Almanaque Desportivo do Distrito de Aveiro 1950, pág. 75.


Dois bons jogadores do passado

RUI CUNHA

Sempre foi assim conhecido o Dr. Salviano Rui de Carvalho Cunha, hoje ilustre médico da Armada e ontem o ídolo da «malta académica» da cidade universitária que nele via ― e com que razão! ― o melhor avançado centro de Portugal.

Rui Cunha, ovarense de origem, foi, além dum grande jogador de futebol, um jogador especialíssimo porque jogou futebol sem gostar do «futebol», só porque entendia não dever atraiçoar a sua posição de estudante de Coimbra, recusando à academia a colaboração que lhe era pedida.

Nunca foi internacional, é certo, mas algumas vezes o deveria ter sido, porque o seu valor, mesmo em confronto com o titular de então, esse maravilhoso jogador que foi Vítor Silva, isso impunha.

Rui Cunha possuía o raro dom do remate imprevisto dos ângulos mais inverosímeis e conseguia com frequência arrancar vitoriosos «tiros» recebendo a bola de costas para a baliza e, sem a deixar bater no terreno, emendar com dobrada violência, transformando em remate o passe que lhe era feito.

Teve, é certo, um grande, um enorme jogador a seu lado, o pequeno Isabelinha, que lhe adivinhava os pensamentos e o compreendia como nenhum outro. Eram um todo, estes dois grandes jogadores, e fica bem aqui, ao lado do grande jogador aveirense, este aceno de simpatia ao seu companheiro.

Rui Cunha foi sem dúvida o jogador de futebol, aveirense de nascimento, que mais projecção nacional conquistou e que pela dedicação que teve pela sua «Académica» bem mereceu essa consagração que o elevou a internacional sem ter vestido nunca a «camisola das quinas».



LUSITANO GIL

Jogador de futebol dos mais brilhantes da sua geração ― e talvez só não foi internacional porque existia um Augusto Silva ― Lusitano Gil nasceu em Espinho a 14 de Abril de 1909.

Iniciando a sua carreira na época de 1924-1925, como componente da 3.ª categoria do Sporting local, coleccionou desde logo o seu primeiro campeonato e ascendeu à equipa de honra, onde alinhavam, entre outros, Alberto Valente, Joaquim Fernandes, Rodrigues e Balula...

Defendendo as cores do Sporting de Espinho, que capitaneou ainda novo e orientaria tecnicamente mais tarde, arrecadou várias vezes o título de campeão da A. F. Aveiro.

Em certa altura, ingressou no Académico, do Porto, onde se manteve, com singular fulgor, durante três épocas.

Quando na capital do Norte, foi seleccionado para jogar com Lisboa, Budapeste, Astúrias, Setúbal, Braga e Santarém.

Uma selecção da Invicta, da qual fazia parte com Carlos Alves, também então no Académico, e nove elementos do F. C. do Porto, tornou-se popularíssima, batendo Lisboa com nitidez invulgar.

Alinhou pela selecção de Aveiro contra o Hungária e, com Domingos de Oliveira, outro cotado jogador da Costa Verde, reforçou a Ovarense quando esta equipa recebeu no seu campo o «Vasco da Gama», do Rio.

Regressando ao seu Sporting de Espinho, jogou até 1946.


 

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