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Memórias Celulósicas


Prefácio

Foi com muita satisfação que recebi o convite do Carretas para prefaciar o seu livro. Senti-o como uma distinção que apenas a sua amizade explica.

Não irei aqui apresentar, em termos descritivos, o seu conteúdo, já que encontrá-lo-eis escrito com uma forma que constitui agradável leitura, no próprio livro.

A título de apresentação genérica, digo-vos que este livro é sobretudo a descrição da vida profissional do Carretas, desde a sua formação na adolescência, até à sua reforma.

Está organizado em capítulos, que representam as fases ou segmentos principais do seu percurso de vida.

Ao ler o livro vamos sucessivamente encontrar, a sua adolescência até se licenciar, o período da Companhia Portuguesa de Celulose (CPC), as assistências ao arranque de outras fábricas Socel, Ceasa, etc., o período de trabalho na Lundberg, que o levou a todo o mundo com estadias prolongadas nos Camarões e na Tailândia, a entrada na Soporcel e depois na Siaf. Para em seguida ter colaborações de natureza técnico comercial com a Terintrade e com o Henrique Dominguez, tendo igualmente assegurado uma multiplicidade de colaborações na gestão de projecto com várias empresas, em particular na gestão de grandes projectos da Soporcel.

Tudo isto está descrito em detalhe e com suporte documental no texto.

A leitura do livro foi um grande prazer já que revi as instalações, e muitas das pessoas que conheci ao longo dos últimos 55 anos retratados ou relembrados nesta obra.

É o caso do Rui Ribeiro, do Valente, do Queiroz, do Rolo, do Cachim, do Batista Neves do Hugo de Jesus, do Álvaro Barreto, do Luís Deslandes, do Aguiar Vieira, do Alberto Conceição, do Grilo, do Gil Mata, do Luís Sampaio, do Dolores Ferreira, do Moreira dos Santos, do Viana, do Adriano Silveira, do Capa Pereira, do Vasconcelos Maia, do Florêncio, do Castro Duarte, do Oliveira, do Antonini, do Calder, do Fontainhas, do Henrique Dominguez, etc., etc.

E naturalmente as situações e episódios que narra, típicos da indústria portuguesa e internacional no tempo em que ocorrem.

É um bom pedaço da nossa história celulósica que aqui está recordado.

Quero, no entanto, reservar a maior parte destas linhas, para alinhar o que eu julgo serem traços dominantes da personalidade que o Carretas demonstrou, em minha opinião, ao longo da sua vida e que naturalmente estão bem expressos, ou pelo menos indiciados nesta obra.


A DETERMINAÇÃO

É dotado com uma determinação assinalável em atingir os objectivos que tenha, num dado momento, elegido como importantes.

Repare se como perseverou no caminho que tinha traçado para se licenciar em engenharia química e como o conseguiu, apesar das dificuldades que teve de vencer e das alternativas profissionais favoráveis que teve de rejeitar, para poder prosseguir o caminho que tinha escolhido.

Repare-se como perseverou na procura de alternativas profissionais as que num dado momento tinha, sempre que se tinha desiludido com a situação profissional que detinha ou que pretendia melhorar significativamente a sua remuneração.

Repare-se no empenho que o seu livro evidencia em várias ocasiões, em cumprir os objectivos de natureza profissional com que se tinha comprometido.

 

EXCELENTE CAPACIDADE DE RELACIONAMENTO PESSOAL

É uma das qualidades que o Carretas tem em elevado grau.

É o segredo para a sua participação em múltiplas associações de natureza desportiva, cultural, social, laboral, mas é também a chave para as óptimas relações com colegas e até com espanholas de 18 anos e contribuiu para a facilidade em obter alternativas de emprego.
É ainda factor decisivo do seu sucesso em ambientes profissionais completamente diferentes e no desempenho das funções técnico comerciais.



DESEMPENHO TÉCNICO DE NIVEL RECONHECIDO

Licenciatura em boa universidade.

Formação na indústria numa boa escola – a CPC.

Trabalhou numa empresa líder na tecnologia da indústria – a Lundberg, que lhe permitiu tornar-se num especialista, de nível internacional, em planta química.

Foi pioneiro na utilização de peróxido, no branqueamento, estabelecendo os enormes ganhos, em termos de custo, que essa prática passou a permitir à nossa indústria.

Teve intervenção qualificada no dimensionamento de equipamento variado da planta química, inclusivamente desenvolvendo novas soluções.


FRONTALIDADE

A capacidade de identificar os problemas a resolver e atacar a sua resolução era indispensável à ultrapassagem das dificuldades que teve que resolver na montagem e arranque de novas instalações.

Nestas circunstâncias encontrava-se sozinho e por vezes em oposição aos departamentos centrais da empresa para que trabalhava, a milhares de quilómetros.

O sucesso que teve, nesta actividade só foi possível, porque exibia enorme frontalidade na identificação dos problemas e soluções e na sua defesa junto de terceiros.

O livro descreve várias dificuldades que viveu em montagens e arranques das instalações e a forma como as conseguiu ultrapassar.

A sua frontalidade aparece também indiciada, noutra situação em que se sentiu mal tratado e desconsiderado por um colega de trabalho, sem razão. A única explicação que eu sou capaz de tentar adivinhar é um choque de personalidades entre um indivíduo frontal, com iniciativa e flexível e um outro introvertido e formatado pelo respeito das regras e da hierarquia.

Terá sido isto?
 

A ARTE DE VIVER

Esta característica é complexa, envolve uma multiplicidade de aspectos, e não está suficientemente espelhada no livro.

Resumo o que quero dizer.

O Carretas gosta de viver bem, de ser feliz, de ter prazer e tem uma sensibilidade artística notável.

O Carretas tem uma produção artística significativa, que em minha opinião tem elevada qualidade, seja no domínio da fotografia, seja no domínio da aguarela.

É óbvio que esta arte de viver não constitui o percurso profissional do Carretas, mas estava sempre presente, a modelar a forma como o realizava, desde que não conflituasse com os objectivos com que nesse momento estivesse comprometido.

Espero que estes apontamentos, sobre o que julgo serem traços dominantes da personalidade do Carretas, possam ajudar a uma compreensão mais profunda da sua autobiografia profissional.

SERAFIM TAVARES


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