O galo Tito

 

De:  Girão Pereira
Data: 12/07/2007 00:31
Assunto: O galo Tito

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Era uma vez um fazendeiro que tinha um galinheiro com 180 galinhas e estava à procura de um bom galo para produzir ovos. Um belo dia o fazendeiro vai até à vila, entra na cooperativa agrícola e diz para o vendedor:

– Boa tarde! Procuro um bom galo capaz de cobrir todas as minhas galinhas.

O vendedor pergunta-lhe:

– Quantas galinhas tem?

– No total são 180 – diz o fazendeiro.

Então o vendedor vai buscar uma gaiola com um galo enorme, musculoso, com a crista de pé, olhos azuis e uma tatuagem no peito dos Rolling Stones, e diz para o fazendeiro:

– Leve este aqui, o Alberto, ele não falha.

O fazendeiro leva o galo e, no dia seguinte, pela manhã, solta-o no galinheiro. O galo sai numa corrida desenfreada, pega na primeira galinha, dá duas sem tirar; pega na segunda, dá a primeira e quando estava na segunda... cai para o lado.

O fazendeiro olha e diz:

– Aquele vendedor filho da puta aldrabou-me! Este galo apenas comeu duas galinhas e capotou.

Então, pegou no galo pelo pescoço, levou-o até ao vendedor e explicou-lhe o que se tinha passado. O vendedor desculpou-se e foi buscar um outro galo.

Este era preto, de crista amarela, olhos cinzentos e ténis da Nike. E disse para o
fazendeiro:

– Este aqui é o Fernando.

O fazendeiro volta para a fazenda com o galo e repete a manobra. Solta o bicho no galinheiro e o galo sai alucinado. Come a primeira galinha de pé, pega a segunda e traça, com a terceira faz o 69 e quando está em cima da quarta, cai morto no meio do galinheiro.

O fazendeiro, completamente lixado, pega o galo pelas patas e volta à vila. Entra pela cooperativa, quase rebentando com a porta, e diz para o vendedor:

– Escute aqui, seu sacana, este é o segundo galo que você me vende e também não presta para nada. É melhor vender-me um galo decente ou deito esta cooperativa abaixo.

O vendedor vai buscar um galo de merda, sem crista nem penas, com olheiras, corcunda, com ténis de lona já meio rebentados e uma camisa azul claro com os dizeres "Maracanã 1950" e diz ao fazendeiro:

– Olhe, é só o que me resta. O nome dele é Tito. Chegou, por coincidência, num barco que vinha do Uruguai.

O fazendeiro, ainda furioso, leva o galo, pensando: « Mas que raio é que eu vou fazer com este galo de merda?»

Chegado à fazenda solta o Tito no galinheiro. O galo despe a camisa, atira-a para o lado e sai enlouquecido comendo as 180 galinhas de um fôlego. Pára para respirar e come as 180 de novo. Sai do galinheiro a correr e enraba o pastor alemão.

Aí o fazendeiro agarra-o, dá-lhe dois sopapos para o acalmar e tranca-o na gaiola.

–  Porra, este galo é um fenómeno! – pensou o fazendeiro.

E as galinhas todas doidas só comentam que "o Tito isto", "o Tito aquilo", "o que é que ele fez contigo?", "comigo ele fez tal coisa"... loucura total, todas as galinhas a quererem mudar-se para Montevideu.O Tito sai a levantar poeira do chão, dá duas voltas ao galinheiro, aviando tudo o que é buraco com penas que lhe aparece no caminho. Sai disparado e come o cão, o porco e duas vacas.

O fazendeiro corre atrás dele, agarra-o pelo pescoço, dá-lhe uns abanões para o acalmar e volta a fechá-lo na gaiola.

– Que galo filho da puta! Vai-me cobrir a fazenda toda! –  diz o fazendeiro.

No dia seguinte vai buscar de novo o galo e encontra a gaiola toda rebentada. O Tito tinha fugido.

Sai a correr para o galinheiro e encontra todas as galinhas de barriga para o ar, fumando e assobiando, regaladas. Lá fora estava o porco com o rabo virado pró ar, as duas vacas deitadas no chão e a falarem das performances sexuais do Tito. O cachorro com a bunda arruinada.

E o fazendeiro pensa: «Ele vai comer o gado dos vizinhos. Vão-me matar!» Então pega no cavalo e a galope segue as pistas deixadas pelo Tito (cabras a suspirar, bodes a passar gelo no rabo, uma tartaruga que perdeu a carapaça na trancada, um touro a experimentar lingerie, três gazelas a coxear, um pónei sentado num alguidar com gelo, um bambi curado das hemorróidas...

Até que, de repente e à distância, vê o Tito caído no chão. Uma cena tristíssima! Os abutres já voam em círculos, a babar-se com fome. Quando viu os abutres o fazendeiro entendeu a situação:

–  Nãããooooo, Titoooooo... Morreuuuu o Titoooooo! E logo agora que eu tinha encontrado um galo de verdade...

No meio destas lamentações, cuidadosamente o Tito abre um olho, olha para o fazendeiro e, assinalando os abutres, pisca-lhe o olho e diz-lhe:

–  Chiu! Silêncio. Cala-te.  Deixa-os pousar...
 

Data de inserção
12/07/200

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Colaboração
Girão Pereira