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Memória sobre Aveiro do Conselheiro José Ferreira da Cunha e Sousa

XIII - Rua da Palmeira, Largo da Apresentação, Rua de José

Estêvão. Outros melhoramentos. Caixa Económica. Pelourinho

Pelo que toca à freguesia da Vera Cruz, além dos melhoramentos de que já se falou, e da rua da Palmeira, que vai do Largo da Apresentação para a rua de S. Roque, e da estrada que vai da Praça do Peixe pela Beira-Mar, até ao passo de nível do caminho de ferro, na estrada de Esgueira, tudo obra dos nossos dias, deve mencionar-se a rua de José Estêvão, desde a Caixa Económica até à Ponte, que era nos tempos antigos uma rua estreita e escura, pouco ou nada limpa, chamada vulgarmente rua dos Burros, sendo formada de um dos lados pelas traseiras das casas da rua dos Mercadores, e pelo outro de velhas casas onde os negociantes daquele tempo recolhiam as cavalgaduras que precisavam ter por causa dos mercados mensais que costumavam frequentar. Portanto, ao fim da rua de Vila Nova, segue para o sul a rua de José Estêvão (outrora Rua Larga), a qual findava no sítio em que se acha o edifício da Caixa Económica. Aí alargava, por efeito de um pardieiro de antigas casas, sobre o qual se acha levantado o mesmo edifício, seguindo daí até à ponte a tal rua dos Burros, cujo nome oficial não sei.

Convém saber que enquanto não tivemos estradas e caminhos de ferro, todos os que tinham necessidade de jornadear, tinham, podendo, uma cavalgadura para seu uso. Assim, tais eram os negociantes da praça e rua dos Mercadores, que, como se disse, costumavam, como alguns costumam ainda, frequentar os próximos mercados ou feiras mensais, e era nesta rua que todos tinham cavalariças para as suas cavalgaduras nas casas do lado do nascente. É por isso que a rua tinha o nome acima dito.

A abertura desta rua, à custa das sobreditas casas, em lugar das quais se vê hoje o mais regular quarteirão da cidade, foi uma das melhores obras municipais ultimamente realizadas. A rua, assim alargada e igualmente aformoseada, ficou fazendo parte da rua José Estêvão. E pena foi que na construção das novas casas, interesses particulares avançassem a linha dos prédios, a norte, além do alinhamento, prejudicando-se assim a beleza desta rua, assim como que, por ocasião da edificação da casa da Caixa Económica, a Direcção respectiva não comprasse também a casa contígua pelo lado do Côjo, prolongando o edifício com frente para este Largo, (então ainda era um largo) e, finalmente, que a Câmara se não entendesse com a mesma Direcção para o efeito de se prolongar a travessa Mendes Leite até ao Côjo, em recta e com a mesma largura entre o edifício da Caixa e a casa que lhe defronta pelo Norte. Assim mesmo, o edifício da Caixa, que foi edificado sobre um pardieiro de que ainda conheci os restos das paredes, e que havia muitos anos se achava desaproveitado, contribuiu para o melhoramento material da cidade, assim como a Caixa eficazmente contribuiu para ele na parte moral e económica.

Foi a Caixa fundada pelo governador civil Nicolau Anastácio de Bettencourt, no ano de 1858; nisto foi auxiliado por muitas das principais pessoas da cidade, embora muitas delas só por condescendência, e sem fé na duração do estabelecimento.

Entre estas se distinguiu Sebastião de Carvalho e Lima, facultando os seus cabedais para os primeiros empréstimos e continuando como presidente de sucessivas Direcções a manter os créditos da Caixa e a promover a confiança pública nela e a sua boa e regular administração.

Quem estas linhas primitivamente escreveu e que foram para aqui trasladadas por seu filho, foi a pedido do Governador Civil o fiador do primeiro empréstimo que a Caixa fez, perdendo quase todo o capital afiançado, que teve de satisfazer à Caixa pela falência do devedor.

Nesta rua nasceu José Estêvão, na casa onde hoje existe, colocada pela Câmara Municipal, uma lápide comemorativa.

Em frente da igreja da Apresentação havia um adro que ocupava quase todo aquele pequeno largo, muito mais alto do que elas (as ruas) e subindo-se para ele por uma escada de pedra; ao fundo do mesmo largo, à altura da entrada da rua do Sol, pouco distante da escada havia um cruzeiro. O adro era cercado de muro, sendo a abertura principal em frente da porta principal da igreja, ficando o seu recinto muito alto e nivelado e, por consequência, sem o declive que agora tem o largo. Outras duas entradas havia para ele, uma ao direito da rua de Vila Nova (Vera Cruz ou Manuel Firmino) e, outra, próxima da torre para a Palmeira por uma escada, porque o adro ainda aí ficava muito superior ao pavimento da rua entre o seu muro de poente e as casas que por este lado fixam o largo actual, as quais estão no mesmo antigo alinhamento.

Quando possível, seria de toda a conveniência que se prolongasse a rua de Vila Nova, através do largo e das casas a poente dele, até se unir com a rua que finda em frente do adro da capela de S. Gonçalinho.

No Rossio, em frente da rua da Rainha, havia o pelourinho, que não mostrava ser antigo e que se achava em bom estado de conservação, tendo sido demolido depois de 1834.

 

 

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