Acesso à hierarquia superior.

Egas Salgueiro e a Empresa de Pesca de Aveiro – As minhas memórias

Saint John's

Saint John’s deve ter sido a cidade mais mencionada durante toda a existência da EPA.

Era o porto que toda a frota portuguesa mais frequentava, nos mares do Norte. Era aqui que se ia, quer por razões humanitárias, quer para abastecimento ou reparação.

Na “Barnes”, uma oficina de reparações de navios, estava lá um português, nosso colega, que naufragou no Santa Isabel, de nome Manuel Vieira, e que, em 1971, tinha emigrado. Este, por sua vez, convidou o meu chefe, Francisco Matos, que aceitou, juntando-se-lhe em Dezembro de 1973. Em 1974/75, eu mesmo fui convidado para ir para St. John’s. Não aceitei, por três razões, a saber:

1. Tinha saído desgastado de uma guerra em Angola e não me apetecia nada voltar a sair de Portugal.

2. Andava a estudar e tinha por objectivo frequentar os institutos industriais de electrotecnia, já que à época não se falava na Universidade.

3. Sentia que na EPA, uma “Universidade aberta", embora não ganhasse bem, tinha condições ímpares para a minha realização profissional. Sempre pensei que o dinheiro não era tudo na vida.

St. John’s, capital da Terra Nova e Labrador, é a cidade mais antiga da América do Norte; foi fundada na festa de São João Baptista, a 24 de Junho de 1497. O navegador italiano John Cabot navegou para a Inglaterra e foi o primeiro europeu, desde os vikings, a chegar ao continente americano. O navegador português Gaspar Corte Real, em 1500, visitou o porto de St. John’s, chamando-lhe “Rio St. John’s”.

É uma cidade, na costa atlântica do Canadá, com uma área de 446 km2, hoje com 100.000 habitantes. Tem uma importante universidade com 20.000 alunos, com uma grande e bonita baía, rodeada de morros, cuja entrada por mar é bastante apertada e com muita pedra. Diz quem lá vive que com o mar revolto é preciso meter ferro ao fundo e colocar o navio de “capa”.

Foi num desses morros, no “Signal Hill”, que Marconi recebeu de Inglaterra a primeira mensagem transatlântica em morse. Também foi feito o primeiro voo transatlântico sem paragem, em 1919, por Alcock e Brown. Durante a Segunda Guerra Mundial, o porto foi usado pela Marinha Real Canadiana. O aeroporto internacional fica a 6 km da baixa. No entanto, os “Ship Chandlers” têm de percorrer 400 km para chegar aos Grand Banks e atravessar de barco, se quiserem abastecer em Saint Pierre, como eu vi.

Em 1998, Ílhavo e a cidade de St. John’s, como resultado das relações históricas que os une desde o século XVI, entenderam celebrar um acordo de Amizade, tendo como pedra basilar para a sua criação o perpetuar da lembrança dos nossos marinheiros, nos mares longínquos da Terra Nova, que serviu tantas vezes de porto de abrigo, após duros meses no mar da pesca do bacalhau. Este acordo foi celebrado entre o então Presidente da Câmara de Ílhavo, Eng.º Ribau Esteves, e o Mayor de St. John’s, Andy Wells, a 28 de Agosto.

Assim, na Gafanha da Nazaré, foi criado o Largo de St. John’s, em 1999, e em St. John’s, o Parque de Ílhavo, a 22 de Junho de 2004.

Também deu início as campanhas do nosso navio “Creoula” com jovens portugueses e canadianos à Terra Nova, tendo como instrutor o Sr. Capitão Marques da Silva.

Hoje, depois da entrada de Portugal na CEE, deixámos de poder ir a St. John’s e somente lá podemos dar entrada por razões humanitárias.

 

 

página anterior início página seguinte

21-06-2014