obuses de 1666-67 e quatro peças de bronze encontradas nos depósitos militares ao tempo da Restauração de Portugal, além de panóplias, baixos-relevos, etc., que ornam as paredes.

Sala Infante D. Henrique. É – pelo seu aspecto – semelhante à sala Pimentel Pinto. As pinturas do tecto são devidas a Domingos Costa; são medalhões de Gil Eanes, Gonçalo Velho Cabral, Diogo Cão, Bartolomeu Dias e vários outros navegadores portugueses; a parede fronteira tem uma enorme tela de Malhoa, alusiva ao infante D. Henrique e ao lendário promontório de Sagres; tem mais cinco telas do mesmo artista, todas com epígrafes do imortal cantor dos Lusíadas. Nesta sala vêem-se actualmente – embora não esteja ainda aberta ao público – os projectos dos monumentos à Guerra Peninsular, entre os quais se destaca, pela sua grandiosidade, o do arquitecto Ventura Terra.

Segundo nos confiou o general sr. Arbués Moreira, vai ali realizar-se em breve uma exposição de todos os projectos de monumentos e mais curiosidades dessa patriótica comemoração.

Em seguida é o Gabinete do Director, que não está patente; peçamos-lhe, porém, vénia e entremos. É elegante, amplo, bonito, tem algumas decorações pelo tecto, e o retrato de Castelbranco. A mobília é toda em pau-santo.

Aí há uma saída particular para o pátio onde estão as peças mais notáveis, como as de Diu por exemplo, ficando o projecto da estátua a D. Pedro IV ao centro do citado pátio.

Em seguida tomemos pela escada que há a um dos lados e vejamos uma tela de Luciano Freire, figurando Portugal militar e a Balística. O tecto – que é apainelado – / 427 / tem a figura da Fama, retocada pelo professor da Academia, Pietro; nos painéis vêem-se quatro medalhões com os retratos de D. José, Machado de Castro, Marquês de Pombal e Bartolomeu da Costa; esses medalhões são executados por Columbano. No patim está o busto de D. Manuel, esculpido por Fernandes de Sá, distinto artista portuense. À nossa esquerda fica o Gabinete do Inspector.

Do pátio – a que acima aludimos – sai-se pelo pórtico moderno, da iniciativa do devotado general Castelbranco, que ainda a 8 de Outubro de 1900 assistiu ao lançamento da primeira pedra desta fachada que dá para o largo dos Caminhos de Ferro (Santa Apolónia). Foi encarregado do projecto o insigne escultor Teixeira Lopes, que neste trabalho demonstrou o quanto pode o seu talento, prenda dessa afamada família de artistas.

O pórtico é uma excelente peça arquitectónica, destacando-se, especialmente, o bem elaborado grupo alegórico que o remata e em que a figura da Pátria – empunhando na mão direita uma espada, e na esquerda uma bandeira – se impõe pela sua majestade. O grupo é todo em mármore, salvo a haste da bandeira e a espada, que são em bronze. Na manufactura desta figura foram empregados enormes blocos de mármore, e – para se ajuizar do que afirmamos – basta dizer que o bloco que abrange parte da perna esquerda pesa seis toneladas!

A construção do pórtico foi feita sob a direcção do mestre do Arsenal do Exército, António Joaquim, que se houve muito bem na árdua tarefa de que foi incumbido.

Para fechar o pórtico foi executado na fundição de canhões um portão de ferro todo ornamentado com diversas armas guerreiras de bem acabado desenho.

Antes de encerrar este já longo artigo, cumpre-nos dizer que o general Pedro de Alcântara Gomes – de quem damos o retrato – foi também director do Museu a que nos estamos referindo; não podemos, porém, precisar a época certa em que ocupou tão importante cargo; supomos que fosse desde o falecimento do general Castelbranco, ocorrido no ano de 1905, até que faleceu.

Damos a notícia de que no Arsenal do Exército continuam com grande avanço as obras para a instalação das novas oficinas que substituem as antigas e que ainda se vêem no Campo de Santa Clara, e que nestas oficinas se realizou ultimamente a fundição da estátua do bispo de Viseu, que vai ser erigida num dos largos desta importante capital da Beira Alta.

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Eis o mais resumidamente possível a descrição do Arsenal do Exército, do Museu de Artilharia e das respectivas salas.

O catálogo do general Zeferino Brandão tem mais desenvolvida notícia sobre as salas aludidas; como, porém, o artigo já vai longo e pesado, ficamo-nos por aqui, agradecendo ao amável leitor a paciência que teve em nos aturar no tão extenso caminho que vai da fundação do Arsenal do Exército à inauguração do último pórtico.

HENRIQUE MARQUES JÚNIOR
 

 

01-01-2021