1
No meu bairro antigo
das escuras e
estreitas vielas,
com sons e
cheiros próprios,
vai alta a
noite.
Resta o
silêncio.
Ao longe no
outro lado do Tejo,
luzes,
muitas luzes,
amalgamadas,
em cima umas
das outras.
2
Apesar do
escuro
nesta noite de
Março
o céu liso
está estrelado.
Sabe bem o
frio.
3
No fundo
do Beco da Eira
um cão ladra.
Dos lados do
Convento do Salvador
outro responde,
parecendo
acenderem-se ecos
de outras
vidas.
4
Lá no alto,
às Portas do
Sol,
São Vicente,
o Padroeiro,
de costas para
o alvorecer,
parece estar de
atalaia.
5
Chilreia
a passarada
alheia ao meu
deambular.
6
Repentinamente,
como um ser
estranho
quebrando
definitivamente a magia,
sacolejando e
guinchando,
surge do
estreito das Escolas Gerais
o primeiro
“amarelo” do dia.
Nele quatro
figuras de caras fechadas,
cogitabundas.
7
Acabou-se
o silencio,
vai nascendo o
dia.
8
Esfumou-se o
sortilégio.
Talvez seja
hoje que algo muda
e o sonho
ressurge !?...
Talvez seja
hoje que a coragem renasce !?...
Vá-se lá
saber!?...
Luís Jordão
Lisboa,
3 de Março de 2008
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