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Homenagem no XXIX Aniversário

do Lions Clube Santa Joana Princesa

Joaquim António Gaspar de Melo Albino, ou simplesmente Gaspar Albino ou Titó como alguns dos presentes o tratavam…

Nasceu a 31 de Agosto de 1938, na freguesia da Glória, concelho e cidade de Aveiro.

Filho de Manuel de Melo Albino, pescador de bacalhau nos mares do Norte e de Maria Benedita Gaspar de Melo, doméstica e dedicada à família.
Casou em 1962 com Maria Claudette da Silva Gaspar de Melo Albino e tiveram dois filhos a Cláudia e o António [também aqui presentes hoje].

Fez a instrução primária, com distinção, na Escola Primária da Glória.

Fez o Curso Geral de Comércio, na Escola Industrial e Comercial de Aveiro, tendo-lhe sido atribuído o prémio do Grémio do Comércio de Aveiro para o melhor aluno do seu curso, Frequentou, posteriormente e na mesma Escola, os cursos complementares de Francês, Inglês e Alemão, como estudante-trabalhador.

Ao longo da sua frequência neste estabelecimento de ensino, em actividades circum-escolares, obteve vários prémios em jornalismo e artes plásticas.

Por carências económicas do seu agregado familiar, começou a trabalhar logo após ter terminado o seu Curso Geral do Comércio, aos dezasseis anos.

Já agora, uma curiosidade, uma sua ligação à Vista Alegre.

Quando ficava com a avó Joana, com poucos anos de idade, fazia suspensões de arame para pratos de parede da Vista Alegre, uma espécie de indústria caseira que muito ajudava a economia doméstica.

Aos dezoito anos (a Lei de então não permitia doutro modo), como estudante-trabalhador, fez na mesma época de exames, no Liceu Nacional de Aveiro, o 2º e o 5º ano, com dispensa de provas orais. Foi o aluno mais bem classificado a Desenho.

No ano imediato, fez o 7° ano dos Liceus (alínea de Direito), no mesmo estabelecimento de ensino, sempre como estudante-trabalhador.

Após exame de admissão, matriculou-se, logo de seguida, na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, como "voluntário".

Tendo chegado a matricular-se no quarto ano do curso de Direito, a sua vida profissional extremamente absorvente, obrigou-o a interromper a frequência, como estudante voluntário, do curso de Direito.

Com base no seu Curso Geral de Comércio, começou a trabalhar numa empresa de pesca de bacalhau de Aveiro, com a categoria profissional de praticante de escritório.

Decorrido pouco tempo, foi promovido, passando a desempenhar funções de ajudante de guarda-livros.

Atingida a maioridade, foi nomeado guarda-livros e chefe da contabilidade de duas empresas dum grupo económico aveirense.

Dado que a gestão da empresa de pesca onde trabalhava a tinha conduzido a uma situação de falência técnica, em Assembleia Geral dos seus sócios foram-lhe delegados poderes de gerência, com a incumbência de recuperar não só o património empresarial, como também o património pessoal de sócios-gerentes comprometido em avales.

Foi-lhe facultado o direito a ser sócio na empresa de pesca.

Mercê da sua acção, não só conseguiu a recuperação financeira da empresa, como também, ao longo dos anos, diversificando a sua actividade, conseguiu convertê-la numa empresa de sucesso.

Nesse sentido, fundou uma das primeiras sociedades luso-marroquinas de pesca, com sede em Casablanca, Marrocos.

Alargou também a actividade da Empresa à construção naval.

Ajudou a introduzir no Arrasto Costeiro inovações tecnológicas e promoveu a construção de dois arrastões costeiros em Boulogne-Sur-Mer - baseados em protótipo, síntese de estudo da então Comunidade Económica Europeia - os quais, uma vez chegados a Portugal, vieram a servir de modelo (com adaptações introduzidos pelo gabinete técnico que dirigia) para a renovação da frota costeira portuguesa actual.

Tendo alienado todas as suas participações no sector das pescas, em 1985, torna-se empresário gráfico.

Na sua qualidade de armador de navios de pesca foi eleito para o desempenho de várias funções, desde Director do extinto Grémio dos Armadores de Navios da Pesca do Bacalhau; Presidente da Assembleia Geral da Mútua dos Navios Bacalhoeiros; e muito mais.

− FOI UM HOMEM DE INTERVENÇÃO POLÍTICA, DE CULTURA, DE ARTE E LION

− Foi vereador da Câmara Municipal de Aveiro, responsável pelo Pelouro da Cultura;

− Foi 1º Secretário do Conselho Municipal de Aveiro;

− Foi vogal da Assembleia Municipal de Aveiro;

− Foi presidente da Direcção da Companhia Voluntária de Salvação Pública Guilherme Gomes Fernandes – Bombeiros Novos de Aveiro – durante mais de dez anos, tendo sido sob a sua presidência construído o seu actual quartel;

− [Aproveito para agradecer a presença do Coronel Albuquerque Pinto, Presidente da Direcção dos Bombeiros Novos de Aveiro, que não quis deixar de estar presente nesta homenagem]

− Foi presidente da Mesa de Encontros de Direcções da Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro, promovendo a generalização de digno seguro de vida e outros benefícios para os soldados da paz, a nível de Distrito, os quais, posteriormente, vieram a ter acolhimento em lei geral;

− Foi director do Pelouro Cultural do Clube dos Galitos, de Aveiro.

− Organizou a PRIMEIRA EXPOSIÇÃO DOS ARTISTAS AVEIRENSES
Foi-lhe atribuído o PRÉMIO JOSÉ DE PINHO do Clube dos Galitos pela sua acção no campo das Artes Plásticas;

Fundou e dirigiu o jornal de estudantes-trabalhadores PRÀ-FRENTE!.

− Publicou o livro FORMAÇÃO E DINÂMICA DE GRUPO;

− Foi colaborador regular da RÁDIO MOLICEIRO e DIÁRIO DE AVEIRO [Obrigada Ivan, Director do Diário de Aveiro por estares aqui presente também]

− Colaborou em – Crónicas e Crítica de Arte – dispersas em jornais de âmbito nacional e regional, particularmente nos semanários CORREIO DO VOUGA e LITORAL.

− Enquanto aluno da Escola Industrial e Comercial de Aveiro, participou em Salões de Exposição Estética para jovens, tendo sido várias vezes premiado;

− Ganhou o primeiro prémio de desenho em concurso mundial promovido por ART INSTRUCTION SCHOOLS, de Minneapolis, Minnesota, Estados Unidos da América e, enquanto bolseiro, ganhou prémios de curso, quando tinha dezoito anos;


Dirigiu graficamente: o semanário diocesano CORREIO DO VOUGA durante vários anos, contribuindo para que este Jornal ganhasse o primeiro prémio nacional do extinto SNI, em grafismo; a folha universitária de poesia AINDA; a folha VIA LATINA, órgão da Associação Académica da Universidade de Coimbra; e COMPANHA suplemento literário do LITORAL;

Expôs pintura e desenho, individual e colectivamente.

− Está exposto nos Estados Unidos, em Espanha, em colecções públicas e privadas; O Museu de Aveiro | Santa Joana Princesa adquiriu um seu retrato de Santa Joana para o seu acervo.

− Consta do livro de recensão PORTUGUESE ARTISTS OF THE 20TH CENTURY.

− Publicou um "livro-objecto" FERNANDO PESSOA – INTERPRETAÇÕES, com litografias suas de visualizações dos heterónimos de Fernando Pessoa, com a colaboração literária do escritor José de Melo.

− Ilustrou diversos livros de poesia e de conto.

−  Fez capas e design gráfico para livros de diversa índole.

− Foi membro fundador da AVEIRO-ARTE e Presidente da 1ª Direcção, depois deste grupo se ter convertido em associação legalmente constituída.

− E fundador do CETA – CÍRCULO EXPERIMENTAL DO TEATRO DE AVEIRO.

− Foi também sócio fundador da AMUSA – Associação dos Amigos do Museu de Aveiro, de que foi o primeiro presidente da sua Assembleia Geral.

− Foi presidente fundador do Lions Clube de Aveiro bem como do Lions Clube de Santa Joana Princesa.

− Foi Governador do Distrito 115 - Centro Norte, por duas vezes, a segunda em substituição da sua e nossa saudosa Claudette.

− Foi Presidente do Conselho Nacional de Governadores.

Sobre o movimento Lionístico e a nossa essência, relembro trechos do seu texto denominado É PRECISO UM MUNDO MELHOR:

«Este nosso Código de Ética, que trespassa transversalmente culturas e religiões, as mais díspares, sem as beliscar, para além da rara beleza formal dos seus nove preceitos, a sua conceitualização é fonte de enorme riqueza espiritual e muito nos ajuda na busca da justa e equitativa resolução dos problemas das nossas vidas.
Tudo isto sob o lema "WE SERVE": nós servimos.
Façamos tudo o que estiver ao nosso alcance para aumentar o nosso pequeno exército de paz. São estes os meus votos, os mais sinceros, para que um desejável Futuro de Amor se comece a tornar possível já e agora: com o nosso exemplo; com a nossa acção; com o nosso serviço! Poderemos ser uma pequena gota de água no oceano; mas, sem nós, o oceano de amargura que é este mundo seria bem pior.»

GASPAR ALBINO ERA TAMBÉM UM APAIXONADO POR AVEIRO, DEDICADO À SUA TERRA E ÀS SUAS GENTES

Dizia Gaspar Albino:

»É Aveiro toda, esta minha terra feita de água, este meu espaço que vai pelo Atlântico fora e que não me cria barreiras aos ventos que ora sabem à maresia dos cagaréus, ora cheiram a fragrâncias de campos dos ceboleiros estirados até às serranias já lá por lonjuras de levante.

É Aveiro toda, na saudade que corrói quando evoco tempos da minha meninice e da minha juventude, na saudade que amarfanha, quando me afasto mais do que vê-la me consente.

É a Aveiro, que D. João Evangelista de Lima Vidal agarrou na sua prosa tão cheia de poesia e converteu em orações que me habituei a murmurar, em fim de dia, principalmente quando dela me ausento; é a Aveiro que Almada Negreiros tão bem soube pintar com a sua palavra de pincelada fluida e a quem me arrimo sempre que sinto desejos de relembrar as marinhas de sal que já quase não temos, ou as tricanas donairosas, cujo traje se transformou em peça de museu; é a Aveiro de Ramalho Ortigão sem ter que importar dunas da Holanda; é a Aveiro de Rocha e Cunha, que encontrou tempo na sua faina de capitão de porto para justificar a viabilidade económica da nossa barra; é a Aveiro de Raul Brandão, onde redescubro os pescadores da minha família; é a Aveiro de Monsenhor João Gaspar a fazer de Joana cada vez mais princesa, cada vez mais santa; é a Aveiro de Alberto Souto com o seu bairrismo de fronteira aberta e larga; é a Aveiro de Pedro Zargo, de João Sarabando, de Mário Sacramento, de José Pereira Tavares, de Álvaro Sampaio, de Ferreira Neves, de Cecília Sacramento, de Rocha e Cunha (filho), de André Ala dos Reis, de Vale Guimarães, de Frederico de Moura, de David Cristo, de Vasco Branco; é a Aveiro de Manuel Tavares, de Guerra de Abreu, de Cândido Teles, de Lauro Corado; é a Aveiro de todos com quem me cruzo nas nossas ruas e a quem digo bom dia.

Enfim: a fonte dos meus amores é esta Aveiro que me deu o ser e me foi moldando até aos dias de hoje.

E nunca nos esqueçamos de que a nossa Freguesia da Glória é mesmo a Vila Velha de Aveiro, em cujo chão quero ser envolvido quando Deus me quiser levar.»

Por último, transmito uma mensagem do nosso Presidente do Conselho Nacional de Governadores, Companheiro Carvalho Lopes: «parafraseando Bob Marley consigo dizer algo que sinto sobre a personalidade do tão ilustre de Aveiro, Gaspar Albino "não viveu para que a sua presença fosse notada, mas para que a sua falta fosse sentida".»

Tudo faremos para honrar o seu legado. Gaspar Albino não será esquecido.

Aveiro, 15 de Outubro de 2017
A Presidente do Lions Clube Santa Joana Princesa
Isabel Oliva-Teles
 

 

 

16-11-2017