Este trabalho de reconversão de cerca de metade da colecção do
Arquivo do Distrito de Aveiro
–
19 de 42 volumes
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teve início no dia 5 de Outubro de
2017 e chegou ao términos no dia 9 de Maio de 2019, dia em que
demos os últimos retoques às páginas e iniciámos a escrita deste texto
de apresentação. Foram quase dois anos de trabalho minucioso, exaustivo
mas interessante, e que nos levou à descoberta de aspectos da nossa
cidade e região que ignorávamos.
Para ser mais correcto e fiel à verdade, este projecto de
reconversão digital já andava há muito num estado embrionário, ainda que
desconhecido, com sementes lançadas na década de 1960, numa altura
em que, ainda estudante, era semanalmente tratado como colega por um dos
responsáveis e director desta revista, o Dr. Francisco Ferreira Neves.
Durante um longo espaço de tempo, ainda solteiro e sem saber o que o
futuro distante e incerto, com uma guerra travada em várias frentes, me
reservava, todos os sábados, após o almoço, durante o período em que saía
de Coimbra e vinha de férias para Aveiro, encontrávamo-nos num café
recentemente inaugurado numa esquina da avenida Dr.
Lourenço Peixinho, tendo do outro lado da rua o então Teatro Avenida,
ainda desempenhando as funções para que fora criado, e, mesmo de frente,
um excelente restaurante, hoje inexistente, conhecido por "O Galo
Douro", um restaurante famoso, tão famoso e de tal qualidade que muitos o
escolhiam para o banquete do dia nupcial.
Enquanto as senhoras, a minha mãe e a esposa do professor Ferreira
Neves, ficavam numa mesa à conversa, eu e o meu pai ocupávamos uma mesa
ao lado, com este amigo mais velho, que, quase sempre, me trazia um ou dois
fascículos conservados, muito provavelmente no sótão da casa, para eu poder,
dizia ele, completar os volumes e encadernar mais tarde. E a tarde
passava agradavelmente, falando-se de eventos passados e presentes,
evocando-se, por vezes, memórias e experiências antigas e trocando-se as
mais variadas ideias.
Os fascículos desta revista, enquanto houve espaço numa prateleira da
estante, foram sendo colocados lado a lado, por ordem numérica. Esgotado o
espaço, passaram a ser empilhados a um canto do escritório.
Encaderná-los em volumes não era ainda possível. Faltavam alguns
fascículos, que o Dr. Ferreira Neves já não possuía. Para a
colecção ficar completa e poder ser encadernada, teríamos de procurar
numa biblioteca pública os fascículos em falta e fotocopiá-los, para
depois toda a colecção seguir para um encadernador e passar a ocupar o
devido lugar no escritório, sempre à mão, para eventuais consultas.
O Tempo seguiu o percurso normal. Terminei o curso de Filologia
Românica, trabalhei ainda um ano em Coimbra numa secção da Escola
Comercial e Industrial Avelar Brotero, aberta recentemente na vila da
Lousã. Acabado o primeiro ano, seguiu-se o serviço militar, brindado
com umas férias forçadas em Angola, um período de dois anos de outras
aprendizagens e contacto com outras culturas. Regressei ao continente em
finais de Novembro de 1974. Embora ainda com casa em Coimbra, voltei
para Aveiro, para a casa dos avós paternos, porque tinha de retomar a actividade
profissional como estagiário no então ainda designado, mas por pouco tempo, Liceu
Nacional de Aveiro. Nos dois anos seguintes, ainda solteiro, foram retomados
os encontros dos fins de semana no mesmo café, mas...
A vida corre célere e proporciona-nos novos contactos e novas
experiências. Muda-se de estado e, pouco depois, nascem os filhos. Por nós
passam também os filhos
de outros que como nós vivem em Aveiro e, como tudo o que nasce às
origens tem de voltar, o amigo de Zig-Zag deixou de ziguezaguear entre
nós e partiu para outras descobertas na década de 1980.
O século XX esgotou-se e novo milénio surgiu. À excepção de nós, seres
humanos, que
ficamos cada vez mais gastos, mas mais experientes, tudo na vida se
renova. Esquecemos umas coisas e aprendemos outras. O vazio dos que partem é
preenchido por novos que nos rodeiam e nos acompanham na curta viagem da
vida. Criam-se novas amizades e, por vezes, algumas bem profundas, que
nos marcam para o resto da vida, quando abruptamente também nos deixam
de fazer companhia.
Precisamente uma destas
amizades raras e especiais, que nos marcam mais profundamente, insistia
para que, à semelhança do que fizéramos com um espólio documental da
cidade
– o "Aveiro
e o seu Distrito"
– convertêssemos
o "Arquivo do Distrito de Aveiro" para o formato digital. Para isso
–
insistia ele
–
poderíamos contar com o seu apoio e com a colecção completa, que ele
possuía devidamente encadernada. Mas o que ele pretendia era tarefa
extremamente difícil, para não dizer impossível. Este amigo, em vez de
encadernar os quatro fascículos de cada ano, formou grossíssimos volumes
de três anos, que mais pareciam enciclopédias, pesadas e difíceis de
manusear. A ideia caiu por terra!
O Tempo continua
a correr e a pregar-nos partidas. Além de familiares, leva-nos agora
este novo amigo mais chegado, a quem queríamos como se de um familiar
se tratara. Mas...
A vida continua e
chegamos a 2017. A necessidade de esclarecer dúvidas sobre a nossa
cidade faz-nos pensar no A.D.A. A escola José Estêvão, onde, ao fim de
dezasseis anos teimamos em continuar a manter de pé e não deixar também
morrer o projecto aprovado e iniciado em 2001, possui uma excelente
Biblioteca. Se dois dos três elementos que estavam à frente do Arquivo
eram aqui professores e um deles até foi o reitor durante vários anos,
de certeza que não se esqueceriam de fornecer à escola os exemplares que
iam publicando regularmente de três em três meses. A hipótese revelou-se
válida.
Numa secção reservada, lá estavam dezanove volumes devidamente
encadernados, não aqueles calhamaços difíceis de manusear, mas volumes
anuais, que facilmente permitiriam uma digitalização. Entusiasmados com
a descoberta, decidimos meter mãos à obra e fazer a vontade a
amigos ausentes. O entusiasmo esfriou ligeiramente, quando
verificámos que apenas existia cerca de metade da colecção. Mas metade
é melhor do que nada. E ao fim de quase dois anos, entre 5 de Outubro de 2017
e Maio de 2019, a comunidade passou a ter à sua disposição, enquanto o
servidor do Agrupamento de Escolas José Estêvão estiver disponível, os 19
primeiros volumes do "Arquivo do Distrito de Aveiro".
Falámos, até
aqui, da génese deste projecto. Falta-nos dizer alguma coisa acerca
deste espólio, que não é da cidade de Aveiro, mas de todo o
distrito. Quem foram os elementos que tiveram esta excelente ideia de
deixar para a posteridade um tão valioso contributo histórico? E qual o
tratamento que lhe demos? Quais as suas vantagens e diferenças
relativamente ao registo escrito?
Os três elementos
que estiveram na origem do A.D.A. foram os professores António Gomes da
Rocha Madaíl (ou Madahil, como ele assinava), Francisco Ferreira Neves e
José Pereira Tavares. Que poderemos dizer acerca deles e onde encontrar
informações para tal?
Uma pesquisa na
Internet não nos deu grandes resultados. Quase sempre nos remeteu para o
espaço "Aveiro e Cultura". Por isso, será aqui mesmo que iremos
colher a
nossa informação.
Relativamente a
José
Pereira Tavares
(30-01-1887
– 14-03-1983)
não necessitamos de dizer o que quer que seja, porque toda a informação
já está disponível. Utilize-se a hiperligação
[José Pereira Tavares] e leia-se o
artigo de Énio Semedo. E para consulta da parte bibliográfica que lhe diz respeito,
existe o índice de autores e os diferentes índices do espaço «Aveiro e
Cultura».
Para os
restantes, vamo-nos socorrer-nos do "Calendário Histórico de Aveiro" e
limitar-nos a reproduzir o que lá se diz.
António Gomes da
Rocha Madahil
(10-12-1893 – 27-6-1969)
1893-12-10 — Nasceu em Ílhavo o Dr. António Gomes da Rocha Madaíl, que
dedicaria parte dos seus estudos de investigação a Aveiro, ao Mosteiro
de Jesus e à Princesa Santa Joana (Arquivo, XLII, pg. 351) – J.
1911-11-15 — Sucedendo
ao jornal "A Verdade", iniciou a sua publicação "A Briosa", folha
académica que tinha como director Manuel dos Santos Pato e como redactor
António Gomes da Rocha Madaíl (Arquivo, IX, pg. 124) –
A.
1935-03-01 — Em dia não indicado deste mês, iniciou-se a publicação da
revista Arquivo do Distrito de Aveiro.
1959-12-30 — A Câmara
Municipal de Aveiro agraciou com a Medalha de Prata da Cidade os Drs.
José Pereira Tavares, Francisco Ferreira Neves e António Gomes da Rocha Madaíl, pelos seus relevantes trabalhos de investigação e divulgação
histórica. (Correio do Vouga, 16-1-1960) – J.
1969-06-27 — Faleceu
em Lisboa o insigne ilhavense Dr. António Gomes da Rocha Madaíl,
arqueólogo, etnógrafo e escritor, que dedicou grande parte do seu
trabalho e da sua investigação a estudos sobre Aveiro, sobre o Mosteiro
de Jesus e sobre a Princesa Santa Joana (Correio do Vouga, 4-7-1969;
Arquivo, XLII, pg. 351) – J.
|
Consultar o índice de autores, para conhecimento dos artigos
publicados por
Rocha Madahil.
Francisco
Ferreira Neves
(24-12-1892 – 20-06-1984)
1892-12-24 —
Nasceu na freguesia da Vera-Cruz o Dr. Francisco Ferreira Neves, que
seguiu o magistério liceal e se dedicou, além de outros, a trabalhos
de investigação e divulgação de temas da história aveirense
(Arquivo, XLII, pg. 352) – J.
1935-03-01 — Em
dia não indicado deste mês, iniciou-se a publicação da revista
Arquivo do Distrito de Aveiro.
1941-04-05 — O Dr.
Francisco Ferreira Neves revelou a existência de uma curiosa
descrição das igrejas e capelas da antiga freguesia de S. Miguel, de
Aveiro, constante de uma informação, que publicou, prestada no
século XVIII pelo beneficiado coadjutor e vigário encomendado Frei
Félix Mendes dos Ramos (Arquivo, VII, pgs. 182-194) – A.
1959-12-30 — A
Câmara Municipal de Aveiro agraciou com a Medalha de Prata da Cidade
os Drs. José Pereira Tavares, Francisco Ferreira Neves e António
Gomes da Rocha Madaíl, pelos seus relevantes trabalhos de
investigação e divulgação histórica. (Correio do Vouga, 16-1-1960) –
J.
1984-06-20 —
Faleceu em Aveiro o Dr. Francisco Ferreira Neves que exerceu o
magistério no Liceu local e fundou, com outros, o «Arquivo do
Distrito de Aveiro» – revista orientada para temas de história,
arqueologia e etnografia, onde publicou estudos sobre personagens,
monumentos e acontecimentos de Aveiro (Correio do Vouga, 29-6-1984)
– J. |
Consultar o índice de autores, para conhecimento dos artigos publicados
por
Francisco Ferreira Neves.
Relativamente à reconversão do "Arquivo" para formato digital,
poderíamos repetir quase ipsis verbis o que dissemos quando
elaborámos texto similar para o arquivo digital do "Aveiro e o seu
Distrito".
Procurámos reproduzir
fielmente todas as páginas dos fascículos, embora não possamos garantir
que não nos tenham escapado algumas gralhas, apesar da leitura atenta
durante a fase da correcção dos textos.
À semelhança da versão
impressa, podemos consultar as páginas folheando-as. Mas, diferentemente
do impresso, temos a vantagem da interactividade. Quase todos os
objectos reagem quando «clicamos» sobre eles. Exceptuando uma ou outra
imagem, ao clicarmos sobre elas, poderemos visualizá-las num formato
maior e com mais qualidade, embora esta melhorasse substancialmente, se
pudéssemos dispor dos originais.
No caso de utilizarmos o
material aqui contido para trabalhos a publicar, a citação das páginas
poderá ser facilmente indicada, porque tivemos sempre o cuidado de as
referenciar. Mas, ao contrário das páginas impressas, que apresentam a
numeração no fundo da página, na versão electrónica o número indica-nos
a entrada no começo dela. Sempre que haja mudança de fascículo, tivemos
também o cuidado de o registar.
Para quem prefere ter os
textos impressos em papel em vez de os ler directamente no ecrã, a
solução passará por mandar imprimir as folhas em formato A4, podendo
configurar o tamanho dos caracteres, para poupança de espaço. Na nossa
versão electrónica, optámos por caracteres de maiores dimensões, para
mais facilidade de leitura, tanto mais que o tamanho dos caracteres em
pouco ou quase nada altera o tamanho dos ficheiros.
Mas uma das maiores
vantagens deste formato electrónico é a de nos permitir ler as
continuações dos artigos sem necessidade de andarmos à procura das
páginas respectivas. E o índice de conteúdos por assuntos permite-nos
também facilmente pesquisar os artigos que nos interessam.
Muito mais poderíamos dizer
acerca desta versão digital. A melhor forma de lhe descobrirmos as
vantagens será utilizando-a.
Aveiro, 10 de Maio de 2019
Henrique J. C. de Oliveira
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