Em Outubro deste ano de 1976 houve
uma polémica entre a Associação de Desportos e o Sporting de
Espinho. Este clube, que entretanto criara a sua secção de
atletismo, queria efectuar a sua inscrição na Associação Portuense
de Atletismo. Administrativamente pertencendo Espinho ao distrito de
Aveiro, a Associação de Desportos, em reunião que fez para o efeito
com responsáveis do clube, afirmava que não podia dar o seu
acordo a tal pretensão, tanto mais que em Aveiro já era
promovida e incentivada a modalidade (era a segunda associação do
país em número de atletas inscritos) com a efectivação dos vários
campeonatos e provas de estrada, a distância de Espinho às pistas do
Porto era praticamente a mesma que a distância à de S. João da
Madeira (um dos argumentos que o Sporting de Espinho invocava caía
assim por terra) e ir-se-ia criar um procedente, que outros clubes
poderiam no futuro utilizar para “desertar”. A Associação julgou, no
entanto, que a decisão final sobre o assunto caberia às entidades
oficiais que superintendem o desporto. A Direcção-Geral dos
Desportos acabaria por autorizar a inscrição do Espinho na
Associação do Porto, baseando-se que já havia outras modalidades
(hóquei, por exemplo) que o faziam do passado (?!). Enfim,
opiniões...
A Federação já falava no seu
relatório anual que, «para uma melhoria significativa da actividade,
dependerá num futuro próximo de /.../, nalguns casos, da sua
autonomização face às Associações de Desportos.» Havia oito
associações nesta situação com carácter definitivo e mais três com
carácter provisório. Mas se, no nosso caso, já havia dificuldades em
arranjar “carolas” que preenchessem os corpos directivos da
Associação de Desportos, muito mais haveria ao multiplicá-los por 5, que era o
número de modalidades que a Associação de Desportos geria na altura.
Aliás, a Associação passava por um
período difícil. Estava sem “quorum” desde 31 de Maio, pois que, de
dez elementos que compunham a direcção até então em funções, só três
asseguravam a transitoriedade na gestão da Associação para que
esta não “morresse”. A situação devia-se à não realização da
assembleia-geral para eleição de novos corpos gerentes, por o
presidente da mesma a não haver convocado, apesar de ter sido
contactado para o fazer pelo presidente da direcção. Em reunião com
os clubes filiados, realizada em 23 de Setembro, os “sobreviventes”
(o presidente da direcção, que era este “escrevinhador”, o
vice-presidente, que era António J. Gonçalves e o vogal de
atletismo, Octaviano Costa) fizeram ver aos delegados dos clubes a
urgente necessidade de proceder à formação de nova direcção,
aconselhando a que a mesma não viesse a enfermar dos defeitos da
cessante, por inoperante face à deserção verificada de grande parte
dos eleitos. Por aqui se poderá aquilatar da dificuldade que havia
em conseguir dirigentes em número suficiente para gerir uma
Associação de Desportos com cinco modalidades.
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«A.
DESPORTOS DE AVEIRO – Em data próxima, serão eleitos os
novos dirigentes da Associação de Desportos de Aveiro, cuja
crise parece estar em vias de solução com a aceitação por
parte do sr. eng.º António Carretas, do cargo de presidente,
acrescido da incumbência de constituir elenco. Antigo
praticante desportivo e posteriormente militante em cargos
directivos, o sr. Eng.º António Carretas está possuído da
vontade de bem servir o desporto aveirense.»
Recorte de um jornal da época. |
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Também a “comissão distrital de
juízes e cronometristas”, que funcionava ainda cumulativamente com a
direcção, tinha problemas de falta de gente. Dos juízes que
entretanto a Associação tinha formado em dois cursos (cerca de
trinta), apenas 8 estavam a dar colaboração. Tinha que se improvisar,
mas o improviso por vezes não chega e o recurso a adeptos e
acompanhantes dos clubes nem sempre resulta. Os juízes que apareciam
eram de Aveiro e manifestavam-se cansados de todos os fins-de-semana
caminharem para S. João da Madeira. Havia necessidade de mais juízes
e das proximidades da pista. A Associação pretendeu efectuar mais um
curso, mas os clubes, instados por várias vezes, não indicaram
candidatos. A verdade das classificações estava a ser posta em
causa. Felizmente que a participação dos melhores atletas nos vários
campeonatos da Federação, em locais com o devido ajuizamento,
mostravam que, apesar de poucos, os resultados proclamados nos
comunicados da Associação ainda mereciam crédito.
Os clubes filiados, principalmente
os de Aveiro, lamentavam que não existisse uma pista na cidade, que
pudesse proporcionar aos jovens o adequado treino e permitisse
alternar os campeonatos com S. João da Madeira. Em 1974, já a
Associação efectuara diligências para a sua implantação (já estaria
até autorizada), mas a delegação da Direcção-Geral dos Desportos em
Aveiro, sem qualquer explicação, interveio no processo, deixando a
Associação de poder ter interferência no assunto. Isto provocou
atrasos e, inexplicavelmente, também não havia informações oficiais
de qualquer espécie; e assim, passados que eram dois anos,
continuava-se sem pista. Falava-se então na implantação de uma pista
em Oliveirinha, pois a sua Junta de Freguesia facilitava a construção em terrenos que lhe pertenciam. Falaremos mais adiante no
“famoso” processo da pista de Oliveirinha.
Apesar destas
dificuldades, não se deixou de trabalhar; e os resultados que os
atletas de Aveiro obtiveram no ano seguinte (1977) deram mostras que
tais adversidades não fizeram mossa e indicaram às entidades
oficiais que regiam o desporto o quão necessária e prioritária era a
instalação de uma pista em condições para a prática desta tão
salutar modalidade, à qual os jovens do distrito estavam a aderir. |