O
acolhimento obtido pela monografia "MOLlCEIROS", obra que tem como parte
mais substancial um Glossário relacionado com o barco e a faina do
moliço, levou-me a pensar que seria de interesse produzir um "LÉXICO DA
RIA", com tantos capítulos quantas as artes dos que nela arduamente
labutam: moliceiros, marnotos, pescadores, apanhadores de junco,
barqueiros, etc.
Tendo
decidido ocupar-me das marinhas de sal, li algumas publicações, das
quais só me recordo das três constantes da Bibliografia, já que a falta
de conhecimento das regras, que presidem a este género de trabalho, não
me permitia saber do interesse destas referências.
Registei, assim, duzentos e poucos termos e respectivas definições,
conjunto que fui ampliando e corrigindo em frutuosas conversas com
muitos marnotos de escalões etários bem diferenciados, pelo que, embora
tenha efectuado uma recolha sincrónica, dado que foi obtida num espaço
de tempo relativamente curto — poucos meses —, o resultado acabou por se
revestir de características diacrónicas, na medida em que inclui
designações utilizadas durante um período de largas dezenas de anos,
algumas das quais não só caídas em desuso no momento da sua recolha, mas
também referentes a técnicas há muito não utilizadas.
Vicissitudes inesperadas levaram a que o trabalho não fosse por diante,
ficando as respectivas fichas arquivadas, mas não esquecidas, durante
vinte e três anos — tendo mesmo servido como elementos de consulta a
algumas pessoas, que me solicitaram essa colaboração —, até que a
compra, pelo Município de Aveiro, da marinha Troncalhada, veio a ser o
pretexto para que actualizasse e editasse este Glossário, que não
pretende ter, como principal objecto, a técnica da salicultura, mas,
sim, a fixação, numa perspectiva, eminentemente, linguística — com duas
ou três leves pinceladas sócio-económicas —, dum jargão, cujos falantes
têm vindo a desaparecer
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a um ritmo acelerado, dado que a sua arte, sendo pouco rentável, numa
abordagem imediatista de lucros e perdas, não se enquadra no âmbito das
actividades compatíveis com as exigências, meramente quantitativas, da
omnipotente ciência económica, que, dia a dia, vai tornando o Homem
culturalmente mais pobre.
Note-se que, relendo as supracitadas notas, verifiquei que muitas das
designações constavam, quase sempre, no plural, tendo pensado que se
trataria de inexactidões cometidas por mim, no momento dos respectivos
registos. Assim, e para tirar dúvidas, levei a cabo três inquéritos, que
me levaram a concluir que os marnotos, quando se referem, sobretudo, às
partes constitutivas das salinas, o fazem, sistematicamente, no plural,
pelo que decidi escrever, neste número, as entradas referentes aos nomes
em apreço, com a consciência de que tal opção choca com os princípios
estabelecidos.
No que
respeita ao predito "LÉXICO DA RIA", cada vez mais justificável e
urgente, dou por finda a minha participação, com os capítulos
"Moliceiros" e "Marinhas de Sal", esperando que outros o terminem...
enquanto é tempo.
Acabo
por onde devia ter começado: agradecendo a todos os que comigo
colaboraram, muito especialmente, aos marnotos com quem passei longas
horas de agradável cavaqueira, não podendo deixar de manifestar um
reconhecimento muito especial à minha ex-professora na Universidade de
Aveiro, Doutora Maria de Fátima de Rezende F. Matias, que aceitou
prefaciar este livro, emprestando-lhe uma inestimável mais valia, e ao
velho amigo Manuel Regala, cujo saber, espírito de colaboração e
interesse pelas coisas da nossa Ria tornaram este trabalho possível. |