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Egas Salgueiro e a Empresa de Pesca de Aveiro – As minhas memórias

Os navios e as comunicações via rádio

Comunicar com os navios não era fácil. Foi precisamente na cidade de St. John’s, na Terra Nova, em Signal Hill, uma colina que domina a cidade, que Marconi revolucionou as comunicações internacionais, ao ouvir, em sinal Morse, três pequenos “S”, a partir de um transmissor situado em Cornwall, na Inglaterra. Esta transmissão em onda curta percorreu 1.700 milhas e foi a primeira experiência transatlântica, em 12 de Dezembro de 1901.

Pensou-se, inicialmente, que os sinais acompanhavam o raio de curvatura da Terra. Como estavam enganados… O que efectivamente acontece é todos os sinais de rádio, em determinadas frequências, são reflectidos pela ionosfera.

Nos navios, só há comunicações via rádio pelo éter, dado estarem isolados. No mar não há cabos coaxiais, pares de cobre ou fibras ópticas. Tudo tem de ser recebido por antenas.

 

N.º 2306 - Aveiro (Portugal) - Torre de signaes da Barra - Dimensões: 13,7x8,8 cm. - Col. Miguel Chaby (data?).

 
 

Antigo farol da Barra, com uma bandeira de comunicação para a navegação da época. Postal ilustrado da colecção M. Chaby, in «Aveiro e Cultura».

 

Nos primeiros tempos em que o Homem se abalançou a dominar as ondas do mar em frágeis cascas de nozes, a comunicação fazia-se a distâncias relativamente curtas recorrendo quer a sinais auditivos, quer visuais. A forma mais rápida consistia em juntar as mãos em forma de funil, para amplificação da voz. Posteriormente, o homem construiu megafones rudimentares utilizando uma simples folha de flandres em forma de cone, que lhe permitia maiores alcances. Quando a distância ultrapassava a capacidade de comunicação, passou-se a recorrer a sinais visuais, utilizando bandeiras e sinais luminosos. Hoje em dia, tudo isto, embora nunca esteja ultrapassado, foi substituído por formas de comunicação a longa distância, graças à descoberta dos sinais de rádio.

Que frequências eram utilizadas por todos os navios na altura em que a EPA mantinha as suas actividades?

A primeira grande frequência utilizada nas comunicações a longa distância eram as ondas curtas, para as quais quase não havia obstáculos, uma vez que a sua propagação se efectua por reflexão nas altas camadas da nossa atmosfera, permitindo praticamente contornar a curvatura da Terra. Os arrastões costeiros da nossa empresa utilizavam para comunicação em fonia, isto é, utilizando a vozs dos falantes, uma frequência na ordem dos 2.182 Khz.

Para a comunicação a maiores distâncias, quer entre navios, quer entre estes e Lisboa Rádio, as frequências situavam-se nos 15, 20 e 40 metros. Embora pudéssemos ir aos 80 metros, esta era uma frequência pouco utilizada, devido ao seu reduzido alcance.

Para que estes sinais pudessem ser transmitidos, eram necessárias antenas de emissão e recepção. No caso dos navios, eram utilizados dois tipos de antena: as verticais, cuja vantagem era a de serem omnidireccionais, antenas que não careciam de qualquer tipo de orientação para melhoria de captação, e as de fio, os habitualmente chamados «dipolos», que se adaptavam melhor aos emissores e eram fixas de mastro a mastro. A desvantagem destes fios em cobre esticados de um lado ao outro é que a sua captação era menor, dependendo da orientação do navio.

Se bem se recordam, nestas épocas que temos vindo a evocar, não era difícil encontrar em terras de Aveiro e Gafanhas pessoas que possuíam em suas casas equipamentos amadores para comunicar com os navios. E, não raras vezes, lá iam os familiares a casa destes curiosos saber notícias dos que andavam a ganhar o sustento com elevados riscos longe de casa, familiares e amigos.

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Arrastão de popa Santa Isabel, construído em S. Jacinto (1965), pertencente a EPA. Notar as antenas de comunicação posicionadas entre os dois mastros. Imagem extraída do artigo de João São Marcos, in "Aveiro e o seu Distrito", n.º 9, pág. 9, que poderá consultar utilizando a hiperligação: «Ria de Aveiro e a Pesca do Bacalhau».

 
 

 

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04-05-2018